terça-feira, setembro 07, 2010

Explicações em pequenas doses

Explicações em pequenas doses

Luis R. Aizpeolea

 A declaração de cessar-fogo que o ETA divulgou, ontem, não faz mais do que confirmar uma expectativa criada, há meses, desde que os aliados sul-africanos e irlandeses da esquerda basca a exigiram, em Bruxelas, em março. No entanto, o comunicado do ETA esclarece pouco, não especifica a duração do cessar-fogo ou o seu alcance.
E sequer responde às reclamações dos aliados internacionais da esquerda basca, em março, clamando por um cessar-fogo permanente e verificável por organismos internacionais. Ele tampouco impõe condições.
O comunicado é, portanto, o primeiro passo, ao qual se seguirão outros, que deverão esclarecer as grandes incógnitas que o texto de ontem não especifica. Será um processo de explicação em pequenas doses.
O ETA precisava aliviar a pressão que vem sofrendo sistematicamente da esquerda basca desde que, em fevereiro, suas bases aprovaram maciçamente a proposta de Arnaldo Otegi, Rufi Etxeberria e Rafael Diez Usabiaga, de promover um “processo democrático por vias políticas e pacíficas”.
Desde fevereiro até o verão (no Hemisfério Norte) , a pressão foi num crescendo, de tal modo que em alguns círculos se dava por certo que o ETA declararia o cessar-fogo em setembro.
A esquerda basca precisava que, agora, o grupo providenciasse o lançamento de uma campanha a favor de sua legalização e, assim, participar das eleições municipais de 2011.
O comunicado do ETA, no entanto, não esclarece mais nada. E podese deduzir que não existe no grupo uma posição clara de abandonar definitivamente as armas, condição que o governo impõe para dar credibilidade ao processo e abrir uma nova etapa na qual se abordem questões como o futuro dos presos do grupo.
Tudo parece indicar que, com o cessar-fogo, o ETA quer ganhar tempo para decidir seu futuro: ou curvar-se aos desejos, não só do governo, mas também da esquerda basca de que abandone definitivamente as armas; ou usar esse tempo para tentar rearmarse, como aconteceu em tréguas anteriores. Tal incógnita faz com que essa declaração de cessar-fogo tenha sido acolhida com enorme ceticismo, em comparação com as declarações anteriores. Nas próximas semanas, as coisas irão se esclarecer.
O ETA parece querer ganhar tempo para decidir seu futuro
LUIS R. AIZPEOLEA é articulista do “El País”

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