quarta-feira, setembro 08, 2010

Orfandade comunicacional

Orfandade comunicacional
Alon Feuerwerker – Correio Braziliense
 Se o sujeito descer aqui num disco voador vindo, sei lá, de Marte concluirá que no Brasil só há pobres, ou só gente que precisa desesperadamente do governo para resolver os próprios problemas. É a conclusão de alguém cuja única fonte de informação são os programas dos candidatos nos intervalos regulamentares no rádio e na televisão destinados às campanhas eleitorais.
Eleição é varejo, e o eleitor está atrás de soluções para sua vida.
Eu mesmo já escrevi aqui sobre o tema, defendendo esse ponto de vista.Dito isso, é o caso de perguntar: será que não há na campanha presidencial brasileira interesse por debater assuntos que não digam exclusivamente respeito às necessidades fundamentais das camadas mais pobres? Qualquer estatística comprovará que a mudança no perfil de renda do brasileiro e da brasileira foi radical nas últimas duas décadas.Tudo bem que tucanos e petistas debatam interminavelmente sobre quem contribuiu mais, talvez na casa do zero vírgula qualquer coisa.Mas um detalhe é consensual: independentemente da paternidade, o Brasil é hoje um país com ampla classe média.
Quem fala para esse novo país? Até agora ninguém. Os candidatos empenham-se na comunicação “do que eu vou fazer por você se eu chegar lá”, mas falta alguém para informar que medidas vai adotar para o novo emergente, inclusive e principalmente o beneficiário da recente aceleração da mobilidade social, para que ele possa cuidar melhor da vida.
 Um exemplo é a discussão sobre os juros.
Os candidatos não querem melindrar os bancos, está certo.Mas será que é só isso? Qual o motivo para nenhum dos principais postulantes sequer pensar em atacar duramente na tevê o juro de 10% ao mês no cheque especial, quando a inflação anual ronda os 5%? Claro, esse é um problema para quem tem cheque especial e usa, uma turma que certamente não é a maioria.
Mas será pouca gente? Um argumento é que os materiais para tevê e rádio devem ser pensados conforme o perfil do público que se informa principalmente por esses dois meios. Não cola. Nos demais canais não há variações significativas.
Além da tevê e do rádio, há os jornais, as revistas e, principalmente, a internet. Nem por isso os candidatos aproveitam para conversar com outros que não os pobres estilizados das qualis.
Naturalmente, os marqueteiros devem estar certos e eu errado.
O que mais há em campanha eleitoral é gente, especialmente jornalistas, disposta a dizer o que os marqueteiros devem fazer ou deixar de fazer. Parece-me um tanto pretensioso, se se considerar que para fazer os programas de rádio e tevê os candidatos contratam marqueteiros, e não jornalistas.
Mas confesso que tenho essa curiosidade. Por que um bom pedaço da população fica “excluída” quando os candidatos ou seus programas dão sinal de vida nas ondas do rádio ou nas telas de tevê? Acampado Depois de oito anos de negociações (haja negociação!) parece que o governo vai anunciar o vencedor da concorrência para comprar um punhado de caças novos para a Força Aérea Brasileira.
Considerando que a administração tucana gastou também um tempo imenso, para não decidir, talvez seja conveniente agradecer aos céus pelo ambiente de paz e tranquilidade que nos cerca. Um país com nosso ritmo não pode mesmo se dar ao luxo de entrar numa guerra.
Houvesse ameaça bélica real, e se precisássemos depender da velocidade das nossas autoridades para concluir sobre temas assim, estaríamos todos fritos.
A turma nem teria ainda chegado à redação final mais adequada para os editais,mas o inimigo já estaria acampado na Praça dos Três Poderes.
Por que um bom pedaço da população fica “excluída” quando os candidatos ou seus programas dão sinal de vida nas ondas do rádio ou nas telas de tevê?

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