domingo, maio 16, 2010

Eucanaã Ferraz

Por vezes, não raro...

Por vezes, não raro,
basta um gesto, sua borracha,
um quase nada de alvaiade,
um rasgo e só.

No entanto, o carvão
de certas palavras,
de alguns nomes,
não se apaga fácil.

Afogá-lo, inútil:
o maralto traz
de volta cada sílaba
em sal fortalecida.

Enterrá-lo? Logo renascerá:
árvore alta, trigo, praga.
No fogo, irrompe a letra,
inda mais sólida liga.

Há que esperar do esquecimento
o dente miúdo
e lento roer a nódoa na língua,
o travo no peito.

Eucanaã Ferraz
in Dessassombro. Vila Nova de Famalicão: Quasi Edições, 2001.
in 
Dessassombro. Rio de Janeiro: Editora Sette Letras, 2002.

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