sábado, julho 10, 2010

O voto como resposta

O voto como resposta

Carla Kreefft - O Tempo – MG - 09/07/2010

Em tempo de eleição e com duas candidatas à Presidência da República, é importante ressaltar a necessidade do estabelecimento de políticas públicas eficientes de combate à violência e de proteção à mulher.
É claro que o país já avançou muito do ponto de vista da legislação - e o maior exemplo disso é, sem dúvida, a Lei Maria da Penha -, mas o arcabouço legal tem se mostrado incapaz de impedir que a mulher fique exposta a agressões e discriminações dos mais diversos tipos. Como a legislação parece ser de qualidade, é muito provável que o problema resida na capacidade de execução. E aí, não há outra solução diferente da implementação de iniciativas urgentes dos Executivos municipais, estaduais e federais. 
Mas antes mesmo de criar políticas e ações voltadas para a mulher, o que os municípios, Estados e o país precisam fazer imediatamente é cumprir os programas que já existem com seriedade e correção. Não é mais admissível que mulheres sejam vitimadas pela falta de cuidado do poder público. Não é possível que denúncias sejam constantemente recebidas com má vontade e pouca credibilidade. Não são poucas as mulheres que pediram ajuda e denunciaram seus algozes, sem que nada foi feito até a morte delas.
E é muito importante que se diga que a importância de uma denúncia não pode ser medida a partir de julgamento de valor sobre os denunciantes. Não importa quem esteja denunciando ou quem seja o denunciado. Tudo que for preciso ser feito tem que ser feito para poupar uma vida. Não deve haver para o poder público, como para ninguém, vidas mais valiosas do que outras. 
Agora, criado o problema, é fundamental que haja punição exemplar. Não basta acabar com o argumento da defesa da honra e dos bons costumes apenas na legislação. A sociedade brasileira tem que acabar com isso do ponto de vista da cultura e da consciência coletiva. E aí, é bom lembrar que o voto tem muita força.
Para além das restrições estabelecidas pela Lei da Ficha Limpa, o voto precisa ser negado para aqueles ou aquelas que ainda acreditam que deve haver diferenças de tratamento ao cidadão. O voto deve ser negado para quem enxerga raça, sexo e religião como critérios de valor. As urnas devem dizer um verdadeiro não a qualquer tipo de discriminação e abuso.
Não se trata da defesa do voto segmentado. Não é dizer que mulher tem que votar em mulher e que negros devem votar em negros. Trata-se de conhecer o candidato para além da superficialidade e saber exatamente como ele pensa e se posiciona em relação aos assuntos polêmicos. 
O que mais há por aí é lobo em pele de cordeiro. Durante a campanha, o preconceito e a discriminação somem, mas reaparecem com força no plenário do Congresso Nacional. 
Carla Kreefft escreve neste espaço às sextas-feiras E-mail: carlak@otempo.com.br

COMENTÁRIO: É claro que os temas polêmicos devem ficar bem esclarecidos. No entanto, o que deve nortear a escolha do voto são as metas gerais de governo dos candidatos, o plano global de gestão e a capacidade de realizá-lo. Não se julga se o candidato ou a candidata é bonito ou feio, magro ou gordo, qual é a sua crença religiosa ou se não a tem, esses são pequenos detalhes que nada acrescentam ao debate e evidenciam um viés ridículo e inaceitável de preconceito e ignorância. Vivemos em uma democracia e queremos um presidente, seja homem ou mulher, obediente ao Estado do Direito. Logo, as perguntas devem versar para a ética, a honestidade, a capacidade de gerenciar o país, o conhecimento dos problemas nacionais, a experiência em gestão, o passado limpo, a fala que não deixa dúvidas das intenções, a vontade de governar para o coletivo, sem partidarismos, a sua concepção econômica de Estado, as prioridades, a preocupação social. Tenho receio de candidatos que não são assertivos, que falam sempre ao lado de assessores, que não têm moto próprio, que precisam sempre de ventríloquos para expressar algo. Quero um(a) governante de opiniões próprias, de idéias que saem tranquilamente das suas falas!

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