quinta-feira, outubro 28, 2010

Indecisos x convictos

Indecisos x convictos
Zuenir Ventura – O Globo
Não é engraçado? Quem vai decidir a eleição são os que ainda não se decidiram, os indecisos, não os convictos. Pelo menos é o que mostrou O GLOBO de domingo passado.
Quase todos órfãos de Marina, eles ficaram com a broxa na mão depois que ela retirou a escada. Se acrescentarem a estes os votos nulos e as abstenções, vamos ter um considerável cordão de desencantados a que pertence, por exemplo, Caetano Veloso, que optou pela “anulação”. Eu só não tenho que me decidir porque estarei viajando e me dei conta, com atraso, de que não tomei as devidas providências para votar em trânsito. Sei que indecisão é uma palavra depreciativa, mas muitas vezes se acerta mais ficando indeciso, sem tomar partido, do que adotando uma certeza burra. Diante de uma briga, o melhor lugar para ver se alguém tem razão é em cima do muro, não do lado de uma das torcidas.
A verdade é que esta campanha fez por merecer a rejeição. Como é que Dilma e Serra querem governar o país se não conseguem estabelecer entre eles regras de convivência civilizada? Como é que querem impor respeito a um país se não se respeitam? É como escreveu um leitor deste jornal desejando que, em vez de tantas promessas, eles “prometessem educar a si próprios e a seus correligionários, de modo a não se confrontarem de forma desleal e violenta”. Ou como outro que lamentou “o show de incivilidade” e acusou as duas campanhas de “niveladas por baixo”.
Tomara que nesta reta final as coisas melhorem.
No começo do segundo turno, quando cada um esperava atrair o apoio de Marina, eles ainda discutiam temas sérios como meio ambiente, exploração do pré-sal, Belo Monte, Código Florestal. Mas, depois, voltaram à troca de desaforos. Projeto de país que é bom, nada. De tanto se acusarem de falar mentiras, Dilma e Serra vão acabar nos convencendo de que pelo menos nesse item os dois falam a verdade.
O debate de anteontem da Record mostrou mais uma vez por que esses confrontos terminam empatados. É que os candidatos descobriram que a uma pergunta embaraçosa podem responder com outra igual. E assim, não há respostas, só perguntas. Por isso, as entrevistas com jornalistas funcionam mais. Na última delas, de maneira educada, mas incisiva, Fátima Bernardes e William Bonner extraíram dos candidatos em vinte minutos o que os bate-bocas não conseguiram em duas horas. Isso demonstra que eles são excelentes entrevistadores, mas também que o formato de confronto utilizado pelas emissoras já deu o que tinha que dar. A propósito. Se você não suporta mais ouvir falar em Erenice e Paulo Preto, e prefere se divertir, não deixe de ver “A garota do biquíni vermelho”, no Teatro Sesc-Ginástico. É texto do Xexéo e direção da Marília Pêra — precisa dizer mais?

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