segunda-feira, novembro 15, 2010
G20, câmbio e sustentabilidade
G20, câmbio e sustentabilidade
RICARDO YOUNG – Folha de São Paulo
Mais uma reunião multilateral, nenhum acordo razoável. Desta vez, a crise cambial, se não contida, ameaça literalmente "derreter" os ativos de países, empresas e pessoas.
Na semana passada, o G20 reuniu-se em Seul, na Coreia, com o objetivo de tentar estabelecer controles mínimos sobre o sistema financeiro internacional, para evitar, mais uma vez, a bancarrota. Novamente, os aparentes esforços foram quase inúteis.
Os chefes de Estado ali presentes concordaram em assinar um documento com "recomendações" -como se recomendações bastassem! O sistema financeiro global doente, e a "junta médica" faz recomendações... Dentre elas, o G20 legitimou os controles dos países para conter o fluxo de dólares e a desvalorização das moedas locais; ampliou a representação dos emergentes no FMI; e reconheceu que os países desenvolvidos terão de ser mais vigilantes em relação aos efeitos negativos de suas políticas cambiais.
Decisões mesmo só em 2011, em uma prática cada vez mais comum de "empurrar com a barriga" tudo que exige coragem e determinação. Enquanto isso, mais de 160 países que não fazem parte do G20 -e não têm voz em nenhum organismo multilateral- precisam "se virar" para fazer frente à queda de braço entre EUA e China, que não parecem dispostos a abandonar as desvalorizações constantes das suas moedas, como forma de exportar mais e desafogar os seus déficits públicos.
Faltou vontade política ao G20 para dar um basta nesta farra cambial. A continuidade destas políticas de desvalorização artificial vai aprofundar a crise financeira e econômica no mundo, ameaçando ainda mais os cidadãos com desemprego e inflação, bem como destruindo o comércio internacional. A indecisão do G20 em assumir atitudes mais contundentes para segurar a especulação financeira pode acelerar os efeitos de outra crise que está apenas anunciada e cujos efeitos mal conseguimos imaginar: a crise do modelo de civilização que adotamos -baseado no uso intensivo e perdulário dos recursos naturais-, cuja decorrência mais comentada, o aquecimento global, é apenas a ponta do iceberg. Como avestruzes, creem que a solução para a economia global se limita a fluxos financeiros e a consumo.
Sim, vivemos duas crises que correm em paralelo e que vão se cruzar em algum momento. Poucos entenderam que não haverá solução para a crise financeira se não encontrarmos a saída para o modo de produzir e consumir que vigora desde o início da era industrial. Controlar e induzir o capital para a inovação, para a emergência de uma economia verde, inclusiva e responsável. Este é o caminho para a superação das ameaças.
Quanto tempo ainda para nos convencermos?
RICARDO YOUNG escreve às segundas-feiras nesta coluna.
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