ÉPOCA – Qual é, então, a causa do conflito atual? Fuller –– Há elementos geopolíticos por trás da maioria deles. A Primeira e a Segunda Guerra Mundial começaram com os europeus, que acabaram arrastando o Oriente Médio. Durante a Guerra Fria, o Oriente Médio foi novamente arrastado ao conflito entre os Estados Unidos e a União Soviética. A região conviveu com a constante intervenção política e militar americana promovendo golpes de Estado. A lista é grande, e nenhum dos conflitos tem a ver com o islã.
ÉPOCA – O senhor trabalhou para a CIA entre 1965 e 1987 e viveu em vários países do Oriente Médio. Poderia imaginar que as relações com os EUA chegariam ao ponto em que estão hoje? Fuller – Sim e não. Quem trabalhou no Oriente Médio naqueles anos sabia que a situação estava ficando cada vez pior. Nos Estados Unidos, eu via que as pessoas não percebiam nenhuma mudança. De repente, tivemos o 11 de setembro. Foi um choque, mas não uma surpresa. Osama Bin Laden vinha avisando sobre os atentados e falando sobre o ódio no Oriente Médio por causa da presença de tropas americanas na Arábia Saudita.
ÉPOCA – Em um artigo, o senhor diz que a política externa americana é, provavelmente, a maior contribuição para a unidade do mundo muçulmano desde o profeta Maomé. Por quê? Fuller – Nos dias de Maomé não havia comunicação, mas, agora, com a internet e outros meios, quando os EUA decidem tomar uma atitude como a “guerra contra o terror”, todos ficam sabendo. Os palestinos veem na TV afegãos sendo mortos, por exemplo. A consciência de ser muçulmano é global, e a identidade islâmica é, portanto, consequência da política externa americana – e não a causa.
ÉPOCA – Como o senhor vê essa iniciativa americana de enviar imames americanos a países muçulmanos para falar de pluralismo religioso nos Estados Unidos? Fuller – O papel dos imames é importante, desde que eles não sejam vistos como instrumentos de Washington. Há tantas suspeitas sobre a intenção dos EUA que alguns podem acreditar que é mais uma desculpa para pressão e intervenção.
ÉPOCA – Qual é sua opinião sobre o projeto da mesquita? Fuller – É, a longo prazo, ótimo, mas o momento para a sugestão é delicado porque a questão seria politizada.
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