quinta-feira, novembro 11, 2010
Renovar o Enem
Renovar o Enem
EDITORIAL - FOLHA DE SÃO PAULO - editoriais@uol.com.br
Exame enfrenta percalços por manter o gigantismo de teste único; saída é aplicar provas equivalentes, mas distintas, em tempo e locais variados
O açodamento com que o Ministério da Educação (MEC) se lançou na transformação do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) em principal porta de acesso às universidades federais está na raiz de seus sucessivos fiascos. Com um pouco mais de planejamento, seria possível evitar o grave prejuízo à imagem de um sistema que possui inegáveis méritos.
A formulação do Enem se baseia em técnicas modernas de avaliação. O mesmo tipo de prova é aplicada em exames reconhecidos como eficazes em diversos países. É o caso do SAT norte-americano (sigla que significa teste de avaliação escolar, em inglês) e também o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), adotado por membros da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
Essas provas são baseadas em questões classificadas por grau de dificuldade. O escore final de cada participante resulta de cálculos estatísticos que levam em conta o desempenho do candidato nas perguntas consideradas mais e menos difíceis. Dito de outro modo, a necessária isonomia entre os participantes fica garantida por essa ponderação. Não é obrigatório que todos os estudantes respondam um rol de perguntas de conteúdo idêntico, como no vestibular -basta que elas se equivalham em grau de dificuldade.
É consensual que essa técnica permite comparar de forma justa alunos que fizeram exames diversos, mesmo que em diferentes momentos e países.
Tanto é assim que o SAT americano conta com sete aplicações ao longo de um ano. No plano original do Ministério da Educação, o novo Enem deveria ter três edições anuais.
Boa parte dos percalços que a prova enfrenta vem da tentativa de conjugar esse modelo com o gigantismo do velho vestibular: um sistema de avaliação que, embora imaginado para permitir a compilação de múltiplas provas, tem de ser realizado em escala nacional como prova única.
O pesadelo logístico de fazer chegar um exame de conteúdo idêntico a mais de 3 milhões de estudantes, num país do tamanho do Brasil, carrega consigo o germe do fracasso. O método cria um prêmio alto demais para o vazamento, valorizando as muitas oportunidades de quebra de sigilo.
A saída não está em uma marcha à ré. Ao contrário, cabe persistir na lógica do Enem e apressar a constituição de um grande banco de questões codificadas.
Isso permitiria diversificar as provas, que poderiam ser organizadas de forma regionalizada -ou mesmo com a aplicação de vários exames numa mesma região. Também seria possível propor mais de um teste ao longo de um mesmo ano. Não seria um exame à prova de fraude, o que não existe, mas contribuiria para evitar problemas e superar o arcaísmo dos grandes vestibulares.
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