segunda-feira, julho 26, 2010

Estrutura 'top secret' é ameaça aos EUA

Estrutura 'top secret' é ameaça aos EUA
O Globo

Num admirável trabalho de jornalismo investigativo que consumiu dois anos, o jornal “The Washington Post” fez uma radiografia do supersistema de segurança dos Estados Unidos, que adquiriu proporções imensas depois do 11 de Setembro. O diagnóstico é assustador.
A pesquisa identificou 1.931 empresas privadas e 1.271 agências governamentais envolvidas na luta contra o terror. Elas estão espalhadas em cerca de dez mil locais nos EUA, empregam 854 mil pessoas e seu orçamento no ano passado foi de US$ 75 bilhões, 21,5 vezes maior do que em 11 de setembro de 2001.
E o presidente Obama já disse que não congelará os gastos.
Este monstro burocrático intercepta 1,7 bilhão de comunicações (e-mails, telefonemas e outros) por dia e produz nada menos que 50 mil relatórios por ano. O resultado é que muitos deles não chegam a ser lidos ou considerados simplesmente por falta de tempo. Muitos órgãos fazem trabalho duplicado. Há, por exemplo, 51 agências e comandos militares em 15 cidades rastreando o dinheiro de supostas organizações terroristas. Apesar dos números levantados nas reportagens, que se basearam em documentos oficiais e centenas de entrevistas, o “Washington Post” admite que essa estrutura se tornou tão grande, secreta e pouco coordenada que ninguém sabe ao certo quanto custa, quantas pessoas envolve, quantos programas executa e quantas agências fazem o mesmo trabalho.
O mais alarmante é que todo esse aparato não foi capaz de detectar ou agir efetivamente em três casos em que a segurança nacional foi ameaçada. Em novembro de 2009, o psiquiatra do Exército Nidal Makik Hasan abriu fogo contra colegas dentro do Fort Hood, matando 13 e ferindo 30 pessoas. Depois se soube que ele tinha ligações com um extremista islâmico monitorado pelos EUA, mas isso não chegou ao conhecimento dos serviços de inteligência.
No Natal de 2009, o nigeriano Umar Farouk Abdulmutallab tentou explodir um avião que ia de Amsterdã para Detroit, e só não o fez porque o passageiro ao lado o impediu. O pai do rapaz já alertara as autoridades americanas sobre as tendências extremistas do filho, mas mesmo assim ele embarcou. Em maio passado, o paquistanês Faisal Shahzad estacionou um carro-bomba em Times Square, no coração de Manhattan. Mas quem frustrou o atentado foram camelôs que viram fumaça saindo do veículo e chamaram a polícia.
Um dos aspectos mais preocupantes é a privatização, no mau sentido, de muitos programas e operações, o que coloca em mão de empresas aspectos da segurança nacional, o que é inconstitucional. Os gastos galopantes são assustadores. O próprio diretor da CIA, Leon Panetta, disse ao “Post” que os gastos com a defesa, depois do 11/9, ficaram insustentáveis.
Mas há perigos maiores que a ineficiência e a elefantíase. Estruturas estatais como essas criam suas próprias necessidades e tendem não só a se perpetuar como a crescer cada vez mais. Como são secretas, com códigos e agentes especiais próprios, acabam se tornando uma ameaça à admirável democracia americana. Em nome dela, os homens que governam o país precisam achar meios de controlar e podar esta superestrutura, tornando-a eficiente.

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