quarta-feira, setembro 08, 2010

Efeito de juros no Brasil é maior que em outros países

Efeito de juros no Brasil é maior que em outros países
Estudo mostra que alterações na Selic têm efeitos imediatos nos grandes bancos, ao contrário do que ocorre em outras economias
Renato Andrade / BRASÍLIA - Estadão
 As mudanças promovidas pelo Banco Central na taxa básica de juros têm efeitos mais fortes e imediatos nas grandes instituições financeiras, ao contrário do que se observa em outras economias.
Essa característica peculiar, apurada pela primeira vez por três economistas da PUC do Rio, é provocada pela maior dependência desses bancos aos depósitos à vista de seus correntistas como fonte de recursos para operações de crédito e pode contribuir para o aumento de "potência" da política monetária ao longo dos próximos anos, por causa do processo de concentração do setor bancário.
Crédito e taxas. Assinado pelos economistas Christiano Coelho, João Mello e Márcio Garcia, o estudo foi feito com base em um banco de dados inédito que contabiliza todas as operações de crédito e taxas cobradas pelo sistema financeiro entre junho de 2000 e dezembro de 2006.
O levantamento mostra que aumentos inesperados da taxa básica, a Selic, resultaram em uma queda no volume de novos empréstimos e elevação dos juros cobrados nas operações concedidas pelos grandes bancos.
Uma das explicações para esse movimento é que as instituições de maior porte instaladas no Brasil dependem mais dos depósitos à vista - normalmente a forma mais barata para garantir recursos - para financiar suas operações de crédito do que os pequenos. Instituições de menor porte têm uma presença mais localizada, o que dificulta a captação de depósitos à vista na escala feita por seus concorrentes de grande porte. Por isso, esses bancos acabam garantindo seu "funding" com recursos provenientes de outras fontes, menos suscetíveis a movimentos inesperados da política monetária.
A dependência dos grandes bancos no País também é maior se comparada com seus pares em outros países. De acordo com a avaliação dos economistas, isso ocorre porque em economias como a dos Estados Unidos as instituições têm maior facilidade de substituir as fontes de recursos para sustentar suas operações de financiamento.
Os economistas apuraram que um aumento inesperado de um ponto porcentual da Selic provoca uma queda imediata de R$ 1,24 milhão no valor médio diário de novos empréstimos. No caso dos juros cobrados nos financiamentos das grandes instituições, o efeito é uma elevação de 2,13 pontos porcentuais na taxa. Os pequenos bancos, por sua vez, simplesmente não respondem ao choque de juros.
Política poderosa. Essa reação mais forte dos grandes bancos gera um aumento de "potência" da política de juros do BC porque essas instituições respondem por mais de dois terços do total de operações de crédito na economia brasileira. A redução da oferta de financiamentos e o aumento dos custos das operações remanescentes acabam potencializando os efeitos que o BC procura gerar com um aumento da Selic.
O próprio Banco Central já reconheceu que o poder de sua política tem aumentado ao longo dos últimos anos. No Relatório de Inflação de junho, os diretores do banco dedicaram um capítulo especial para explicitar esse aumento de força e eficiência da política monetária e sua tendência de alta.
Política de juros. Na divulgação do relatório, o diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton de Araújo, afirmou que o maior poderio significa que, para conter a inflação atualmente, o Comitê de Política Monetária (Copom) pode pesar menos a mão na taxa de juros do que em 2006 e 2008.
Carlos Hamilton não quis se comprometer com movimentos futuros da Selic, dizendo apenas que "a mensagem que queremos passar é de que há uma tendência de alta do poder da política monetária".
Os economistas da PUC-Rio concordam com a análise do diretor do BC por conta das mudanças na estrutura do setor bancário, cuja consolidação tem aumentado o tamanho dos bancos no País. "Nossos resultados sugerem que a potência da política monetária por meio do canal de crédito vai aumentar ao longo do tempo."
EFEITOS DIFERENTES
Efeitos da política monetária sobre volume de empréstimos:
Nos pequenos: Pequenas instituições não respondem a choques da política monetária
Nos grandes: Um aumento de 1 ponto porcentual na Selic representa uma redução de R$1,24 milhão na média diária dos novos empréstimos.
Efeito da política monetária sobre as taxas de juros:
Nos pequenos Os juros cobrados são insensíveis a mudanças inesperadas
Nos grandes Uma elevação de 1 ponto porcentual na Selic gera um aumento de 2,13 pontos porcentuais nas taxas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Skoob

BBC Brasil Atualidades

Visitantes

free counters