Fogem do debate
Por Villas-Bôas Corrêa – Jornal do Brasil
Candidatos e a mídia estão escapulindo pela tangente de uma análise objetiva e irrecusável nos debates entre os candidatos à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e se escondem com o truque de trocar figurinhas sobre obviedades ou nas setas cruzadas sobre erros do passado, e passam ao largo da denúncia sobre a crise moral e ética que atinge os três poderes, com a falência dos partidos políticos.
Com esforço de quem engole purgante, entende-se: difícil é justificar. A candidata oficial, Dilma Rousseff, tem a mesma explicação para tudo, dos buracos nas rodovias em pandarecos à ginga de Garrincha para enganar os adversários e não mexer no balaio dos cartões corporativos: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Um bom atalho que embaraça a oposição.
Ora, qualquer conversa séria sobre o nosso quadro político deve partir da herança dos quase 21 anos da ditadura militar dos cinco generais presidentes. E, para não ter que voltar atrás, com uma marcha a ré para as diferenças com o Estado Novo do ditador Getulio Vargas. Que é a outra face da moeda: Getulio chegou na crista de uma revolução, com um nítido programa social de melhoria da classe trabalhadora e de modernização do país. O Pai dos Pobres conquistou o apoio fanático dos milhões que enfrentavam jornadas estafantes, com salários miseráveis e sem nenhuma proteção. O salário mínimo, a legislação trabalhista foram avanços que derrubaram barreiras da insensibilidade da classe patronal.
E, jogando com habilidade e a participação da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial, negociou com o presidente Franklin Roosevelt, dos Estados Unidos, a construção da Usina de Volta Redonda (RJ) pela concessão da base de Natal para o pouso de abastecimento das esquadrilhas de aviões americanos para o voo para as frentes de guerra na Europa.
Getulio deixou o filho que tinha o seu nome no leito da morte para o encontro com Roosevelt, em Natal. E sem poder revelar nem à família o segredo militar que protegia o presidente Roosevelt. E, ao contrário de quem se sabe, Getulio era um trabalhador infatigável. No seu diário, registra como o estribilho: “Despachei volumoso expediente”. As nódoas negras da censura à imprensa, das prisões nos porões das torturas das ditaduras, do fechamento do Congresso são do manual das ditaduras.
A ditadura militar destruiu a democracia, não deixou pedra sobre pedra. Extinguiu os partidos da fase dourada do Congresso dos bacharéis da UDN oposicionista e do Partido Social Democrático (PSD) das bases municipais governistas, que sobreviveram com muitas ranhuras. Além do Partido Trabalhista Brasileiro (o PTB getulista) e legendas respeitáveis, como o Partido Socialista Brasileiro (PSB) e até o Partido Social Progressista, de Adhemar de Barros. Assunto para outras conversas ao estilo das novelas.
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