sábado, julho 03, 2010

A gestão chafariz

A gestão chafariz

Roberto Freire

NO BRASIL ECONÔMICO
Alguém já chamou a gestão financeira do atual governo de "gestão chafariz". Basicamente é um tema típico da teoria do ciclo político econômico: gestores "poupam" nos dois primeiros anos. Para gastar nos dois últimos anos. Seguindo essa lógica, prefeitos adoram construir chafarizes nas praças públicas e gostam mais ainda quando podem inaugurá-los nos últimos meses de mandato. Não faz mal se o chafariz foi ideia do último prefeito ou de outros.
O importante é colocar a placa. É inaugurar. Também serve reinaugurar. Nenhuma coincidência o fato do atual Plano Plurianual ter alterado toda sua lógica do núcleo central de investimentos do ensino fundamental para as obras do PAC, justamente no limite destes dois anos. Muito menos é coincidência reinaugurar ou tomar no braço obras de terceiros e se apropriar delas nas propagandas do PAC.
A "gestão chafariz" olha apenas para o gasto e para o uso eleitoral dos recursos públicos. O grande problema é que, neste exato momento, o gasto público se aproxima do descontrole fiscal. Os números estão aí na mídia nos últimos dias e são incontestáveis, apesar do tom de "normalidade"emprestado, por exemplo, pelo secretário do Tesouro Nacional, Arno Augostin.
Segundo este, o maior déficit fiscal do governo central desde 1999 é "neutro" e "cumpriremos sem qualquer problema a meta de superávit primário de 3,3% do PIB". Para o referido secretário, o mais importante é o fato de que os investimentos do governo continuam a crescer, incluindo o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Pouco importa que 30% dessas obras tenham sido contestadas pelo TCU, ou que o cronograma das mesmas esteja atrasado em quase 90% delas. Além de confundir financiamento com investimento! Pequenas questões como o fato do pagamento dos juros, nos últimos 12 meses corridos, terem chegado à cerca de R$ 180 bilhões, algo por volta de 5,4% do PIB anual, ou da dívida pública já estar chegando em 42% do mesmo PIB não são relevantes para o secretário do Tesouro.
Relevante é que se gaste no PAC, porque o programa,segundo os gestores do governo, resolverá nossas questões de infraestrutura. Provavelmente não é apenas o presidente que não gosta de ler os jornais. O uso político do gasto público, mesmo que fosse corretamente realizado em infraestrutura, é o uso feito agora. Esgotaram-se dois mandatos em outras questões "mais relevantes".
Não, o país não tem como crescer de forma "chinesa" pela simples razão de que vivemos o que se convencionou chamar de "custo Brasil" e que reflete todos os investimentos que não foram feitos nos últimos anos. O uso político do gasto público não nos levará ao crescimento, mas sim à maior pressão inflacionária já agora e, mais à frente, a uma grave crise fiscal, que irá cair no colo do próximo presidente, seja lá quem for.

Brasileiros e brasileiras sabem, porque já conviveram com isso no passado, o que significa a soma de inflação ascendente e crise fiscal. Para encerrar: anotem que a expansão do gasto é tão violenta que é maior que a expansão recorde da arrecadação tributária. Tirem suas conclusões...
Roberto Freire é presidente do PPS

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