Agenda para o país
Merval Pereira – O Globo
Além dos problemas fiscais que se acumulam no horizonte, reforçados pela síndrome de "prefeito gastador em ano de eleição" que domina as ações do governo nesta sucessão presidencial, como bem definiu o economista Reinaldo Gonçalves, da UFRJ, o próximo presidente da República terá que enfrentar questões estruturais que a gestão Lula só enfrenta de maneira superficial e eleitoreira. A consultoria Macroplan, Prospectiva, Estratégia e Gestão, do economista Claudio Porto, está distribuindo a seus clientes uma análise sobre a situação da educação e da infraestrutura como condições para melhorar a competitividade e permitir o desenvolvimento sustentável do Brasil. Segundo o estudo, o risco de um apagão de mão de obra no país está maior, e ficou mais evidente com a superação da crise econômica. Além do déficit de mão de obra qualificada, outro gargalo que persiste é o da infraestrutura.
Há claras evidências, segundo a análise, de que a educação e a infraestrutura se tornaram os principais gargalos estruturais no crescimento brasileiro, representando áreas que já fazem sombra ao atual cenário econômico. Embora, na avaliação dos técnicos da Macroplan, o Brasil esteja atravessando um momento excepcionalmente favorável na sua trajetória econômica, o sucessor do presidente Lula terá que trabalhar "exaustivamente" para superar as defasagens e gargalos nos níveis educacionais da população, e na infraestrutura e logística de transportes, se quiser garantir um crescimento consolidado e permanente para o país.
As implicações mais visíveis da baixa escolaridade da população brasileira se evidenciam no crescente quadro de escassez de mão de obra qualificada no Brasil, segundo dados do Ipea:
· Déficit na construção civil em 71 mil trabalhadores
· Comércio: faltam 204 mil pessoas qualificadas somente nas regiões Sul e Sudeste.
· Tecnologia da informação: faltam 100 mil profissionais (podendo chegar a 200 mil em 2013).
Enquanto isso, cerca de seis milhões de trabalhadores de baixa qualificação não conseguirão um lugar no mercado de trabalho em 2010. O quadro geral no Brasil, revela o estudo, mostra de um lado um grande contingente de desempregados com deficiências em sua formação, do ponto de vista educacional e profissional, e, de outro, uma sobra de postos de trabalho para profissionais qualificados. O Brasil tem hoje uma escolaridade média de sete anos de estudo, com uma defasagem de cinco a sete anos em relação às dos países da OCDE. Para definir as perspectivas para a educação para os próximos anos, a Macroplan traçou dois cenários para a área de educação. No cenário A, menos otimista, baseado na média histórica de avanço da escolaridade dos últimos 20 anos, o Brasil só alcançará o atual nível de escolaridade da OCDE em 2040, um hiato de 30 anos.
No cenário B, mais otimista e o mais provável, que reflete a universalização do ensino fundamental e a intensificação do esforço de melhoria das condições de ensino, é possível reduzir este hiato para 20 anos, se for mantida a tendência do período de 2000-2007. Ou seja, o Brasil alcançará o atual nível de escolaridade das nações da OCDE em 2030. Na avaliação do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), realizado pela OCDE, os alunos brasileiros com 15 anos de idade obtiveram médias, em 2006, que os colocam na 54ª posição em matemática (entre 57 países), na 53ª posição em ciências e na 49ª em leitura (entre 56). O estudo ressalta que o problema não está no gasto público do Brasil com educação, que em 2007 chegou a 5,2% do PIB, contra 5,3% dos países desenvolvidos, segundo a UNESCO.
Para a Macroplan, parecem explicar melhor os determinantes da qualidade da educação no ensino fundamental vários fatores, tais como a gestão da rede escolar e de cada escola; as avaliações periódicas do desempenho dos alunos; a formação e didática dos professores e os incentivos ao bom desempenho; o foco no "feijão com arroz" do processo de ensino-aprendizagem; as condições socioeconômicas dos alunos; a educação das mães e o ambiente doméstico; e a participação dos pais no acompanhamento do desempenho escolar dos filhos.
No ensino médio, evidenciam-se, segundo o estudo da Macroplan, o baixo perfil de entrada da maioria dos alunos, que carrega um "estoque de deficiências" herdado no ensino fundamental, e o excesso de papeis que se impõe a este nível de ensino, tornando-o enciclopédico, sem foco e superficial.
Nos níveis de ensino profissionalizante e superior, a principal deficiência ainda é a baixa cobertura.
A Macroplan traçou a seguinte "agenda estratégica" para superar os problemas da educação:
(1) Universalizar a educação infantil;
(2) fazer a "revolução da qualidade" no ensino fundamental;
(3) reformular o currículo do ensino médio;
(4) multiplicar as oportunidades de acesso ao ensino profissional de nível médio e ao ensino superior;
(5) fortalecer a avaliação da qualidade do ensino público e privado;
(6) melhorar o desenvolvimento e o desempenho de professores;
(7) promover um "choque de gestão" nas unidades escolares e nas redes de ensino público;
(8) mobilizar e facilitar a participação das empresas e organizações da sociedade civil na melhoria da qualidade do ensino;
(9) estimular e valorizar o desejo da sociedade por uma educação de alta qualidade.
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