quinta-feira, outubro 21, 2010

A ligação que a PF nega - PT: contrato de Amaury era com Lanzetta

A ligação que a PF nega
Mandante da quebra de sigilo de tucanos foi Amaury Ribeiro, chamado para pré-campanha petista.
O Globo - BRASÍLIA
Amaury Ribeiro
 Após quatro meses de investigação, o inquérito da Polícia Federal indica uma ligação de integrantes da pré-campanha da candidata do PT, Dilma Rousseff, com o vazamento de dados fiscais sigilosos de tucanos ligados ao candidato José Serra. Mas a PF negou ontem que tenha ficado comprovado o uso dos dados em campanha política.
Pela conclusão da polícia, o mandante da quebra de sigilo foi o jornalista Amaury Ribeiro Júnior, que, no início deste ano, foi chamado para trabalhar na pré-campanha de Dilma.
Amaury obteve as informações entre setembro e outubro de 2009, quando ainda trabalhava para o jornal “Estado de Minas”. Segundo a PF, Amaury pagou R$ 12 mil ao despachante Dirceu Rodrigues Garcia, de São Paulo, que, com auxiliares, obteve na Receita os dados do vicepresidente do PSDB, Eduardo Jorge, e de mais sete pessoas ligadas a Serra. Entre as pessoas com sigilo violado estão Verônica Serra, filha do candidato, e o marido dela, Alexandre Bourgeois.
Segundo a PF, na época em que já tinha saído do “Estado de Minas”, mas ainda continuava com os dados, Amaury se hospedou, em Brasília, num flat de propriedade de pessoa ligada à pré-campanha de Dilma. Num dos depoimentos à PF, o jornalista alega que os arquivos de seu computador, onde estava o relatório dos dados, foram “roubados ou visualizados” por alguém de dentro do PT.
No depoimento, Amaury disse que, ano passado, quando ainda estava no “Estado de Minas”, decidiu apurar suposto esquema de espionagem contra o ex-governador Aécio Neves (PSDB) que teria sido montado pelo grupo do deputado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ), ligado a Serra. A ideia, diz, seria “proteger” Aécio. Na época, Serra e Aécio eram potenciais candidatos do PSDB à Presidência.
Segundo a PF, Amaury encomendou ao despachante Dirceu Rodrigues Garcia, de São Paulo, as quebras de sigilo dos tucanos. As despesas de Amaury com viagens para Brasília, São Paulo e Belo Horizonte e com o pagamento dos documentos fiscais teriam sido pagas pelo “Estado de Minas”, segundo ele. O jornalista confessou ter contratado o despachante, mas alegou que era apenas para fazer levantamento em juntas comerciais.
— Amaury disse que, para obter os documentos, os valores foram custeados pelo “Estado de Minas” — disse o delegado Alessandro Moretti, um dos responsáveis pelo caso.
Jornal nega pedido de apuração
O jornalista disse ainda que, ano passado, entregou relatório do caso ao “Estado de Minas” e deixou o jornal.
As informações não foram publicadas.
No início deste ano, Amaury, que mantinha cópia do relatório em seu computador, foi chamado pelo empresário Luiz Lanzetta, dono da Lanza Comunicação, para montar uma equipe de inteligência da campanha de Dilma. A tarefa seria supostamente conter vazamentos de informações do comitê central da campanha da ex-ministra. Mas ele alega que a contratação não foi levada adiante.
Em nota, o “Estado de Minas” negou envolvimento na violação de dados de tucanos. “O jornalista Amaury Ribeiro Júnior trabalhou por três anos no ‘Estado de Minas’ e publicou diversas reportagens. Nenhuma, absolutamente nenhuma, se referiu ao fato agora em questão. O ‘Estado de Minas’ faz jornalismo”, diz a nota.
Sete suspeitos foram indiciados por violação de sigilo, corrupção ativa, passiva e uso de documentos falsos, entre outros crimes. Entre os indiciados estão os despachantes Dirceu Garcia, Ademir Cabral, Antonio Carlos Atella e Fernando Lopes, e a ex-funcionária da Receita Adeildda dos Santos, devolvida ao Serpro depois do escândalo.
Em entrevista coletiva, e depois em nota oficial, o diretor da PF, Luiz Fernando Corrêa, negou vínculo entre a quebra de sigilo e a campanha de Dilma: “Os dados violados foram utilizados para a confecção de relatórios, mas não foi comprovada sua utilização em campanha política. A Polícia Federal refuta qualquer tentativa de utilização de seu trabalho para fins eleitoreiros com distorção de fatos ou atribuindo a esta instituição conclusões que não correspondam aos dados da investigação”, diz Corrêa. Ao longo da investigação, a PF tomou 50 depoimentos de 37 pessoas. Amaury foi interrogado quatro vezes.
A formação da equipe de inteligência, que contaria com o sargento da reserva da Aeronáutica Idalberto Matias Araújo, o Dadá, e o delegado aposentado da Polícia Federal Onésimo Souza, foi implodida antes da criação do grupo. Lanzetta se desentendeu com Onésimo sobre valores e o tipo de serviço a ser prestado. Após a briga, o caso foi tornado público e se tornou um dos grandes escândalos da campanha eleitoral. Onésimo acusou Lanzetta de encomendar investigação, inclusive com uso de grampos, de Serra. A partir daí, os deputados José Eduardo Cardozo (PT-SP) e Marcelo Itagiba pediram para a PF abrir inquérito sobre a denúncia
PT: contrato de Amaury era com Lanzetta
Partido nega ligação da quebra de sigilo com a campanha de Dilma e atribui caso a suposta briga interna no PSDB
Maria Lima, Cristiane Jungblut e Gerson Camarotti
 BRASÍLIA. O comando da campanha de Dilma Rousseff (PT) definiu, logo nas primeiras horas da manhã de ontem, a estratégia de disseminar a ideia de que a quebra de sigilo de tucanos teve origem em Minas Gerais e teria sido fruto de divergências internas no PSDB.
Apesar das evidências da ligação estabelecida este ano entre integrantes da campanha petista e o jornalista Amaury Ribeiro Junior, acusado pela Polícia Federal de ser o mandante da violação do sigilo, os integrantes da campanha foram para o ataque.
Além de negar envolvimento do partido e da presidenciável petista na elaboração de dossiês relacionados ao caso Eduardo Jorge, vice-presidente do PSDB, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, foi o primeiro a insinuar que os dados serviriam à disputa interna entre os tucanos Aécio Neves (MG) e José Serra (SP) pela vaga de candidato a presidente pelo PSDB, no segundo semestre do ano passado.
— O único contrato dele (Amaury) era com o (Luiz) Lanzetta (dono da Lanza Comunicação), que era contratado pela campanha. Mas eu nem conheço o Amaury. A nossa afirmação é a mesma desde o início.
Nunca encomendamos ou mandamos elaborar um dossiê — disse Dutra. — Parece mais uma briga instalada dentro do tucanato que quiseram colocar no nosso colo.
“Itagiba, além de tucano, é um araponga contumaz” À tarde, Dutra convocou a imprensa para anunciar que pedira a abertura de inquérito para investigar a existência de uma central de espionagem que seria liderada pelo deputado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ): — O Marcelo Itagiba, além de ser tucano, é um araponga contumaz.
Dutra negou que alguém do PT ou responsável pela campanha de Dilma tenha pagado o aluguel de um flat para Amaury durante a pré-campanha. Dutra disse que a ligação do jornalista era com Luiz Lanzetta, este, sim, contratado pela campanha, mas sem cargo na coordenação de Comunicação.
— O que sei é que nem eu nem o Palocci nem o José Eduardo Cardozo pagamos fla para esse jornalista. Negamos categoricamente essa informação.
Se alguém ligado à campanha ou do PT pagou, gostaríamos de saber quem. Se o Lanzetta pagou, eu não sei. A campanha nunca teve conhecimento desses dados ou suposto dossiê, que, aliás, gostaria de ver publicado. Não temos qualquer responsabilidade nesse episódio — disse Dutra, apesar de a própria PF ter dito que Amaury foi hospedado por um petista.
André Vargas diz que dossiê era para proteger Aécio Com a estratégia de tentar desviar o noticiário negativo da campanha de Dilma, a ordem foi de insistir com a versão de que a quebra de sigilo foi feita pelo jornalista, que, na ocasião, era contratado pelo jornal “O Estado de Minas”.
— Caiu por terra a tentativa do Serra de botar uma estrela no bicho. Esse bicho tem pernas, bico e penas de tucano — disse Dutra, afirmando que o relato da PF mostra a existência de uma central de espionagem para investigar Aécio Neves.
Pelo Twitter, o secretário de comunicação do PT, deputado André Vargas (PR), explicitou as acusações de que o dossiê estava sendo feito para defender Aécio de ataques do próprio Serra: — Foi o Aécio que fez (o dossiê) para se proteger do Itagiba e da cachorrada do Serra que teriam flagrado o tucano em situações constrangedoras.
Outra estratégia definida pela manhã foi de isolar o nome do jornalista Amaury Ribeiro da pré-campanha. Dilma foi orientada a dar essa versão quando questionada pela imprensa, mas ela evitou falar sobre o assunto após participar de evento com integrantes do PV, alegando que daria entrevista à tarde em São Paulo.
Ao mesmo tempo, os petistas avaliam que o impacto da notícia será restrito. Segundo um coordenador de campanha, a nova evidência seria apenas “mais do mesmo”.
O que mais preocupa a cúpula petista é qualquer tipo de desdobramento do caso Erenice Guerra, que foi demitida da Casa Civil depois de evidências de tráfico de influência de parentes. Isso teria poder de destruição bem maior do que os desdobramentos da quebra de sigilo, reconheceu um coordenador de campanha.

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