sexta-feira, julho 02, 2010

Abortos induzidos chegam a mais de 20 mil

Abortos induzidos chegam a mais de 20 mil

Jornal da Paraíba - 02/07/2010
Em um período de apenas um ano, estima-se que tenham acontecido 20.655 abortos induzidos na Paraíba. Os dados são relativos ao ano de 2008 e fazem parte do “Dossiê Sobre a Realidade do aborto Inseguro na Paraíba”, divulgado ontem durante o seminário Direitos Reprodutivos e Experiências junto ao Ministério Público, realizado na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). O estudo, elaborado pelos grupos feministas Cunhã (PB), Curumim (PE) e Ipas Brasil (RJ), revela também que entre janeiro de 2008 e junho de 2009, foram registradas 7.702 curetagens pós-aborto nos hospitais públicos do Estado.
Para a consultora técnica do dossiê e coordenadora do Grupo Curumim, Paula Viana, a realidade pode ser ainda mais grave. “Muitas mulheres fazem abortos inseguros e acabam morrendo. Mas é difícil ter estas informações por causa da ilegalidade do aborto, muitas mulheres fazem oaborto inseguro e acabam informando aos médicos que tiveram um aborto espontâneo. Das internações para a realização de curetagem pós-aborto, nós acreditamos que de 60% a 70% são para casos de abortos feitos sem segurança”, destacou.
Ainda segundo o relatório elaborado pelas entidades feministas, na Paraíba a intervenção mais utilizada para assistir mulheres que abortaram é a curetagem pós-aborto, procedimento mais caro e que oferece mais riscos de infecção, na contramão da indicação do Ministério da Saúde de utilizar a Aspiração Manual Intra-uterina (Amiu). Somente na capital, de janeiro de 2008 a junho de 2009, foram realizadas 2.803 curetagens, e em Campina Grande foram 2.319. Os gastos públicos para a realização destes procedimentos foram de R$ 532.422,44, em João Pessoa, e de R$ 414.004,70 em Campina Grande.
Um outro dado relevante do estudo é a quantidade de jovens e adolescentes que foram internadas por complicações pós-abortos entre janeiro de 2008 e junho de 2009. “Neste período 115 meninas com idades entre dez e 14 anos foram internadas por complicações provocadas porabortos. Na faixa etária de 15 a 19 anos foram 1.207 internamentos. O grande problema é que é muito difícil chegar à quantidade exata de quantos abortos foram expontâneos e quantos foramabortos inseguros por causa da falta de informação, que é uma consequência da ilegalidade”, frisou.
A ginecologista e obstetra Maria Celli Souto destacou que a partir do momento que uma mulher decide fazer um aborto na ilegalidade ela corre riscos de morte. “O aborto feito na ilegalidade oferece muitos riscos às mulheres, elas podem ter infecções e chegar até a óbito. Isto acontece porque o aborto é feito sem assepsia nenhuma e em muitos casos nem todo o material de placenta é recolhido”, alertou a médica.
Para evitar que casos como estes continuem aumentando, a gerente de Ações Programáticas e Estratégicas da Secretaria de Estado de Saúde, Juliana Soares, acredita que é importante incentivar o planejamento familiar. “A base de tudo é o planejamento e a orientação familiar”, destacou acrescentando que estão sendo formadas equipes multidisciplinares para trabalharem junto às mulheres aspectos como planejamento familiar, prevenção à gravidez e enfrentamento à violência, além de dar suporte às mulheres vítimas de violência sexual.
Juliana Soares informou ainda que a Secretaria de Saúde está tentando se mobilizar em rede para orientar o fluxo de atendimento das mulheres que sofrem abortos para que asssim possam ser levantados dados estatísticos. “Atualmente nós não temos um fluxo de monitoramento. Estamos desenvolvendo um projeto para que todas as informações de abortos e curetagens sejam encaminhadas para o Estado para que possamos avaliar os indicadores. Atualmente os dados que temos são dos trabalhos que as entidades feministas realizam, mas precisamos ter dados centralizados”, informou.

PANORAMA NACIONAL
De acordo com o "Dossiê Sobre a Realidade do aborto Inseguro na Paraíba”, comparando a realidade do Estado com outras Unidades da Federação, a Paraíba ocupa “posição de risco médio de abortamento induzido”, registrando uma taxa de 19,6 casos para cada mil mulheres de 15 a 49 anos. As taxas de abortos induzidos mais baixas foram registradas em Goiás (12,9 por mil), no Rio Grande do Norte (12,5 por mil) e no Paraná (11,3 por mil). Já as taxas mais altas estão nos estados de Amapá (47,7 por mil), Roraima (39,0 por mil) e Sergipe (30,4 por mil).

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