segunda-feira, outubro 18, 2010
Em contexto: Proteção demais atrapalha
Em contexto: Proteção demais atrapalha
Para enxergar além dos fatos
Carlos Giffoni – Revista ÉPOCA
Nem sempre quem procura emprego acha – mesmo que existam vagas disponíveis por aí. Esse raciocínio simples para qualquer cidadão que tenha se angustiado com o mercado de trabalho alguma vez na vida rendeu o Prêmio Nobel de Economia aos americanos Peter Diamond e Dale Mortensen e ao cipriota radicado em Londres Christopher Pissarides. O grande avanço dos três foi criar um modelo científico que explica esse desequilíbrio, chamado de “fricção” na lei da oferta e da procura.
Até a década de 1970, os analistas usavam apenas a relação entre oferta e procura para explicar o funcionamento dos mercados. Era simples: se havia 500 vagas de emprego e 500 pessoas desempregadas, uniam-se os dois polos e... problema resolvido. Então, por que não dava certo? Pelo mesmo motivo que juntar 15 homens e 15 mulheres numa sala, todos solteiros, não significa que se formarão 15 casais. Há variáveis como a opção sexual, a atração por um tipo físico, os interesses em comum. O mesmo desencontro entre a oferta e a procura acontece no mercado imobiliário e nas compras em geral. Mas o local onde a teoria dos três mais avançou foi o mercado de trabalho.
O ponto mais importante das teses – e que virou uma espécie de campo de estudos – é a Teoria da Busca. Ela analisa os custos (de dinheiro, tempo, energia) envolvidos na procura do empregado certo ou da vaga mais atraente. “Assim como você não compra o primeiro carro que vê, não deve aceitar a primeira oferta de emprego”, diz Aloisio Araújo, professor de pós-graduação da Fundação Getulio Vargas. “É bom para você e para a economia que haja procura, para haver um encaixe melhor entre suas habilidades e as necessidades do mercado.”
Da Teoria da Busca surgiram as primeiras conclusões interessantes, que se desviam do senso comum. Uma delas mostra que benefícios sociais como o seguro-desemprego, embora ajudem o cidadão que recebe a pensão, têm um efeito secundário perverso. Ao dar ao desempregado um salário, o benefício diminui os custos da procura. Com o estipêndio garantido, a pessoa pode prolongar demais a busca da “vaga ideal”. E, ao esperar demais, ela acaba com grandes chances de ficar defasada tecnicamente.
Um raciocínio similar vale para a legislação que protege demais o trabalhador, comum na Europa... e no Brasil. O sistema de proteção – com multas para quem demite, impostos para criar uma rede de segurança, encargos extras para o patrão – dificulta a demissão. Mas, por isso mesmo, freia as contratações: as empresas pensam duas, três, cinco vezes antes de se comprometer com tamanho custo. Como resultado, a rotatividade do mercado de trabalho cai, e quem está desempregado tende a demorar mais para conseguir vaga.
Esse é um dos temas mais polêmicos nos debates de políticas públicas em todo o mundo. O Nobel dá um pouco mais de força à visão liberal. E pode também garantir um emprego para Diamond. Ele havia sido indicado para conselheiro do Fed, o banco central dos Estados Unidos, e o Senado havia expressado reservas a sua “pouca experiência técnica”. Com o prêmio, sua aceitação ficou mais provável.
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