domingo, novembro 07, 2010
Escritores manifestam repúdio a veto do CNE em livro de Monteiro Lobato
Escritores manifestam repúdio a veto do CNE em livro de Monteiro Lobato
Agência Brasil
Seis escritores brasileiros dedicados à literatura infanto-juvenil manifestaram, ontem (5/11), em nota, seu desagrado e desacordo ao veto do Conselho Nacional de Educação (CNE) ao livro Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato. A nota é assinada pelos escritores Ana Maria Machado, Ruth Rocha, Ziraldo, Lygia Bojunga, Pedro Bandeira e Bartolomeu Campos de Queirós.
Sob o título Lobato, Leitura e Censura, os autores lembram que as criações de Monteiro Lobato “têm formado, ao longo dos anos, gerações e gerações dos melhores escritores deste país que, a partir da leitura de suas obras, viram despertar sua vocação e sentiram-se destinados, cada um a seu modo, a repetir seu destino”.
Afirmam ainda que “a maravilhosa obra de Monteiro Lobato faz parte do patrimônio cultural de todos nós – crianças, adultos, alunos, professores – brasileiros de todos os credos e raças. Nenhum de nós, nem os mais vividos, têm conhecimento de que os livros de Lobato nos tenham tornado pessoas desagregadas, intolerantes ou racistas. Pelo contrário: com ele aprendemos a amar imensamente este país e a alimentar esperança em seu futuro”.
Também a Academia Brasileira de Letras (ABL), da qual é membro uma das signatárias da nota, a escritora Ana Maria Machado, se posicionou contrária à tentativa de censura ao livro Caçadas de Pedrinho. Em reunião plenária na tarde de ontem (4), os acadêmicos manifestaram repúdio “contra qualquer forma de veto ou censura à criação artística” e apoiaram o ministro da Educação, Fernando Haddad, que foi contrário à determinação do CNE.
De acordo com a decisão dos acadêmicos, em nota divulgada hoje pela assessoria de imprensa da ABL, “cabe aos professores orientar os alunos no desenvolvimento de uma leitura crítica. Um bom leitor sabe que Tia Anastácia encarna a divindade criadora dentro do Sítio do Picapau Amarelo. Se há quem se refira a ela como ex-escrava e negra, é porque essa era a cor dela e essa era a realidade dos afrodescendentes no Brasil dessa época. Não é um insulto, é a triste constatação de uma vergonhosa realidade histórica”.
Na nota, a ABL sugere que, em vez de proibirem as crianças de conhecer a obra, os responsáveis pela educação fariam melhor se estimulassem os alunos a uma leitura mais aprofundada. Para os acadêmicos, é necessário aos professores e formuladores de política educacional ler a obra infantil de Lobato e se familiarizar com ela. “Então saberiam que esses livros são motivo de orgulho para uma cultura, e que muitos poucos personagens de livros infantis pelo mundo afora são dotados da irreverência de Emília e de sua independência de pensamento”.
A nota conclui com a afirmação de que “a obra de Monteiro Lobato, em sua integridade, faz parte do patrimônio cultural brasileiro” e com um apelo ao ministro da Educação no sentido de “que se respeite o direito de todo o cidadão a esse legado e que vete a entrada em vigor dessa recomendação”.
Livro de Monteiro Lobato é liberado para ser usado em salas de aula
Sexta-feira, 5 de novembro de 2010 Fonte: G1
Algumas frases que aparecem na história "Caçadas de Pedrinho" foram consideradas preconceituosas pelo Conselho Nacional de Educação
Um clássico da literatura infantil quase foi banido das escolas públicas do país. Algumas frases que aparecem na história "Caçadas de Pedrinho", de Monteiro Lobato, foram consideradas preconceituosas pelo Conselho Nacional de Educação.
O ministro da Educação, Fernando Haddad, teve que intervir. Ele esclareceu o que a Academia Brasileira de Letras, com politicamente correta, chamou de equívoco. Agora, a reação ao veto foi enorme, e não só da academia. Educadores de todo o país protestaram contra a censura ao livro. Depois do bombardeio, de críticas, o Conselho Nacional de Educação recuou, e o livro "Caçadas de Pedrinho", ainda bem, está novamente liberado.
Monteiro Lobato racista? Um professor da universidade de Brasília achou que sim. Considerou que no livro "Caçadas de Pedrinho" há preconceito racial contra a personagem Tia Anastácia, a empregada negra do Sítio do Pica-Pau Amarelo.
Em um trecho, o autor diz que Tia Anastácia "tem carne preta”. Em outro, afirma "que trepou que nem uma macaca de carvão pelo mastro”.
A Secretaria de Igualdade Racial concordou com a crítica. “As expressões que o livro contém são expressões de um conteúdo fortemente preconceituoso e que precisam de tratamento explicativo na sala de aula, para que não se ofenda a autoestima das crianças e dos leitores”, declara o ministro da Igualdade Racial, Eloi Ferreira de Araujo.
O Conselho Nacional de Educação chegou a recomendar que o MEC deixasse de adotar "Caçadas de Pedrinho" nas escolas públicas. O argumento era que ele desrespeita o critério usado na avaliação dos livros didáticos, de não ter preconceitos ou estereótipos.
A Academia Brasileira de Letras condenou o veto. “A obra do Monteiro Lobato, depois de tantas décadas, sofrer esse tipo de avaliação é completamente equivocada. A academia, na linha das suas convicções democráticas, rejeita qualquer tipo de censura e entendeu a manifestação do conselho como uma forma de censura”, aponta o presidente ABL, Marcos Vinicios Vilaça.
Para o ministro da Educação, Fernando Haddad, não é o caso de tirar o livro das escolas. “Décadas se passaram. Expressões que não eram consideradas ofensivas hoje são. Mas, em se tratando de Monteiro Lobato, de um clássico brasileiro da literatura infantil, nós só temos que contextualizar, advertir e orientar sobretudo o professor sobre como lidar com esse tipo de matéria em sala de aula”, aponta.
Problema resolvido. O livro vai continuar na lista do MEC, mas, a partir de agora, com uma explicação sobre o contexto em que foi escrito. Algo parecido com o que uma edição já traz sobre a caça à onça. A editora deixa claro que a aventura aconteceu em uma época em que a onça pintada não estava ameaçada de extinção, nem os animais silvestres eram protegidos pelo Ibama.
Não custa lembrar que esse clássico da literatura infantil, "Caçadas de Pedrinho", foi publicado pela primeira vez em 1933. Há 77 anos. Os exageros do politicamente correto ainda não existiam.
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