quinta-feira, junho 23, 2011

De Gaulle espionou JK - RONALDO COSTA COUTO


De Gaulle espionou JK - RONALDO COSTA COUTO
Folha de São Paulo
Juscelino, em 1964, na cidade de Paris, vivia preocupado com espiões, microfones ocultos, fotos, grampos e violação de correspondência
Paris, 1964, escritório de Juscelino Kubitschek de Oliveira, referência democrática do Brasil, ex-presidente da República, exilado. Ele trabalha em suas memórias.
Ama a França, mas está triste e decepcionado. Sabe que é espionado pelo governo do general Charles de Gaulle. Teme ser ouvido e gravado. Veio em busca de liberdade, respeito e paz. Mas vive preocupado com espiões, microfones ocultos, grampos, fotos, violação de correspondência.
Um suplício! Levanta-se, abre a janela, pega o rádio, liga, sintoniza, aumenta o som e diz: "Preciso contar algumas coisas, Maria Alice".
A doce e culta Maria Alice Gomes Berengas, pequenina carioca da gema, hoje com 88 anos, foi amiga e secretária de JK no exílio. É testemunha e vítima da intromissão francesa, que atribui ao "Deuxième Bureau", serviço de inteligência.
Delírios anticomunistas da Guerra Fria? Conivência com a ditadura brasileira? Durante 46 anos ela guardou segredo do que viu, ouviu e sofreu ao lado de JK e depois.
No ano passado, em Paris, abriu a alma ao professor Carlos Alberto Antunes Maciel, da Universidade de Nantes, para um documentário sobre JK no exílio. Trecho: "Havia um prédio em frente, onde ficava um pessoal espiando a gente. Eram sempre os mesmos".
Infernizaram a vida de JK. Dele: "Era voltar ao Brasil ou meter uma bala no peito". Fecha o escritório, manda queimar os arquivos. Chega ao Rio logo depois das eleições de 3 de outubro de 1965, com a mulher, Sarah, e Maria Alice. Traz esperança na democratização.
Bem recebido pelo povo, é hostilizado pela ditadura. Policiado, perseguido e ameaçado, volta ao exílio no mês seguinte. Mas nunca mais Paris. Primeiro Nova York, em seguida Lisboa.
Maria Estela Kubitschek, em 25 de janeiro passado: "Papai nunca nos falou que era vigiado pelo "Deuxième Bureau". Quis poupar a família de mais sofrimentos". E a fiel Maria Alice?
Avisada de risco de prisão, recorre à Embaixada da França. Resultado: retêm seu passaporte francês.
Frustrada e assustada, consegue ajuda para se esconder no transatlântico Federico C e nele viajar.
Chegando à França, duros interrogatórios. Pergunto, em 2 de março de 2011: "O que queriam saber?".
Ela: "Coisas muito pessoais do presidente. Quem o visitara, o que dissera fulano ou beltrana. Eu dizia que não sabia, que não prestava atenção". Insinuaram que sua única filha, Nicole, de 9 anos, poderia sofrer um acidente.
Desesperada, levou-a de carro para Portugal. "Era muito mais importante a lealdade do que dar satisfação a essa gente. Depois de muito tempo, sumiram".
JK recebia figuras internacionais graúdas, como o argentino Juan Perón, o socialista francês François Mitterrand e líderes brasileiros como Miguel Arraes.
Prossigo: "Ele nunca foi envolvido em conspiração?".
Ela, veemente: "Nada! Dizia que revolução não é solução. Não admitia que se derramasse uma gota de sangue". Maria Alice vive perto de Lisboa. Tem muita saudade de dona Sarah e de JK.
RONALDO COSTA COUTO, escritor, doutor em história pela Sorbonne (França), foi ministro do Interior e ministro-chefe da Casa Civil (governo Sarney). É autor, entre outras obras, de "História Indiscreta da Ditadura e da Abertura" e de "Brasília Kubitschek de Oliveira".

Lute,para Hoje em Dia

Rodoviária do Rio não é Greta Garbo


Rodoviária do Rio não é Greta Garbo
ELIO GASPARI - FOLHA DE SÃO PAULO - 22/06/11
O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, e o governador Sérgio Cabral precisam conversar, porque um dos dois não sabe em que cidade vive. O alcaide anunciou que pretende transferir a rodoviária que está na zona do porto para o bairro do Irajá, a 18 quilômetros de distância. Já o governo do Estado tem um projeto para a reconstrução do terminal existente, sobre o qual seriam erguidas três torres.
Pelo cheiro da brilhantina, a ideia de revitalizar o terminal é a melhor. Primeiro, porque insere-se na iniciativa de melhoramentos da zona portuária da cidade. Além disso, está perto de uma ferrovia. Sempre que se fala em mudar de lugar um serviço público que atende 1,1 milhão de pessoas por mês, deve-se desconfiar que há algum interesse em mandar a patuleia para longe. Uma rodoviária no centro nervoso da cidade pode ser uma conveniência. A vitalidade de Manhattan deve muito ao fato de as estações centrais de trens e ônibus estarem no coração da ilha. O terminal rodoviário da Rua 42 é o mais movimentado do mundo, e é o mais movimentado do mundo porque a cidade batalhou, abrindo túneis e fazendo obras para mantê-lo ali. Ele serve a 4,5 milhões de passageiros por mês. A cidade cresceu olhando para o movimento do seu povo.
Há pouco houve em São Paulo uma grande discussão em torno da localização de uma estação de metrô no bairro de Higienópolis. Alguns demófobos queriam mandar para outro lugar uma parada de trem que levaria "gente diferenciada" para o pedaço. Felizmente, perderam. A transferência da rodoviária para o Irajá levaria a "gente diferenciada" para longe do Porto Maravilha, um projeto no qual os governos do Estado e da cidade derramam milhões de reais de toda a população.
Nas cidades onde a política de transportes públicos presta atenção na "gente diferenciada", os terminais de ônibus e trens são sempre servidos pelo metrô. No Rio, isso não acontece. Não se trata apenas de escolher entre um lugar e outro. Será preciso comparar os custos das duas integrações. A atual Linha Dois, que vai para o Irajá, não foi projetada para suportar o movimento de passageiros atraídos por uma rodoviária.
O terminal do Irajá pode levar progresso ao bairro, mas também pode degradá-lo, como a Rodoviária Novo Rio contribuiu para a degradação da zona portuária. Os argumentos até agora apresentados pelo prefeito têm generalidades demais e números de menos. Discutindo-os, com estudos e estatísticas sobre a mesa, a cidade melhorará, aprendendo a se ver como é.
O Rio de Janeiro padece de hiperurbanismo. Em vez de se deixar a cidade crescer em paz, adaptando as políticas públicas ao seu desenho natural, a cada geração, redesenha-se tudo. Ao tempo de d. João VI surgiu a ideia de se fazer uma Cidade Nova, direcionando-se o centro para São Cristóvão. Passaram-se duzentos anos e cinco custosos projetos, mas o Rio cresceu em direção ao Sul e para lá não foi.
Nos anos 70 fez sucesso uma peça intitulada Greta Garbo, Quem Diria, Acabou no Irajá . A Divina acabou, muito bem, em Nova York. No Irajá, vivia um Pedro que sonhava ser ela. A rodoviária pode ir para lá, mas, ao contrário de Greta Garbo, deve-se saber por quê.

Amorim, charge para o Correio do Povo

O engano - Antonio Prata

O engano
ANTONIO PRATA - FOLHA DE SÃO PAULO - 22/06/11
No meio da tarde você atende a uma chamada, e uma voz estranha pergunta: "Alô, Waldemar?"
É ASSOMBROSO que em pleno século 21, 135 anos depois de Graham Bell ter inventado o telefone, ainda haja pessoas incapazes de aceitar esta situação tão banal da vida cotidiana: o engano. Sem dúvida, o leitor sabe do que estou falando: no meio da tarde você atende a uma chamada e, do outro lado da linha, uma voz estranha pergunta: "Alô, Waldemar?".
Seu nome não é Waldemar. Você não se casou com um Waldemar nem batizou assim qualquer um de seus filhos, de modo que só há uma explicação, simples e evidente: foi engano. Você engole o pequeno mau humor que escorre dos segundos perdidos, aceita a frustração de ter-se imaginado necessário ou querido em algum canto da cidade, no meio da tarde, quando, na verdade, era de um Waldemar que precisavam. Você diz, seco, mas não antipático: "Amigo, aqui não tem nenhum Waldemar: foi engano", e já está tirando o telefone da orelha, pronto a voltar a seus afazeres, quando a voz ressurge, indignada: "Como assim não tem nenhum Waldemar?".
Como assim, "como assim?!"?! O que passa pela cabeça do cidadão?
Que você é o Waldemar, mas está mudando a voz e fingindo ser outro só para não atendê-lo? Ou que você é um assaltante e invadiu a casa do Waldemar -que agora tenta gritar, amordaçado e amarrado a uma cadeira: "Mmmm! Mmmm!"?!
Você respira fundo. Sabe que, se for arrancar os cabelos toda vez que lida com seres estranhos, numa cidade como São Paulo, muito rápido estará igual ao Kojak. Diz apenas, paciente e didático: "Olha, amigo, eu não me chamo Waldemar, não mora nenhum Waldemar nesta casa, foi en-ga-no, entendeu?".
Não, ele não entendeu. Estamos lidando com um maníaco, um homem cuja disfunção neurológica impede de compreender os desvios dos polegares, dos satélites, das linhas telefônicas. Inconsolável, ele se debate: "Mas não pode ser! Me deram esse número! Disseram que era do Waldemar!". Zen, você insiste: "Amigo, te deram o número errado, ou você teclou errado, sei lá, é muito comum, foi ENGANO!".
Seguem-se alguns promissores segundos de silêncio. Você acha que ele enfim se convenceu, que desligará o telefone e dirá à mulher "Aurélia, você não sabe que coisa assombrosa! Liguei pro Waldemar e atendeu outro homem!", mas a voz reaparece, acusatória: "Então, qual é o seu número?!".
Aí já é demais. Seu número, você não dirá. Não sabe o sujeito que a Constituição brasileira garante a presunção da inocência? Não sabe que, de acordo com a velha máxima latina, in dubio pro reu, cabe à acusação provar que você é -ou esconde- o Waldemar e não a você provar que não o é -ou não o esconde?
Catando no fundo da alma a última migalha de generosidade, você pergunta: "Que número você ligou?". Ele diz o número. Evidentemente, não é o seu. Você mostra para ele o equívoco, "olha aqui, o meu é cinco oito, não três oito, tá vendo?". Pasmo e contrariado, ele finalmente aceita a situação, despede-se rispidamente e desliga.
Você pode então -Jesus seja louvado!- voltar a seus afazeres, a saber: dar mais um aperto na corda que amarra o Waldemar e continuar o arrombamento do cofre, onde encontram-se os dólares e as joias da Gertrudes.

Jabuti maroto


Jabuti maroto
DORA KRAMER - O ESTADÃO -  22/06/11
A presidente Dilma Rousseff tem dois caminhos a seguir assim que a Medida Provisória 527 seguir para exame do Senado.
Pode recuar da ideia de instituir o sigilo sobre os orçamentos das obras para a Copa e a Olimpíada ou caminhar para uma derrota certa e talvez mais acachapante que a imposta pela Câmara no Código Florestal.
A julgar pela manifestação do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), contrária à peculiar fórmula proposta pelo Palácio do Planalto, é possível nessa altura que o recuo já esteja nos planos do governo.
Afinal, Sarney não é dado a independências nem a confrontos. Mas, se não é jogo combinado, é um aviso de quem amigo é.
A declaração não deixa margem a dúvidas: o presidente do Senado diz que o Regime Diferenciado de Contratações não passa pela Casa com o dispositivo do segredo.
Defensor de outros sigilos — dos atos secretos e dos documentos oficiais ultrassecretos —, Sarney não diria o que disse se não tivesse a lhe respaldar um retrato do estado de espírito não só do colegiado que preside como também da opinião pública.
Portanto, esse problema está praticamente resolvido. Só não está completamente solucionado porque o governo poderá tentar reformular a proposta de maneira menos explícita, mas que ao fim e ao cabo acabe preservando o sentido original do “jabuti”.
Ele não foi posto onde está por acaso: resultou de ato de um deputado do PT, José Guimarães (CE), na noite da votação na Câmara e logo após uma reunião de líderes de partidos governistas.
Mais: foi defendido pela presidente Dilma Rousseff na semana passada, a propósito de atribuir a repercussão negativa a um “mal entendido”.
Tanto houve se entendeu tudo muito bem que o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), já precisou anunciar a disposição da base governista de “promover ajustes” na MP, “mudar alguma coisa no texto” a fim de evitar que a presidente assuma o desgaste do veto.
Note-se que Jucá embola a argumentação colocando as coisas de forma a inverter o ônus, como se o sigilo tivesse surgido por iniciativa da Câmara e não por inspiração do Planalto.
Falou como se o veto rendesse um malefício político à presidente quando, na verdade, ele seria um benefício. Mas isso só no caso de todo mundo esquecer que a própria Dilma defendeu o sigilo sob a pueril argumentação de que assim se evitaria a formação de cartel entre as grandes empreiteiras.
Ademais, não é sobre a possibilidade de veto que se fala, pois isso seria partir do pressuposto que o Senado aprovaria o texto como está.
O que está posto é algo bem diferente: o imperativo de o governo mudar de posição para escapar da derrota certa. No Congresso e na sociedade.
Trem pagador
O PT quer instituir o dízimo sobre a verba extra dos parlamentares, destinada a custear despesas decorrentes do exercício do mandato.
O partido alega que é preciso criar um fundo para “atender ao interesse coletivo da bancada”. Seja qual for a justificativa para tentar tornar a proposta mais palatável ao público pagante, o fato é um só: trata-se do desvio do dinheiro para função alheia à destinação original.
Neste aspecto, a voracidade do PT para açambarcar recursos públicos não difere em nada na conduta de parlamentares que empregam a verba em despesas indevidas.
Tais como festa em motel e diárias de hotel em Brasília, conforme indicavam notas apresentadas pelo deputado Pedro Novais (PMDB-MA), ministro do Turismo, e pela então senadora Ideli Salvatti (PT-SC), ministra da Secretaria de Relações Institucionais.
Mercado futuro
Adversários políticos da ministra Gleisi Hoffmann no Paraná reconhecem: se não houver percalços em sua gestão à frente da Casa Civil, ela é candidata, e forte, ao governo do Paraná em 2014.
Se vier a se compor com o tucano Gustavo Fruet para a eleição à prefeitura de Curitiba em 2012, na eventualidade de o ex-deputado deixar o PSDB, Gleisi é tida como imbatível.

Skoob

BBC Brasil Atualidades

Visitantes

free counters