Nenhum igual àquele.
quarta-feira, maio 19, 2010
Carlos Drummond de Andrade e Salvador Dali
O RELÓGIO
Carlos Drummond de Andrade
Nenhum igual àquele.
A hora no bolso do colete é furtiva,
a hora na parede da sala é calma,
a hora na incidência da luz é silenciosa.
Mas a hora no relógio da Matriz é grave
como a consciência.
E repete. Repete.
Impossível dormir, se não a escuto.
Ficar acordado, sem sua batida.
Existir, se ela emudece.
Cada hora é fixada no ar, na alma,
continua soando na surdez.
Onde não há mais ninguém, ela chega
e avisa
varando o pedregal da noite.
Som para ser ouvido no longilonge
do tempo da vida.
Imenso
no pulso
este relógio vai comigo.
Antologia poética. 51.ed. Rio de Janeiro: Record, 2002. p. 344.
Pintura: A persistência da memória, de Salvador Dali
O texto, ao lado da imagem, foi tema de questão do vestibular da UFG
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