segunda-feira, maio 17, 2010
ESCOLAS VIOLENTAS
ESCOLAS VIOLENTAS
EDITORIAL - JORNAL DO COMMERCIO (PE) - 17/5/2010
Uma epidemia de violência parece dominar o ambiente escolar brasileiro. As notícias vêm de todos os Estados. Em Porto Alegre (RS), um vereador sugere que sejam colocadas urnas dentro das escolas, onde os estudantes possam fazer queixas e buscar proteção às ameaças. Em Jundiaí (SP), nove casos envolvendo brigas de estudantes foram parar nas delegacias em apenas um mês. Entre eles, o de um homem que foi espancado por tentar evitar a agressão de um estudante pelos colegas. Em São José do Rio Preto, também em São Paulo, as brigas constantes em um colégio resultaram no acerto de contas no meio da rua - por quatro meninas, das quais três terminaram detidas por desacato e resistência à prisão. E em Bauru, a mãe de uma garota de 12 anos sofreu ameaças depois que denunciou a agressão contra a filha. A secretaria de educação do Estado de SP acaba de criar a função de "professores mediadores", para tentar solucionar os conflitos que infestam as unidades de ensino. Mil professores serão destacados para a tarefa, que promete ser árdua.
No Rio de Janeiro, a mãe de um adolescente de 12 anos, matriculado na rede pública municipal, foi autuada por injúria e desacato, após discutir com a diretora da unidade escolar. Motivo: o filho estava atirando pedras nas vidraças da escola. O caso foi bater na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e no Ministério Público. Na cidade de Londrina (PR), um juiz da infância e da juventude proibiu a comercialização, no município, das controversas "pulseiras da amizade" ou "pulseiras do sexo", em que as cores sugerem graus de permissão para interação sexual. A proibição foi tomada depois que uma adolescente de 13 anos foi estuprada por quatro rapazes - apenas um tem 18 anos. As pulseirinhas coloridas já foram objeto de polêmica quando chegaram ao Brasil, rapidamente se tornando moda e mote de problema nos colégios.
No Recife, os desentendimentos intramuros também têm ganhado as ruas e as delegacias. Em dezembro, um adolescente de 14 anos foi vítima de trombose após ser espancado por dois colegas de uma escola particular no bairro de Afogados - em plena sala de aula. Este mês, por motivo nada edificante, a Escola Vidal de Negreiros foi parar nas manchetes do País, ao abrigar triste ocorrência: a agressão de uma menina de 15 anos, que teve o rosto marcado com estiletes e compassos, por colegas da escola, também vizinhas dela. Durante a agressão, outra aluna foi ferida na cabeça por uma carteira, que atravessou a sala para impedir a tentativa de socorro contra o ato coletivo e covarde. Quatro das agressoras serão transferidas para outro colégio, e duas permanecem, sob a condição de serem acompanhadas pelos pais e pelo Conselho Tutelar.
Pesquisa de âmbito nacional divulgada em abril mostrou que 70% dos alunos das redes pública e privada de 5ª a 8ª séries já presenciaram agressões nas escolas. É inegável que o alastramento da violência em um meio que deveria estar imune a esse tipo de situação, afeta o desenvolvimento escolar e pessoal de crianças e adolescentes. Os episódios que se repetem ultrapassam a fronteira do constrangimento e da humilhação associados ao "bullying", descambando para a pura violência. Está na hora de governantes, políticos, pais, professores e burocratas de todos os escalões lutarem contra a passividade, e se unirem pela aplicação de medidas concretas de prevenção e punição para estancar o evidente crescimento do fenômeno das escolas violentas. Falta respeito básico aos mais velhos, e sobra condescendência com a agressão verbal que se manifesta, em seguida, como agressão física.
Por outro lado, a Gerência da Polícia da Criança e do Adolescente (GPCA) deve ser munida das melhores condições possíveis de cumprimento de seu trabalho, com o objetivo de agir de acordo com as expectativas da sociedade. Se a agressividade impera no cotidiano do lado de fora, é necessária a integração de políticas sociais e educacionais, para evitar que a sala de aula se transforme de vez na continuidade melancólica da degradação social, ao invés de se impor como solução a ela.
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