domingo, setembro 05, 2010

Conselho negocia com os talibãs

Conselho negocia com os talibãs
Presidente Hamid Karzai tenta diálogo com extremistas, que expandem seus ataques dos redutos tradicionais no sul para o extremo norte do país
Correio Braziliense
O presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, deu mais um passo para tentar um diálogo em busca de paz com os insurgentes talibãs. O governo anunciou ontem a criação de um conselho responsável por conduzir negociações com o grupo extremista islâmico. A iniciativa foi uma das medidas mais importantes de Cabul para tentar amenizar o conflito iniciado com a invasão dos Estados Unidos, em 2001, em represália pelos atentados de 11 de setembro. No mesmo dia do anúncio, um atentado na cidade de Kunduz, no norte do país, causou a morte de quatro policiais afegãos e três civis, e mostrou que o trabalho de pacificação deve ser árduo.
O conselho será formado por 50 membros da sociedade afegã, inclusive por ex-talibãs e opositores do atual governo, para tentar criar um espaço de negociação. Os membros do grupo devem ser nomeados ainda este mês, de acordo com o governo. “A formação desse Alto Conselho de Paz é um passo significativo para as conversações”, afirmou um comunicado divulgado pelo gabinete de Karzai. As últimas tentativas de diálogo falharam porque os talibãs exigiram que as tropas internacionais deixassem o país como condição prévia a qualquer acordo.
O Afeganistão é cenário de guerra desde o fim de 2001, quando o regime fundamentalista talibã foi derrubado por uma força militar internacional liderada pelos Estados Unidos. Desde então, mais de 150 mil soldados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) lutam contra os remancescentes da milícia extremista, que mostram força renovada há pelo menos dois anos. O presidente Barack Obama anunciou recentemente que vai enviar mais 30 mil militares para ajudar a controlar a segurança no país, mas pretende diminuir o contingente americano em território afegão a partir de julho de 2011.
O general David Petraeus, que assumiu o comando das tropas da Otan no Afeganistão depois de ter liderado as forças americanas no Iraque, disse à imprensa no último mês que a campanha contra os extremistas deve “ficar mais difícil antes de ficar fácil”. A milícia talibã, que antes concentrava forças no sul do país, começa a atacar o norte, como ocorreu ontem em Kunduz.
Expectativa
A grande expectativa, depois do anúncio do governo, é para saber quem serão os membros do conselho de paz. O presidente Karzai encontrou-se com ex-talibãs na semana passada para discutir a composição do grupo de negociadores. A ideia do governo é oferecer anistia e incentivos para os milicianos que resolverem acatar a Constituição e depor as armas.
O conselho criado por Karzai foi aprovado em junho por uma assembleia tribal, chamada de jirga, que também apoia a iniciativa de garantir a segurança de ex-membros da milícia e libertar os presos capturados pelas forças infernacionais e afegãs. Para o Talibã, a jirga “não representa o povo do Afeganistão” e deixa na mão de governo estrangeiros decisões que afetam o país.
Além da violência, os afegãos também sofrem com a crise econômica. Ontem, as agências do maior banco privado do país, o Kabul Bank, estavam lotadas. A poucos dias da festa que marca o fim do mês de jejum do Ramadã, na qual é uma tradição a troca de presentes, milhares de pessoas foram ao caixa para sacar os salários ou os valores depositados. Circulam rumores de que a instituição vai declarar falência nos próximos dias, depois de várias acusações de corrupção. De acordo com o jornal The Washington Post, o Banco Central do Afeganistão deve assumir o controle da instituição financeira, que paga os salários da polícia e do Exército.

OS NÚMEROS
150 mil - Efetivo das forças estrangeiras no Afeganistão
1.271 - Total de civis mortos no conflito durante o primeiro semestre, segundo as Nações Unidas

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