terça-feira, agosto 03, 2010

CHINA COMPRA TERRAS NO BRASIL

CHINA COMPRA TERRAS NO BRASIL
EDITORIAL - O ESTADO DE S. PAULO - 3//8/2010

O ex-ministro Antônio Delfim Netto tem razão quando recomenda cuidado com as vendas de terras a empresas da China, controladas pelo Estado ou com participação estatal. Investimentos estrangeiros são de modo geral bem-vindos e podem trazer contribuições importantes ao crescimento do País. Grupos estrangeiros podem fazer bons negócios e ao mesmo tempo fortalecer a economia brasileira com recursos adicionais e, ocasionalmente, com aporte de tecnologia. Mas os "negócios" mudam de sentido quando o investimento é subordinado a razões estratégicas de um Estado estrangeiro. No caso de recursos naturais, e de terras para a agropecuária, avaliar corretamente essa estratégia é uma questão de segurança. 
"Os chineses compraram a África e estão tentando comprar o Brasil", disse o professor Delfim Netto em entrevista ao Estado de domingo. Pode haver algum exagero de linguagem, mas a preocupação é justificável. O diretor-geral da FAO, a agência das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, alertou os governos africanos para o risco de um "neocolonialismo", desta vez baseado no controle de áreas férteis. Companhias de vários países participaram nos últimos anos de uma corrida para comprar terras na África. As chinesas estiveram entre as mais ativas. 
A maior estatal chinesa do setor, a China National Agricultural Development Group Corporation, opera em 40 países e 10 mil de seus 80 mil funcionários trabalham no exterior. A empresa detém 6 mil hectares na Tanzânia e criou negócios no setor de alimentos também na Guiné, no Benin e em Zâmbia e já entrou na Argentina e no Peru. Outras companhias chinesas também têm comprado terras em vários países, com o mesmo objetivo: garantir à China produtos indispensáveis ao seu crescimento econômico e à urbanização de centenas de milhões de pessoas. 
Desde a última década o governo chinês vem aumentando os investimentos em recursos naturais de outros países. Até agora, seu avanço mais impressionante ocorreu na África, onde os investimentos em mineração e depois na compra de terras foram acompanhados de projetos de cooperação com os países hospedeiros, quase sempre pobres e com baixo grau de desenvolvimento. 
O passo seguinte na estratégia foi a negociação de projetos com vários governos latino-americanos. Desde o começo deste ano, foram anunciados planos de investimentos de pouco mais de US$ 11 bilhões no Brasil. Se todos forem concretizados, o estoque de capital chinês no Brasil poderá ocupar a 9.ª posição em ordem de grandeza. Por enquanto, está em 42.º lugar. 
Companhias chinesas têm mostrado disposição de investir em vários setores, como produção de aço, exploração de petróleo, distribuição de eletricidade, exploração de minérios e construção do trem-bala entre Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro. Parte desses investimentos atende ao objetivo de garantir matérias-primas para uso industrial e para geração de energia. 
Ao mesmo tempo, empresas têm procurado oportunidades de investimento no agronegócio. Em abril, a China National Agricultural Development Group Corporation revelou a intenção de comprar terras para produzir soja e milho. Nos primeiros contatos, negociadores da empresa indicaram interesse em terras do Centro-Oeste, especialmente de Goiás. 
Na mesma época, representantes do Chongqing Grain Group anunciaram a disposição de aplicar US$ 300 milhões na compra de 100 mil hectares no oeste da Bahia, para produzir soja para os mercados brasileiro e chinês. Funcionários da empresa participaram da comitiva do presidente Hu Jintao.
Um mês depois, o Grupo Pallas International, formado por investidores privados, mas também com participação estatal, divulgou planos de comprar entre 200 mil e 250 mil hectares no oeste da Bahia e possivelmente no conjunto de áreas de cerrado do Maranhão, do Piauí e do Tocantins, conhecido por Mapito. 
Negócios desse tipo envolvem o controle de grandes áreas por grupos subordinados à estratégia de uma potência estrangeira. Poderão agir segundo interesses comerciais, como outros investidores, mas poderão seguir uma lógica de Estado - e esse Estado não será o brasileiro.

Índia aumenta forças na Caxemira para conter onda de violência

Índia aumenta forças na Caxemira para conter onda de violência
Julia R. Arévalo.

Nova Délhi, 3 ago (EFE).- A Índia decidiu aumentar suas forças na Caxemira na tentativa de controlar a onda de violência que se apoderou da região, onde 26 pessoas morreram em protestos desde sexta-feira passada, quatro delas hoje.
Atendendo ao pedido feito ontem pelo chefe do Governo da Caxemira, Omar Abdullah, o Executivo central resolveu enviar 1,9 mil agentes de segurança à região setentrional. Os reforços chegarão ao estado em um ou dois dias, disseram fontes oficiais citadas pela agência "PTI".
Além disso, outros 3,2 mil agentes destacados dentro do estado serão deslocados ao vale da Caxemira, epicentro dos protestos que começaram em meados de junho e que se agravaram nos últimos dias.
A intensidade das manifestações já levou o Exército na Caxemira a mobilizar-se no mês passado (quando houve cerca de 15 mortos), mas não foi suficiente para conter os ânimos.
Grupos de manifestantes desafiaram novamente hoje o toque de recolher e se enfrentaram a pedradas com as forças de segurança em vários pontos de Srinagar, capital do estado indiano Jammu e Caxemira, onde escolas, bancos, instituições e empresas permaneceram mais um dia fechados.
Três jovens morreram por tiros da Polícia, que pretendia "pôr a situação sob controle" em Srinagar. Uma quarta pessoa morreu em circunstâncias similares em Kulgam, segundo fontes policiais citadas pela agência "Ians".
Outras cinco pessoas ficaram feridas nos choques registrados em várias localidades do vale, onde se concentra a população muçulmana majoritária.
A Caxemira é uma região disputada por Índia e Paquistão desde a independência dos dois países, em 1947, que já levou a duas guerras entre ambos (1948 e 1965).
Após uma série de resoluções da ONU que, desde 1948, pediam a desmilitarização e a realização de um plebiscito sobre sua adesão a Índia ou Paquistão, a região ficou dividida por uma "linha de controle" que serve como fronteira provisória desde 1972 e na qual rege um cessar-fogo desde 2003.
Embora as autoridades indianas, e o próprio Omar Abdullah, considerem a atual onda de distúrbios como "espontânea", o certo é que Syed Ali Geelani, líder da separatista Conferência Hurriyat de Todos os Partidos, repetiu nestes dias suas convocações aos protestos.
A Conferência Hurriyat costuma tirar proveito dos surtos de tensão popular que sazonalmente ocorrem no vale. O último, que se estendeu à região de Jammu, de maioria hindu e atingiu as duas comunidades, ocorreu em meados de 2008.
À frente do Governo da Caxemira desde fins de 2008, Abdullah pediu ontem reforços policiais a Nova Délhi como via para restabelecer a normalidade e buscar soluções "políticas" à crise.
Abdullah (cujo pai é ministro do Executivo central) reiterou seu pedido para revisão das leis que atribuem poderes especiais às forças de segurança indianas na Caxemira. Tais poderes permitem a atuação impune das forças e bloqueiam investigações de denúncias sobre violações dos direitos humanos.
O Governo indiano "não pode prender as mentes" do povo da Caxemira e só está "criando inimigos e ódio", advertiu Khalida Shah, tia de Abdullah e chefe da minoritária Conferência Nacional Awami, em entrevista coletiva ao término de dois dias de discussões em Délhi O Paquistão pediu hoje "moderação" à Índia, após se mostrar "seriamente preocupado com a escalada de violência" e a perda de "vidas inocentes" na Caxemira.

Islamabad reproduziu as palavras de um porta-voz do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, para dizer que se trata de uma "preocupação coletiva" da comunidade internacional.
A Índia, reticente a qualquer tipo de mediação ou conselho sobre a Caxemira, qualificou de "gratuitas" as palavras do porta-voz de Ban Ki-moon e pediu um "esclarecimento".

Artigo do 'Washington Post' diz que Lula é amigo de tiranos

Artigo do 'Washington Post' diz que Lula é amigo de tiranos
03 de agosto de 2010 • 17h44 • atualizado às 18h14 – Portal Terra
Lula foi recebido por Mahmoud Ahmadinejad em Teerã para negociar acordo nuclear
Foto: Reuters

Um artigo publicado nesta terça-feira pelo jornal americano Washington Post define o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como o melhor amigo dos tiranos do mundo. Para o colunista Jackson Diehl, o presidente brasileiro é usado por ditadores como o iraniano Mahmoud Ahmadinejad.
O artigo foi motivado pela proposta de Lula para que o governo iraniano permitisse ao Brasil dar asilo à Sakineh Ashtiani (uma mulher condenada à morte por apedrejamento pelo crime de adultério) e pela negativa do país árabe. No texto, Diehl destaca que essa não é a primeira vez que o brasileiro é constrangido por seu "amigo Ahmadinejad".
Ele cita a tentativa de acordo mediado pelo Brasil e pela Turquia para a questão nuclear, às vésperas da votação de novas sanções econômicas ao Irã no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Logo após o acordo, um porta-voz do governo iraniano disse que o país não deixaria de enriquecer urânio (supostamente para fins pacíficos, porém a comunidade internacional aponta que o país tenta produzir uma bomba atômica).
O apoio incondicional de Lula, diz Diehl, não é privilégio do presidente iraniano. O colunista lembra a passagem de Lula por Cuba, em fevereiro deste ano, pouco depois de o preso político Orlando Zapata Tamayo morrer em greve de fome contra o governo de Raul Castro. Na ocasião, Lula afirmou que lamentava a morte do preso, mas não desistia de sua visita.
O artigo é concluído com a constatação de que a suposta candidatura de Lula ao cargo de Secretário Geral da ONU seria baseada no desejo do político brasileiro de demonstrar que ele pode persuadir ditadores como Ahmadinejad a escutarem a voz da razão. Porém, diz Diehl, aparentemente ele não pode.

Fausto, para o Jornal Olho Vivo

OS PRÓXIMOS DO PLAYER BRASIL

OS PRÓXIMOS DO PLAYER BRASIL
EDITORIAL - JORNAL DO BRASIL - 3/8/2010
Alguns motoristas de ônibus, brincando com o que deveria ser levado a sério, costumam dizer que quando o veículo está cheio demais eles dão uma freada para reacomodar melhor os passageiros. De certo modo, em sentido figurado, foi o que fez o governo Lula nestes oito anos com relação à política externa. Apesar de ter feito história em alguns casos, faltou que algumas conquistas fossem mais duradouras.
O Brasil ergueu a voz, fez-se ouvir, foi alçado à categoria, se não de protagonista, de importante player na política mundial. Agora, terreno muito bem aplainado por Lula, é preciso que os candidatos à sucessão não apenas preservem o que se conquistou, mas avancem rumo ao protagonismo.
Um tema importante que sempre foi caro a Lula era o ingresso no Conselho de Segurança da ONU. Primeiro, cabe pensar sobre o porquê de o Brasil não ter conseguido entrar nesse seleto clube. O tal fórum, se espremermos bem, nada mais é que a polícia do mundo. E, como bem sabemos, toda polícia precisa estar bem equipada com armas, há um dado bélico na genética dessa função. Se o Brasil entrasse no Conselho, e lhe fosse dada uma missão militar pesada, um conflito como os que os americanos tiram de letra, estaríamos aptos a agir?
Mais: ainda que estivéssemos aptos, é assim que queremos nos relacionar com o mundo? Mais do que entrar, o Brasil precisa saber em qual sócio deve se espelhar. O que o país do homem cordial, de Sérgio Buarque de Hollanda, quer ser: como os Estados Unidos potência militar, mas alvo do ódio de toda a parte do planeta que os liga a Israel , ou como, digamos, o Canadá, um país que se faz ouvir, respeitar e admirar sem precisar dar um único tiro? Se a resposta for a segunda opção, vamos por um caminho bom na economia, damos os primeiros passos nas questões sociais, e gastamos energia à toa colocando o carro do Conselho de Segurança à frente de outros bois.
Outro problema no qual o sucessor de Lula pode e deve conseguir dar alguns bons passos adiante é na relação com a América Latina. A liderança que o Brasil tinha como incontestável até há pouco tempo está sendo ameaçada por Hugo Chávez. Lula adotou pesos e medidas distintos para governos e população da Venezuela, Cuba, Honduras. E a dubiedade em política é ruim. Chávez pode ter mil erros, mas todos sabem quem ele é e o que pretende.
Finalmente, o próximo presidente tem um caminho a avançar nas relações com o Oriente Médio, notadamente com o Irã. Lula foi certeiro ao colocar-se como alternativa à política de força dos EUA, mas errou a mão ao dar a impressão de que se colocava simplesmente ao lado de Ahmadinejad, incondicionalmente, e não de que estava ali como conciliador de interesses.
O governo que está prestes a se encerrar fez história em vários setores, o da política externa é um deles. E seu sucessor, seja quem for, tem a obrigação de avançar, melhorar, para ser também sempre lembrado pela história.

Tracy Lee Stum -3D Street Painting

Lago da Lua, Portugal


Fotografia por Chatterjee Dhurjati

EQUÍVOCOS NA DEFESA DE ALTOS IMPOSTOS

EQUÍVOCOS NA DEFESA DE ALTOS IMPOSTOS
EDITORIAL - O GLOBO - 3/8/2010
Político traquejado, de longa quilometragem sobre carros de som em portas de fábrica e na condução de assembleias sindicais, o presidente Lula não consegue o mesmo bom desempenho quando envereda por temas técnicos. Na sexta-feira, perante empresários reunidos na Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), o presidente fez temerária defesa da carga tributária elevada. Esta postura se baseia numa visão política e ideológica de Lula e seu governo de que o Brasil necessita de um "Estado forte", eficiente coletor de altos gravames para poder fazer "justiça social". Sua candidata, Dilma Rousseff, já demonstrou em entrevista achar o mesmo. 

O presidente erra no conceito, pois são estes altos impostos - 36% do PIB, mais do que em qualquer outro país emergente - que geram várias distorções. Entre elas, uma grande informalidade, nos negócios e no mercado de trabalho, além de desincentivo aos investimentos produtivos. Lula, no discurso, lembrou países com carga de impostos de 40%, 50% do PIB, nos quais existe um estado de bem-estar social, "onde todos são fortes, bonitos e corados". A discussão a se travar, entende Lula, é sobre se o dinheiro do contribuinte é bem aplicado, independentemente do peso dos impostos. 
A referência de Lula é a Europa. Lá, porém, o tal estado do bem-estar (welfare state), já em crise em alguns países diante da agressiva concorrência de China e vizinhos, mergulhou ainda mais em problemas com a insolvência da Grécia e o risco de Espanha, Portugal, Itália e outros irem pelo mesmo caminho. Cercadas por vertiginosos déficits fiscais, sociedades europeias têm sido obrigadas a rever generosidades na previdência e em outros gastos ditos sociais. 
O Brasil, por sua vez, não sai bem na foto quando se discute o destino do dinheiro dos impostos. Estabilizada a economia, com o Plano Real, a partir de 1994, os governos FH e Lula alcançaram o equilíbrio fiscal às custas do contribuinte: neste período, a carga tributária cresceu cerca de dez pontos percentuais do PIB, os gastos públicos também só fizeram aumentar, e em velocidade maior. 
Na realidade, o estado brasileiro virou um gigantesco pagador de salários, benefícios previdenciários e bolsas assistenciais. Em 1987, um ano antes da promulgação da Constituição da redemocratização, 39% das despesas não financeiras da União tinham este destino. No ano passado, foram 75%. Entende-se por que os tão necessários investimentos em infraestrutura minguaram. Pode-se argumentar que este era e é o sentido da Carta de 1988. Mas também se deve perguntar se este é o melhor caminho para o país, considerando que faltam dinheiro e gerência eficiente para crianças e jovens serem educados num padrão de qualidade mínimo - sem falar na saúde pública. 
Do ponto de vista do peso da carga de tributos e do que é feito com essa montanha de dinheiro - questão proposta pelo presidente -, o brasileiro vive a pior das situações: paga muitos impostos, não recebe em troca serviços de qualidade do Estado - ao contrário do que acontece na Europa - e ainda tem o futuro de filhos e netos comprometido, se não tiver recursos para adquirir o que o Estado não lhe fornece: educação e saúde. Mais impostos apenas engordam um Estado sem condições de reverter o que arrecada em melhores serviços e em meios para que a sociedade se desenvolva. 

 Reflexão do dia – Fernando Henrique Cardoso

 Reflexão do dia – Fernando Henrique Cardoso


Precisamos pensar as mudanças no Brasil. O que você tem hoje é uma espécie de camisa de força, criada pelas campanhas passadas, que é a obrigatoriedade de fazer pesquisas, saber o que as pessoas querem e repetir na campanha os pontos que o povo quer. Todo o esforço dos marqueteiros é não discutir problemas que possam dividir. E toda a discussão intelectual divide. Então, é um teatro onde as pessoas vêm devidamente maquiadas, fantasiadas, para dizer, como se fossem ventríloquos, aquilo que se acha que o povo quer ouvir. Cadê a liderança política? Com liderança, você não tem que repetir o que os outros querem. Você tem que convencer os outros da importância dos seus valores. Tenho dito isso para meu candidato, o Serra, que ele tem condição de falar na TV o que acha. Porque as pessoas não estão mais acostumadas a saber o que os outros acham. Ninguém acha nada. No fundo, todos os discursos ficam iguais. São só imagens, imagens, e não se acha nada.Não tem política. 

(Fernando Henrique Cardoso, na entrevista, em O Globo, domingo, 1/8/2010)

Liberdade na pesquisa, artigo de Mário Novello

Liberdade na pesquisa, artigo de Mário Novello
                                                                                                                                   
"A ciência pode não desembocar em uma atividade tecnológica. E o que então podemos esperar dos cientistas?"
Mário Novello é cosmólogo e integrante do Instituto de Cosmologia, Relatividade e Astrofísica.

O crescimento quantitativo, nos últimos vinte anos, da atividade em ciência e tecnologia produziu um avanço notável que está catapultando a atividade cientifica brasileira em nível internacional, impondo uma reflexão sobre o futuro da organização da ciência em nosso pais. Um dos grandes desafios que temos pela frente é a relação, desnecessariamente conflituosa, entre atividade cientifica e tecnológica.

É então que aparece a questão: a pesquisa cientifica deve depender institucionalmente de um objetivo tecnológico? É para exercer uma dominação no mundo que o cientista se debruça sobre a natureza e inventa suas leis e teorias? A longo prazo, atrelando ciência à tecnologia, o diálogo com a natureza se perde.

O sistema de C&T estará então a serviço de uma sociedade cujas consequências nefastas - como no exemplo do desequilíbrio ecológico denunciado há décadas - estão começando a se fazer sentir. É esse o momento em que somos chamados a refletir sobre o caminho a seguir.

Argumenta-se que, no caso da ciência - devido à sua universalidade e a seus métodos de atuação -, não há opção. Uma sentença desqualificante pretende exemplificar essa posição: não podemos (re)inventar a roda, dizem. O procedimento de fazer ciência seria único e qualquer alternativa seria um trabalho inútil, insignificante e fadado ao fracasso.

Assim, dever-se-ia copiar o modelo americano de fazer ciência. Não somente por suas consequências práticas visíveis - identificadas com sinais exteriores de sucesso, como, por exemplo, o grande número de prêmios (Nobel e outros) -, como também pela inexorabilidade histórica de que não há alternativa viável em um mundo que se organiza de modo cada vez mais completamente regido por um sistema de poder único, global, altamente fascinante, mas corrosivo.

O cientista ítalo-americano Vitório Canuto, ao comentar essa questão, declarou, referindo-se aos EUA: "Este não é um pais metafísico", querendo se referir aos aspectos práticos, tecnológicos, que norteiam o sistema de ciência e tecnologia daquele país. Os seguidores desse pensamento argumentam que a era atual de especialização torna aquela opção política americana inevitável.

Será mesmo? Nos anos 1930, Ortega y Gasset apontava já o afastamento cada vez maior do diálogo com a natureza devido à redução do saber científico a um conhecimento especializado, técnico, reducionista, não integrado.

Mas qual a razão dessa nossa análise aqui? Esclareçamos.

O MCT está promovendo a elaboração de um Plano Nacional de Astronomia. Uma das questões com que a comissão encarregada se deparou - e que não é restrita a esta área - envolve a interdependência entre serviços de natureza técnica e ciência fundamental.

Os centros de pesquisa cientifica, praticamente todos exclusivamente no sistema governamental, devem continuar suas atividades de ciência fundamental ou devem ser transfigurados em pólos de desenvolvimento tecnológico? Há, parece, uma opção política a ser feita.

E, no entanto, não me parece ser correta a formulação dessa dicotomia.

Ela não é inevitável, existe uma liberdade de escolha, há outros caminhos. E aqui não se trata de escolha individual, mas sim de uma atividade coletiva: a organização do sistema C&T. A ciência pode não desembocar em uma atividade tecnológica.

E o que então podemos esperar dos cientistas? Eu deixaria aqui esta questão aberta para que possamos refletir sobre ela. Mas acrescentaria um exemplo concreto de uma atividade científica aparentemente irrelevante em sua prática de dominação da natureza, mas que provoca uma profunda reflexão sobre nós mesmos, sobre a espécie humana.

A origem do universo talvez seja um dos maiores mistérios que a razão procura explicar. Durante quase 30 anos, a ciência da cosmologia trivializou essa questão, identificando o momento de extrema condensação pela qual passou o universo ao seu começo e produzindo, através do cenário "big bang", um mito de criação, acenando com a impossibilidade de produzir as causas racionais daquele ponto inicial. Estaria assim decretado o fim da maravilhosa caminhada da ciência, iniciada lá atrás por Copérnico, Kepler, Galileu e seus companheiros astrônomos.

E, no entanto, no interior desta ciência, surgiu uma reação a esta posição irracional, produzindo a análise para além daquele suposto inicio de tudo que existe, dando lugar ao modelo de um universo dinâmico e eterno. Os cosmólogos mostraram que não seria possível não haver alguma coisa: o Universo estava condenado a existir.

É esta matéria de reflexão e encantamento que devemos esperar que a ciência produza.
(O Globo, 3/8)

Festival de Cinema Judaico exibirá 30 longas em SP

Festival de Cinema Judaico exibirá 30 longas em SP

02 de agosto de 2010 | 10h 36  AE - Agência Estado
Cena do filme "Marcha da Vida" (Foto: Divulgação)
O festival de cinema é judeu, mas isso não significa que os filmes em exibição no 14º Festival de Cinema Judaico, que abre hoje, às 20h30, no clube Hebraica, obrigatoriamente sejam falados em hebraico ou sigam os Dez Mandamentos. Os filmes deste ano vêm de países da América do Norte, Europa e Brasil. Ao todo, são 30 longas e quatro curtas. A programação terá como foco a diversidade e o ecletismo de temas. Os filmes estarão em exibição na Hebraica, CineSesc, Cinemark Higienópolis, Centro da Cultura Judaica e Livraria Cultura. O festival vai até o próximo domingo (dia 8).
O destaque é o longa brasileiro "Marcha da Vida", de Jessica Sanders e idealizado por Marcio Pitliuk, que será exibido somente hoje, às 20h30, para convidados, na Hebraica. O filme é um documentário em que Marcio acompanha um grupo de estudantes numa viagem a campos de concentração nazistas da Polônia e depois a uma viagem para Israel. A viagem, segundo o idealizador, foi feita para conscientizar os jovens e não deixar que o holocausto seja esquecido. "Os nazistas faziam os judeus marcharem até a morte. Esses jovens marcham pela vida. Daí o título do filme e da viagem", explica Marcio.
No caso desse filme, é clara a ligação do tema com o judaísmo. Há outros títulos, no entanto, em que as associações são mais sutis. A curadora da mostra, Daniela Wasserstein, tenta definir o que é um filme judaico. "No festival, procuramos ampliar esse panorama. Não precisa ser um filme feito por judeus. Mas todos os longas trazem algum aspecto político ou cultural dos judeus", diz Daniela.
Entre os destaques internacionais, estão o israelense "Uma Questão de Tamanho", que fala de quatro amigos gordos que organizam um campeonato de sumô numa cidade de Israel; o francês "A Garota do Trem", com Catherine Deneuve, sobre uma mulher que se diz vítima de um ataque semita; e o mexicano "Cinco Dias Sem Nora", que conta a história de uma mulher que se matou mas deixou para a família a receita dos pratos judaicos matzá e gefilte fish. As informações são do Jornal da Tarde.
14º Festival de Cinema Judaico. De hoje até o dia 8 de agosto. Programação no site: www.fcjsp.com.br.
Hebraica - Rua Hungria, 1000. Tel. (011) 3818-8888. Vendas somente para a Hebraica: www.ingressorapido.com.br. De R$ 8 a R$ 4.
Cine Sesc - Rua Augusta, 2075. Tel. (011) 3087-0500. Ingressos à venda no local. De R$ 8 a R$ 2.
Cinemark Higienópolis - Av. Higienópolis, 618. Tel. (011) 3823-2875. Vendas no local. De R$ 8 a R$ 4.
Centro da Cultura Judaica - Rua Oscar Freire, 2500. Tel. (011) 3065-4333. Ingresso: 1Kg de alimento não perecível.
Livraria Cultura - Av.Paulista, 2073. Conjunto Nacional. Tel. (011) 3170-4033. Grátis. 

Família de iraniana minimiza apelo de Lula

Família de iraniana minimiza apelo de Lula
O GLOBO Christine Lages e Rossana Maure
Representante da condenada ao apedrejamento afirma que campanha mundial influi em decisão de rever o caso

O apelo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao iraniano Mahmoud Ahmadinejad contra a pena de morte e o apedrejamento de Sakineh Mohammadi Ashtiani não é o único responsável pela abertura de diálogo de Teerã a respeito da condenação, afirmou ontem ao GLOBO a representante da iraniana presa, Mina Ahadi. A afirmação foi feita depois que o filho de Sakineh, Sajjad Ghaderzadeh, de 22 anos, disse ao jornal britânico "Guardian" que recebeu um telefonema do governo de seu país informando que o caso de sua mãe seria analisado ainda esta semana. O rapaz disse que o contato foi feito com ele momentos após Lula oferecer, em comício no sábado, asilo político à Sakineh.
O caso da iraniana, que está no corredor da morte após ter confessado - obrigada pela polícia, segundo sua defesa - um adultério, vem mobilizando milhares de pessoas no mundo. Segundo Mina Ahadi - na foto, chefe da Comissão Internacional Contra Apedrejamento e Pena de Morte, sua ONG já conseguiu mais de 700 mil assinaturas contra a condenação da mulher. Mina, no entanto, não acredita que Lula seja totalmente responsável pela mudança de comportamento do governo iraniano.
- Não é responsabilidade exclusiva do presidente do Brasil a reabertura do diálogo com o governo iraniano a respeito da condenação de Sakineh. Mais de 700 mil pessoas estão apoiando nossa campanha, e a pressão internacional teve um grande peso também - afirmou ao GLOBO.
A notícia sobre a possibilidade da tão esperada reviravolta no caso foi dada pelo próprio filho da iraniana ao "Guardian". Momentos após um apelo de Lula e a oferta de asilo político à mulher, Sajjad teria recebido uma ligação de Teerã, informando que o caso seria revisto.
"O tom deles foi mais educado. Depois do comentário do presidente Lula, pela primeira vez as agências iranianas noticiaram o caso da minha mãe, o que mostra o quão importante o Brasil é para o Irã", afirmou Sajjad, e completou: "Não acho que o Irã possa ignorar o Brasil com a facilidade que tem ignorado outros países".
Na semana passada, Lula afirmou que não deveria interferir na legislação de outro país. Apesar de dizer que é contra a pena, o presidente sugeriu que se manteria afastado do assunto. As declarações provocaram protestos. Mas a iniciativa de Lula também gerou desconfiança entre alguns iranianos.
- Nós aqui, que estamos envolvidos na luta pela sobrevivência da iraniana, vemos a relação entre o Lula e o Irã com certa desconfiança. Estávamos céticos de que o presidente brasileiro tomaria alguma posição mais enfática em relação ao caso, apesar da boa relação entre os dois países. Finalmente, Lula se manifestou - disse Mina.
Atualmente, a ativista é o contato mais próximo com a família de Sakineh. Desde que concedeu uma entrevista à emissora americana CNN, Sajjad vem evitando se pronunciar. Segundo Mina, ela é a única autorizada a falar por Sajjad sobre o caso.
- Sajjad está orientado a não ter contato direto com a imprensa internacional. O filho de Sakineh sofreu pressão no Irã e foi advertido a não dar mais informações a jornalistas estrangeiros. Tudo o que ele precisa declarar agora passa por nossa ONG, até para podermos garantir sua integridade física. Por uma questão de segurança, estamos autorizados a falar por ele e representá-lo na mídia - explicou ela.

Ahmadinejad quer debate com Obama na TV
Os EUA declararam ontem que apoiam a iniciativa do Brasil de oferecer asilo à iraniana. Já a agência de notícias ultraconservadora de Teerã Jahan News disse que as declarações de Lula foram uma "clara interferência nas questões nacionais" do Irã.
Ontem, Ahmadinejad propôs a Barack Obama um debate na TV a fim de discutir as melhores soluções para os problemas mundiais. A proposta foi feita um dia após os EUA admitirem que têm um plano pronto para atacar o Irã. O iraniano disse que George W. Bush rejeitou o mesmo convite, pois teria ficado com medo.
- No fim do verão (no Hemisfério Norte), nós estaremos lá para a Assembleia Geral, e eu estarei pronto para conversar cara a cara com Obama, diante da mídia, é claro - disse.
Com agências internacionais

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