sexta-feira, setembro 17, 2010

EUA retiram Brasil de lista de países com grande produção e tráfico de drogas

EUA retiram Brasil de lista de países com grande produção e tráfico de drogas
UOL Notícias 
Washington, 16 set (EFE).- O Brasil foi excluído de uma lista de países considerados grandes produtores ou plataformas de tráfico de drogas, elaborada periodicamente pelos Estados Unidos, embora ainda tenha recebido a recomendação de priorizar a luta contra o narcotráfico.
A lista foi enviada em um memorando à Secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, e conta com o anúncio do presidente Barack Obama, que afirma que Bolívia e Venezuela são países que descumprem "de maneira demonstrável" seus compromissos internacionais de luta contra as drogas, mas, apesar disso os americanos manterão seus programas de ajuda no combate ao tráfico.
Como prevê a Lei de Autorização de Relações Exteriores, o presidente dos EUA deve notificar a cada ano os países que considera que são grandes produtores de drogas ou de passagem de entorpecentes no mundo.
Nesta ocasião, foram listados Afeganistão, Bahamas, Bolívia, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana, Equador, Guatemala, Haiti, Honduras, Índia, Jamaica, Laos, México, Mianmar, Nicarágua, Paquistão, Panamá, Peru e Venezuela.
Costa Rica, Honduras e Nicarágua entraram este ano na lista, enquanto o Paraguai, assim como o Brasil, foi retirado.
O memorando destaca que a presença de um país na lista de grandes produtores de droga "não é necessariamente um reflexo adverso dos esforços de seus Governos contra os entorpecentes ou seu nível de cooperação com os Estados Unidos".
A presença na listagem se deve à combinação de fatores geográficos, comerciais e econômicos que permitem que as drogas sejam produzidas ou transmitidas, apesar dos esforços dos Governos.
Por outro lado, a consideração de que o país que descumpre "de maneira demonstrável" seus compromissos contra as drogas, como os casos de Bolívia, Venezuela e Mianmar, pode dar espaço para a aplicação de sanções, segundo a lei.
No entanto, explica o memorando, Obama decidiu que "continuar o apoio a programas bilaterais na Bolívia e programas limitados na Venezuela é vital para os interesses nacionais dos Estados Unidos".
Embora o Brasil não esteja incluído na lista, o memorando menciona que "o controle dos narcóticos no país, que ocupa um terreno tão amplo na região, é algo muito importante", e pede ao Governo que coloque a luta contra o narcotráfico no alto de suas prioridades de segurança.

Radicais religiosos voltaram a se enfrentar às vésperas dos 9 anos do 11 de setembro

Radicais religiosos voltaram a se enfrentar às vésperas dos 9 anos do 11 de setembro
Pastor norte-americano havia anunciado queimar um livro do Corão em protesto.
O pastor evangélico norte-americano Terry Jones conseguiu mobilizar a atenção chefes de estado no mundo todo para impedir a queima dos Corão. A situação mostra como ainda é controversa a relação entre o ocidente e o islã. Mônica Waldvogel debate o assunto com o professor de Ciência Política da Unesp Tullo Vigevani e com o filósofo Luiz Felipe Pondé.

Fausto, para o Jornal Olho Vivo


Geração espontânea?

Geração espontânea?
ELIANE CANTANHÊDE – Folha de São Paulo
BRASÍLIA - E não é que a Casa Civil caiu mesmo? A ministra Erenice Guerra foi convidada gentilmente a pedir demissão, e só falta o presidente Lula explicar se foi:
a) para fazer um gesto de caridade com a oposição, coitada, que vai perder feio em 3 de outubro;
b) porque sucumbiu a um complô maligno da imprensa com a elite branca contra a ministra;
c) diante da evidência de que Erenice, os filhos e os irmãos estavam botando a mão na cumbuca;
d) e/ou para todo mundo esquecer rapidinho que Erenice era unha e carne com Dilma Rousseff.
Com Erenice aboletada na Casa Civil, a poucos metros do gabinete presidencial, evidentemente o noticiário seria pautado pelo escândalo durante toda a reta final da campanha. Com Erenice de volta à sua insignificância de "ex-assessora", Lula certamente conta que o caso vá saindo da manchete e perdendo espaço, até se restringir a um pé de página e cair na vala comum do esquecimento, como tantos outros.
Só que Erenice Guerra não chegou ao cargo mais importante do governo porque quis ou por geração espontânea, mas, sim, porque foi indicada pela chefe Dilma, com quem trabalhou lado a lado. Como Dilma é franca favorita para vencer a eleição no primeiro turno, precisa explicar com que informações, com que critérios e de que forma escolhe e nomeia suas pessoas de confiança. Ou é demais pedir isso da virtual presidenta da República?
O PT sempre foi craque ao devassar a vida alheia, providenciar dossiês e contas bancárias para CPIs e até, se necessário, transformar cem em mil, ou mil em um milhão para potencializar o estrago no adversário. Então, como é que o governo nomeia uma pessoa toda enrolada para o ministério mais importante sem saber quem é?
O partido era muito bom para investigar os outros, mas perdeu o pique e não quer ouvir falar de investigação para si mesmo. Nem para o aliado PMDB, evidentemente.

A grande família - Editorial – Folha de São Paulo

A grande família - Editorial – Folha de São Paulo
Demissão de Erenice Guerra alimenta suspeitas sobre a montagem de um balcão de negócios no ex-ministério da candidata Dilma Rousseff
A ministra Erenice Guerra, braço direito e substituta da petista Dilma Rousseff na Casa Civil, não resistiu a mais uma reportagem com relatos acerca de atividades de tráfico de influência e cobrança de comissões supostamente praticadas por membros de sua família. A Folha trouxe, na edição de ontem, a explosiva história de uma empresa que afirmou ter sido orientada a procurar a Capital Consultoria, de um filho da então secretária-executiva do ministério, para liberar um empréstimo bilionário do BNDES.
Segundo os autores da denúncia, em conversas gravadas pela reportagem, houve troca de e-mails com um assessor da Casa Civil e realizou-se uma reunião entre representantes da empresa que pleiteava o empréstimo e Erenice.
A firma do filho da ministra demissionária teria cobrado pelo serviço seis pagamentos mensais de R$ 40 mil, além de uma "taxa de êxito" -um eufemismo para propina- de 5% sobre o valor do financiamento. Segundo as declarações, o pacote também incluiria uma doação de R$ 5 milhões, supostamente para a campanha de Dilma Rousseff.
Em síntese, de acordo com os depoimentos colhidos pelo jornal, um balcão de negócios, montado no coração do Poder Executivo, tentou vender facilidades para uma empresa interessada em recursos bilionários do banco de fomento do governo federal -que utiliza dinheiro do Fundo de Amparo ao Trabalhador na concessão de crédito a juros subsidiados.
Para completar o descalabro, segundo um dos entrevistados, o ministério servia de guichê partidário com a finalidade de arrecadar fundos para a candidatura oficial. Em que pesem as negativas, o pedido de demissão da ministra reforçou conjeturas acerca de sua participação nas tratativas.
O caso, que se reúne aos malfeitos reportados pela revista "Veja" nesta semana, também lança dúvidas sobre o comportamento de Dilma Rousseff e da própria Presidência da República. Todas as reportagens dão conta de que havia uma quadrilha atuando sob o nariz do chefe do Executivo, em seu mais próximo e estratégico gabinete -a mesma Casa Civil em que se montou, no primeiro mandato, o esquema do mensalão.
O episódio não deixa dúvida quanto à crescente promiscuidade, no atual governo, entre interesses públicos e privados. Oito anos de incrustação petista na máquina pública foram suficientes para promover, além do conhecido loteamento fisiológico, a partidarização sem precedentes do Estado brasileiro.
O pequeno clã dos Guerra talvez possa ser visto como uma espécie de ilustração em miniatura de um conglomerado maior, a grande família dos sócios do lulismo, formada por uma legião de militantes, aproveitadores e bajuladores que parece ver no exercício das funções públicas uma chance imperdível para enriquecer e perpetuar privilégios.
Infelizmente, essa espantosa instrumentalização das estruturas governamentais, em tudo compatível com o perfil estatizante, corporativo e arrivista do PT, tem encontrado na figura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva o seu principal fiador.
Inebriado com seus elevados índices de popularidade, o mandatário é o primeiro a estimular a impunidade e a minimizar os "erros" de seus companheiros.
Da compra do apoio de partidos e parlamentares à violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, passando pela devassa no Imposto de Renda de milhares de cidadãos, entre os quais adversários políticos do PT, tudo é atribuído a conspirações da imprensa ou de "inimigos do povo"; nada é investigado a fundo.
Apurar, ao que tudo indica, não é mesmo um verbo que se conjugue no Palácio do Planalto. Ali, prefere-se iludir, tergiversar, apaniguar. Por isso mesmo é de esperar que ainda existam instituições públicas com suficiente independência e iniciativa para proceder a uma averiguação rigorosa desses episódios.
Nesta hora em que as pesquisas de intenção de voto apontam para uma vitória acachapante da candidata oficial, mais do que nunca é preciso estabelecer limites e encontrar um paradeiro à ação de um grupo político que se mostra disposto a afrontar garantias democráticas e princípios republicanos de forma recorrente.
O Brasil não pode ser confundido com uma espécie de "hacienda" da grande família petista.
Se não há evidências sobre a participação de Dilma Rousseff em desvios como os agora apontados, é inevitável questionar a escolha de Erenice Guerra para exercer as funções de secretária-executiva e, posteriormente, chefe da Casa Civil da Presidência.
Ninguém mais do que Dilma sabia com quem estava tratando. Faltou-lhe argúcia para perceber o que se passava? Desconfiou, mas não tomou providências? Tudo não passa de um grande engano? É preciso que se responda.
Há tempos o país vem assistindo à modelagem da figura pública da postulante petista pelo presidente da República e seus propagandistas. Já é hora de o marketing dar lugar ao debate e ao questionamento. Os brasileiros precisam de informações que permitam aferir com mais acuidade as virtudes e defeitos daquela a quem Lula, em mais uma de suas sintomáticas e infelizes metáforas, empenha-se em entronizar como a "mãe" do país.

Lula e o adeus ao poder

Lula e o adeus ao poder
Aloísio de Toledo César – O Estado de São Paulo
 Há um componente novo no comportamento do presidente Lula que se torna aparente cada vez com maior frequência. Em ambientes e locais diversos, ele passou a demonstrar uma emoção quase incontrolável, que o deixa com os olhos marejados, a voz embargada e o rosto comprimido pela emoção. Interlocutores privilegiados garantem que ele já começa a viver a emoção da despedida do poder.
Não é preciso ser psicólogo nem estudioso da alma humana para concluir que essas demonstrações de emoção são sinais da tristeza que está por vir, em decorrência do próximo e inevitável adeus aos oito anos de poder quase imperial.
Talvez não seja muito delicado dizer isto, mas, para quem chegou a São Paulo num pau de arara e, a despeito da baixa escolaridade, construiu pelas próprias pernas uma quase inacreditável carreira política, deve ser medonho afastar-se do Palácio do Planalto, do avião a jato disponível a qualquer hora, da multidão de bajuladores, dos assessores que batem palmas até doerem as mãos.
Os banquetes, os almoços com os amigos, os vinhos de US$ 2 mil a garrafa, o poder de influir sobre a vida de tantos - tudo isso forma um universo de situações felizes que deixarão de existir quando outra pessoa lhe suceder no Palácio do Planalto.
Ainda que se possa admitir a hipótese, bastante plausível, de que sua candidata acabará por se eleger, em verdade quem vai estar no palácio, nos banquetes, no avião presidencial será ela. Isso o tornará, quem sabe, um conviva festejado, mas já não será o alvo das homenagens e honrarias.
Quando o triunvirato do horror (presidentes da Bolívia, da Venezuela e do Equador) vier ao Brasil, para os costumeiros agrados e obtenção de apoio, a atenção não estará mais voltada para a sua pessoa, e sim para o novo chefe da Nação, seja homem, seja mulher.
Se houver um novo convite da rainha da Inglaterra para o inesquecível passeio na carruagem imperial, o beneficiado já não será o antigo líder metalúrgico. De outra parte, possivelmente nunca mais sentirá de perto o hálito de bomba atômica de seu amigo e aliado presidente do Irã - e tomara que fique aliviado com isso.
Sem nenhuma dúvida, o presidente Lula começa a tornar aparentes os efeitos dessa próxima e irreparável perda de poder. Os políticos costumam dizer que o poder é como mulher bonita, que a gente não deve deixar para o outro, mas Lula nesse aspecto demonstrou uma certa grandeza, que merece ser destacada.
Com os inacreditáveis índices de popularidade que conquistou, não lhe seria difícil estimular os aliados no Congresso Nacional, que constituem maioria, a aprovar uma emenda constitucional capaz de lhe garantir o direito de disputar o terceiro mandato.
Os seus adversários temiam isso, mas ele foi leal a si próprio, às promessas que fizera de não ficar e afastou de pronto a possibilidade. Ou seja, o momento político eleitoral oferecia-lhe a possibilidade de permanecer mais quatro anos no Palácio do Planalto, no avião presidencial, no centro das atenções, mas o seu lado democrático não o deixou sucumbir. É justo que se lhe credite respeito por esse gesto.
Nesta antevéspera de seu afastamento, é importante reconhecer que talvez ninguém na História deste país tenha conquistado posição tão elevada e tanto prestígio em tão pouco tempo. Sobretudo, ninguém que saiu lá de baixo, como Lula, alcançou índices de popularidade tão expressivos.
Sempre se disse que Lula é um homem de sorte e não há dúvida alguma quanto a isso. Quem se lembra de que o Brasil era a "bola da vez" no governo de Fernando Henrique Cardoso? Por melhores que se mostrassem os passos da política econômica, naquela oportunidade, o ambiente externo era hostil ao extremo e impunha ao Brasil uma dura provação.
Com Lula deu-se o contrário: o panorama externo tornou-se bastante favorável e a escalada da economia consolidou gradativamente a melhora no padrão de vida de número bastante significativo de brasileiros. Sem dúvida, o controle da inflação, que devemos ao antecessor Fernando Henrique, concorreu para isso, mas é forçoso consignar que houve em parte êxito nos esforços da atual política econômica. Tanto assim é que pessoas beneficiadas, agora, externam sua aprovação. Há até mesmo indicativos razoavelmente confiáveis de que os brasileiros da classe C caminham para subir para a classe B, o que, se vier a ocorrer, será muito bom para o Brasil.
Nessa aura de sorte que o acompanha, Lula assiste agora, seguramente com satisfação, à aprovação popular de sua candidata à Presidência da República, refletida em todas as pesquisas de votos.
E a sua sorte é tamanha que os adversários tucanos, sempre incapazes de fazer oposição, não percebem que, ao fustigar a adversária, fazem com que ela cresça cada vez mais na aprovação popular.
Até mesmo a abominável quebra do sigilo fiscal de diversos tucanos parece ajudar a candidata Dilma Rousseff, porque, na medida em que é atacada pelo adversário José Serra, este cai nas pesquisas eleitorais, na mesma proporção em que ela sobe. Há uma certa ingenuidade, quase tolice, em não perceber que isso está acontecendo.
A incapacidade tucana de fazer oposição não permitiu que seus líderes, até agora, enxergassem uma ululante realidade: as quebras do sigilo fiscal tornadas públicas em momento algum atingiram o filho do presidente Lula, ou o seu famoso compadre ótimo nos negócios, nem José Dirceu, nem Delúbio Soares, nem nenhum outro político da cúpula petista. Somente tucanos foram atingidos.
Imagino o que os petistas fariam se tivesse ocorrido o contrário. Enfim, Lula tem também a sorte de seus opositores serem os tucanos.
ADVOGADO, É DESEMBARGADOR APOSENTADO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO. E-MAIL: ALOISIO.PARANA@GMAIL.COM

J. Bosco para O Liberal


Falta de pagamento do salário-maternidade é motivo para rescisão indireta

Falta de pagamento do salário-maternidade é motivo para rescisão indireta
 O TRT da 10ª Região entendeu que o não pagamento do salário-maternidade dá ensejo à rescisão indireta. A empresa deixou de pagar um mês do salário-maternidade, além de regularmente atrasar o pagamento dos salários da empregada. Com isso, o relator entendeu que, apesar de o pagamento do salário-maternidade ser de responsabilidade da Previdência Social, conforme estabelece a Lei nº 10.710/2003, § 1º do art. 72, caberá a rescisão indireta com base no art. 483 da CLT. A empregada terá direito à indenização do período estabilitário e às verbas decorrentes da rescisão do contrato por rescisão indireta, além dos salários-maternidade não recebidos.

Democracia versus iniquidade: o purismo religioso à disposição do retrocesso democrático

Democracia versus iniquidade: o purismo religioso à disposição do retrocesso democrático
Manoel Ribeiro de Moraes Jr.
… vida de gado, povo marcado, ê, povo feliz …
(Zé Ramalho)
Nestas últimas semanas, muitos evangélicos, sobretudo batistas, foram naufragados com e-mails que sugeriam ufanisticamente assistir a uma proposta do Pr. Paschoal Piragine de não votar, nesse pleito democrático de 2010, no Partido dos Trabalhadores (PT). Não atentando obrigatoriamente às leis eleitorais que regem democraticamente o seu país (1), o Pr. Piragine, no início de sua homilia política, construiu o axioma de sua fala associando, forçosamente, à pregação cristã, um conceito de pureza étnica ao lado de outro, o de unidade nacional antigotestamentária, ambos sob a flâmula escatológica da “iniquidade” – um conceito de exclusão social que os próprios fariseus usaram contra Jesus Cristo (que, para eles, era um iníquo e que, por isso, merecia a morte, a morte de cruz[2]). Em passo seguinte, sem lembrar dos conflitos religiosos dos séculos XVI ao XVIII que, inclusive, retalharam mortalmente reformadores e protestantes (3), o pastor associou culposamente ao Partido dos Trabalhares e ao terceiro Plano Nacional de Direitos Humanos, o problema do homossexualismo, da homofobia, do infanticídio indígena, da pedofilia, do fim da liberdade religiosa, da pornografia, do divórcio, da violência familiar, do homicídio familiar, do esquartejamento de feto, da pobreza etc. Sem querer defender a coligação PSDB e DEM (antigo PFL da ditadura torturenta e militar), ou do Partido Verde, PSTU, PCO, PT, PSDC, PRTB ou PCB, quero questionar a posição política do pastor Piragine, um pastor que se quer fazer teólogo da Missão Integral da Igreja – mesmo que usada como estratégia de crescimento de Igreja.
Democracia e Intolerância sob o ponto de vista da Teologia Cristã Política
À luz das Teorias do Direito contemporâneo de Jürgen Habermas (4) e de John Rawls (5), as perspectivas sócio-democráticas dos nossos tempos respondem à pluralidade de valores e, sobretudo, às necessárias garantias dos direitos individuais. Estas teorias democráticas se acenderam devido aos conflitos sangrentos da noite de São Bartolomeu, do conflito religioso na cidade de Münzer, dos massacres aos trabalhadores acontecidos no período da Revolução Industrial, do massacre étnico promovido pelo Nazismo a partir de um princípio de iniquidade religiosa, moral e étnica: conflitos de ontem, conflitos de hoje. Assim, as Teorias Democráticas do Direito indicam ser necessário que os princípios reguladores das sociedades que pretendem ser democráticas se balizem pela Declaração dos Direitos Humanos. Ora, a luta ideológica destes pensadores, ao defenderem a Democracia e os Direitos Fundamentais, visa contornar as compreensões particulares e intolerantes de mundo que, entre várias possibilidades, objetiva associar liberdade individual à prática da iniquidade religiosa.
A luta pela dissolução da democracia e a ressurreição das compreensões particulares de iniquidade são responsáveis pela morte de evangélicos e católicos no mundo islâmico fundamentalista, é responsável pela morte de torcedores de futebol (palmerenses, flamenguistas, vascaínos, hooligans e muitos outros), foi responsável pelas mortes históricas de negros e índios cometidas inclusive por evangélicos batistas e presbiterianos nos EUA, pela vergonhosa perseguição e preconceito aos bolivianos no subúrbio de São Paulo, pelo preconceito aos nordestinos e pela perseguição fatal ao cristianismo e ao seu fundador nos anos que vão do 34 ao 40 de nossa era cristã.
Em épocas de profundas crises sociais, o ufanismo irrefletido procura culpar a diversidade cultural pelos problemas que lhe sejam atuais: o governo republicano de Bush não revelou ao seu país que o próprio governo americano (nas gestões executivas dos republicanos) tinha militarizado o Iraque de Saddam Hussein e as milícias de Osama Bin Laden na luta contra o Irã e a antiga União Soviética respectivamente, e, após alguns anos, deu andamento a vários massacres militares, pois o julgaram como culpados pela crise sócio-econômica que explodiu nos anos de 2008 e 2009, e porque eram fracos – considerando que os EUA não têm coragem de invadir Cuba, China (a sua maior aliada comercial e cambial) e Irã; a Alemanha nazista queria culpar os judeus, os ciganos, os eslavos etc., por sua crise sócio-econômica surgida após a primeira guerra mundial. Há vários exemplos de como a ideia de iniquidade surge como medida para excluir o outro para que, assim, se implante um regime político ou religioso purificado da democracia, e sob o terror da justiça apocalíptica de JHWH, Alá, Deus, do Estado Comunista (que é completamente diferente das políticas que se autodiferenciam destas quando se apresentam como socialistas) e, por mais absurdo que possa parecer a todos, de Jesus Cristo (6).
Assim, as discussões sobre a Democracia Deliberativa e sobre os Direitos Universais da Mulher e do Homem, não podem ser vistas sob a ótica da iniquidade religiosa. Immanuel Kant (7) ensina que a convivência política só caminha sob a perspectiva da liberdade e da garantia da individualidade recíproca. Soberanamente, Jesus nos ensina que o outro, mesmo que este seja o Samaritano iníquo (sob o ponto de vista da TORAH farisaica), não deve ser portador de um julgamento moral ou de retaliação social, mas de amor, de amor integral.
No mundo encontrado por Jesus havia absolutizações que escravizavam o homem: absolutização da religião, da tradição e da lei. A religião não era mais a forma como o homem exprimia sua abertura para Deus, mas se substantivara num mundo em si de ritos e sacrifícios. Liga-se à tradição profética (Mc. 7,6-8) e diz que mais importante que o culto é o amor, a justiça e a misericórdia (8).
Indo em colisão aos ensinos de Cristo presentes nos quatros Evangelhos, o Pr. Paschoal Piragine ressuscitou o conceito de iniquidade etnocêntrica usando inteligentemente um mecanismo de manobra ideológica entre palavras e vídeos: vídeo não explica, seduz e co-move; púlpito é espaço de homilia e não de política (ação que exige argumentação e debate público entre opositores). Por este mecanismo de irreflexão e empunhando um ufanismo autodestrutivo, o pastor da Primeira Igreja Batista de Curitiba desferiu a ação curralesca de dirigir os votos de uma Igreja num pleito que se pretende democrático: “não votem …!”, em nome de uma religião purificada da iniquidade. Contudo, mutatis mutandis, se o Pastor Piragini levar às últimas consequências a sua ética da luta veemente contra a iniquidade e, por isso, começar a ver per se que os seus aliados, alguns bispos da CNBB (ou mais especificamente da Canção Nova?) e outros, não cristãos, que ele diz estarem afins a esta luta, não se adequam ao seu conceito de iniquidade? Ele os trairá pedindo para que a Constituição do Brasil suspenda o direito do catolicismo, do espiritismo, do luteranismo, do presbiterianismo, do pentecostalismo, das religiões indígenas, do ateísmo, dos batistas arminianos, dos batistas calvinistas, dos batistras tradicionais, dos outros batistas que não sejam da Primeira Igreja Batista de Curitiba, dos batistas que não sejam ele mesmo? Deste modo, pode-se ver que a iniquidade parece ser mais uma ideia subjetiva que o respeito e o amor ao próximo; quando a ideia da iniquidade tem mais peso em vídeos programados para iludirem que as palavras de Jesus, então o conceito de iniquidade deixa de ser divino para ser malévolo.
A iniquidade não pode estar atrelada ao conceito de pureza étnica (9) ou religiosa. Há profundas diferenças entre os conceitos de iniquidade desenvolvidos em passagens do primeiro testamento cristão e aqueles desenvolvidos no segundo testamento cristão. A luta da Igreja de Cristo é por antecipar o Reino de Deus, gozando o eu paráclito e exercendo a transparência de Cristo. A Missão Integral da Igreja de Cristo não deve promover uma batalha da integridade moral burguesa e excludente, mas da integridade humana daqueles que precisam ser filhos de Deus. Se for assim, um pleito democrático sobre a integridade não pode nascer daqueles que sentam em dízimos e constituem abastardas propriedades, mas de todos que queiram lutar por dignidade e que precisam de Deus.
A Missão Integral não é uma experiência teológica onde se discute crescimento estratégico de Igreja, pois não é uma teologia da propaganda concorrencial de marketing mercadológico (10). Antes, a Missão Integral da Igreja é a reflexão de nossa Missão em Cristo que não condena e, por isso, não pede a crucificação ou o banimento constitucional do diferente, do outro. Todas as vezes que a Igreja retroagir à democracia em nome de uma iniquidade humana, ela pedirá a crucificação de Cristo, tal como os fariseus o fizeram. Cristianismo não é estratégia nem para crescimento de Igreja e nem para falsidade político-ideológica. Com John Stott (11), vejo a Missão Integral da Igreja Cristã como uma experiência de repensar a atitude de relação social da igreja com seu tempo, associando-se radicalmente ao Deus encarnado (Cristo Jesus) que nos abre o véu da ignorância e nos chama a dialogar e a cuidar de todos: bons e ruins, ricos e pobres, fortes e fracos.
Existe uma segunda razão por que as pessoas desenvolveram uma aversão pela ideia de conversão. Diz respeito à impressão de imperialismo arrogante que alguns evangelistas às vezes dão (12).
O que nos é proibido é toda retórica tendenciosa, toda manipulação deliberada de resultados, toda artificialidade, hipocrisia e representação, toda atitude de colocar-se em frente a um espelho com o objetivo de, conscientemente, planejar nossos gestos e caretas, toda autopropaganda e autoconfiança. De maneira mais positiva, devemos ser nós mesmos, ser naturais, desenvolver e exercitar os dons que Deus nos deu e, ao mesmo tempo, depositar nossa confiança não em nós mesmos, mas no Espírito, que concorda em operar por meio de nós (13).
Com Jürgen Moltmann, visualizo um imperativo à Igreja de Cristo de vivência pela integridade humana, onde esta comunidade humana de Cristo surja no mundo como antecipação do Reino de Deus (14). A luta pelo novo que vem de Deus é viver, sobretudo, uma fé pascoal (mas não Paschoal) em Cristo – Ele mesmo, filho de Deus, que foi preterido por uma população extasiada (talvez expressando sua opinião por meios de palmas efusivas) que gritou e apoiou veementemente pela libertação de Barrabás.
Considerações Finais
É difícil pedir para que a Igreja de Cristo jogue pedra caluniosa em nome de uma hipotética iniquidade. Nem a mulher adúltera, Estevão, os ladrões, os assassinos, eu mesmo, os homossexuais, os pobres, as crianças que morrem nos lixões de Curitiba (por causa do modelo monetário capitalista – a moeda que tem o rosto de César – que é a mesma que constrói grandes Igrejas Evangélicas), nem mesmo as crianças indígenas que morrem por problemas culturais, por doenças trazidas pelos comerciantes, por ladrões, por missionários bons e maus etc., devem ser objeto de julgamentos, mas de cuidado e amor. Quem deve ter direito à justiça? Quem deve ter direito à igualdade?
É tempo da Igreja de Cristo no Brasil descobrir que ela não vive mais em sociedades absolutistas. Se isso for verdade, o regime democrático que rege constitucionalmente o nosso país pede para que todos exerçam sua cidadania, conheçam a Constituição Federal e participem dos fóruns públicos visando a uma melhor regulamentação do direito público e do privado, sempre à luz da Declaração dos Direitos Humanos. Se alguém satanizar os Direitos Humanos, esse estará satanizando a garantia da liberdade religiosa dos batistas, presbiterianos, católicos, espíritas, negros, índios, brancos, pardos etc. Sem o direito do outro, não há o meu direito; sem o meu direito, não há o direito do outro. Se Deus não amar e cuidar do outro, por que ele haveria de amar e cuidar de mim? Se Deus cuida e ama a mim, por que ele não haveria de amar e cuidar de outros além de mim mesmo?
Referências Bibliográficas
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CRÜSEMANN, Frank. “A Torah no pentateuco: desafio e qustionamento” in: A Torá. Teologia e história social da lei do Antigo Testamento. Petrópolis: Vozes, 2002, pp. 11-34.
CHRISTIN, Olivier. La paix de religion. L´autonomisation de La raison politique au XVI siècle. Paris: Seuil, 1997.
DOUGLAS, M. “A impureza ritual” in: Pureza e perigo. Lisboa: Edições 70, (s/d).
FERRY, Luc. Filosofia Política. El derecho: la nueva querella de los antiguos y los modernos. México: Fondo de cultura económica, 1991.
GRAY, John. Missa negra. Religião apocalíptica e o fim das utopias. Rio de Janeiro, São Paulo: Record, 2008.
HABERMAS, Jürgen. “O direito como categoria da mediação social entre facticidade e validade” in: Direito e Democracia. Entre facticidade e validade. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997.
MOLTMANN, Jürgen. Vida, esperança e justiça. Um testamento teológico para a América Latina. São Bernardo Campo: Editeo, 2008.
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MOXNES, Halvor. “Regras de pureza e ordem social” in: A economia do Reino: conflito relações econômicas no Evangelho de Lucas. São Paulo: Paulus, 1995.
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RAWLS, John. O direito dos povos. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
RAWLS, John. A Theory of Justice. Oxford: Oxford University Press, 1971
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RAWLS, John. História da filosofia moral. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
STOTT, John. A missão integral da Igreja no mundo moderno. Viçosa: Ultimato, 2010.

Notas

(1) Lei 9.504/97 regulamentada pelo artigo 13 da Resolução 22.718/2008 do TSE.
(2) Sobre a relação entre o código de ética farisaico que anexa a pureza “étnica” à “ iniqüidade religiosa”, cf. MOXNES, Halvor. “Regras de pureza e ordem social” in: A economia do Reino: conflito relações econômicas no Evangelho de Lucas. São Paulo: Paulus, 1995, pp. 99-106. Sobre os problemas de interpretação surgidos a partir de relações teológicas não refletidas entre os códigos da Torah e o Novo Testamento cristão, cf. CRÜSEMANN, Frank. “A Torah no pentateuco: desafio e qustionamento” in: A Torá. Teologia e história social da lei do Antigo Testamento. Petrópolis: Vozes, 2002, pp. 11-34.
(3) CHRISTIN, Olivier. La paix de religion. L´autonomisation de La raison politique au XVI siècle. Paris: Seuil, 1997.
(4) Cf. HABERMAS, Jürgen. “O direito como categoria da mediação social entre facticidade e validade” in:Direito e Democracia. Entre facticidade e validade. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997, pp. 17-63.
(5) RAWLS, John. O direito dos povos. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
(6) GRAY, John. Missa negra. Religião apocalíptica e o fim das utopias. Rio de Janeiro, São Paulo: Record, 2008.
(7) RAWLS, J. História da filosofia moral. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
(8) BOFF, Leonardo. Paixão de Cristo, paixão de mundo: os fatos, as interpretações e o significado ontem e hoje. Petrópolis: Vozes, 2007, pp. 28-29.
(9) A antropóloga inglesa Mary Douglas afirma que as religiões étnicas aprofundam sua demonologia do outro a partir de uma cosmovisão que substancializa o cumprimento das éticas nacionais e a rejeição das outras formas de vida como a única forma de garantir a estabilidade sócio-econômica. Para mais, cf. DOUGLAS, M. “A impureza ritual” in: Pureza e perigo. Lisboa: Edições 70, (s/d), pp. 19-42.
(10) Com a obra Crescimento integral da Igreja. Um crescimento em múltiplas direções (São Paulo: Vida, 2006), Piragine não percebe que o paradigma da Missão Integral foge à lógica estratégica da correlação marketeira entre “crescimento” e “evangelização”.
(11) STOTT, John. A missão integral da Igreja no mundo moderno. Viçosa: Ultimato, 2010.
(12) Idem, ibdem, p. 132.
(13) Idem, p. 154.
(14) MOLTMANN, Jürgen. Vida, esperança e justiça. Um testamento teológico para a América Latina. São Bernardo Campo: Editeo, 2008.
Manoel Ribeiro de Moraes Jr é doutor em Ciências da Religião (UMESP), mestre em Ética e Filosofia Política (UERJ) e graduado em Filosofia (UERJ) e em Teologia (STBSB). É Diretor Acadêmico do Seminário Teológico Batista Equatorial/FATEBE e professor adjunto de Filosofia na Universidade do Estado do Pará (UEPA).
Fonte: Novos Diálogos e Pavablog

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