domingo, novembro 07, 2010

Alberto Goldman: 'Oposição é para fazer oposição'

Alberto Goldman: 'Oposição é para fazer oposição'
Eduardo Reina - O ESTADO DE S. PAULO
ENTREVISTA - Alberto Goldman. Governador de São Paulo
Do grupo de Serra, governador contraria tese de Aécio por uma agenda consensual pela aprovação de reformas
Ao contrário do que disse o ex-governador de Minas Gerais e senador eleito Aécio Neves, o governador de São Paulo, Alberto Goldman, do grupo político de José Serra, disse ontem que o PSDB vai ser oposição ao governo Dilma Rousseff e só as matérias de interesse da população terão os votos tucanos no Congresso Nacional. "Não tem coalizão. Oposição é para fazer oposição", disse ontem em entrevista ao Estado. "(A oposição precisa) se opor com toda combatividade. Não é fazer de conta. Não é meio termo."
Já Aécio defende a construção de uma agenda pela aprovação das reformas políticas e tributária e a participação dos governadores do PSDB num projeto de poder.
O governador paulista quer um PSDB nacional mais forte, e admite fragilidade ao lidar com o segmento mais popular da sociedade. Afirmou que o grupo paulista e o mineiro estão em pé de igualdade, pois elegeram o governador e um senador cada. Disse ainda que a legenda em São Paulo não perde espaço e nacionalmente está mais forte do que nunca.
Como será a oposição no terceiro governo seguido do PT. Será mais forte, mais fraca?
Oposição tem de fazer o papel de oposição. Quem perde a eleição fica fora do governo, analisa o governo. Nós não temos nada a ver com o passado velho, do velho PT contra tudo e contra todos. Podia ser a melhor coisa ou a pior coisa para o povo que eles iam ser contra. Vamos fazer diferente. Não pensamos assim. Fui líder e vice-líder da oposição no primeiro governo Lula na Câmara. E teve várias matérias que ajudamos o governo a aprovar. Matéria muito específica sobre legislação de florestas. Que tinha a (ex-ministra do Meio Ambiente e ex-candidata do PV) Marina, ela se empenhou muito para fazer. Eu que ajudei a provar. Eram matérias que a gente achava corretas. Aquilo que a gente acha que não está correto tem de se opor mesmo. Se opor com toda combatividade. Não é fazer de conta. Não é meio termo.
Essa responsabilidade da oposição pode facilitar uma coalizão com o governo federal?
Não tem nada de coalizão. Oposição é para fazer oposição. O povo determinou que você fizesse oposição, que não fosse governo. Isso não significa que o povo quer que a gente aja ao contrário dos interesses do País.
O PSDB de São Paulo sai enfraquecido desse pleito?
Não. Há um certo tempo o PSDB de São Paulo não elegia um senador. Agora elegeu um senador, elegeu o governador. Teve maioria dos votos para a Presidência da República em São Paulo. Aqui ganhamos todas. O que vamos querer mais? Em São Paulo fizemos toda a lição de casa.
Mesmo com Aécio Neves despontando como nome forte do PSDB para 2014?
O PSDB de São Paulo ganhou a eleição nos dois níveis (para o governo do Estado e para o Senado). O PSDB de Minas ganhou a eleição nos dois níveis. Como aqui, Minas ganhou o governo do Estado e fez um senador. E na coligação fez outro senador, que foi o Itamar Franco. O governo de Minas também saiu vitorioso. O PSDB do Paraná também saiu vitorioso. Se você começar a diferenciar por Estado, você não chega a lugar nenhum. Aqui é um País. Um País único. O partido é nacional. Tem mais força aqui, menos força ali por questões regionais. Mas é um partido nacional. O PSDB tem hoje sua maior força, é verdade, nas áreas de concentração onde você tem o maior volume de pessoas. Somos majoritários em quase 60% do eleitorado nacional. Fomos majoritários na maioria das capitais. De 27 capitais elegemos 14. Elegemos todas as capitais do Sudeste e do Sul, menos o Rio de Janeiro. Temos presença forte no PIB nacional. Ganhamos as eleições nos Estados que representam 60% do PIB nacional. É um partido forte.
Há fragilidades, onde?
Sim, ele tem suas fragilidades. Tem áreas onde é muito frágil, como junto às pessoas mais simples, mais humildes e carentes. Nós perdemos (a eleição) onde vivem as pessoas mais humildes.

INFORMAÇÕES DO PORTAL DO GOVERNO DE SP
Alberto Goldman nasceu e viveu uma infância humilde no bairro do Bom Retiro, em São Paulo. Herdou, por influência dos pais poloneses, o interesse pela política, o repúdio às injustiças, o espírito de resistência e a consciência do valor concreto da democracia – traços comuns aos imigrantes da Europa Central que vieram para o Brasil no período de ascensão do nazismo.
Aos 18 anos, ingressou na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. A Poli era, então, uma espécie de referência na política estudantil o que fez com que ingressasse no Partido Comunista Brasileiro (PCB), então clandestino. Entre 1956 e 1960, quando se formou, participou intensamente de diretórios, dos debates e dos congressos estudantis estaduais e nacionais.
Durante o golpe militar de 64 Goldman consolidava seu escritório de Engenharia Civil. Em 1969, logo após a publicação do AI-5, que aprofundou o regime ditatorial tornando-o mais rígido, atendeu aos apelos dos dirigentes do PCB e filiou-se ao MDB para ser eleito deputado estadual em 1970. Já em seu primeiro mandato tornou-se líder do MDB na Assembléia Legislativa de São Paulo. O partido havia se tornado o único instrumento legal para a atuação oposicionista.
A luta armada nunca fez parte dos planos de Goldman. Para ele, a redemocratização do país só ocorreria se conseguissem aglutinar no MDB o máximo possível de forças políticas e sociais de oposição. Em 1974, Goldman passou a ser referência da oposição e, reeleito, tornou-se mais uma vez o líder da bancada. Por outro lado, o regime militar continuava a exercer uma repressão cada vez mais violenta.
O quadro era de prisões, desaparecimentos e muitos mandatos cassados recrudescendo a crise. Nos momentos mais tensos, uma das poucas vozes a protestar na Assembléia Legislativa era a de Goldman. Como forma de garantir a vida dos presos políticos, ele assinava notas nos jornais listando seus nomes, chegando até mesmo a confrontar o presidente Ernesto Geisel, alertando para as mortes ocorridas em São Paulo, como as do jornalista Vladimir Herzog e do sindicalista Manoel Fiel Filho. Em 1976, a PUC-SP foi invadida por tropas do Exército. Momentos que exigiram de Goldman, como líder da oposição na Assembléia, muito equilíbrio e, sobretudo, coragem para denunciar as arbitrariedades. Criou a Comissão de Inquérito para apurar a invasão da PUC, ato que colocou pela primeira vez a ditadura militar no banco dos réus.

A luta pela democracia

Em 1978, Goldman elege-se deputado federal e, na mesma ocasião, articula e lidera o lançamento de Fernando Henrique Cardoso ao Senado. Em seguida, em um ato de força, o MDB foi dissolvido e os políticos de oposição fundaram o PMDB. Goldman tornou-se seu Secretário-Geral, com Mário Covas na Presidência Estadual. Iniciou-se um extenso trabalho de organização do partido em todo o país, com vistas às eleições de 1982.
Nos anos seguintes, a grande questão nacional era a eleição direta para Presidente. Com a Emenda das Diretas derrotada no Congresso, a oposição, com decidida participação de Goldman, bancou o Colégio Eleitoral elegendo Tancredo Neves.
Com a legalização do PCB, Goldman homenageou seus antigos correligionários disputando as eleições de 1986 pelo partido, que não atingiu o quociente eleitoral. Em março de 1987, assumiu a Secretaria Especial de Coordenação de Programas do Estado de São Paulo e, no ano seguinte, a Secretaria Estadual de Administração.
Como titular da Secretaria da Administração, iniciou a modernização do Estado assumindo a responsabilidade pela administração de crises e cuidando de questões sensíveis como a política salarial do Estado. Ao mesmo tempo, atuava como um elo entre o governo estadual e a Assembléia Constituinte, levando sugestões e exercendo sua influência sobre os parlamentares federais.

Reorganização do Estado e reformas

A primeira eleição presidencial por meio do voto direto após a ditadura mudou o cenário político nacional. As grandes discussões passaram a se concentrar no papel do Estado, nas reformas, na abertura econômica. Goldman, então, voltou à Câmara dos Deputados e lá presidiu a Comissão que criou a nova Lei de Propriedade Industrial, permitindo ao Poder Executivo Federal a quebra de patentes em caso de emergência nacional ou interesse público. Utilizada pelo então ministro da Saúde, José Serra, a lei barateou o preço dos remédios de combate a AIDS no Brasil. Goldman também encaminhou em 1992, época da discussão da Lei de Patentes, projeto que previa a criação dos remédios genéricos, aprovado anos depois.
Indicado para o cargo de Ministro dos Transportes pelo presidente Itamar Franco em 1992, deu início a uma das maiores transformações do setor nas últimas décadas. Foi feita a primeira concessão rodoviária, a Via Dutra, iniciou-se a duplicação da rodovia Fernão Dias e conduzido o processo para a obtenção de financiamento internacional para a duplicação da Régis Bittencourt (BR-116).
Reelegeu-se deputado federal em 1994 e, como relator adjunto da Revisão Constitucional, ficou encarregado de elaborar as propostas de ordem econômica. Algumas destas propostas que não foram votadas na revisão, como a flexibilização do monopólio estatal do petróleo e a desestatização do setor de telecomunicações, tornaram-se parte do programa de governo do presidente Fernando Henrique Cardoso no início de 95. Foi ainda relator da Lei Geral das Telecomunicações, que revolucionou o setor no país, democratizou o acesso às linhas telefônicas e impulsionou a telefonia celular. Em 2000, foi Presidente da Comissão de Orçamento.
Na oposição a partir de 2003, destacou-se por suas posições responsáveis e foi eleito por aclamação líder da bancada do PSDB na Câmara dos Deputados em 2005. Até o fim de seu mandato como deputado, em 2006, foi apontado 14 vezes seguidas como uma das "Cabeças do Congresso" pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP) que elege as 100 principais referências políticas no Congresso.
Eleito vice-governador ao lado de José Serra, Goldman acumulou, até 26 de janeiro de 2009, o cargo de secretário de Desenvolvimento, onde coordenou pessoalmente importantes iniciativas, como a expansão das Escolas Técnicas (Etecs) e Faculdades de Tecnologia (Fatecs) e a modernização do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), além de atuar como uma interface entre Governo do Estado e iniciativa privada na promoção de importantes investimentos para a população paulista.
A pedido de José Serra, Goldman deixou a secretaria no inicio de 2009 e passou a trabalhar ao lado do governador, coordenando de perto os principais programas do Governo do Estado.

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