segunda-feira, julho 19, 2010
Vamos cair na real!
Vamos cair na real!
MARCOS PALMEIRA – o Globo – 18/07/2010
Percebo na reforma do Código Florestal uma evolução no discurso ambiental do agronegócio, coisa que já tinha notado nos argumentos de deputados ruralistas, o que dificulta ainda mais a nosso entendimento, já que todos falam como ambientalistas.
O problema nessa historia é que, com o Código vigente, estávamos conseguindo fazer com que os latifundiários começassem a se preocupar com a preservação, mesmo que fosse para não serem multados. E agora essa preocupação se esvazia, já que eles não estão mais devendo nada.
Em resumo: esse novo código é um retrocesso em vários pontos. O discurso é sempre defendendo o pequeno produtor, mas o que não consigo ver são os interesses da agricultura familiar sendo discutidos e nem as questões vitais para se erradicar a fome no Brasil (o que para mim deveria ser prioridade!).
As comparações são sempre com os produtores de carne bovina e de frango (cheios de hormônios) e os produtores de milho e soja (muitas vezes transgênicos). Onde estão nossos alimentos? O feijão, a lentilha, o arroz, o inhame, a mandioca, as verduras os legumes, as frutas etc... onde estão? Não é possível mais se discutir a agricultura no Brasil sem falar no pequeno produtor, claro que isso vale para quem está realmente preocupado em acabar com a fome e dar dignidade para quem produz.
Ninguém fala em equilíbrio na propriedade! E a reforma agrária que não vinga? É claro que temos que discutir o Código Florestal, mas eu disse discutir, e não nos empurrar goela abaixo uma decisão que ainda não foi amplamente discutida com a sociedade.
Quando se tenta descaracterizar grupos ambientalistas sérios como o Greenpeace e a SOS Mata Atlântica, ONGs que mais se expuseram durante toda essa "discussão", fica clara a tentativa de se desviar dos verdadeiros problemas: a eterna exploração do homem no campo, o velho discurso de que se não investirmos numa semente geneticamente modificada não acabaremos com a fome, se não ampliarmos nossas áreas de produção ficaremos para trás na disputa do mercado externo.
Ora, temos tantos problemas internos ligados à alimentação e à preservação que devemos primeiramente resolvê-los, para depois pensarmos no vizinho.
Temos um grande mercado consumidor! Também esquecemos de dizer que essas sementes modificadas poderão ser a razão do aumento da fome nos próximos anos, uma vez que nossos solos ficarão mais contaminados, necessitando o produtor adquirir mais agrotóxicos (meu Deus, como é forte essa industria!).
O que esta em jogo não é o alimento, mas sim as divisas de mercado! Fica claro que, enquanto não tivermos um projeto voltado para a agroecologia, não existirá Código Florestal que resolva o desequilíbrio.
Na agroecologia, as propriedades buscam o equilíbrio entre preservação e a produção, visando a um alimento e/ou um produto mais saudável, e a uma melhor qualidade de vida de quem produz e de quem consome.
Mas entendo que sem marketing, sem uma grande empresa de insumos por trás, nós produtores agroecológicos ficaremos sempre no nicho de mercado, sendo vistos como sonhadores.
É preciso entender que uma floresta em pé vale muito mais que uma deitada! Espero que nessa época de eleições possamos encontrar alguém que tenha não só um discurso, mas uma vida voltada para novas formas de economia, colocando o meio ambiente no centro das discussões de uma forma madura.
Alguém que não veja os ambientalistas como pessoas que são contra o "progresso", mas alguém que quer discutir essa forma de progresso.
"Progresso para quem, cara-pálida?" Ninguém é contra o grande produtor, mas ele deve estar inserido nesse processo de preservação ambiental, no compromisso de um produto ético e sustentável! Vamos cair na real e abraçar essa árvore da vida, que é disso que estamos falando: vida digna para nossos filhos, num Brasil equilibrado e sustentável! Fica aqui essa reflexão!
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