Não foi um momento político, mas encontro técnico e burocrático, porque lhe faltou emoção. Combinar emoção e razão, de forma equilibrada, não é fácil, como apontam todos os especialistas no comportamento humano. Quando a razão prepondera, os argumentos não chegam às glândulas da decisão com a força pretendida. Quando a emoção sobrepuja a razão, corre-se o risco de que a demagogia impere, com os efeitos dramáticos que a História oferece. O equilíbrio é difícil, mas necessário aos postulantes e, mais ainda, às sociedades políticas que serão governadas.
Ainda que a social-democracia brasileira esteja contaminada – e está – pelo neoliberalismo que imperou durante os dois mandatos de Fernando Henrique, seu candidato não pode ser identificado pessoalmente com as elites tradicionais. Ele procede da imigração italiana pobre. Não se identifica com aquela parcela que, chegando ao Brasil com algum capital, aqui se enriqueceu. Marina vem do chão do povo. Dilma Rousseff, nascida em classe média de Minas – filha de imigrante europeu – identifica-se com a esquerda por sua inegável militância política. Nenhum deles procede, pelo nascimento, da elite, mas a origem de classe, que pode ser uma recomendação, nem sempre é certificado suficiente. Muitos filhos da classe operária se tornaram fiéis aliados dos exploradores, e alguns (bem poucos, é certo), nascidos no fausto, se dedicaram a lutar contra as injustiças do capitalismo predador. Mas é alentador que, depois de um chefe de Estado como o metalúrgico Luiz Inácio, haja candidatos portadores de diplomas universitários, sim, mas sem sobrenomes tradicionais.
Cabe uma nota final sobre os cuidados que Dilma Rousseff tem com sua aparência. É inaceitável que a critiquem por cuidar de sua maquiagem, de seus cabelos e de suas roupas. Apresentar-se bem aos eleitores – e aos anfitriões estrangeiros – é expressão de respeito. Se ela se descuidasse, seria criticada por isso. Na verdade, seus acusadores agem como os clássicos tartufos. Não querendo, ou não podendo, contestar sua honestidade funcional, desconhecer seus méritos de administradora, nem negar sua autenticidade política, só encontram, para criticá-la, a natural preocupação com a maquiagem e o penteado.
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