terça-feira, agosto 31, 2010

Argentina ameaça bater EUA como 2º maior importador

Argentina ameaça bater EUA como 2º maior importador
Vizinhos já superam americanos em alguns meses na compra de itens brasileiros

Para Rubens Ricupero, produções argentina e brasileira se tornaram mais concorrentes do que complementares
ÁLVARO FAGUNDES DE SÃO PAULO VERENA FORNETTI DO RIO – Folha de S. Paulo
Diz a anedota que, no início do século passado, o barão do Rio Branco falou a diplomatas argentinos que eles não poderiam esperar o mesmo tratamento dado aos norte-americanos, que compravam mais trigo do Brasil.
No mês passado, a situação se inverteu. A Argentina ficou com 9,2% das vendas do Brasil ao exterior (ante 8,9% dos norte-americanos) e ameaça se tornar o segundo maior mercado comprador dos produtos brasileiros -a China é o primeiro.
De dezembro para cá, o Brasil vendeu em três meses mais para a Argentina que para os EUA, algo impensável em outros anos. Em 2002, por exemplo, um quarto das exportações brasileiras foram para os EUA, enquanto 4% tiveram como destino o país vizinho, que vivia grave crise, com queda de 10,9% no PIB.
Mas, mesmo depois que a economia argentina melhorou, os EUA mantiveram sempre boa vantagem. Esse cenário, porém, foi sendo corroído aos poucos pela China, que, em 2009, ganhou o posto de maior importador brasileiro. De 25%, em 2002, a exportação aos EUA foi reduzida a 10% em 2009. Enquanto isso, as vendas para a Argentina ficaram praticamente estáveis, oscilando em torno de 8% e 9%.
CRISE GLOBAL
O professor Antônio Correa de Lacerda, da PUC-SP, afirma que a situação se relaciona com a recuperação frágil dos Estados Unidos e da Europa após a crise. "A tendência é que não só a Argentina mas também outros países emergentes ganhem espaço na pauta de exportações brasileiras."
O embaixador Rubens Ricupero tem dúvidas de que a Argentina se manterá como segundo maior comprador do Brasil. A China tem ampliado as vendas para o país vizinho e, segundo Ricupero, nos últimos anos, as produções argentina e brasileira se tornaram mais concorrentes que complementares. Os dois países são grandes exportadores de commodities, e a Argentina está buscando a reindustrialização após sucessivas crises.
"Os argentinos dizem que não querem trocar trigo por aço. E que não querem ser a granja da América do Sul", afirma o embaixador. Para ele, uma relação comercial mais profícua depende de um aprofundamento do Mercosul, com a criação de órgão de solução de controvérsias e maior integração das cadeias produtivas.
PERSPECTIVAS
Segundo relatório do Morgan Stanley, a Argentina caminha para ser um dos países com maior crescimento na América Latina neste ano. A análise do banco aponta o aquecimento da economia brasileira como uma das razões mais importantes para a recuperação do país vizinho após a crise internacional. "A recuperação das exportações agrícolas e industriais para o Brasil é um importante motor da expansão argentina", diz o relatório. Os outros fatores são a demanda por commodities no mercado internacional e o avanço do consumo interno.

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