terça-feira, julho 13, 2010

Seis meses depois do terremoto, reconstrução ainda não começou no Haiti

Seis meses depois do terremoto, reconstrução ainda não começou no Haiti

Fabrícia Peixoto
De Brasília para a BBC Brasil

Passados seis meses do terremoto que devastou o país e deixou cerca de 250 mil mortos, o Haiti ainda não conseguiu entrar na fase de reconstrução.
Representantes de organismos internacionais ouvidos pela BBC Brasil citam o excesso de escombros pelas ruas como um dos principais sinais da “lentidão” com que o país caribenho vem lidando com o desastre.
“O Haiti ainda vive sob escombros. E enquanto o excesso de entulho e lixo não for recolhido das ruas de formas significativa, a reconstrução continuará para depois”, diz o brasileiro Ricardo Seitenfus, representante da Organização dos Estados Americanos (OEA) no Haiti.
Estima-se que o terremoto tenha deixado 20 milhões de metros cúbicos de entulho e que 5% a 10% desse total teria sido recolhido em seis meses.
“Logo depois do desastre, alguns países enviaram máquinas e equipamentos para ajudar na limpeza dos escombros. Mas tudo isso foi retirado do Haiti meses depois, o que é incompreensível”, diz Seitenfus.
“Nesse ritmo levaremos seis anos apenas para lidar com a limpeza”, acrescenta.
Desabrigados
Desde o terremoto, as barracas de lona se tornaram a moradia mais comum entre os desabrigados, que segundo estimativas do governo haitiano chegam a 1,5 milhão de pessoas.
Um dos desafios é abrir caminho para a construção de moradias temporárias – pequenas casas feitas sobre estrutura de aço e que podem ser facilmente removidas, se necessário.
De acordo com as Nações Unidas (ONU), até o momento 3.700 das unidades temporárias já foram construídas. A meta é chegar a 125.000 unidades nos próximos 12 meses.
“Os escombros acabam literalmente bloqueando não apenas as ruas, mas a reconstrução do país como um todo”, diz Jessica Faieta, diretora-sênior do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).
A estratégia inicial do governo haitiano, de incentivar a migração de desabrigados de Porto Príncipe para regiões afastadas do centro urbano, acabou sendo logo abandonada diante da rejeição de parte da população.
O resultado é o surgimento de novos bolsões de pobreza na capital haitiana. Segundo o escritório das Nações Unidas para Assuntos de Coordenação Humanitária (Unocha), o terremoto fez surgir 1.240 campos de refugiados, com apenas 206 deles reconhecidos oficialmente.
Ajuda internacional
O governo haitiano calcula que a reconstrução do país, no longo prazo, deverá custar US$ 11,5 bilhões.
Em março, um grupo de países doadores, entre eles o Brasil, estabeleceu um fundo internacional com um caixa de US$ 5,3 bilhões, a serem gastos até o final de 2011.
No entanto, organismos internacionais têm criticado a “demora” com que o dinheiro está sendo efetivamente colocado à disposição.
“Seis meses após o terremoto, o que existe é um silêncio da comunidade internacional em relação ao Haiti”, diz o representante da OEA.
Segundo ele, dos mais de 20 países doadores, apenas Brasil, Noruega e Venezuela já fizeram seus depósitos no fundo de reconstrução.
“A ajuda financeira internacional não tem chegado ao país na velocidade que esperávamos”, diz a diretora do Pnud, que depende da liberação de mais verbas para expandir um programa de geração de empregos.
‘Disciplina’
Na avaliação de Seitenfus, que vive em Porto Príncipe desde 2009, o povo haitiano tem demonstrado uma “disciplina aparente” diante da situação precária em que o país se encontra, mesmo depois de seis meses da tragédia.
“Ao mesmo tempo em que existe uma calma aparente, há também uma revolta no ar. Uma frustração”, diz.
Apesar das críticas quanto à demora na reconstrução do país, organismos internacionais comemoram o fato de o Haiti não ter enfrentado nenhuma grande epidemia, como chegou a ser previsto em janeiro.
O clima também tem sido favorável à causa haitiana: as chuvas, que costumam castigar o país nesta época do ano, ficaram abaixo da média – um alívio para os milhares de haitianos que vivem em barracas de acampamento.
“Mesmo com todos os problemas e desafios, que são muitos, não podemos cair na avaliação de que simplesmente nada foi feito”, diz a diretora do Pnud.

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