domingo, junho 27, 2010

O ACENDEDOR DE LAMPIÕES

O ACENDEDOR DE LAMPIÕES

Lá vem o acendedor de lampiões da rua!
Este mesmo que vem infatigavelmente,
Parodiar o sol e associar-se à lua
Quando a sombra da noite enegrece o poente!

Um, dois, três lampiões, acende e continua
Outros mais a acender imperturbavelmente,
A medida que a noite aos poucos se acentua
E a palidez da lua apenas se pressente.

Triste ironia atroz que o senso humano irrita: -
Ele que doira a noite e ilumina a cidade,
Talvez não tenha luz na choupana em que habita,

Tanta gente também nos outros insinua
Crenças, religiões, amor, felicidade,
Como este acendedor de lampiões da rua!

Jorge de Lima

Jorge Mateus de Lima nasceu em União dos Palmares (AL), em 1895. Fez estudos secundários e iniciou o curso de Medicina em Salvador, concluindo-o no Rio de Janeiro. Retornando ao estado natal, fez carreira na medicina e na política. Volta ao Rio em caráter definitivo na década de 30. Além de poeta - atividade que projetou seu nome - foi pintor, fotógrafo e ensaísta. Morreu no Rio de Janeiro, em 1953. A obra de Jorge de Lima apresenta múltiplas facetas. A temática de suas principais obras poéticas pode ser assim resumida:
1) XIV alexandrinos apresenta versos ainda ligados ao Parnasianismo. Nesse livro aparece o poema "O acendedor de Lampiões", de grande aceitação popular.
2) O mundo do menino impossível e Poemas registram recordações da infância ao lado de poemas de cunho regionalista.
3) Novos poemas tem o negro e o folclore como assuntos principais
4) Tempo e eternidade, obra em que Jorge de Lima contribuiu com 45 poemas, aponta na religião a solução para uma realidade injusta, conturbada e excessivamente materialista.
5) Poemas negros, de 1947, reúne dezesseis poemas já editados em livros anteriores e 23 novos poemas, estes apresentando, através de deuses africanos, uma espécie de história do negro no Brasil.
6) Invenção de Orfeu é um longo poema que procura interpretar simbolicamente a ligação entre o homem e o universo. Nessa obra o poeta utiliza fragmentos de epopéias clássicas, como a Divina comédia, a Eneida e Os Lusíadas, ou ainda O paraíso perdido e a própria Bíblia. Ligando trechos dessas obras através do processo da colagem, Jorge de Lima produziu um poema de linguagem extremamente complexa, de compreensão difícil para quem não conhece as obras de onde foram extraídos os fragmentos que compõem o poema. 
Obra Poesia: XIV alexandrinos (1914); O mundo do menino impossível (1925); Poemas (1927); Novos poemas (1929); Tempo e eternidade (1935) - obra escrita em colaboração com Murilo Mendes; A túnica inconsútil (1938); Poemas negros (1947); Livro de sonetos (1949); Invenção de Orfeu (1952). Prosa: O anjo (novela, de 1934); Salomão e as mulheres (1927), Calunga (1935), A mulher obscura (1939) - romances

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