quinta-feira, maio 20, 2010
A BASE DAS FARC NO BRASIL
A BASE DAS FARC NO BRASIL
EDITORIAL - JORNAL DO COMMERCIO (PE) = 19/5/2010
A prisão de integrantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), em ação da Polícia Federal em Manaus e cidades próximas, revelou não apenas a existência de uma rota de narcotráfico que parte da capital do Amazonas – mas também exibiu a vulnerabilidade persistente nas fronteiras brasileiras, além da desenvoltura com que os contrabandistas das Farc se escondem e operam em nosso território. Documento reservado da Polícia Federal, a que teve acesso o jornal O Estado de São Paulo, confirma essa realidade, que vem sendo negada pelo governo brasileiro. O governo Lula e o Partido dos Trabalhadores não admitem chamar as Farc de terroristas, preferindo manter posição de neutralidade que, na pratica, dificulta o combate aos crimes cometidos pela organização paramilitar. A situação que contamina a América Latina é ainda pior devido ao apoio aberto da Venezuela chavista aos “revolucionários” colombianos.
O modus operandi desbaratado trazia a cocaína produzida na selva colombiana por rios até Manaus, de onde era distribuída para o resto do Brasil e outros países. De acordo com o relatório da Polícia Federal, o guerrilheiro José Samuel Sánchez, conhecido como Tatareto (gago em espanhol), que arrecadava dinheiro para as Farc, transferiu a sua base operacional para o Amazonas, pois lá trabalhava “com mais tranquilidade”, à sombra da floresta, coordenando as atividades sem a ameaça de confronto com o Exército da Colômbia. Em um sítio em Tarumã, próximo a Manaus, o traficante montou um sistema de comunicação com rádios enterrados e a antena camuflada por copas de árvores, com horário marcado e transmissão em códigos. Uma empresa de fachada que foi aberta em 1998 pode ser um indício de que a temporada de tranquilidade das Farc no norte brasileiro ultrapassa o período de uma década.
Embora a prisão de Tatareto, como ressaltou o comandante militar da Amazônia, Luís Mattos, não signifique que a guerrilha colombiana esteja querendo abrir filial brasileira, como fez no Paraguai, com o Exército do Povo Paraguaio (EPP), o avanço do narcotráfico por aqui constitui motivo de preocupação em pelo menos dois pontos. O primeiro é a fragilidade de proteção das fronteiras ao Norte do País. Hoje, menos de 1,7 mil militares atuam na linha de frente dos 28 pelotões fronteiriços em todo o território nacional – e o plano de dobrar esse efetivo, contido na Estratégia Nacional de Defesa, até 2025, parece modesto, diante dos conflitos cada vez maiores envolvendo o tráfico de drogas no continente. O narcoterrorismo se nutre dessa fragilidade para desenvolver projetos internacionalistas, como afirmou ao repórter Wagner Sarmento, do JC, o sociólogo paraguaio Bernardino Cano Radil, em matéria no último dia 2.
O segundo motivo de preocupação é a falta de firmeza do Estado brasileiro em assumir um lado na luta contra as Farc, que há décadas atormentam o povo de seu país. Atrás de um biombo ideológico, os crimes patrocinados pela organização não deixam margem para interpretações, como quer parte dos ocupantes do governo petista. Neste sentido, a operação da Polícia Federal que resultou na prisão de oito traficantes, entre eles o Tatareto, deve ser aplaudida pela opinião pública, e servir de novo paradigma na excessivamente amistosa posição oficial do Brasil ante os criminosos da Colômbia, que intensificaram suas atividades este mês em virtude da proximidade das eleições presidenciais que definirão o sucessor de Álvaro Uribe, após dois mandatos em guerra contra as Farc.
A mera existência de uma base operacional estruturada nos arredores de Manaus é um alerta sobre o tipo de consequência gerada pela vista grossa do governo brasileiro na região de fronteira. A distinção preparada pelo discurso oficial – de que foram presos traficantes, e não guerrilheiros – não pode negar o fato de que a operação reprimiu a ação criminosa e promoveu uma baixa em uma organização de narcoguerrilha. Para as Farc, não há diferença entre a guerrilha e o contrabando de drogas. Por que o Brasil deveria criar essa diferença?
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