segunda-feira, setembro 06, 2010

Presidente ou chefe de facção ? ; de onde menos se espera é que não vem mesmo nada

Presidente ou chefe de facção ? ; de onde menos se espera é que não vem mesmo nada
Bolívar Lamounier
Hoje, em Guarulhos, Lula voltou a falar como chefe de uma facção política, embora pela Constituição ele deva ser até o fim do ano o presidente de todos os brasileiros.
Ele não só se manifestou em apoio a seus candidatos, como vem seguidamente fazendo, mas empenhou-se outra vez em minimizar a violação do sigilo fiscal de Verônica Serra e fez um virulento ataque ao candidato da oposição, José Serra.
Lamentavelmente, o destempero verbal de Lula me parece ser só uma parte do problema. É a parte visível de um iceberg (permito-me aqui uma metáfora, figura literária sabidamente do agrado de Sua Excelência).
A parte submersa - vale dizer, a essência do problema – é o manifesto desapreço de Lula pelas restrições e tradições institucionais do cargo que ocupa.
Para ser sincero, eu várias vezes me perguntei, anos atrás, se Lula teria capacidade ou disposição para entender o papel, a liturgia e as responsabilidades da presidência da República. Se iria, uma vez eleito, se comportar com o comedimento e o equilíbrio de um verdadeiro magistrado.
Lembremos, a título de ilustração, o tema da “herança maldita”. Afirmei aqui outro dia que estas duas palavras foram como que uma senha de Lula para a deflagração da mais abrangente operação de envenenamento da memória do antecessor de que se tem notícia na história do Brasil.
Em conexão com o presente processo eleitoral, eu não me canso de repetir que o objetivo de Lula vai muito além da vitória no dia 3 de outubro. O que ele pretende é o controle praticamente total do sistema político.
Tendo aparentemente assegurado – fiz referência às últimas pesquisas no meu post anterior – a eleição de Dilma Rousseff, Lula agora opera para assegurar a maioria nas duas casas legislativas.
O objetivo subjacente a essa operação pode ser só o desejo de evitar “incômodos” ao eventual governo Dilma. Pode ser só isso – ou não, como diria Caetano Veloso.
Mas a pedra no sapato de Lula é evidentemente o estado de São Paulo. Seja por algum incompreensível ressentimento ou como parte de um projeto de poder de mais largo prazo, certo é que ele não vai medir esforços para impedir a vitória de Geraldo Alckmin.
A autonomia dos Estados, o fato de nenhum presidente ter até hoje intervindo dessa forma em eleições estaduais (salvo, talvez, antes de 1930, época de ouro dos coronéis), o desagradável odor das “interventorias” do tempo do “doutor” Getúlio – nada disso parece funcionar como redutor do apetite lulista por mais poder.
Foi nesse contexto de beligerância estadual que Lula deu hoje a demonstração de facciosismo de que falei no início deste texto.
Lula ser um presidente com expediente – esse curioso magistrado que bate ponto no Palácio do Planalto e sai apressado para a campanha eleitoral logo após marcar a hora da saída - , convenhamos, é estranho.
Mas a realidade é esta : o Brasil tem hoje um chefe de Estado que, pela Constituição, é o chefe do Estado de todos os brasileiros, mas não se ruboriza de levar a ferro e fogo uma luta partidária, como um rei medieval cavalgando à frente de suas hostes.

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