terça-feira, dezembro 28, 2010
Reconstrução Penosa
Reconstrução Penosa
EDITORIAL - JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Um semestre após as enchentes que transformaram 42 municípios, sobretudo na Mata Sul do Estado, em cenário de desolação, a situação continua difícil para a população atingida pelas águas. A série de reportagens que publicamos na semana passada mostrou o panorama de precariedade e improviso dominante em algumas das cidades mais afetadas. O saldo de 20 mortos, 27 mil desabrigados e 17 mil imóveis danificados teima em deixar a realidade. As queixas contra o poder público são recorrentes, uma vez que a mobilização promovida nas semanas seguintes à catástrofe parecia indicar a soma de esforços em prol de medidas emergenciais pelo restabelecimento da normalidade – ainda que a normalidade não fosse satisfatória. A palavra de ordem foi a de reconstrução, embalada em promessas contundentes que envolveram os gestores municipais, o governo do Estado e até o presidente da República, que fez questão de visitar o que sobrou das cidades para ver de perto o drama dos desabrigados.
Parte considerável do prometido há seis meses, debaixo de emoção e de holofotes, não veio a ser cumprido até agora. O próprio poder público reconhece os problemas. Das 18 mil casas prometidas pelo governo de Pernambuco, menos de 2,5 mil foram iniciadas. Falta dinheiro para tudo, desde o combustível para o transporte de pacientes até o custeio dos espaços improvisados para servir às comunidades. A burocracia segue insensível ao sofrimento dos que perderam o básico para viver com dignidade. Apesar da afirmativa de Lula, em Palmares, de que uma linha de crédito de R$ 1 bilhão, quase sem juros, e sem exigências cadastrais, estaria à disposição das economias devastadas.
Em casos de calamidade, a saúde é a mais atingida, e requer atenção dobrada das autoridades. As deficiências no atendimento devem ser logo compensadas, a fim de dar conta não somente da demanda usual, como daquela provocada pelo infortúnio – como os casos de asma que se tornam rotineiros com a poeira dos escombros e da lama depois que a enchente passa. Mas o que é urgente se arrasta no atraso da reconstrução burocrática observada na Mata Sul pernambucana. Em barreiros, dos seis postos de saúde desativados pela cheia, dois ainda estão fechados. O hospital virou abrigo de marginais. Falta água nas torneiras das casas. O atendimento médico e de emergência é feito de maneira improvisada em instalações provisórias inadequadas. Em Água Preta, quatro dos 12 postos estão sem médicos. Os hospitais de Barreiros, Água Preta, Jaqueira e Cortês terão a construção iniciada somente no ano que vem, mas nem isso pode acontecer: o Ministério da Saúde por enquanto só garante R$ 1,2 milhão para as obras. Se o governo estadual não tirar do orçamento próprio, o que é provisório se perpetua, e o improviso se transforma em hábito.
A situação da educação nesses municípios não é menos desalentadora. Pouco mais da metade das 600 escolas da rede estadual e municipal que foram destruídas está prevista para ser entregue até o fim do mês. A maioria das reformas restantes está prevista para junho do ano que vem, mas os prefeitos já avisaram que os prazos podem se estender até dezembro. Repete-se o padrão: promessas que deveriam ter sido cumpridas a toque de caixa demoram a ser postas em prática, multiplicando os danos sofridos pelo cidadão. Enquanto isso, as crianças têm aulas em prédios e salas em condições precárias de funcionamento. A precariedade compromete as aulas e o desenvolvimento dos alunos, ainda mais fragilizados por carregarem um estado emocional marcado pela tragédia.
Os limites do alcance da ação governamental foram evidenciados depois que as águas baixaram na terra arrasada. A inquietação das pessoas com a incapacidade administrativa do poder público é notória. O regime de mutirão, adotado com emblemática velocidade, que seria de todo modo necessário, provou-se insuficiente para trazer as soluções esperadas. Alguns passos foram dados. Porém, a reconstrução é penosa para o povo. Depois da destruição avassaladora, os investimentos a conta-gotas fazem o trabalho ficar mais árduo.
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