terça-feira, novembro 09, 2010

Prejuízo à educação

Prejuízo à educação
EDITORIAL - FOLHA DE SÃO PAULO - editoriais@uol.com.br
Ao caudaloso histórico de erros e problemas da edição anterior do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), novas falhas vieram se somar neste fim de semana.
Cabeçalhos dos cartões-resposta foram trocados; parte das provas continha questões repetidas ou ausentes; brechas de segurança permitiram que alunos tivessem acesso ao celular e até enviassem mensagens durante o teste.
Em meio a queixas e medidas judiciais, o Ministério da Educação acenou com a reaplicação do exame para quem se sinta prejudicado. O problema é que, numa seleção como essa, o dano de um é a vantagem de outro. Ao não garantir condições de igualdade entre os 3,4 milhões de participantes, os organizadores prejudicaram o exame como um todo.
Até 2008, o Enem servia exclusivamente para avaliar o desempenho de estudantes e escolas do ensino médio. Ao torná-lo um gigantesco processo seletivo, substituindo o vestibular, o governo também pretendeu alterar o modelo pedagógico então vigente.
A nova prova abandonou a ênfase conferida pelos vestibulares aos conhecimentos estanques e à memorização. Questões multidisciplinares e a exigência de raciocínio abstrato, presentes no Enem, deveriam induzir as escolas de ensino médio a "ensinar a pensar" -segundo a gasta fórmula, raramente posta em prática.
Isso só acontecerá se o novo exame de fato se tornar o principal filtro de acesso ao ensino superior. Compete a cada uma das instituições públicas decidir se adere ou não a ele. Desde 2009, muitas universidades têm anunciado o seu desligamento do modelo.
Se o Enem continuar a acumular falhas e descrédito, será difícil convencer novas instituições a adotá-lo. Sucessivos erros de gestão terão inutilizado uma importante alavanca para a melhoria da educação brasileira.

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