terça-feira, maio 18, 2010
Diplomacia ingênua ou astuta?
Diplomacia ingênua ou astuta?
Matias Spektor - Jornal do Brasil - 18/05/2010
Não se sabe ainda se o acordo firmado ontem entre Irã, Turquia e Brasil irá frustrar uma nova série de sanções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, patrocinadas pelos Estados Unidos. Nem se os iranianos serão parceiros de confiança quanto ao cumprimento.
Para muitos em Washington, o Brasil tem sido ingênuo. Outros veem a atitude do Brasil como a combinação de nacionalismo enraizado e uma futura corrida presidencial.
Ainda aguardando que o último capítulo desta crise se desenrole, é importante entender a nova afirmativa diplomática brasileira. Nos últimos anos, o país abriu mais de 30 embaixadas na África; e o governo de Luiz Inácio Lula da Silva lançou uma política no Oriente Médio que incluiu desenvolver comércio e conferências políticas com o Irã, o mundo árabe, e Israel. A percepção dominante em Brasília é que problemas com os quais diplomatas podiam arcar há apenas alguns anos, hoje exigem uma resposta. Como normalmente acontece com potências em ascensão, o Brasil está redefinindo seus próprios interesses em termos de expansão.
O Brasil, atual membro não-permanente do Conselho de Segurança, insistiu que as sanções das Nações Unidas contra o Irã serão ineficazes e contraprodutivas. O país compartilha a visão de que o Tratado de Não-Proliferação se tornou uma ferramenta para os mais fortes repreenderem os mais fracos à sua própria vontade.
Israel e Índia nucleares não serão punidos por permanecerem fora do regime. Talvez sejam até recompensados.
Mas o Irã terá seus direitos de enriquecer urânio para abastecer um reator médico de pesquisa rejeitado. Não é de se surpreender que estes países tenham incentivos para abandonar um regime que necessita de um reparo profundo. O Brasil acredita que tem autoridade moral para protestar porque é o único membro não-nuclear do grupo Bric (o maior grupo de nações emergentes que inclui Rússia, Índia e China) e porque o país abandonou qualquer ambição de adquirir armas nucleares.
É improvável que esta tendência política mude qualquer questão que traga a vitória para o presidente Lula nas eleições presidenciais de outubro. Pode haver uma retirada parcial da exposição diplomática atual em locais como a África e o Oriente Médio, e até mesmo uma mudança na retórica. Mas a busca por mobilidade ascendente continuará intacta, assim como a crença fundamental de que os ventos estão se movendo a favor do Brasil.
Como o embaixador dos Estados Unidos em Brasília, Tom Shannon, colocou recentemente, Enquanto o Brasil se torna mais assertivo globalmente e começa a declarar sua influência, vamos dar de cara com o Brasil em novos assuntos e novos lugares.
Isso porque, na visão brasileira, modelos existentes de governo não conseguiram produzir um sistema internacional justo e estável.
Tradução: Maíra Mello
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