sábado, junho 26, 2010
‘Mamãe te ama’
Crônica
‘Mamãe te ama’
Luiz Fernando Veríssimo
Uma faixa no meio da torcida brasileira, ontem, dizia "Nicola, mamãe te ama". Não era um recado de incentivo ou crítica ao time, aos jogadores, ao técnico ou ao Galvão Bueno. Era um recado para o Nicola, uma declaração de que sua mãe o ama. A faixa não estava bem exposta. Estava no lado em que ficam as câmeras que cobrem a ação principal do jogo. Só no caso de uma eventual tomada do outro lado, ou do diretor de imagens, catando flagrantes no meio do público, se enternecer com ela, a faixa apareceria na TV. A mãe do Nicola confiou no acaso para que sua mensagem chegasse ao filho. Não se sabe se o Nicola chegou a ver a declaração da mãe. Não sei quem é o Nicola ou quem é a sua mãe. Também ignoro o que levou a mãe do Nicola a assegurar que o amava. Haveria alguma incerteza a respeito, talvez depois de um drama familiar em que o amor materno ficara em dúvida? A mãe do Nicola estaria proibida de ver o filho e escolhera aquela maneira de vencer o bloqueio? Ou teria vindo à Copa e deixado o filho em casa e agora estava corroída pelo remorso? Não poderia ter escolhido um cenário mais espetacular para sua manifestação. O estádio de Durban é o mais bonito do que vi até agora. Ele e os outros estádios construídos especificamente para esta Copa farão parte do rebanho de elefantes brancos que a África do Sul herdará, não podendo nem usá-los como atração zoológica. Mas isso não tem nada a ver com o Nicola e sua mãe. Que paixões, que ternura ou angústia não estariam por trás daquela afirmação pública de amor? Fiquei pensando nisso o tempo todo. Meu medo era que o Nicola não estivesse vendo a faixa. Se alguém que conhece o Nicola estiver lendo isto, por favor, avise que sua mãe já o perdoou ou pede para ser perdoada, e que de qualquer maneira o ama.
Enquanto isso, em campo, acontecia alguma coisa parecida com futebol. Dois times que "se respeitam", uma maneira de dizer que se anulam pelo medo e a falta de ambição mútuos, correram, se bateram e empataram sem gols. Cristiano Ronaldo, que levantava a torcida portuguesa cada vez que escapava rumo ao infinito, pois sempre dava em nada, continuou jogando apenas com seu próprio ego, o único companheiro que merece sua confiança. Enfim, se o Nicola não estava vendo o jogo na TV, não perdeu nada.
Publicado originalmente no Blog do Noblat
Guerra contra drogas tem novos desafios
Guerra contra drogas tem novos desafios
O Globo - oPINIÃO
O mundo está perdendo a guerra contra as drogas. Um relatório do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC) atesta a ineficácia dos métodos convencionais de enfrentamento do tráfico de entorpecentes centrados em ações policial-militares, de inspiração americana. É bem verdade que as operações de guerra contra os cartéis colombianos, ponta de lança da política internacional antidrogas dos Estados Unidos, tiveram reflexos positivos no abastecimento de cocaína para o país. De 2007 a 2008 caiu o consumo entre os adultos. Mas é na outra face da moeda que reside o problema.
O que poderia ser contabilizado como um avanço na luta contra os tóxicos evidencia apenas que se manteve uma conhecida tendência: sufocado numa determinada região, o tráfico migra para outras áreas. Foi o que aconteceu nos últimos anos. Novas rotas foram abertas pelos traficantes, com a conquista de outros mercados e uma mudança substancial na geografia do consumo: à perda de espaço do pó nos EUA correspondeu um aumento na Europa.
Países da África e da América do Sul, com um preocupante incremento da participação do Brasil, se reafirmaram como rota de exportação para Itália, Espanha e Inglaterra.
Para agravar o quadro, em todo o mundo cresce a demanda por drogas sintéticas.
O relatório da ONU admite que as alterações na produção, no comércio e no perfil de consumo expandiram o tráfico e, por conseguinte, ampliaram os desafios a serem enfrentados pelos governos.
O realinhamento do tráfico consolidou a Venezuela e o Brasil como países de trânsito do comércio de drogas. De acordo com o documento do UNODC, a primeira responde por mais da metade dos carregamentos de entorpecentes que chegam à Europa por via marítima; pelo território brasileiro passam 10% das cargas. Na Venezuela, a ONU aponta como inquietante a atuação do narcotráfico, nos moldes das Farc colombianas, através de organizações como a Frente Bolivariana de Libertação, que contam com a simpatia de Chávez. É emblemático — e igualmente digno de apreensão — que também no Peru, desde o alinhamento do grupo terrorista Sendero Luminoso com as Farc, comércio e produção de drogas tenham acompanhado o crescimento da demanda. Não por acaso, os índices de violência dispararam naqueles dois países.
Todo este movimento internacional na produção, na comercialização ou no perfil do usuário é clara evidência de que o consumo de entorpecentes continua crescendo. É imperioso que seja revista a política global de combate a essa tragédia que abastece fortunas construídas ao preço da desgraça de milhões de famílias. Tratar as drogas apenas como caso de polícia não atende à complexidade do problema. Países que descriminalizaram o consumo, apertaram o cerco ao tráfico e passaram a cuidar dos viciados com princípios da saúde pública, em vez do tacão policial, registram resultados positivos. Obrigar o tráfico a migrar pode maquiar estatísticas regionais, mas tal política, analisada globalmente, reflete apenas novas arrumações do crime, com a ampliação do flagelo pela conquista de novos mercados.
Brasília esconde coleção de obras raras do autor alemão Goethe
Brasília esconde coleção de obras raras do autor alemão Goethe
LUCAS FERRAZ - DE BRASÍLIA - Folha Online - 26/06/2010-08h25
Em um lugar que faria tremer bibliófilos, uma sala inapropriada e sem acesso público escondida em Brasília, repousa um tesouro. Trata-se de uma rara coleção, talvez a mais importante e completa da América Latina, de obras de e sobre Johann Wolfgang Goethe (1749-1832).
O conjunto de livros, 6.000 volumes ligados ao maior nome da literatura alemã, foi comprado pelo governo brasileiro há quase 40 anos e, desde então, foi pouco ou nada pesquisado.
Análise recente feita por um especialista a pedido do governo alemão atesta que seu estado de conservação é "sofrível". Documentos manuseados pela reportagem, elaborados há quase 30 anos, já relatavam o descaso com a obra.
Repletos de mofo e empilhados de forma desorganizada em uma sala da biblioteca do Ministério da Justiça, os 4.183 títulos da coleção jamais foram tratados.
Os livros, mantidos em ambiente sem climatização e sistemas apropriados contra roubo e incêndio, não estão disponíveis para consulta, segundo a própria responsável pelo acervo.
Edição de "Fausto", escrita em alemão gótico; acervo está em uma sala do Ministério da Justiça
Lula Marques/Folhapress Autor de obras-primas como "Fausto", Goethe também enveredou por temas díspares como botânica, mineralogia e direito. Suspeita-se que haja na coleção trabalhos sobre essas áreas.
Pouco se sabe sobre os livros --Ministério da Justiça, Instituto Goethe e embaixada alemã em Brasília não souberam responder.
"Impressionante"
O adido cultural da Alemanha, Holger Klitzing, conheceu o acervo, que ele considera "impressionante", após análise feita em 2006 pelo professor Willi Bolle, da USP (Universidade de São Paulo).
"É possivelmente a mais importante biblioteca goethiana na América Latina. Há uma série de edições originais e de capricho estético especial", disse Bolle.
Marcus Mazzari, professor de teoria literária da USP e membro da Associação Goethe do Brasil, diz desconhecer outro acervo tão completo no país.
A maior parte da coleção é formada por livros em alemão gótico seiscentista, além do contemporâneo, e ainda em inglês, francês, italiano, espanhol e português.
Há obras do final do século 17, algumas artesanais e ilustradas a ouro. A maioria, editada entre 1780 e 1860.
"A direção da biblioteca admitiu que as condições para a conservação não eram ideais", relatou Bolle.
Em nota, o Ministério da Justiça contradiz a versão da chefe da biblioteca e afirma que os livros, disponíveis ao público, são submetidos a "técnicas de conservação" e estão em "local adequado".
Germanófilo
A coleção goethiana foi organizada pelo médico e professor carioca Fernando Rodrigues da Silveira, morto em 1970. Germanófilo, ele adquiriu parte dos livros diretamente na Alemanha.
Após a morte de Silveira, sua filha pôs a coleção à venda. A livreira Margarete Cardoso, 69, que atua com obras raras desde 1960, participou da negociação, em 1971, feita pela livraria Kosmus, no Rio.
"O então ministro da Justiça, Alfredo Buzaid, frequentava a livraria e gostou muito dos livros", conta Margarete. O ministério pagou pelos mais de 6.000 volumes Cr$ 80.000, valor que hoje equivaleria a quase R$ 70 mil --o preço real, estimam livreiros, seria muito maior.
Segundo documento interno do ministério, a coleção está subutilizada pelo menos desde 1981. O governo, agora, afirma que vai restaurar tudo até o final de 2011 --talvez fazendo justiça à frase de Goethe: "Também os livros têm sua vivência, que não lhes pode ser subtraída".
Rotina do desastre
Rotina do desastre
Folha de São Paulo - Editorial
Nas enchentes do Nordeste, o que há de imprevisto em toda catástrofe natural não esconde as conhecidas omissões do poder público
Cenas dramáticas, que sem grande exagero poderiam ter-se verificado na recente catástrofe do Haiti, ocorrem em Pernambuco e Alagoas, depois das chuvas das últimas semanas. Em Palmares, a 129 km de Recife, dezenas de pessoas reviram o lodo em busca de comida. A cidade, de 59 mil habitantes, só conta com um ponto de abastecimento de água potável.
Em União dos Palmares, a 80 km de Maceió, as ruínas são saqueadas durante a noite; disputa-se fisicamente a posse de coisas como um simples botijão de gás.
Totalmente destruída, a cidade de Branquinha (AL) haverá de simplesmente ser refundada em lugar mais alto, se vingarem os planos da prefeitura local. Pertences dos desabrigados de Pernambuco e Alagoas, de computadores a álbuns de família, são encontrados nas praias da Paraíba. Há 154 mil desabrigados.
Catástrofes naturais ocorrem em toda parte, e não há como prever de modo absolutamente confiável o seu grau de violência.
Catástrofes naturais ocorrem em toda parte, e não há como prever de modo absolutamente confiável o seu grau de violência.
Nem tudo era imprevisível, todavia, na tragédia nordestina. Quebrangulo, Moreno, Escada, Primavera: desde 2003, essas cidades sofrem pela terceira vez com as enchentes do inverno. Trinta por cento das cidades agora afetadas já enfrentaram o mesmo problema nos últimos sete anos.
Mesmo assim, pelo menos 15 das cidades alagoanas atingidas pelas chuvas não contavam com órgãos de defesa civil. O Estado de Pernambuco não dispõe de radar meteorológico, tornando-se impossível identificar com antecedência o local preciso de uma tempestade. Foi, em todo caso, pelo aviso dos sinos de uma igreja que os habitantes de Barreiros (PE) puderam refugiar-se, horas antes do desastre.
Seria excessivo acusar de demagogia eleitoral a visita feita pelo presidente Lula aos municípios atingidos. Liberam-se verbas, agora, com máxima urgência para os Estados de Pernambuco e Alagoas; não poderia ser outro o comportamento das autoridades. Poderia ter sido outra, contudo, a atitude do governo federal quando decidiu alocar em um único Estado, a Bahia, quase metade das verbas destinadas a prevenir catástrofes desse tipo.
À frente do ministério responsável pela decisão estava o peemedebista Geddel Vieira Lima, candidato ao governo baiano nas próximas eleições. De 2003 a 2009, a Bahia registrou 431 casos de emergência devidos a circunstâncias climáticas. Foram 542 em Pernambuco -que recebeu, em 2009, menos de 4% dos recursos federais de prevenção, contra os mais de 48% destinados à Bahia. Alagoas nada recebeu. Já não era muito, em todo caso: R$ 70 milhões estavam reservados para situações desse tipo no orçamento.
Entre lágrimas e vivas, o presidente Lula agora anuncia R$ 550 milhões para a recuperação das cidades devastadas. De normas para a preservação ambiental a planos racionais de ocupação urbana, é entretanto incalculável o quanto há a ser feito, em qualquer Estado do país, para que o imprevisível não faça parte, como hoje, da mais cruel rotina.
Entre lágrimas e vivas, o presidente Lula agora anuncia R$ 550 milhões para a recuperação das cidades devastadas. De normas para a preservação ambiental a planos racionais de ocupação urbana, é entretanto incalculável o quanto há a ser feito, em qualquer Estado do país, para que o imprevisível não faça parte, como hoje, da mais cruel rotina.
Pedro Abramovay é o novo secretário de Justiça
Pedro Abramovay é o novo secretário de Justiça
Com 29 anos, substituto de Tuminha já foi secretário de Assuntos Legislativos do ministério
Jailton de Carvalho
BRASÍLIA. O advogado Pedro Abramovay assumirá na próxima semana o comando da Secretaria Nacional de Justiça, ligada ao Ministério da Justiça, em substituição ao ex-secretário Romeu Tuma Júnior, que deixou o cargo no último dia 14, após ser acusado de envolvimento com o chinês Li Kwon Kwen, o Paulo Li, preso por contrabando em São Paulo, ano passado. A nomeação de Abramovay foi definida anteontem entre o ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, e auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Com a escolha de Abramovay, Barreto e Lula optaram por uma solução caseira. Abramovay é ex-secretário de Assuntos Legislativos do próprio ministério.
Ele ocupou o cargo até maio, quando desligou-se do governo para tentar assumir a direção executiva do Escritório das Nações Unidas sobre Droga e Crime, em Viena. Como essa escolha ocorrerá no segundo semestre, Barreto resolveu levar Abramovay de volta ao ministério.
O secretário indicado tem 29 anos, mas já acumula experiência.
Chegou ao governo como assessor especial do ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, ainda no primeiro mandato de Lula, e participou da elaboração de boa parte dos projetos de modernização da legislação penal no país nos últimos anos.
Ele também acompanhou as negociações para as escolhas de ministros de tribunais superiores feitas pelo presidente.
De perfil técnico, mas bem articulado, Abramovay tem bom trânsito até entre parlamentares da oposição e atuou na interlocução do ministério com os congressistas.
— Ele é um sujeito honrado, cumpre o que promete. Tem prestígio. E, apesar da pouca idade, é estudioso. Tomara que seja ele mesmo — diz o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).
Tuma Júnior deixou o governo depois que gravações autorizadas pela Justiça para a Polícia Federal captaram diálogos entre ele e Paulo Li, sobre compra de celulares, câmeras fotográficas e videogame, e também sobre a naturalização de chineses. Tuma se defendeu com o argumento de que não cometera crime algum e que não poderia se responsabilizar por atos de Li.
Mas a situação do ex-secretário se tornou insustentável politicamente após a abertura de investigação sobre seu comportamento pela Comissão de Ética da Presidência. A proximidade de Tuma Júnior com o suposto contrabandista inviabilizou sua permanência no governo.
Convenções desafiam a Lei da Ficha Limpa
Convenções desafiam a Lei da Ficha Limpa
Pelo menos sete candidatos a governador ou senador com condenações na Justiça serão homologados até quarta
Silvia Amorim – O Globo
SÃO PAULO. Começa hoje a temporada de homologação de candidaturas de políticos ameaçados pela Lei da Ficha Limpa.
Até a próxima quarta-feira, prazo final para as convenções partidárias, pelo menos sete candidatos a governador ou a senador terão suas postulações confirmadas, apesar do risco de impugnação mais adiante pela Justiça Eleitoral.
A fila das convenções de políticos já condenados será puxada pelo pré-candidato ao governo do Maranhão Jackson Lago (PDT), que teve o mandato de governador cassado em 2009. A convenção que oficializará sua candidatura está marcada para hoje.
A assessoria jurídica dos pré-candidatos contesta a Lei da Ficha Limpa e ameaça questionar a sua constitucionalidade, caso seus clientes sejam impedidos pelos tribunais eleitorais regionais de disputarem a eleição.
— Se houver impugnação, vamos contestar, e, se precisar ir ao Supremo Tribunal Federal, nós iremos — disse o advogado do pré-candidato ao governo no Distrito Federal Joaquim Roriz (PSC), Eládio Carneiro. — Meu cliente goza de todos os direitos políticos.
Roriz, que renunciou ao mandato de senador para fugir de uma cassação, marcou a homologação de sua candidatura para amanhã. As outras duas convenções polêmicas deste domingo serão a dos exgovernadores Ronaldo Lessa (PMDB), em Alagoas, e Cássio Cunha Lima (PSDB), na Paraíba.
Lessa tenta voltar ao governo alagoano, e Cunha Lima quer disputar uma cadeira no Senado. Ambos foram cassados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
— A inelegibilidade é por três anos, e ele já cumpriu a pena.
Vamos fazer a convenção, registrar a sua candidatura e disputar a eleição — afirmou o secretário-geral do PSDB na Paraíba, João Fernandes.
No início de junho, o TSE decidiu que a Lei da Ficha Limpa — que veta a candidatura de políticos com condenação na Justiça por decisões colegiadas (tomadas por mais de um juiz) — já seria aplicada nas eleições deste ano. Além disso, também ampliou o prazo de inelegibilidade de três para oito anos.
Encerram a temporada de convenções o ex-governador Anthony Garotinho (PR) , pré-candidato ao governo do Rio; Expedito Júnior (PSDB), postulante a governador em Rondônia; e Marcelo Miranda (PMDB), aspirante ao Senado por Tocantins. Cassado por abuso de poder econômico e uso indevido de meios de comunicação nas eleições de 2008, Garotinho sofreu um novo revés esta semana ao tentar suspender sua inelegibilidade. O TSE decidiu aguardar o julgamento de um outro recurso que ele apresentara ao TRE.
Caso os TREs neguem registro aos já condenados, o presidenciável tucano, José Serra, enfrentaria uma situação mais difícil que a da adversária Dilma Rousseff (PT). O tucano conta até agora com o apoio de quatro candidatos que podem ficar de fora da eleição — Rondônia, Paraíba, Maranhão e Distrito Federal. Ao lado de Dilma estão, por enquanto, Lessa e Miranda. Garotinho — cortejado por PT e PSDB — ainda não se definiu entre Serra e Dilma.
A campanha tucana fez uma reunião em São Paulo esta semana para avaliar a dimensão da ameaça. A orientação, entretanto, foi permanecer com os nomes atuais até manifestação da Justiça Eleitoral
Quem é o vice?
Quem é o vice?
MERVAL PEREIRA – O Globo
De repente, quando ninguém queria ser o vice de José Serra, abre-se uma crise na coligação oposicionista justamente devido à disputa pelo posto. Os últimos dias foram gastos em reuniões infindáveis para analisar o que estaria acontecendo no Sudeste para permitir a ultrapassagem da candidata oficial logo na região onde a oposição tinha mais possibilidade de se impor ao governo.
As pesquisas recentes confirmavam que o país está dividido, desde a eleição de 2006, mesmo com a alta popularidade do presidente Lula, e que as questões regionais têm mais preponderância na escolha do voto que ideologias.
Toda a estratégia oposicionista está baseada em garantir as regiões “tucanas” e tentar reduzir a diferença nas dominadas pelo “lulismo”.
Na mais recente pesquisa do Ibope, em que surgiu pela primeira vez a candidata oficial, Dilma Rousseff, à frente de Serra, o candidato tucano melhorou no Nordeste (27% para 30%) e no Norte/ Centro Oeste (31% para 34%), cumprindo assim com sucesso a estratégia.
Mas caiu justamente nas duas regiões em que predomina o eleitorado “tucano”. No Sul, caiu de 46% para 42%, mas ainda lidera a disputa. E, no Sudeste, registrou se a maior reviravolta: Serra caiu 5 pontos, indo para 36%, e Dilma cresceu 4 pontos, alcançando um empate técnico.
Numa visão otimista, é melhor que essa mudança tenha se registrado em regiões onde o PSDB e aliados são fortes, pois indicaria que há condições de reverter esse processo.
Um processo , aliás , que teve início na ameaça de dissidência do Rio de Janeiro na chapa de Fernando Gabeira, com o PV e o PSDB reagindo a uma coligação com o DEM de Cesar Maia.
Por pouco a convenção para ratificar a candidatura de Gabeira não se realizou.
Por mais dificuldades que os parceiros tenham para caminharem juntos, é preciso fazer movimentos coordenados com os aliados, e não é isso o que está se vendo na escolha do vice.
O processo decisório começou com um equívoco político realmente sério, com a ideia de emplacar a vereadora Patrícia Amorim, do PSDB do Rio, c o m o c ompanheira de chapa de Serra.
Chegou a haver consultas sérias a respeito, e o melhor argumento a favor era o de que a vereadora, presidente do Flamengo, poderia levar para a candidatura um sopro popular no Rio de Janeiro, com reflexos em outros estados do país onde a torcida do Flamengo é grande.
Um argumento típico de quem está perdido na busca de um reforço em um dos estados da região Sudeste onde Serra perde terreno.
Apesar da pressa de alguns políticos imediatistas, que já cercavam a vereadora como se ela fosse a salvação da campanha, ao final de algumas consultas ficou claro que não era ali que estava a solução de uma questão política.
Já a escolha do senador Álvaro Dias, do PSDB do Paraná, tem a vantagem de consolidar a presença da oposição no Sul do país, garantindo a adesão do senador Osmar Dias, seu irmão.
Mas se esqueceram de combinar com os russos, como diria Garrincha.
O DEM, parceiro de primeira hora do PSDB, já se sente em condições de reivindicar posição de honra na coligação, digerida a crise do mensalão de Brasília.
O PSDB, e o próprio Serra, não pensam desse jeito, e gostariam de manter a coligação, com os preciosos três minutos de propaganda de rádio e televisão, mas sem ter que sair de mãos dadas com o partido que, temem, ainda está com a reputação abalada pelo escândalo.
Mas, como não é possível explicitar tais sentimentos, o PSDB esperava que o DEM ficasseem uma posição recatada nas discussões, acatando qualquer decisão que surgisse de um suposto “comando de campanha” do qual o presidente de honra do DEM, ex-senador Jorge Bornhausen, e o presidente, deputado Rodrigo Maia, fazem parte, mas de cujas reuniões, se é que aconteceram, não foram convidados a participar.
O resultado da fatídica pesquisa do Ibope deu forças ao DEM para reivindicar seu lugar na chapa, colocando na balança seus minutos de propaganda eleitoral.
A discussão não é feita em termos tão crus, embora seja isso mesmo o que está acontecendo.
Os dirigentes do Democratas consultados mostraramse unidos na recusa em abrir mão do cargo, a não ser que fosse para o ex-governador mineiro Aécio Neves, e alegaram temer não terem condições de controlar suas “bases” na convenção marcada para o dia 30, prazo derradeiro para a definição oficial da coligação.
No mesmo dia , por exemplo, as regionais de Sergipe e Pernambuco farão suas convenções, totalmente fora do controle na direção nacional, se não houver o compromisso de que o partido ficará com a vice-presidência.
O deputado Ronaldo Caiado, por exemplo, que apoia de má vontade o senador tucano Marconi Perilo em Goiás, está doido para romper a aliança.
Em todas as conversas, a impossibilidade de garantira realização da convenção nacional do partido a tempo de formalizar a aliança é colocada na mesa, travando a decisão final.
Que já tem no senador Álvaro Dias um vice convidado e que aceitou, e está sendo vetado por um dos grupos aliados. Para quem não tinha vice nenhum, até que a confusão está de bom tamanho.
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