terça-feira, maio 11, 2010

A EDUCAÇÃO PASSADA PARA TRÁS

A EDUCAÇÃO PASSADA PARA TRÁS
EDITORIAL - O GLOBO - 11/5/2010
O Ministério da Educação descobriu que 21 estados deixaram de aplicar R$ 1,2 bilhão em ensino básico, no ano passado dinheiro que deveria ter sido repassado ao Fundeb (Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica), mas que acabou tomando outras destinações.
O balanço de contas foi publicado no Diário Oficial em 19 de abril último. O estado de São Paulo aparece, ali, como o maior devedor em termos absolutos: R$ 660 milhões. O governo de São Paulo negou qualquer irregularidade em relação ao Fundeb, acusando o MEC de erro na contabilização dos repasses de São Paulo e de outros estados.
Uma vez que se apure quem está errado e o MEC está convocando para essa apuração os tribunais de contas dos estados e municípios e os próprios governos esta duais , sobra o fato de que há muito tempo se identificam desvios nas verbas da educação. E as culpas, nesse caso, estão por toda parte.
Começando com o próprio MEC, que jamais assumiu a bandeira do ensino fundamental.
A desculpa fácil é a de que esse nível de ensino cabe a estados e municípios. Mas num país imenso e repleto de disparidades, como o Brasil, se o governo central não encabeça uma campanha nacional, e não faz disso um objetivo essencial, as coisas não acontecem.
Em vez disso, o que se viu foi o governo Lula gastar seus oito anos de mandato num debate estéril sobre as universidades públicas, em que o cavalo de batalha era a questão das cotas.
Debate estéril; porque se não há melhoria consistente no ensino básico, a injustiça vai se consolidar lá atrás: no aluno que não consegue aprender, mesmo ficando vários anos na escola; e que ou vai ser reprovado, ou vai desistir da escola, ou vai chegar ao ensino médio totalmente inapto para os cursos superiores.
Esta é a injustiça básica, em que não se mexe. Anos atrás, o professor Sérgio Costa Ribeiro, em artigo para Estudos Avançados, já tinha apontado a repetência como um flagelo da educação brasileira. Repetência causada, em parte, pela má formação dos professores, pela incompreensão ou desinteresse dos pais em face do próprio mecanismo do sistema educacional brasileiro. Escrevia o professor: Aos pais interessa mais a frequência à escola do que a sua qualidade. E ele explicava: É sintomático perceber que o esforço das famílias brasileiras em manter seus filhos na escola não se traduz numa escolarização mais competente. Hoje, a escola é um restaurante, um ambulatório médico, uma creche ou um depósito de crianças. Nunca houve preocupação real com as condições de trabalho dos professores. O que faz o professor ante a ameaça de agressão física, se tentar manter a classe em disciplina razoável? Mas como aceitar passivamente, por outro lado, que o professor não tenha preparação para entender as carências de um certo tipo de aluno, donde resulta a automática marginalização desse aluno? É o vasto e caótico cenário da educação brasileira; que nenhum governo, até agora, se dispôs a enfrentar.

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