sexta-feira, maio 28, 2010

Cícero, para Jornal de Brasília


Direito da USP vai retirar nome de doadores das salas

Portaria revogada
Direito da USP vai retirar nome de doadores das salas

A Faculdade de Direito da USP decidiu, em reunião nesta quinta-feira (28/5), revogar a portaria publicada pelo ex-diretor da unidade e atual reitor da universidade, João Grandino Rodas, que deu nomes de doadores a duas salas de aula na unidade, de acordo com informações do Estadão.com.
Os doadores são o escritório de advocacia Pinheiro Neto e o banqueiro Pedro Conde. Os herdeiros de Conde teriam feito doações com a condição de que teriam grafados os nomes nas salas. Alunos e professores protestaram contra a decisão, que seria contrária à tradição da casa. Na faculdade, apenas ex-professores batizam salas.
Por conta da polêmica, o atual diretor da São Franscico, Antonio Magalhães Gomes, que conta com apoio de professores e alunos, chegou a anunciar sua renúncia ao cargo. Voltou atrás, convencido pelos professores, por quem foi aplaudido com entusiasmo.
Na sequência, segundo representantes discentes que acompanham a reunião, cogita-se também a abertura de processo de improbidade administrativa contra o ex-diretor da unidade, João Grandino Rodas (atual reitor da USP), por conta da portaria publicada no início do ano.
Consultado pela ConJur, Grandino afirma:"Enquanto diretor da Faculdade de Direito fiz a minha parte.  Terminado meu mandato e tendo-me afastado em razão do cargo atual, não me cabe, quer interferir, quer julgar as decisões dos atuais poderes da Faculdade. Resta-me expressar meus melhores votos para o presente e o futuro da Velha Academia, que sempre teve e terá o meu apoio".
Em nota enviada à comunidade universitária de São Paulo, no dia 17 de maio, ele afirmava que é uma prática antiga na escola dar nomes às salas da faculdade, e as designações contestadas foram devidamente aprovadas pela Congregação de professores.
"Há salas na Faculdade de Direito com nome de não professor — a Sala Visconde de São Leopoldo. Por outro lado, em nível de Universidade de São Paulo, inexiste proibição de se colocar nome de aluno ou de terceiros: A Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, tem o nome do doador do respectivo terreno; há na Escola Politécnica, um prédio nominado Olavo Setubal, ex-aluno ilustre e doador", escreveu o reitor.
O Pinheiro Neto divulgou nota de esclarecimento e afirmou que "doou recursos para a reforma de uma das salas da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) sem condicioná-la a qualquer contrapartida". E afirmou, também, que "o intuito do escritório foi o de colaborar para a preservação e a modernização de um dos maiores patrimônios da formação social e jurídica do Brasil".
O escritório ressaltou que tem entre seus compromissos o de colaborar para o aperfeiçoamento da qualidade do ensino do Direito no país. "Por essa razão, considera importante apoiar instituições de inegável relevância como a Faculdade de Direito da USP. Apesar de extremamente lisonjeados pela deferência a seu fundador, José Martins Pinheiro Neto, os sócios do escritório não têm pretensão alguma de interferir em decisões que cabem única e exclusivamente ao corpo diretivo da entidade", finalizou.

Dep. Cidinha Campos no programa Manhattan Connection do GNT

Stan Getz & Joao Gilberto - Vivo Sonhando (Dreamer)

Fernando Sabino Ser mineiro

“Ser mineiro é não dizer o
que faz, nem o que vai fazer
é fingir que não sabe aquilo
que sabe, é falar pouco e
escutar muito, é passar por
bobo e ser inteligente, é
vender queijos e possuir
bancos.
Um bom mineiro não laça
boi com imbira, não dá
rasteira no vento, não pisa
no escuro, não anda no
molhado, não estica
conversa com estranhos, só
acredita na fumaça quando
vê fogo, só arrisca quando
tem certeza, não troca um
pássaro na mão por
dois voando.”
Fernando Sabino

Passos Pagoda, Nepal Fotografia por Bas Uterwijk

Um homem e sua neta fazem uma pausa nos degraus de um templo em estilo pagode na Durbar (Kings), 
na Praça Bhakthapur, Kathmandu Valley, no Nepal.

Posicionamento



"Fiz uma aliança com Deus: que Ele não me mande visões, nem sonhos, nem mesmo anjos. Estou satisfeito com o dom das Escrituras Sagradas, que me dão instrução abundante e tudo o que preciso conhecer tanto para esta vida quanto para o que há de vir."

Martinho Lutero

Renoir


IO CHE AMO SOLO TE - Sergio Endrigo


C'e gente che ha avuto mille cose
Tuto il bene tutto il male del mondo
Io ho avuto solo te
E non ti perderó non ti lascero
Per cercare nuove aventure 
C'e gente che ama mille cose
E si perde per lastrade del mondo
Io che amo solo te
Io mi fermero e ti regalero
Quel che resta della mia gioventu

Solo final

Tem gente que teve mil coisas
todo o bem e todo o mal do mundo
Eu que tive só você
Eu não te perderei
não te deixarei
À procura de novas aventuras
Tem gente que ama mil coisas
e se perde pelas estradas do mundo
Eu que amo só você
Eu me deterei
e te presentearei
com o que resta da minha juventude

O amor acaba - Será?

O amor acaba

Paulo Mendes Campos

O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania[1] da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.

 (O amor acaba: crônicas líricas e existenciais. 2ª ed., Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000, p. 21-22).


[1] No sentido literário, a "epifania" é um momento privilegiado de revelação, quando acontece um evento ou incidente que "ilumina" a vida da personagem.

Autopsicografia - Fernando Pessoa

Autopsicografia
                                   
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Fernando Pessoa

A volta do capitão Palocci

A volta do capitão Palocci
Rogério Furquim Werneck - O Globo - 28/05/2010

Está em curso mais uma emocionante história de metamorfose no PT. Oito anos se passaram desde que o bravo capitão Palocci cumpriu com admirável sucesso o que então parecia uma missão impossível: convencer o país de que a cúpula do PT havia adotado um discurso econômico ponderado, completamente distinto da pregação tresloucada que se viu nas eleições municipais de 2000. O novo desafio com que agora se defronta Palocci é parecido com o anterior. Trata-se de convencer o país de que a ex-ministra Dilma Rousseff já não é mais o que mostrou ser nos últimos cinco anos e que, de repente, suas ideias sobre política econômica passaram a ser equilibradas e perfeitamente defensáveis. 
Na semana passada, a candidata foi cuidadosamente preparada para deixar boa impressão junto a investidores em Nova York. O que se viu foi uma Dilma quase irreconhecível, totalmente remodelada. Novo penteado, nova estampa e ideias novas em folha. No evento em que participou, a candidata fez várias menções a seu conhecido alinhamento com as posições de Antonio Palocci. Evitando qualquer referência ao ministro Guido Mantega, ressaltou a importância que sempre atribuiu à condução prudente da política fiscal. Externou ainda seu reconhecimento ao excelente trabalho que vem sendo prestado ao país por Henrique Meirelles. E sublinhou seu inarredável compromisso com metas de inflação cadentes e a manutenção da autonomia operacional do Banco Central.

Quem quer que tenha acompanhado as posições defendidas por Dilma Rousseff ao longo dos últimos cinco anos deve ter ficado boquiaberto diante do recém-estreado discurso da candidata. Há uma mudança impressionante, por exemplo, em relação ao que se viu no final de 2005, quando a já então ministra-chefe da Casa Civil, sem deixar margem a dúvidas sobre a real extensão de seu compromisso com a estabilidade de preços, se permitiu declarar que melhor seria ter inflação de 15% ao ano e recursos mais fartos para investimento. 
Há também contraste gritante com a forma aguerrida com que, também em 2005, a ex-ministra comandou o torpedeamento da proposta de contenção da expansão de gastos correntes feita pelo então ministro Antonio Palocci. Ou, ainda, com suas declarações do final de 2007, quando afirmou que qualquer esforço de contenção de gastos seria deixado para o próximo mandato presidencial, que "o popular choque de gestão não leva(va) a nada" e que o grande mérito do PAC era ter feito o país romper com a tradição de contenção fiscal. 
No afã de romper com essa suposta tradição, a ex-ministra deu amplo respaldo ao Ministério da Fazenda, no seu meticuloso trabalho de demolição institucional do arcabouço de condução de política econômica que, a duras penas, foi construído no país ao longo de duas décadas. Foi esse bota-abaixo que permitiu, por exemplo, que hoje esteja em operação, à luz do dia, um bilionário e grotesco esquema de concessão de crédito subsidiado pelo BNDES, direta e fartamente abastecido pelo Tesouro com recursos provenientes da emissão de dívida pública. Trata-se de involução lamentável, que viola a separação de contas dos segmentos não financeiro e financeiro do setor público, fundamental para a manutenção do controle fiscal no país. 
Causam também surpresa os elogios tardios, em falseta, à condução da política monetária, vindos da parte de quem jamais deixou de mostrar hostilidade escancarada à atuação de Henrique Meirelles no Banco Central. 
Graças a Antonio Palocci, o PT convenceu o país, em 2002, que havia abandonado seu discurso econômico inconsequente e passado a dizer coisa com coisa. Mas os efeitos dessa injeção de credibilidade se dissiparam no segundo mandato do presidente Lula, quando, já não podendo contar com Palocci, o governo abriu espaço para figuras como Dilma Rousseff, Guido Mantega e Luciano Coutinho. É desanimador que, com nova eleição pela frente, o PT se veja obrigado a recorrer mais uma vez aos poderes do capitão Palocci para tentar revalidar a credibilidade do seu discurso econômico. 

Bessinha


A resposta desse grande artista merece uma reflexão atenta! E ainda há quem queira essas mazelas para o nosso País!

O jornal O Globo publicou no Segundo Caderno do dia 05 de março de 2010 uma ótima entrevista com o barítono brasileiro PAULO SZOT que venceu o Prêmio Tony, em 2009, na categoria melhor ator em musical, em Nova York (EUA). Ele foi indicado ao prêmio por sua atuação no musical "South Pacific", que ganhou sete prêmios no Oscar do teatro dos EUA. Pois agora, ele será o segundo brasileiro a estrelar uma ópera no Metropolitan Opera House (a primeira foi Bidu Sayão). Ele interpretará a personagem Kovalyov, protagonista da ópera "O nariz", de Shostakovich. A entrevista foi feita por Eduardo Frdkin e me chamou a atenção a resposta que o barítono deu a uma das perguntas. Nessa resposta há uma bela análise conjuntural de uma época e lugar. E é interessante que nós, brasileiros, assimilemos bem a essência do que foi relatado.

PERGUNTA: Shostakovich foi perseguido a vida toda pelas autoridades soviéticas e foi acusado de ¨formalismo" (que, na teoria, é a valorização da forma no lugar do conteúdo, mas na prática, era qualquer coisa que Stalin e seus supervisores da vida cultural não tivessem a capacidade de entender ou julgassem de caráter antipopular). Você tem uma forte ligação com a Polônia, que também sofreu muito com a opressão soviética. Isso faz com que você tenha algum sentimento especial em relação à Shostakovich ou a atuar em "O nariz"?

RESPOSTA DE SZOT: Eu vivi na Polônia durante oito anos e guardo memórias de grandes incentivos culturais apesar das enormes carências fundamentais naquele momento, naquela sociedade. Marcou-me, por exemplo, a dificuldade dos poloneses de viajar além dos países da Cortina de Ferro, portanto a falta de liberdade. Além disso, havia o racionamento de vários produtos de alimentação e higiene. Obviamente, minha experiência como estudante estrangeiro não se comparava à complexidade da realidade de Shostakovich e de várias outras pessoas que viviam dentro daquele regime. Gogol (autor da história "O nariz", que inspirou a ópera) retrata nesse conto vários absurdos vividos por Kovalyov (personagem principal do enredo) e a dificuldade de ser compreendido por uma sociedade extremamente burocrática. Muitos dos relatos de Gogol remetem a situações que vivi na Polônia e que realmente existiam naquele período. Lembro-me das filas em todas as lojas, da burocracia nas repartições públicas e da má vontade de alguns funcionários. Porém, o mais interessante é que, mesmo com a censura e as dificuldades daquele momento, a arte sublime de Shostakovich – assim como de vários outros artistas que viveram situações parecidas – sobrevive, provando que a genialidade está acima de qualquer imposição.

Gratidão por minha alma feminina

Gratidão por minha alma feminina
Ricardo Gondim
Deus, atrevo-me a chamar-te ao mesmo tempo de Pai e de Mãe. Antes, confesso: minha relação contigo continua inadequada. Sou inepto em lidar com o sagrado. Sei tão pouco sobre o mundo espiritual. Não alcanço como o universo cabe na concha de tua mão. Não sei explicar que antes da explosão primordial que moveu o relógio cósmico, tu já eras. Não compreendo o significado de desde sempre.
Não posso tratar-te como um fundamento, isso te coisificaria; recuso tentar encapsular-te em definições, isso te reduziria a um ídolo. Pretender definir-te é arrogância. Equivale à ousadia de fazer-te menor que a racionalidade humana. Contemplo-te com a mesma admiração do astrônomo que vasculha o espaço sideral em busca de nebulosas e de buracos negros. Meu coração se enche de “por quês?” infantis. Assombrado, reconheço: não passo de um cisco, uma fuligem que o vento espalha.

Kiss - I Still Love you [Legendado PT-BR]


O BARRIL DE PÓLVORA COREANO

O BARRIL DE PÓLVORA COREANO

EDITORIAL - O ESTADO DE S. PAULO - 28/5/2010

O primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, deverá se reunir hoje em Seul com o presidente da Coreia do Sul, Lee Myung-bak, para tratar da crise na Península Coreana desencadeada pelo torpedeamento da corveta sul-coreana Cheonan em 26 de março, que matou 46 marinheiros. Um relatório oficial de 400 páginas sobre o ocorrido é inequívoco ao acusar a Coreia do Norte pelo ataque em águas próximas à fronteira marítima entre os dois países. Demarcada pela ONU depois da guerra de 1950 a 1953, a linha é contestada pelo regime de Pyongyang ? que, evidentemente, também nega a acusação do Sul.
A ida de Jiabao a Seul parece ser a única concessão de Pequim aos EUA, no caso. Em visita à capital chinesa, no começo da semana, sintomaticamente em companhia do comandante da frota americana no Pacífico, almirante Robert Willard, a secretária de Estado Hillary Clinton insistiu com o presidente Hu Jintao que o ultraje deveria ser punido com a aplicação de sanções contra a Coreia do Norte pelo Conselho de Segurança. A China? Que sustenta a ditadura feudal de Kim Jong-il? Não disse não, muito menos sim. Os porta-vozes chineses limitaram-se a informar que o país fará a "sua própria avaliação" do incidente e pediram "contenção" às partes.
A conduta de Pequim será crucial para o desenrolar do confronto entre as Coreias ? E não apenas por terem os chineses poder de veto sobre as decisões do Conselho de Segurança. Peça-chave na região, a China mantém laços históricos e ideológicos com Pyongyang, mas também desenvolveu fortes relações econômicas e comerciais com Seul. No ano passado, apoiou a adoção de sanções à Coreia do Norte por seu programa nuclear. Fontes diplomáticas americanas afirmam ter indícios de dissensões na hierarquia chinesa em relação ao tratamento a dar ao incômodo, inescrutável aliado.
Embora a cúpula militar tenda a se alinhar com os seus camaradas norte-coreanos ? o que remonta à Guerra da Coreia, quando tropas de ambos os países enfrentaram os EUA e seus aliados ?, os líderes civis estariam perplexos e exasperados com as atitudes do vizinho que só servem para complicar a estratégia chinesa na Ásia e as suas aspirações ao reconhecimento internacional como uma potência promotora da estabilidade no sistema global. Quando a Coreia do Sul responsabilizou a do Norte pelo ataque à sua corveta, atribuiu-se a uma alta autoridade chinesa a declaração de que a investida tinha sido "muito infeliz" ? mas é de duvidar que Pequim faça um juízo desses em público.
"China e Coreia do Norte são tão próximas quanto lábios e dentes", diz o professor Liu Jingyong, do Instituto de Estudos Internacionais da Universidade Tsinghua, ouvido pela correspondente do Estado em Pequim, Cláudia Trevisan. Ecoando, talvez, a visão mais ortodoxa dos círculos dirigentes chineses, ele critica a comunidade internacional por seguir uma política de "dois pesos e duas medidas" em relação às Coreias. Em novembro do ano passado, quando um navio norte-coreano foi atingido em águas disputadas pelos dois países, lembra o acadêmico, Seul não se desculpou, mas nem por isso se falou em sanções diplomáticas contra o governo do presidente Lee Myung-bak.
O problema imediato não é bem esse, de toda forma. Trata-se da escalada da crise na Península. As Coreias nunca deixaram de estar tecnicamente em guerra desde 1953. O que existe entre os dois países é apenas um armistício ? e os Estados Unidos mantêm no Sul 29 mil soldados. A rotina das tensões na área não impediu nos anos recentes uma aproximação econômica mutuamente proveitosa. Pyongyang depende vitalmente da moeda forte que recebe por suas vendas ao vizinho e este tem 120 empresas no complexo industrial de Kaesong, na Coreia do Norte, onde emprega 45 mil trabalhadores locais.
Por mais que a eclosão de uma guerra seja improvável? A não ser que o irascível Kim Jong-il enlouqueça de vez? O perigo de choques militares na fronteira comum não pode ser descartado. Aplica-se à crispação de parte a parte a proverbial analogia da faísca e do barril de pólvora.

Visto dos EUA para brasileiros passa para 10 anos

Visto dos EUA para brasileiros passa para 10 anos

Ampliação do prazo, para viagens de turismo e negócios, estende-se também para americanos no Brasil

BRASÍLIA. Os governos do Brasil e dos Estados Unidos anunciaram ontem a ampliação de cinco para dez anos do prazo de validade do visto para os dois países. A medida entra em vigência hoje e vale para viagens de turismo e também de negócios. A ampliação do prazo faz parte do esforço para intensificar a viagem de turistas aos Estados Unidos. Há pelo menos dois anos o governo americano manifestou o desejo de dobrar o tempo de validade dos vistos, mas somente agora o acordo foi fechado, após aprovação do Senado, em fevereiro.

Empresas dos EUA defendem fim do visto para brasileiros
A duração de dez anos não chega a ser uma novidade. Na década de 1990, esse era o prazo dos vistos concedidos pelos EUA a brasileiros. O incremento da viagem de brasileiros aos Estados Unidos levou empresas americanas ligadas ao ramo do turismo a defender até o fim da exigência do visto de entrada no país.
Em 2009, o governo dos Estados Unidos emitiu cerca de 500 mil vistos de entrada para brasileiros. O Brasil ganhou papel de destaque como um emissor de turistas para os Estados Unidos, o que fez aumentar o número de voos tendo como destino aquele país.
Os dois países decidiram ainda acabar com as taxas cobradas para a concessão de vistos de viagens de negócios, de estudantes e de professores que participam de intercâmbios. É uma taxa cujo valor varia de acordo com a categoria do visto.
Mas a embaixada continuará cobrando de todos os interessados em viajar aos Estados Unidos a taxa de pedido de visto, utilizada para pagamentos de procedimentos burocráticos.
Essa taxa de solicitação de visto de não-emigrante para os EUA terá aumento a partir de 4 de junho. Para as categorias de turismo e negócios, a taxa sobe de US$131 para US$140. No caso de visto para trainees e trabalhos temporários, transferências de uma mesma empresa, atletas, artistas, outros profissionais do entretenimento e profissionais religiosos, a taxa será de U$150. Já para categoria de noivo(a) de cidadãos americanos, a taxa passa para US$350.

Mulher e mídia - Belíssimo artigo!

Mulher e mídia
por Leandro Uchoas

Já estou careca de saber que é incrível quando elas passam. Não precisa ninguém vir me dizer. O coração fica pequenininho, as pernas bambeiam. Quando elas passam pela gente com aquele jeitinho de anjo, aquele rebolado sutil, aquela maneira doce de falar, fica parecendo que a gente vai ter um troço. As mulheres são mesmo incríveis, isso já não é mais segredo pra ninguém.
Mas, de uma vez por todas, uma coisa precisa ficar clara. Se você leu isso e imaginou aquela modelo da propaganda de sabonete, a bela atriz da novela das oito, ou mesmo uma popozuda qualquer do funk comercial, fique atento: essa não é uma mulher normal.
Essa é a mulher da mídia, aquela que tem o corpo perfeito, o bronzeado em dia, a sensualidade na voz, e a futilidade do sorriso constante. A mídia, fanfarrona como ela só, forja essa imagem como o ideal perfeito de mulher, fazendo milhões de homens desejarem o que nunca terão, e milhões de mulheres lamentarem o que nunca serão. Por que fazem isso? Pelo mesmo motivo de sempre: porque vende.
Isso nada mais é do que uma reciclagem da escravização da mulher. Um jeitinho novo e criativo de humilhá-las. A participante do BBB, por exemplo, só precisa andar seminua, e fazer uma intriga ou outra de vez em quando. A apresentadora de telejornal quase nunca é editora-chefe. Sempre bela, funciona como um jarro de flor a enfeitar a participação do apresentador, esse sim o editor. Precisa ainda lembrar as atrizes de novela, em geral brancas, de cabelo liso e rosto fino, a interpretar donas-de-casa submissas?
Não, meus queridos. Não são essas mocinhas que me fazem gaguejar diante delas. As mulheres realmente notáveis, eu garanto, são as que não escondem a celulite. São as que não abrem mão de um livro ou um filme por uma bicicleta ergométrica. São aquelas que não têm aquele sorriso bobo e constante no rosto, mas que quando sorriem iluminam o mundo inteiro. Essas são as indispensáveis.

É verdade que a musa, aquela que mostra o corpo perfeito pra vender cerveja, ou a que adota o nome de uma fruta qualquer para rebolar melodias pornográficas, até sensibilizam nossa libido. Mas sua futilidade sufoca, agride qualquer homem que pretenda viver a vida de um jeitinho mais bailarino.
Ah, a musa, tão bonitinha, essa aí eu acho que não quero pra mim não. Quero a moça dengosa, às vezes sem jeito, às vezes fora de forma, mas capaz de dar um brilho distinto e belo às nossas tardes, e transformar nossas noites em momentos notáveis. Capazes de falar coisas lindas, de ter planos únicos e sonhos incríveis. As que não aparecem na mídia, essas são as imprescindíveis. Eu quero uma sem-mídia pra mim.
*Leandro Uchoas é jornalista

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