quinta-feira, setembro 09, 2010

Fernandes, para Diário do ABC

Presidente partido

Presidente partido
DORA KRAMER O Estado de S. Paulo - 09/09/2010
No dia da Independência, de broche da Bandeira Nacional na lapela, o presidente da República fez um pronunciamento à Nação no horário eleitoral do PT para desancar a oposição, defender sua candidata a presidente e confundir a opinião pública acerca das quebras de sigilo fiscal na Receita Federal.
Além de deformar os atributos do poder delegado pelas urnas, o presidente eleito para presidir a todos os brasileiros trabalha para um partido (o que é vedado pela Constituição) e se imiscui indevidamente nas investigações em andamento na Receita e na Polícia Federal.
Procurando dar uma feição oficial ao manifesto acusou seus adversários disso e daquilo, mas não contou o caso direito nem entrou em nenhum detalhe sobre o assunto que põe sob suspeita o governo, o PT e a campanha presidencial do partido.
Luiz Inácio da Silva não esclareceu coisa alguma sobre o que está acontecendo, só afirmou que "baixezas" são cometidas contra a candidata a presidente e, de maneira demagógica, estendeu a "ofensa" às mulheres de todo País.
Se a candidata não sabe - ou não pode - se defender, a maioria das mulheres sabe perfeitamente como fazer isso, embora muitas não disponham de instrumentos suficientes e nem todas obtenham êxito.
No caso, a defesa extensiva de sua excelência seria bem recebida não só por mulheres, mas também por homens. Todos os cidadãos que tiveram o sigilo violado na Receita gostariam de ser defendidos por Lula, mas até agora não mereceram atenção das autoridades, preocupadas com a única mulher que ao governo interessa: Dilma Rousseff.
Tirando ela, a necessidade de protegê-la e a ânsia de que o País inteiro "reconheça" que a eleição está decidida antes mesmo de a eleição acontecer, nada mais parece importar.
Ainda há quem se pergunte o que leva a imprensa de um modo geral a dar crédito à denúncia da oposição de que as quebras de sigilo fiscal descobertas até agora, no ABC paulista e no interior de Minas Gerais, teriam como alvo o candidato a presidente pelo PSDB.
Vários fatores: o histórico de conduta, o fato em si (petistas como agentes da violação, tucanos e parentes do candidato como objetos dos atos), o interesse, mas principalmente a atitude dos suspeitos, agora corroborada pela reação direta e pessoal do presidente Luiz Inácio da Silva.
As mentiras e mais recentemente a contundência deixam pouquíssima margem para dúvidas.
Se não sentisse um aroma de perigo no ar, Lula não se incomodaria com o caso. Por muito mais, a crise aérea de 2006/2007, o presidente da República demorou meses até se pronunciar.
Sendo verdade, como diz o ministro da Fazenda - com outras palavras, claro -, que a Receita Federal é uma peneira, natural seria que o governo demonstrasse um mínimo de preocupação com o fato.
Quanto à "coincidência" de na lista constar os nomes da filha de José Serra, do genro, do marido da prima, do ex-caixa de campanha, de um ministro do governo FH e do vice-presidente do partido do candidato da oposição, torna mais grave por força da eleição.
Insuspeito talvez não, mas mais republicano poderia ser considerado o gesto do presidente da República se no lugar de insultos ele dirigisse ao candidato escusas pelos transtornos causados pelo Estado.
Em seguida, anunciasse uma devassa em regra na Receita, mais especificamente na delegacia de Mauá e respectivas ramificações.
Refresco. A candidata Marina Silva provavelmente se considerasse vítima da Receita caso seu sigilo fiscal tivesse sido quebrado.
Portanto, quem teve a privacidade violada pelo Estado não se "faz" de vítima. Por definição "é" uma vítima, independentemente da filiação partidária.
Só para raciocinar: e se o sigilo fiscal violado fosse o de um dos filhos do presidente Lula? E se o caso acontecesse no governo do PSDB?

Nichols Bridgeway, Chicago


 Photograph by Melissa Farlow, National Geographic

J. Bosco para O Liberal

A guerra no jornalismo dos EUA

A guerra no jornalismo dos EUA
KENNETH MAXWELL – Publicado na Folha de São Paulo
No mundo da mídia impressa, há uma batalha monumental em curso entre o "New York Times", de Arthur Sulzberger - foto esquerda, e o "Wall Street Journal", de Rupert Murdoch - foto abaixo.
Para Murdoch, o "New York Times" representa tudo o que ele mais odeia no jornalismo, e o empresário parece determinado a desafiar e a solapar o seu grande rival. Murdoch é notório pelas suas guerras jornalísticas, especialmente no Reino Unido, onde controla o "Times" e o "News of the World". Mas a disputa entre o "Wall Street Journal" e o "New York Times" promete ser a maior das batalhas.
O mais recente episódio começou com uma reportagem investigativa de Don Van Natta Jr., Jo Becker e Graham Bowley, publicada pelo "New York Times" com o título "O ataque do tabloide: as escutas de um jornal londrino contra os ricos e famosos".
A Scotland Yard identificou a origem de escutas usadas contra família real e chegou a Clive Goodman, antigo repórter judicial, e Glenn Mulcaire, antigo investigador particular, que também trabalhava para o jornal "News of the World".
Os dois haviam obtido as senhas necessárias para ouvir as mensagens de voz dos príncipes Andrew e Harry. O "New York Times" alegou que repórteres do "News of the World" também invadiram as caixas de mensagens de voz de centenas de celebridades, funcionários do governo e astros dos esportes britânicos.
Tanto Goodman como Mulcaire foram demitidos e aprisionados. O "New York Times" acusou, no entanto, que a Scotland Yard não levou adiante as investigações sobre pistas que sugeriam que o "News of the World" estava conduzindo operações de escuta contra cidadãos de maneira rotineira.
O foco estreito da investigação permitiu que o "News of the World" e sua companhia controladora, a News International, de Murdoch, atribuíssem o caso às ações de um jornalista. Tanto Goodman como Mulcaire abriram processos contra o "News of the World" -os dois casos foram encerrados por meio de acordos extrajudiciais. O editor do "News of the World" no período em questão, Andy Coulson, também se demitiu. Hoje é diretor de comunicações na equipe do primeiro-ministro David Cameron.
A revista "Vanity Fair" afirmou nesta semana que assistir à disputa era como "ver uma briga entre os Corleone e a família Tenembaum". Na segunda-feira, John Yates, comissário assistente da polícia londrina, disse que, "se surgirem novas provas, que justifiquem novas investigações, é isso o que faremos".

Como nunca antes neste país

Como nunca antes neste país
EDITORIAL O Estado de S. Paulo - 09/09/2010
Tão profícua tem sido a atuação do presidente Lula na desmoralização das mais importantes instituições do Estado brasileiro, que se torna missão complexa avaliar o que efetivamente tem sido realizado nesse campo, aí sim como nunca antes neste país. Como a lista é longa, melhor ficar nos exemplos mais notórios.
O presidente Lula desmoralizou o Congresso Nacional ao permitir que o então chefe de seu Gabinete Civil, o trêfego José Dirceu, urdisse e implantasse um amplo esquema de compra de apoio parlamentar - o malfadado mensalão. Essa bandidagem custou ao chefe da gangue o cargo de ministro. Mas seu trânsito e influência dentro do governo permanecem enormes, com a indispensável anuência tácita do chefão.
Denunciado o plano de compra direta de apoio de deputados e senadores, o governo petista passou a se compor com toda e qualquer liderança disposta a trocar apoio por benesses governamentais, não importando o quanto de incoerência essas novas alianças pudessem significar diante do que propunha, no passado, a aguerrida ação oposicionista de Lula e de seu partido na defesa intransigente dos mais elevados valores éticos na política. Daí estarem hoje solidamente alinhadas com o governo as mais tradicionais oligarquias dos rincões mais atrasados do País - os Sarneys, os Calheiros, os Barbalhos, os Collors de Mello, todos antes vigorosamente apontados pelo lulo-petismo como responsáveis, no mínimo, pela miséria social em seus domínios. Essa mudança foi recentemente explicada por Dilma Rousseff como resultado do "amadurecimento" político do PT.
O presidente Lula desmoralizou a instituição sindical ao estimular o peleguismo nas entidades representativas dos trabalhadores e, de modo especial, nas centrais sindicais, transformadas em correia de transmissão dos interesses políticos de Brasília.
O presidente Lula tentou desmoralizar os tribunais de contas ao acusá-los, reiteradas vezes, de serem entrave à ação executiva do governo por conta do "excesso de zelo" com que fiscalizam as obras públicas.
O presidente Lula desmoralizou os Correios, antes uma instituição reconhecida pela excelência dos serviços essenciais que presta, ao aparelhar partidariamente sua administração em troca, claro, de apoio político.
O presidente Lula desmoralizou o Tribunal Superior Eleitoral, e, por extensão, toda a instituição judiciária, ao ridicularizar em público, para uma plateia de trabalhadores, multas que lhe foram aplicadas por causa de sua debochada desobediência à legislação eleitoral.
Mas é preciso reconhecer que pelo menos uma lei Lula reabilitou, pois andava relegada ao olvido: a lei de Gerson. Aquela que, no auge do regime militar e do "milagre brasileiro", recomendava: o importante é levar vantagem em tudo. Esse sentimento que o presidente nem tenta mais disfarçar - tudo está bem se me convém - só faz aumentar com o incremento de seus índices de popularidade e sinaliza, por um lado, a tentação do autoritarismo populista, enquanto, por outro lado, estimula a erosão dos valores morais, éticos, indispensáveis à promoção humana e a qualquer projeto de desenvolvimento social.
O presidente vangloria-se do enorme apoio popular de que desfruta porque a economia vai bem. Indicadores econômicos positivos, desemprego menor, os brasileiros ganhando mais, Copa do Mundo, Olimpíada. É verdade, mesmo sem considerar que Lula e o PT não fizeram isso sozinhos, pois, embora não tenham a honestidade de reconhecê-lo, beneficiaram-se de condições construídas desde muito antes de 2002 e também de uma conjuntura internacional política e, principalmente, econômica, que de uma maneira ou de outra acabou sendo sempre favorável ao Brasil nos últimos anos.
Mas um país não se constrói apenas com indicadores econômicos positivos. São necessárias também instituições sólidas, consciência cívica, capacidade cidadã de avaliar criticamente o jogo político e as ações do poder público. Nada disso Sua Excelência demonstra desejar. Oferece, é verdade, pão e circo. Não é pouco. Mas é muito menos do que exige a dignidade humana, senhor presidente da República!

Espatódea - Nando Reis

O papel de Dirceu

O papel de Dirceu
Merval Pereira - 09/09/2010 O Globo
O ex-ministro e deputado federal cassado José Dirceu, acusado pelo procurador-geral da República de ser o “chefe da quadrilha” que organizou o mensalão, está se sentindo perseguido durante esta campanha eleitoral. Incomoda-o bastante o pequeno anúncio da campanha do candidato tucano José Serra que alerta o eleitorado para a sua proximidade com a candidata oficial Dilma Rousseff.
“Depois dela, vem ele”, adverte o comercial. A própria candidata mostra-se incomodada com essa ligação, mas como José Dirceu continua tendo muito influência dentro do PT, e atua nos bastidores da coligação governista com estatura de coordenador da campanha, a candidata evita renegar seu antigo chefe, que, ao passarlhe o cargo de chefe do Gabinete Civil, atingido pelo escândalo do mensalão, saudoua como “minha companheira em armas”.
Hoje, Dilma nega ter pegado em armas contra a ditadura, mas na ocasião chegou a se emocionar no Palácio do Planalto ao relembrar os dias de luta armada e a morte de vários companheiros seus e de Dirceu.
Ao contrário do ex-presidente e atual senador Fernando Collor, cujo apoio Dilma renegou de público depois de ter conseguido tirar do ar uma propaganda em que Collor pedia votos para ela, com Dirceu o trato é cauteloso.
Perguntada se Dirceu faria parte de seu governo, Dilma disse apenas que não responderia sobre equipe de governo porque pareceria presunção antes do resultado oficial da eleição.
Coube ao próprio José Dirceu retirar do caminho de Dilma esse obstáculo, anunciando que não pretende voltar a atuar no governo antes de seu julgamento no Supremo Tribunal Federal.
O fato é que José Dirceu continua dando as cartas dentro do PT e atuou explicitamente na formação da coligação que hoje apoia a candidatura de Dilma Rousseff.
Viajou pelo país como enviado do PT e negociou diretamente os diversos acordos firmados nos estados, tendo sido parte importante na decisão de o PT abrir mão de concorrer ao governo de Minas para dar a vez a Hélio Costa, do PMDB.
O ex-ministro mostrou-se também indignado com uma informação dada aqui na coluna na terça-feira.
Transcrevo o trecho que incomodou Dirceu e que ele publicou em seu blog: “No governo, montaram uma máquina de informações não apenas para difundir notícias falsas sobre seus adversários como para usar as informações como arma política de chantagem nas negociações de bastidores.
O cérebro desse esquema de informações paralelo e ilegal foi o ex-ministro e deputado federal cassado José Dirceu, que se vangloria até hoje dos métodos que aprendeu quando esteve exilado em Cuba.” Pois bem, a informação de que Dirceu é a origem de uma máquina subterrânea de “inteligência” montada dentro do governo petista já fora publicada aqui na coluna, mais exatamente em setembro de 2 0 0 6 , quando o escândalo dos “aloprados” do PT estava no auge.
Naquela ocasião, relatei que Cid Benjamim, então candidato a deputado estadual pelo PSOL, irmão de César Benjamim, que disputava a eleição como vice de Heloísa Helena, contara em seu blog “uma historinha” que demonstra muito bem o que podia estar por trás da compra do dossiê contra os tucanos e do tal setor de “inteligência” da campanha de reeleição de Lula.

Seca no Amazonas dificulta trabalho dos recenseadores

Seca no Amazonas dificulta trabalho dos recenseadores
Abastecimento de combustível e alimento, feito por barcos, também pode ser prejudicado pela estiagem
Estão em situação de alerta por causa da falta de navegabilidade 27 cidades do Estado, segundo a Defesa Civil
KÁTIA BRASIL - DE MANAUS – Folha de São Paulo
A estiagem que baixou o nível de rios do Amazonas vem prejudicando o trabalho dos recenseadores do Censo 2010 do IBGE.
Estão em situação de alerta por causa da falta de navegabilidade 27 cidades do Estado, segundo a Defesa Civil.
Como o barco é o principal meio de transporte na região, os agentes não conseguem ir a comunidades isoladas.
Ao todo, 2.700 recenseadores estão em campo. Em alguns casos, eles deixam os barcos e caminham pela vegetação, nas margens dos rios, até alcançar os locais dos levantamentos.
A pesquisa, que em algumas regiões demoraria dez dias, agora leva até 15.
O coordenador operacional do Censo no Amazonas, José Ilcleson Mendes Coelho, afirma que o IBGE está contratando aviões para transportar os pesquisadores.
Mas diz que a previsão de conclusão do Censo para o próximo mês está mantida. A coleta atingiu ontem 54% da população no Estado.
Algumas das cidades mais afetadas são Atalaia do Norte (rio Solimões), Tapauá (rio Purus) e Itamarati (rio Juruá).
DESABASTECIMENTO
Jair Souto, presidente da Associação dos Municípios do Amazonas, afirma que o abastecimento de alimentos e de combustível para termelétricas, realizado por balsas na região, também deve ser afetado pela seca.
Por causa das eleições, o governo do Estado não pode distribuir mantimentos. Existe a possibilidade de o exército fazer a entrega de alimentos aos habitantes atingidos pela estiagem.
O problema nos rios nas regiões oeste e sul do Estado, segundo o meteorologista Renato Cruz Senna, do Sipam (Sistema de Proteção da Amazônia), pode estar relacionado à falta de chuvas nas nascentes dos rios, localizadas no Peru e na Colômbia.
Em cidades banhadas pelo rio Negro, como Manaus, a situação é de normalidade.
Senna afirma que o fenômeno La Niña (esfriamento anormal das águas do oceano Pacífico Tropical) já é observado há cerca de dois meses, provocando excesso de chuvas em regiões ao norte e leste do Estado.
Segundo o especialista, em áreas ao sul e oeste do Amazonas, os efeitos do fenômeno devem começar nos próximos meses.

Debate Estadão Gazeta à Presidência -

TV Estadão | 9.9.2010
Os candidatos José Serra, Marina Silva e Plínio de Arruda Sampaio participaram do debate realizado por O Estado de S. Paulo e TV Gazeta - Dilma faltou.

Fórum Cristão de Profissionais

Erasmo, para o Jornal de Piracicaba

O limite do tirano

O limite do tirano
O tirano mais vivo, mais esperto ou mais hábil, consegue jogar a conta para depois da sua morte. Só que alcançar esse feito não é para qualquer um
Por Alon Feuerwerker – Correio Braziliense
 Todo tirano ou candidato a tirano corre o risco de certo dia topar com um limite. Mais cedo ou mais tarde. Ainda que do psiquismo tirânico não costume constar essa noção: a do limite para o exercício do poder. Há tiranos como Adolf Hitler, que na busca patológica do poder ilimitado arrastam suas nações à ruína. Outros, como Sadam Hussein, vão tão longe que não deixam saída para si próprios.
O governo do Irã, aparentemente, decidiu recuar da sentença de morte por apedrejamento de Sakineh Mohammadi Ashtiani. Ela está condenada por “adultério”, com o detalhe de ter praticado as relações extraconjugais quando já era viúva. As autoridades daquele país acenam com a possibilidade de enforcá-la, e para contrabalançar a pressão mundial ensaiam agora condená-la por homicídio.
É um sistema jurídico singular: se a pena parece severa demais para o delito, agrava-se a acusação.
O arcabouço judicial do Irã é assunto exclusivo deles, um país soberano. O interessante no episódio é finalmente Teerã ter precisado recuar em algum assunto. À primeira vista, o recuo resulta das fortes pressões globais em defesa dos direitos humanos. Mas a equação é um pouquinho mais complexa.
O principal desafio político da liderança iraniana é evitar o isolamento internacional, e assim comprar tempo para o desenvolvimento do programa nuclear. O Irã afirma ser ele inteiramente voltado para fins pacíficos, mas é nula a confiança planetária nessa garantia. Nem os aliados do presidente Mahmoud Ahmadinejad se animam a colocar a mão no fogo pelas intenções dele.
Você duvida? Procure no Itamaraty alguém que nas conversas a sério diga acreditar nas promessas pacifistas de Ahmadinejad. Se encontrar, avise.
Os amigos da atual liderança iraniana apostam num estratagema. Enrolar a plateia durante tempo suficiente para a bomba dos aiatolás virar fato consumado, com o decorrente rearranjo de forças regionais e planetárias.
Por esses cálculos, um Irã nuclear significaria o enfraquecimento estratégico da influência dos Estados Unidos no Oriente Médio, com ameaça direta à estabilidade dos principais aliados de Washington (Arábia Saudita, Egito) e possibilidade de colocar em xeque a sobrevivência de Israel como estado judeu.
Mas uma linha dessas exige tempo, e pede também medidas que dificultem a construção de uma aliança das superpotências voltada a neutralizar militarmente o Irã antes do tal fato consumado. Pois nem russos nem chineses parecem animados com a possibilidade de o vizinho adquirir esse poder de fogo.
Sorte de Sakineh Ashtiani. Não há garantias de um bom destino para ela, mas a situação já está melhor do que tempos atrás. Interessa agora aos algozes transmitir ao mundo sinais de compaixão, de humanidade, de justiça. Para evitar que engrosse a corrente mundial de opinião pública favorável a mais sanções, ou mesmo a uma solução militar para o impasse sobre o programa nuclear iraniano.
Abri esta coluna falando dos limites à tirania. Como demonstra o caso de Sakineh, mas não só o dela, o tirano pode até construir para si um mundo mental adaptado à mitologia que mais lhe convém, mas a realidade sempre acaba batendo à porta. O tirano mais vivo, mais esperto ou mais hábil, consegue jogar a conta para depois da sua morte. Só que alcançar esse feito não é para qualquer um.
Nem aí
E segue a cascata de revelações espantosas na Receita Federal. Quando é que alguém vai tomar providências práticas para que o cidadão comum, o contribuinte comum, possa voltar a acreditar que as informações repassadas ao fisco estão bem guardadas?
Porque até agora o governo só tratou do assunto no âmbito político. Como se não devesse qualquer tipo de satisfação às pessoas que se lixam para a guerra entre o PT e o PSDB, mas que declaram e pagam os impostos como manda a lei.

Retrato da potência banguela

Retrato da potência banguela

VINICIUS TORRES FREIRE - FOLHA DE SÃO PAULO - 09/09/10
Instantâneo fornecido pela Pnad mostra ainda um país muito primitivo e lerdo no avanço social e econômico
A PARCELA dos brasileiros com pelo menos 11 anos de estudo mais que dobrou de 1995 para 2009. Isto é, trata-se da proporção dos brasileiros que completaram pelo menos o ensino médio. "Mais que dobrar" parece um grande progresso. É?
Bem, em 1995, 15,5% da população haviam estudado mais de 11 anos. No ano passado, essa proporção subira para 33,3%, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, a Pnad de 2009, cujos primeiros resultados foram divulgados ontem pelo IBGE.
O ritmo de aumento da parcela da população que ao menos se graduou no colegial flutua em torno de 1,5 ponto percentual desde 2002.
Nessa toada, metade da população terá completado pelo menos o segundo grau em 2022, oito anos depois da Copa, seis anos depois da Olimpíada do Rio, mais de uma década depois do início da construção do trem-bala, caso esse disparate se torne realidade. Note-se que 67% dos brasileiros têm mais de 20 anos ou mais -20 anos parece idade suficiente para ter terminado o ensino médio (o que deveria ocorrer aos 17 ou aos 18 anos de idade).
Nossos devaneios de potência juvenil ou média, para nem falar de sonhos de suprema elegância, poder e cultura, ficam desmoralizados diante da estatística. O quadro fica ainda pior quando se lembra que a qualidade da escola, fundamental ou média, costuma nos colocar nos três últimos lugares dos rankings de desempenho estudantil (que em geral dizem respeito a 40 a 50 países).
O país se recupera ainda da década e meia de estagnação e tumulto econômicos, o que ajudaria a explicar o mau resultado? Com um pouco mais de progresso da renda e ordem fiscal seria possível melhorar a educação? Talvez. Mas foram assim tão excepcionais as melhorias de renda e do mercado de trabalho?
Não, não se trata aqui mais uma vez da disputa fanática entre fernandinos tucanos e petistas lulistas. Políticas de governos têm, sim, alguma influência no desenvolvimento do mercado de trabalho, mas muita vez os efeitos de tais políticas são notáveis apenas anos depois de encerrado um governo. O que interessa aqui é só a radiografia de um país que se imagina "potência emergente".
A renda média dos domicílios cresceu, em média, 3,6% de 2004 para cá, em termos reais. O número de pessoas por domicílio caiu - a renda per capita domiciliar cresceu, pois, um pouco mais que 3,7% ao ano. Mas de 1998 a 2003 a renda média domiciliar caíra 4% ao ano. Parte importante da sensação de bem-estar dos últimos anos é mais um alívio do que grande progresso.
O índice de distribuição de renda melhorou também, como se sabe. Logo, a renda dos mais pobres cresceu mais. Porém, as séries históricas de dados divulgadas ontem pelo IBGE mostram que a distribuição de renda de 2002 era tão ruim (ou boa) como a de 1981. Durante duas décadas, o país se tornou ainda mais injusto do que sempre o foi.
Apenas 54,1% dos trabalhadores ocupados contribuíam para algum instituto de previdência no ano passado. Melhorou -eram 43,6% em 1992. Mas a estatística incrementada de 2009 quer dizer apenas que quase metade dos trabalhadores não terá cobertura previdenciária na velhice ou doença, ou precisará de uma aposentadoria ou Bolsa inteiramente bancada pelo Estado, tanto problema social como fiscal.

Nani Humor

Psicologia do golpe do sequestro

Psicologia do golpe do sequestro
Mauro Laskowsky – Blog Psicologia Evolucionista na Clínica
Muita gente no Rio de Janeiro tem sido vítima do golpe do sequestro por telefone. Bandidos ligam para a casa da pessoa, dizendo que estão com um parente e pedem um dinheiro que deverá ser levado em algum ponto da cidade em troca do parente em questão. Geralmente eles instigam a pessoa a dizer o nome do seu próprio filho sem perceber e usam esse nome para desesperar a vítima.
Mas o que me tem chamado a atenção é o fato de que mesmo sabendo deste golpe já muito divulgado, as pessoas caem nele assim mesmo.
E o mais extraordinário é o seguinte: Todas as mães de conhecidos que tenho conversado (inclusive a minha própria), juram que ouviram a voz de seus filhos no fundo, pedindo ajuda. É quase um experimento involuntário e mórbido da incrível distorção que podemos fazer de nossos sentidos. Essas mães por algum mecanismo emocional incrível ouvem a voz de seus filhos mesmo não sendo eles a gritar no fundo na ligação.
Imagino que as mães quando percebem do que se trata o telefonema acima, colocam toda a sua atenção sensorial em cada micro ruído que seu ouvido é capaz de ouvir vindo do outro lado da linha. Esta superatenção, estando elas sob estresse, deve confundir a capacidade de avaliação da vítima a ponto dela acabar sucumbindo pela forte emoção.
Essa questão me veio à cabeça quando estava lenda um texto sobre “lembrança de vidas passadas” e também considerei as pessoas que juram terem vistos ETs, enfim crenças não comprovadas cientificamente, mas que rondam o imaginário de um modo geral. A certeza que as pessoas têm de terem presenciado aparições ou fenômenos dessa natureza, deve ter um mecanismo cerebral semelhante de engano ou autoconvencimento ao que as mães acima sofrem.
Não é a toa que no meu caso particular foi meu padrasto que é Físico, portanto um homem acostumado com evidências, que salvou minha mãe do golpe, tendo a ideia de falar um nome qualquer para induzir o bandido ao erro evidenciando que se tratava de um golpe.

Skoob

BBC Brasil Atualidades

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