sexta-feira, maio 14, 2010

WILLIAM SHAKESPEARE


"Uma decepção pode diminuir o tamanho de um amor que parecia ser grande. 
Uma ausência pode aumentar o tamanho de um amor que parecia ser ínfimo. 
É difícil conviver com esta elasticidade: 
as pessoas se agigantam e se encolhem aos nossos olhos. 
Nosso julgamento é feito não através de centímetros e metros, 

mas de ações e reações, de expectativas e frustrações. 
Não é a altura, nem o peso, nem os músculos que tornam uma pessoa grande... 
 É a sua sensibilidade, sem tamanho!!!" 
WILLIAM SHAKESPEARE

Alain Barriere - Ma vie

Invasão francesa

Invasão francesa
http://mais.uol.com.br/jeaster
Outro dia postei "Invasão italiana" e um amigo me pediu que escrevesse também sobre outra "invasão" ocorrida na mesma época: a francesa.
É verdade e a invasão francesa foi ainda mais profunda, pois não se limitou ao cinema e à musica.
Envolveu também a filosofia e a literatura. Ou alguém não se lembra de Jean Paul Sartre com seus "O inferno são os outros" e  "os uns e os outros"? E de Simone de Beauvoir com "A velhice"? E Françoise Sagan com seu "Bom dia tristeza"? E o filósofo Raimond Aron que tanto nos influenciou? E a Sorbonne que forjou o pensamento de muitos brasileiros que se tornaram presidentes, legisladores e magistrados? Realmente a influência foi, e ainda é, marcante.
No cinema tivemos os diretores François Truffaut, Jean Luc Godard, Louis Malle, Jean Renoir, Roger Vadim, Claude Lelouch e tantos outros. Lembro-me perfeitamente quando eu e meus amigos íamos ao Cine Coral na Rua Sete de Abril assistir os filmes franceses. Eram precedidos sempre pelo jornal "Atualidades francesas" patrocinado pela Air France. Parecia que a França era uma espécie de Eldorado cultural onde tudo acontecia.
Nesse cinema assisti "O desprezo" de Jean Luc Godard, com Brigitte Bardot; "A chinesa" também de Godard e tantos outros.
De Louis Malle lembro-me de sempre de "Viva Maria" com Brigite e Jeanne Moreau. Um ótimo filme que não sei porque não se encontra mais em nenhum catálogo.
E o que dizer de "O sol por testemunha"(Plein soleil) de René Clément, com Alain Delon, Maurice Ronet e Marie Laforet? Foi baseado no livro de Patricia Highsmith e recentemente teve uma refilmagem: O talentoso Ripley.
Outro filme que me marcou profundamente foi "O salário do medo" de Henry-George Clouzot. A clássica cena inicial de crianças brincando com insetos numa poça de lama foi adotada por outros diretores mais tarde.
Atores franceses que marcaram aquela época e os filmes em que se destacaram:
Yves Montand - O sálario do medo
Jean Paul Belmondo - Cartouche e Borsalino
Jean Gabin - A grande ilusão e Os sicilianos
Lino Ventura - Os sicilianos
Jean-Louis Trintignat - Um homem, uma mulher
Simone Signoret - A viúva
Catherine Deneuve - A bela da tarde
Brigitte Bardot - E Deus criou a mulher
Jeanne Moreau - Jules et Jim
Michele Morgan - La symphonie pastorale (Michele foi considerada a mais bela atriz francesa da época)
Leslie Caron - Gigi
Phillipe Noire - A comilança
Annie Girardot - Rocco e seus irmãos
Michel Piccoli - O discreto charme da burguesia
Dominique Sanda - O jardim dos Finzi-Contini
Na música,ah!....a música francesa....quem não se lembra de Alain Barriére cantando "Ma vie" e  "Elle était si jolie"? E Charles Aznavour com "Que c'est triste Venise", "She", "Isabelle" e "La boheme"? E Gilbert Becaud com seu "Et maintenant" e "Nathallie"?
Quero lembrar também dois grandes cantores que embora fossem de épocas anteriores foram destaque na música francesa:  Maurice Chevalier que foi cantor, ator e humorista. Veio ao Brasil em 1951 para a inauguração da TV Tupi. Encantou a todos com sua verve e seu charme. Charles Trenet cantor e compositor de "Douce France" hino da resistencia francesa durante a ocupação nazista. Foi o compositor e intérprete da obra prima "Vous qui passez sans me voir".
Já eu adorava as cantoras francesas. Deliciava-me com a voz açucarada de Françoise Hardy cantando "Tous les garçons et les filles" e com Juliette Grecco cantando "Je suis comme je suis". Minha preferida era Mirreile Mathieu. Quando esteve no Brasil em 1968 fui vê-la no Teatro Paramount e me deliciei com sua "La dérniere valse". Chegou a ser mencionada como a sucessora de Edith Piaf, esta sim, a maior de todas as cantoras francesas e que merece um post especial para qualquer dia destes. Será que esqueci alguém?

Um disparate assustador

Um disparate assustador
A. P. Quartim de Moraes - O Estado de S. Paulo - 14/05/2010

Implementando uma "nova política para devolução de livros consignados", uma grande editora brasileira instruiu os seus clientes - distribuidores e livrarias - a "descartar", na verdade, destruir livros não vendidos, devolvendo apenas as capas e a página da ficha catalográfica! Nenhuma instrução específica sobre como promover o "descarte" das obras encalhadas: fogueira, alto-forno, lata do lixo, reciclagem. Nada. Apenas: livrem-se deles!
Inacreditável, mas verdadeiro. Tão verdadeiro quanto absurdo. E tão absurdo que a própria editora, sob a pressão da enxurrada de críticas que imediatamente recebeu, cancelou a disparatada instrução. Menos mal. Diante da evidência pública do enorme despropósito, alguém teve o juízo de dar o dito por não dito e colocar a tranca mesmo depois da porta arrombada.
Não, não se tratou de um "cochilo" de algum executivo afoito e desavisado! O que certamente houve é que alguém, afoita e desavisadamente, propôs interna corporis a genial ideia como fórmula miraculosa para salvar um troco nas operações de regularização das consignações. Afinal, os fretes andam pela hora da morte! E todo o board embarcou na canoa furada. Ah, se arrependimento matasse!
Surpreendente? Absolutamente, não! É assim que funciona a cabeça da maior parte dos executivos que hoje comandam a indústria do livro, os responsáveis pelas decisões estratégicas não apenas na gestão empresarial das grandes casas publicadoras, mas também sobre o que vai ou não vai ser publicado. E é fácil compreender esse comportamento quando se verifica que a maior parte desses executivos foi recrutada no grande varejo ou nas instituições financeiras. Profissionais, é claro, que entendem de vendas, de grana, craques no big business. Mas que são incapazes de distinguir a sutil diferença, vamos dizer - só para irritar os caras -, ontológica, entre um produto para a gôndola de supermercado e outro para a estante de livraria. Entre um tubo de dentifrício e um livro.
Vou-me repetir: houve tempo - bom tempo! - em que o mercado editorial brasileiro (aliás, nem era chamado de "mercado") era comandado por uma plêiade de editores idealistas, visionários, homens como Monteiro Lobato, Caio Prado, Ênio Silveira, Jorge Zahar, José Olímpio, Fernando Gasparian, Waldir Martins Fontes e muitos outros, um bando de maravilhosos voluntaristas que são responsáveis por tudo o que temos de melhor no acervo bibliográfico brasileiro dos últimos 60 ou 70 anos. O tempo passou, a globalização impôs ao mundo dos negócios, do qual o editorial faz parte, modelos de gestão cada vez mais rigorosos do ponto de vista da eficiência, da produtividade e, consequentemente, da rentabilidade. E é claro que o voluntarismo dos grandes editores do século passado não cabe mais no mundo de hoje.
A moderna indústria livreira necessita, portanto, de marqueteiros criativos, administradores e financistas competentes, todos a serviço de atividades-meio indispensáveis à lucratividade do negócio do livro. Mas, definitivamente, ela não precisa de fundamentalistas do mercado que acham que jogar livros no lixo é genial.
A morte poupou o nosso maior bibliófilo, José Mindlin, do desgosto de conviver com uma barbaridade como essa perpetrada por uma grande editora comercial brasileira. E em homenagem a esse grande homem, e aos que ainda acreditam na importância e na magia do livro, e que por isso o tratam com respeito, permito-me relembrar aqui um episódio revelador, entre outras coisas, do bom humor e da sabedoria do dr. Mindlin.
Pouco antes do Natal de 2006, tive o privilégio de participar da bancada de entrevistadores do dr. Mindlin no programa Roda Viva, da TV Cultura. Depois da morte dele o programa foi reprisado pelo menos duas vezes, suscitando novos e entusiasmados comentários de amigos a respeito do maravilhoso desempenho do entrevistado, absolutamente lúcido e surpreendentemente vivaz para um homem já então com mais de 90 anos. E resultou mais uma vez unânime, como um dos pontos altos da entrevista, a resposta dada à pergunta sobre a opinião que ele tinha a respeito do escritor Paulo Coelho. Reproduzo-a de memória: "Não vou dar a resposta clássica, "não li e não gostei". Li O Alquimista. E não gostei. Penso que o Paulo Coelho está para a literatura assim como o bispo Edir Macedo está para a religião."
Se não fosse pela condição de maior bibliófilo brasileiro, de empresário audacioso e bem-sucedido e de homem público que teve a coragem, nos anos 70, de desafiar os arreganhos repressivos da ditadura militar no episódio do assassínio do jornalista Vladimir Herzog, o dr. Mindlin mereceria um lugar no panteão dos prestadores de grandes serviços à humanidade só por aquela magistral analogia, que enunciou com a serenidade que é virtude dos verdadeiros sábios.
É claro que a comparação entre o campeão da autoajuda e o líder da Igreja Universal foi uma boutade, o desenho de uma caricatura. No que se refere ao escritor - sobre o outro não me animo a afirmar nada -, estou entre os que entendem que a obra de Paulo Coelho não tem grande valor literário. Não se pode, contudo, negar - da mesma forma que o dr. Mindlin não negava - a importância de um escritor universalmente consagrado como grande campeão de vendas. Afinal, dirão os mais espertos do que eu, isso é o que interessa.
Mas, para muito além da tirada de bom humor, a analogia que o dr. Mindlin teve a coragem de expor diante das câmeras da televisão é perfeita e escancara uma realidade assustadora, que o recente episódio do "descarte" de livros põe mais uma vez em evidência.
JORNALISTA, É EDITOR ASSOCIADO DA GLOBAL EDITORA.

PEQUENOS GRANDES ERROS

Pequenos grandes erros

Nelson Motta – O Globo – 14/05/2010

Menos de um ano antes das eleições presidenciais de 2000, Bill Clinton esbanjava popularidade e os Estados Unidos, prosperidade. A economia bombava em um cenário internacional de relativa paz, com envolvimento militar apenas nos Bálcãs, bem sucedido e por uma boa causa. Popular, carismático e eficiente, Clinton era o mais poderoso cabo eleitoral que o vice Al Gore poderia desejar, sua eleição seria uma moleza. Mas Clinton cometeu um pequeno grande erro: Monica Lewinski. E saiu do governo atropelado por um impeachment e com a imagem de mulherengo patológico. E mentiroso. Na campanha, por covardia e hipocrisia, Al Gore fugiu de Clinton como o diabo da cruz. Não queria associar sua imagem eco-familiar a um devasso, e Clinton não pediu votos para Gore sequer no seu nativo Arkansas, onde era muito popular. Pequeno enorme erro de Gore. Apoiado por Clinton, ele ganharia fácil no Arkansas. Mas o desprezando, ofendeu seus conterrâneos e foi derrotado. Se vencesse, teria levado todos os votos eleitorais do estado e, mesmo perdendo na Flórida, se elegeria presidente. E pouparia o mundo de George W. Bush. São esses pequenos, que depois se mostram grandes erros, que muitas vezes decidem eleições. E Copas do Mundo, quando uma bola boba perdida na intermediária pode armar um contra-ataque e a jogada do gol que vai definir a partida. Como a que Cerezo perdeu em 82 e deu em gol da Itália. Em 1960, JK terminava o governo popularíssimo, com grandes chances de eleger seu sucessor. Mas escolheu o marechal Lott, um poste carregado de medalhas, honrado, pesado e chato. E desconhecido do povo que adorava o presidente bossa nova, um democrata e desenvolvimentista, otimista e vitorioso. E o marechal de JK foi batido pela demagogia moralista e histriônica de Jânio Quadros, candidato da oposição e, por baixo dos panos, do PTB governista de Jango Goulart, na espúria chapa Jan-Jan (só no Brasil se podia votar para presidente em um partido e para vice em outro), elegendo um maluco que oito meses depois jogaria o Brasil numa crise política que deu na ditadura e só terminou na eleição de Tancredo.

História do Brasil - José Serra - Comício da Central em 1964

Belíssima foto do fotógrafo João Maria (no Twitter @Johnguardacosta)


FORMAS DA NATUREZA - O LUGAR DAS DUNAS

RUBEM ALVES


“As coisas que não existem são mais bonitas.
Amamos uma pessoa não por aquilo que é, 

mas pelo manto de fantasia com que a cobrimos" 

RUBEM ALVES

Celibidache Bruckner 8 , Second Movement

Juventude e maturidade

Juventude e maturidade
Rosely Sayão
O relacionamento dos pais com os filhos adolescentes não tem sido fácil. Além da fase complexa pela qual os jovens passam e que os leva a agir de modo diferente do que seus pais estavam acostumados -e que deixa os adultos um pouco perplexos e sem ação-, a situação está ainda mais difícil por causa de nossa cultura em relação à juventude. Ser jovem deixou de ser uma etapa da vida para se transformar em um estilo de viver. Isso significa que, quando a criança entra na adolescência, ela passa a se relacionar com adultos iguais a ela, ou seja, tão jovens quanto ela. Na questão educativa, esse é um fato complicador. A adolescência é o tempo de amadurecer, mas, se os pais não ajudarem o filho a entrar na maturidade, ele continuará a agir de modo infantilizado.
Todos conhecem jovens que estudam e... só. No restante do tempo da vida, eles consomem, frequentam festas, namoram e desfrutam da sexualidade, jogam, ficam na internet. Em resumo: eles estudam sob uma enorme pressão de êxito não apenas por parte da família como de toda a sociedade e permanecem prisioneiros de seus caprichos impulsivos.
Para muitos, esse é o momento de buscar desafios para evitar o tédio que se instala nesse tipo de vida. Alguns encontram as drogas, outros desafiam a morte por meio de, por exemplo, esportes radicais, outros se dedicam exaustivamente ao culto do corpo perfeito e muitos outros ficam doentes.O índice de suicídio entre jovens tem crescido no mundo todo, inclusive no Brasil. Aqui, tem aumentado a taxa que envolve a população entre 15 e 29 anos de idade.
Isso significa que eles precisam muito dos pais nesse momento da vida. E o que seus pais podem fazer?
Em primeiro lugar, podem bancar o lugar de adultos perante o filho adolescente, não esmorecer nem tampouco desistir, por mais árdua que a tarefa educativa pareça.É preciso lembrar que pode ser difícil, mas impossível não é, como tenho ouvido muitos pais declararem.
O filho precisa da ajuda dos pais, por exemplo, para aprender a retardar e mesmo suspender o prazer que busca, para saber dividir seu tempo entre várias atividades e obrigações, para se abrir para as outras pessoas e buscar modos de viver bem com elas. Precisa de auxílio também para colaborar com o grupo familiar e para dar conta de várias outras responsabilidades consigo mesmo e com os outros, para desenvolver virtudes e para, sempre que conjugar o verbo "querer", aliar a ele outros dois: o "dever" e o "poder".
Para tanto, os pais precisam aprender a ceder algumas vezes e a ouvir o que seu filho diz -seja por meio de palavras, seja por atitudes. Ouvir não significa atender, mas considerar a dialogar e a negociar. E essa talvez seja a palavra chave do relacionamento entre pais e filhos dessa faixa etária.
Negociar conflitos e demandas com o filho é uma maneira de os pais o ajudarem a perceber que ele pertence a um grupo que segue alguns valores e princípios que são inegociáveis, mas que, ao mesmo tempo, reconhecem o crescimento do filho e, por isso, valorizam sua busca de autonomia. Mas essa negociação deve priorizar a exigência do desenvolvimento de sua maturidade.
A responsabilidade dos pais é grande nesse momento da vida do filho e não apenas com a família e com ele próprio. Afinal, são esses jovens adolescentes que serão os responsáveis por nosso futuro bem próximo.

Bach, JS - "Air" Suite Orquestral N º 3 em D Major_BWV 1068

Swarovski Crystal Palace - Light Sculpture - Zaha Hadid


A tecnologia a serviço dos brutos

A tecnologia a serviço dos brutos
Um em cada seis estudantes brasileiros do ensino fundamental já foi alvo de bullying no mundo virtual. Isolamento, medo e até depressão são sinais evidentes desse tipo de violência
Roberta de Abreu Lima e João Figueiredo - Comportamento
A falta de ar e a tremedeira incontrolável eram sinais do pânico se apossando da estudante paulista Brenda Mayer, 16 anos, ao se aproximar da escola. Durante três meses seguidos, Brenda foi alvo de humilhações sistemáticas encabeçadas por um grupo de colegas do próprio colégio. O quadro acima é típico do bullying, o nome adotado no Brasil, em inglês mesmo, para descrever um fenômeno infantojuvenil tão torturante quanto antigo. A novidade é que, agora, ele também se dá pela internet. As colegas de Brenda criaram uma comunidade no Orkut com o único objetivo de agredi-la. Em pouco tempo, o site tornou-se ponto de encontro na rede para dezenas de colegas hostis a Brenda. As ameaças, terríveis mesmo para um adulto, eram deixadas no Orkut aos montes: "Se aparecer na escola, vamos quebrar a tua cara!" ou "Te mato". Brenda continuou indo à escola, onde as ameaças e piadas eram repetidas na presença dela. Isolada, sempre em prantos, a estudante emagreceu 4 quilos. Os pais registraram queixa em uma delegacia, mas nada mudou. O inferno de Brenda Mayer só terminou quando ela trocou de escola, mas o estrago feito vai durar muito tempo: "É impossível esquecer o massacre".
Ela precisou mudar de escola "Era nova no colégio quando uma amiga me contou que havia no Orkut seis comunidades intituladas Eu Odeio a Gabriela. Virei alvo de todo tipo de xingamento. A situação só foi piorando, e eu me sentia cada vez mais sozinha e impotente. O pior foi saber que eram colegas de classe que me humilhavam. Deprimida e sem receber por seis meses seguidos nenhuma ajuda do colégio, já avisado da situação, decidi, com o apoio dos meus pais, trocar de escola no meio do ano. As tais comunidades continuam até hoje na rede. É um capítulo da minha vida que luto para apagar." Gabriela Lins, paulista, 17 anos 
O drama de Brenda ocorreu há quatro anos. Desde então o cyberbullying, o assédio covarde organizado por grupos contra uma pessoa e alimentado via internet, cresceu no Brasil. Uma nova pesquisa conduzida com mais de 5 000 alunos do ensino fundamental em todo o Brasil revela dados assustadores sobre o uso da internet para a organização de ataques à honra das pessoas. O levantamento feito pela Plan, uma ONG presente em 66 países, mostra a extensão do problema nas escolas. Pelo menos um em cada seis estudantes disse aos pesquisadores já ter sofrido agressões sistemáticas e organizadas na rede. A maldade dos agressores é potencializada pelo cyberbullying. As comunidades virtuais, os blogs e as correntes de mensagens são áreas de convivência dos adolescentes, locais em que eles se expõem, paqueram e trocam ideias. Ser privado dessa convivência ou, pior, ser alvo de ataques dos próprios colegas ali é devastador. Resume Brenda: "A autoestima desaparece".
Tomadas de vergonha, insegurança e na esperança de os ataques se estiolarem por não darem bola a eles, as vítimas de cyberbullying demoram a pedir ajuda. Mas os sinais do sofrimento aos poucos vão se mostrando. A vítima se atormenta, mas não resiste a querer saber até onde vai a ousadia de seus agressores on-line, o que a leva a passar mais tempo ainda diante do computador. A vida social praticamente deixa de existir. Ir ao colégio se torna um sacrifício, e isso se traduz na perda de desempenho acadêmico. Às dores de cabeça e de barriga seguem-se, em muitos casos, a depressão e a desorientação pela perda de duas das referências mais fortes de um jovem, a escola e a internet. "Passei a ter medo de me relacionar com as pessoas", diz a estudante paulista Gabriela Lins, 17 anos. Ela enfrentou as consequências de ter não uma, mas seis páginas intituladas Eu Odeio a Gabriela criadas no serviço mais popular entre jovens da internet brasileira. Os autores das agressões, como sempre ocorre nesses casos, eram seus conhecidos – colegas de turma na escola, já seus desafetos pessoais. "A relação deles com a internet é visceral, por isso a exposição negativa na rede lhes causa uma dor desmedida", resume a psicóloga Ceres Araujo.
Conflitos entre crianças e adolescentes fazem parte dessa fase da vida em que a afirmação da identidade é crucial. É quando, ainda muito inseguros, os jovens têm enorme dificuldade em lidar com as diferenças. O bullying é justamente a manifestação exacerbada dessa aversão. No grupo das vítimas típicas dessa forma de violência, figuram justamente os novatos na escola, os maus alunos, os tímidos, aqueles com compleição física fora do padrão e, obviamente, os primeiros da classe, alvos preferenciais dos invejosos. A especialista Maria Tereza Maldonado, autora de A Face Oculta – Uma História de Bullying e Cyberbullying, encontrou nas vítimas dessas torturas juvenis um traço comum: a baixa autoestima. Entre os algozes, Maria Tereza distinguiu as características típicas dos abusadores de todos os tempos: o impulso de impor sua liderança pela força. Mais de 10 milhões de jovens brasileiros de todas as idades passam pelo menos duas horas diárias ligados na internet. É tempo demais para muitos pais lidarem com o computador como as gerações passadas o fizeram com a televisão e usá-lo como babá eletrônica. Até os 15 ou 16 anos, a navegação na internet precisa de alguma supervisão paterna na forma de horários rígidos, conselhos ou conversas frequentes sobre o conteúdo e a interatividade na rede. Alguns programas podem monitorar automaticamente a navegação ou limitá-la de acordo com a idade do usuário do computador (veja o quadro abaixo). Para a psicóloga Ceres Araujo, os pais sem interesse na internet ou tecnofóbicos precisam mudar rapidamente de atitude para ser bons educadores: "Ficar alheio ao mundo dos filhos é uma péssima atitude".
A cena do filho chegando em casa da escola coberto de hematomas é clássica na literatura e no cinema. Como os pais reagem a ela também. Os brutos dão outra surra no menino, como lição para nunca mais apanhar na rua. Os sábios aconselham moderação e ensinam o menino a se defender. É raro na ficção – e, curiosamente, também na vida real – ver pais com coragem para ir até a escola com o objetivo de envolver professores e diretores no encaminhamento de uma solução para o problema das agressões físicas, verbais ou digitais. Mais raro ainda são escolas com uma política clara e eficiente para reprimir os agressores. A dentista Vanessa Lins, 39 anos, tentou sem sucesso obter ajuda para a filha. Lembra Vanessa: "Minha filha estava despedaçada, mas a diretora não se sensibilizou. Na visão dela, os ataques feitos via internet não eram problema da escola". Obviamente, essa atitude é covarde e injustificada, pois nenhuma escola deveria abrigar autores de tais agressões. A pedagoga Cleo Fante vê avanços no Brasil: "Já é consenso ver os colégios como agentes relevantes no combate às intimidações on-line. Não há mais como traçar uma fronteira delimitando responsabilidades da família e da escola, quando é evidente o papel harmônico de ambas na proteção dos alunos". O Colégio Bandeirantes, de São Paulo, incluiu na grade uma disciplina com o objetivo de orientar os estudantes sobre as potencialidades e os perigos da rede, tratando também do cyberbullying. A medida foi muito bem recebida pelos pais. "É reconfortante ver a escola empenhada em prevenir essa violência, da qual meu filho já foi vítima", diz a consultora de recursos humanos Priscila Scripmic, mãe de Dimitri, 12 anos.
"Senti ódio e vergonha"
"Quando uma amiga contou que haviam criado um perfil meu no Orkut, cheio de difamações, eu me enchi de ódio e vergonha. O site estava repleto de montagens com o meu rosto aplicado a fotos de atrizes pornôs, uma humilhação atrás da outra. Passei os dois meses que o pesadelo durou tentando adivinhar quem estava fazendo aquilo. Desconfiava de meus colegas. Virou uma paranoia. Consegui, enfim, tirar a página do ar depois que dezenas de amigos denunciaram o caso ao site. O colégio se posicionou, dizendo aos alunos como aquilo era perverso. Conto hoje essa história em palestras que a escola promove sobre o cyberbullying. Isso se tornou uma praga." Paola Alves, gaúcha, 17 anos 


O norueguês Dan Olweus, pioneiro no estudo do bullying, alertava já na década de 70 para as nefastas consequências dos ataques impunes dos mais fortes contra os mais fracos no ambiente escolar. Olweus constatou a relação de causa e efeito entre a recorrência da violência física e psicológica e os casos de depressão infantil. A intimidação pela internet é apenas a versão do mesmo fenômeno. Ele vem crescendo com ímpeto semelhante ao do espalhamento da rede pelo mundo. O suicídio de uma adolescente americana de 13 anos, vítima de cyberbullying praticado por uma vizinha e sua mãe em 2006, levantou pela primeira vez a questão de como identificar e punir os culpados por esses ataques. O caso da menina americana ainda não obteve solução definitiva na Justiça, mas, como é praxe nos Estados Unidos, deve estabelecer uma jurisprudência orientadora de novos casos. 
Ameaças até de morte
"Foi um choque saber que, movidas por uma intriga boba, minhas melhores amigas haviam criado uma comunidade no Orkut só para me ofender e ameaçar. Logo, mais colegas se uniram contra mim. Diziam que se eu aparecesse na escola iam me dar uma surra e até me matar. Fui ficando apavorada, a ponto de só conseguir dormir na cama da minha mãe. Ia para a escola aos prantos, tremendo e com crises de asma. Emagreci 4 quilos. Meus pais chegaram a registrar queixa na delegacia. O pesadelo durou três meses, até eu sair da escola. É um episódio muito difícil de deletar da memória." Brenda Mayer, paulista, 16 anos
No Brasil não existem leis destinadas a punir especificamente os autores desses crimes. Os casos geralmente são enquadrados no Código Civil como crimes contra a honra, ofensa de natureza semelhante à dos crimes de calúnia e difamação. Nos raros casos julgados no Brasil, as condenações foram apenas pequenas multas para os pais e a prestação de serviços comunitários para jovens menores de 18 anos – reparações claramente desproporcionais aos danos causados. O catarinense Fernando Bruns, 17 anos, passou um ano inteiro sendo bombardeado por colegas de turma no popularíssimo site de relacionamento Orkut. Na escola, ele era ameaçado fisicamente e chegou a pedir ajuda a um policial. Hoje aluno de outro colégio, Fernando lembra: "Foi um pesadelo. Acabou. Não desejo a ninguém o mesmo sofrimento". 

É a democracia, estúpidos, por Clóvis Rossi

É a democracia, estúpidos
Clóvis Rossi - Folha de S. Paulo - 13/05/2010

MADRI - A discussão em torno da autonomia absoluta do Banco Central, levantada por José Serra, é na verdade a propósito da democracia.
Democracia pressupõe que o eleitor escolha alguém (no Brasil chamado presidente da República), que tomará as decisões que julgar convenientes, entre elas o nível dos juros, o câmbio, o deficit ou superavit fiscal adequado.
Democracia não pressupõe que um funcionário subalterno tome tais decisões à revelia do presidente. É simples assim.
O raciocínio subjacente à tese de que o Banco Central pode fazer o que quiser e o presidente da República não tem que se meter é radicalmente antidemocrático.
Pressupõe que o tal de povo pode, de repente, eleger um maluco para a Presidência (maluco do ponto de vista dos mercados, aos quais o Banco Central presta a maior reverência). Para contrabalançar esse risco, é preciso ter alguém sensato (sensato do ponto de vista dos mercados) para evitar maluquices.
Levado ao limite, tal raciocínio acabará por dispensar o voto popular, transferindo a escolha de uma boa vez para os sábios do mercado - os mesmos que estão na raiz da brutal crise ainda em curso.
A primazia da política sobre os mercados apareceu ontem em artigo para "El País" de Felipe González, que pode ser acusado de muita coisa, menos de antimercado. Foi ele quem, como líder do Partido Socialista Operário Espanhol, limou o marxismo ainda existente no programa partidário.
Como presidente do governo, levou a Espanha à Comunidade Europeia, o segundo maior centro capitalista do mundo, após os EUA.
González cobrou a regulação do sistema financeiro com este argumento: "Se não os regularmos [os mercados], eles acabam por regular-nos [aos governos e à sociedade], a seu capricho especulativo e com custos insuportáveis".
Serra já tem com quem falar.

Eder, para o Comércio Araraquara



Genial! Melhor que o IPad! Leerestademoda.com - BOOK - Versión completa

Publico, pois trata-se de um político sério! Por que não melhorar as UPPs?

Por que não melhorar as UPPs? 13/5/2010

A questão sobre a regulamentação das Unidades de Polícia Pacificadora, as UPPs, tem gerado polêmica e despertado a população para o potencial do projeto. A jornalista Berenice Seara apelidou a discussão de “empada da oposição”. Já Leandro Mazzini, do Jornal do Brasil, classificou de “debate diplomático”.  Há dois meses o deputado Alessandro Molon apresentou o projeto de Lei Nº 2966/2010, que transformava as UPPs em política de estado, conforme publicou o jornal O Globo do dia 23/02. Na mesma edição a cientista social Sílvia Ramos dava seu aval ao projeto de Molon e lembrava que o principal medo dos moradores das comunidades seria a descontinuidade das unidades: “O projeto contribui para que o atual governo não volte atrás. Blinda as UPPs de questões políticas” afirmou.  O que ninguém entendeu foi o anúncio de um decreto proposto pelo secretário de segurança José Mariano Beltrame, para “cercar as UPPs de regras para que o projeto nao sofra com as alternâncias da política”. Já existindo o debate e um projeto de lei robusto, por que criar um decreto? Se a intenção é realmente proteger as UPPs, por que não colaborar politicamente para a votação do P.L na Alerj?  Além de tranquilizar a população, o P.L. Nº 2966 prevê serviços como saneamento básico, cursos profissionalizantes e inclusão digital nas comunidades em que as UPPs forem instaladas. A idéia é combater a violência e promover justiça social duradoura.
Confiram o texto do projeto em: http://bit.ly/MolonUPPs
Leiam as últimas notícias sobre o debate em:
http://www.molon.com.br
Ajudem esclarecendo seus contatos sobre os benefícios que podem ser perdidos!

Os Estados Unidos não estão no centro de tudo

Os Estados Unidos não estão no centro de tudo
13 de maio de 2010 | 19h26 - Paul Krugman – O Estado de São Paulo

Agora os republicanos resolveram se manifestar contra a participação dos Estados Unidos num resgate da Grécia – o que é interessante, levando-se em consideração que ninguém nos convidou a participar. (De fato, fazemos parte do FMI, que providenciará parte do dinheiro – mas trata-se de uma fração de outra fração e seria uma péssima ideia se os membros do FMI começassem a escolher os programas dos quais participarão.)
Deixando de lado a estupidez do protesto, o que mais me impressiona neste caso é o delírio – extremamente comum nos EUA, em especial entre a direita, embora isso não se restrinja a ela – de que estamos no centro de tudo, algo que emana da concepção equivocada do quão super nós realmente somos enquanto superpotência.
Fenômeno semelhante pôde ser observado nos preparativos para a guerra no Iraque, quando os seguidores de Bush estavam absolutamente convencidos de que poderiam intimidar os membros temporários do Conselho de Segurança da ONU a apoiar a guerra – aparentemente ignorando o fato de que, para muitos desses membros, a Europa é um mercado mais importante e uma fonte de ajuda muito mais importante do que os EUA.
O mesmo pode ser dito da disputa em relação à tributação do aço, quando o governo Bush se mostrou aparentemente ignorante do fato de a Europa ser um participante tão importante quanto nós no comércio mundial, além de ser absolutamente capaz de uma retaliação contra violações claras das regras comerciais. (A equipe de Obama é menos ingênua: está disposta a jogar duro, como por exemplo na questão dos pneus, mas toma o cuidado de não exceder aquilo que é permitido.)
E agora isso. Vejam, a Europa está em apuros – e parte da encrenca pode contaminar os EUA. Mas, basicamente, não estamos no centro desse problema: como vemos, nem sempre os EUA estão no centro de tudo.

Skoob

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