domingo, maio 23, 2010

Economia brasileira pode estar 'voando alto demais', diz 'Economist'

Economia brasileira pode estar 'voando alto demais', diz 'Economist'

BBC Brasil

A revista britânica The Economistalertou em um artigo na edição desta semana que o nível de crescimento da economia brasileira pode se tornar insustentável.
Para a publicação, o fato de a economia brasileira pode estar crescendo em uma velocidade comparada ao crescimento chinês é um problema, pois "o Brasil não é a China".
"Pelo fato de (o Brasil) economizar e investir pouco, a maioria dos economistas acredita que a velocidade de crescimento deve ser limitada a 5% no máximo, para não entrar em colapso", diz a revista.
Economist afirma que o problema, segundo os críticos, é que grande parte dos gastos adicionais do governo está se transformando em gasto permanente, e a economia está começando a "ficar parecida com um carro com o acelerador preso ao chão".
Segundo o artigo, as autoridades estão começando a se preocupar. No mês de abril o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu elevar a taxa básica de juros, a Selic, em 0,75 ponto percentual, o primeiro aumento em quase dois anos, que fez com que os juros no país cheguem a 9,5% por ano.
Críticos do governo afirmam que a política fiscal frouxa faz com que a tarefa do Banco Central seja ainda mais difícil, aumentando o risco de que este crescimento acabe no próximo ano, com uma desaceleração acentuada.
Segundo a The Economist, as autoridades também tem esta preocupação.
O artigo diz que governo acabou com quase todas as isenções de impostos que tinha introduzido durante a recessão.
"No dia 13 de maio os ministros declararam que iriam cortar R$ 10 bilhões dos custos do governo federal em 2010. (...) Mas isto não significa pisar no freio. Os cortes são em um generoso orçamento aprovado pelo Congresso", afirma o artigo.
The Economist cita o secretário de Política Econômica da Fazenda, Nelson Barbosa, ao afirmar que mesmo se o corte for implementado em sua totalidade, ele vai apenas diminuir a taxa de crescimento nos gastos do governo, mantendo-o constante ou um pouco menor como uma fatia do PIB (Produto Interno Bruto).

O genoma político

O genoma político

Ana Dubeux - Correio Braziliense - 23/05/2010

O Senado criou uma versão light, embora indigesta, do Projeto Ficha Limpa. Numa espécie de manobra semântica, semeou uma polêmica ridícula, lançando dúvidas sobre uma proposta de intenções claríssimas: filtrar a política, retirar dela os vícios e torná-la mais palatável perante a opinião pública. A vontade era tanta de aprovar a proposta, para não dizer o contrário, que o espírito de corpo lançou mão da palavra escrita para calar a cidadania. Incrível: parece mais fácil a ciência criar a vida do que os políticos tomarem vergonha na cara. Um dia, quem sabe, conseguirão sintetizar numa cápsula sentimentos nobres, como a ética, a justiça social, a gentileza, a solidariedade. 
Mas, enquanto não inventam a tal reposição de valores ou recriam em laboratório um genoma político que exclua o corporativismo e possa ser replicado, as ações do Legislativo e dos outros poderes devem ser convites à reflexão, sobretudo neste período pré-eleitoral. O momento de ir às urnas já não é mais o de acreditar, nem de cobrar, é a hora da colheita. Ouvir os discursos com promessas para o futuro é quase um castigo para quem quer ver o presente ser blindado sempre — boas ações são reservadas para tempos distantes, longuínquos. A única coisa que de fato pode nos redimir é analisar o passado: quem é essa pessoa, quem ela já foi, o que já fez e o que deixou de fazer. Dessa forma, podemos ver se ela é coerente, consistente e, sobretudo, honesta. Será muito isso? 
Brasília passou recentemente — e ainda sofre os efeitos disso — por uma situação de humilhação e de constrangimento. As denúncias de corrupção e de saque aos cofres públicos reverberaram na autoestima da capital às vésperas de seus 50 anos. Tornaram-se atalho poderoso ao preconceito do qual a cidade já é vítima desde a sua gênese. É curioso, então, assistir a políticos que já deixaram a cidade à deriva virarem paladinos da Justiça. Também é inusitado ver pessoas acusadas arguirem direitos que não têm. Como não podemos desconsiderar que as más intenções estão impregnadas de um vetor chamado densidade eleitoral, temos que trabalhar, cada um fazendo a sua parte, por uma varredura total e irrestrita, sem perdão nem voto. Estou em litígio com a canalhice. Não importa o tempo verbal, se passado ou futuro. No que depender de mim, em outubro, Brasília terá ficha limpa. 

Dalcio



Entenda a criação de células com genoma sintético

"Produzir vida do zero é desnecessário"

"Produzir vida do zero é desnecessário"

Para cientista da Unicamp, anúncio da criação do primeiro organismo sintético nos EUA teve muito marketing - Tática mais promissora consiste em ensinar truque novo a micróbio velho; biodiversidade do Brasil pode ajudar

REINALDO JOSÉ LOPES ENVIADO ESPECIAL A CAMPINAS

O geneticista americano Craig Venter causou estardalhaço, na última quinta-feira, ao apresentar o que pode ser considerada a primeira célula sintética de bactéria. "É uma notícia ótima para impressionar investidor", brinca Gonçalo Pereira, da Unicamp, sobre o trabalho.
"Mas não é criação de vida, e há muito marketing aí", afirma Pereira. "O DNA foi introduzido em uma "sopa" pré-formada ["cascas" de bactérias, despidas de seu DNA]. Essa sopa é que é difícil de construir sinteticamente."
O que gente como Pereira chama de biologia sintética não é montar um organismo a partir do zero com matérias-primas nunca vistas antes. O objetivo, mais modesto, é recombinar de formas criativas os materiais que já existem nos seres vivos.

TOME ISTO, VENTER!
Uma das críticas feitas à abordagem de Craig Venter e de sua empresa, a Synthetic Genomics, é justamente esta: a abordagem tradicional, de ensinar truques novos a micróbios velhos, tem avançado bastante e pode dar mais resultado do que a criação de micróbios novos.
"No fundo, o que você quer é tirar a vontade própria desse organismo", explica o pesquisador da Unicamp.
Isso é obtido por meio da transgenia, a boa e já velha inserção de genes novos em organismos. Mas uma transgenia especial: em vez de um gene estranho, são inseridos dezenas, para mudar não apenas um produto (uma proteína, por exemplo), mas para alterar a própria função daquele organismo.
Com a nova tecnologia, a criatura vira uma máquina a serviço de seus mestres humanos. "Essa talvez seja a melhor definição de vida sintética", continua Pereira.
Na busca por um sistema biológico produtor de plástico, a equipe da Unicamp está tentando manter as opções abertas. Há três tipos de organismos candidatos: leveduras, bactérias e plantas.

BARZINHO X EMPRESA
Os desafios de fazer biológica sintética com cada uma dessas "plataformas", como o cientista as chama, é diferente. "O microrganismo é como um dono de barzinho, que tem de fazer tudo, de servir as bebidas a receber no caixa. Ele se vira, embora não faça nada disso bem."
Já o organismo de muitas células é uma empresa multinacional, compara: altamente eficiente, com muitas partes especializadas. "É mais difícil mexer em organismos multicelulares, mais coisas podem dar errado", afirma.
A chave para o sucesso, diz o cientista, é saber combinar os melhores genes com o melhor reator, ou seja, o organismo mais propício a gerar o produto codificado nos genes em grande quantidade e com baixo custo. "A biodiversidade brasileira pode nos dar esses biorreatores."
Até agora, as tentativas de fazer plástico bacteriano tomaram justamente partido desse princípio. "Algumas bactérias já produzem plástico. Um exemplo é o PHB, ou polihidroxibutirato", diz.
"Uma empresa chamada Metabolix pegou os genes do PHB e jogou numa outra bactéria, que é boa de ser produzida na indústria", conta, mostrando uma caneta feita com PHB. O problema é que o PHB é instável. "Se eu deixar com você, daqui a um ano você vai ver o que acontece."

Martin Luther King

"Mesmo as noites totalmente sem estrelas
 podem anunciar a aurora de uma grande realização”.


Martin Luther King

Amorim



Kandinsky


Albert Einstein e Deus - Comercial da feito pelo ministério da educação e ciência da República da Macedônia.

Reflexão


O Brasil e sua biodiversidade

O Brasil e sua biodiversidade

ALAN CHARLTON - Folha de São Paulo
O maior desafio no Brasil é o gerenciamento sustentável do uso da terra, o que inclui também a sustentabilidade do setor agrícola nacional

O Brasil está emergindo no cenário global e pode ser mais que uma potência convencional. Ele abriga um quinto de todas as espécies conhecidas e dois terços das florestas tropicais existentes. Essa rica variedade de plantas e animais, ou a biodiversidade, pode fazer do Brasil uma potência verde.
O que é essa tal de biodiversidade? Em poucas palavras, é a vida que nos rodeia, de organismos que fertilizam o solo a florestas que fornecem chuva para regar culturas agrícolas. Essa complexa rede de vida nos nutre, nos veste e provê a base para nossas economias. Somos totalmente dependentes dela.
A biodiversidade está em risco. O mundo não conseguirá atingir a meta global de conter a perda de biodiversidade até 2010.
Continuamos a perder espécies a taxas nunca antes vistas. Se formos reverter essa tendência, precisamos trabalhar contra os vetores de perda e transversalizar o tema em políticas públicas.
Muitas pessoas estão trabalhando para transformar esses desafios em oportunidades.
Em recente visita ao Acre, vi como o Estado busca integrar crescimento econômico, proteção do meio ambiente e inclusão social.
Vi a fábrica de preservativos feitos do látex de seringueiros locais, a produção de pisos e telhas com madeira certificada e projetos de geração de renda por meio da produção de castanhas e frutas -tudo sem desmatar ilegalmente.
Devemos continuar o trabalho para proteger a biodiversidade e os ecossistemas: fortalecer as áreas protegidas, avaliar a contribuição delas para nossas economias e apoiar pesquisa científica para entender melhor como conservá-los.
A preservação da biodiversidade e a estabilidade do clima são intrinsecamente ligadas, especialmente no Brasil. O chamado mecanismo de redução de emissões por desmatamento e degradação (REDD) poderá evitar emissões e ao mesmo tempo conservar a biodiversidade e reduzir a pobreza de pessoas que dependem diretamente das florestas para sua sobrevivência.
O maior desafio no Brasil é o gerenciamento sustentável do uso da terra, o que inclui a sustentabilidade do setor agrícola. Pesquisas de ponta da Embrapa e técnicas como o plantio direto prometem fortalecer a produção agrícola e promover ganhos ambientais.
O desafio será fazê-lo ao mesmo tempo em que se protegem a Amazônia e o cerrado.
Vinte e dois de maio foi o Dia, e 2010 é o Ano Internacional da Biodiversidade. Datas importantes para que reflitamos sobre o valor que atribuímos aos frágeis ecossistemas da Terra. Eles estão sob ameaça. Ao ameaçá-los, estamos colocando em risco nosso bem-estar e nossa prosperidade.
Em outubro, no Japão, haverá a décima reunião da Convenção sobre Diversidade Biológica.
O Reino Unido espera que cheguemos a um acordo quanto a uma nova meta global de redução da perda de biodiversidade e ao estabelecimento de um regime internacional sobre acesso à biodiversidade e repartição dos benefícios que dela derivam.
Esperamos poder continuar trabalhando com o Brasil para assegurar a conservação e o uso sustentável da biodiversidade global.
ALAN CHARLTON é embaixador do Reino Unido no Brasil.

Friedrich Nietzsche

"Não é a força, mas a constância dos bons sentimentos 
que conduz os homens à felicidade."

Friedrich Nietzsche

Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu a 15 de outubro de 1844 em Röcken, localidade próxima a Leipzig. Leia a biografia completa aqui: http://www.mundodosfilosofos.com.br/nietzsche.htm

Patti Austin Quincy Jones "Betcha 'Wouldn't Hurt Me"

O papel dos emergentes na nova ordem global

O papel dos emergentes na nova ordem global


Os EUA necessitam de novos parceiros para que o século 21 se transforme no período em que a maioria das pessoas desfrutará de paz e de padrões satisfatórios de vida

Richard N.Haass, Project Syndicate

Estamos atravessando um longo período de transição internacional, iniciado há mais de duas décadas, com o fim da Guerra Fria. A era de rivalidade estratégica entre EUA e União Soviética deu lugar a uma outra, em que os americanos passaram a ter um poder muito maior do que qualquer outro país e a desfrutar de um grau de influência sem precedentes.
Esse momento unipolar americano vem abrindo caminho para um mundo descrito como não polar, em que o poder está amplamente distribuído entre os 200 Estados e dezenas de milhares de atores não estatais, da Al-Qaeda à Al-Jazira e do Goldman Sachs às Nações Unidas.
Mas o que distingue uma era da outra é menos a distribuição do poder e mais o grau de ordem entre e dentro dos Estados. A ordem nunca emerge simplesmente. Ela resulta dos esforços conscientes das entidades mais poderosas do mundo.
Nova era. Embora os EUA ainda sejam o país mais poderoso do mundo, sozinho ele não consegue manter, muito menos expandir, a paz e a prosperidade internacionais. As exigências são muitas, ele depende de enormes importações de dólares e petróleo diariamente e suas Forças Armadas estão engajadas em conflitos no Afeganistão e no Iraque. Os EUA carecem de recursos e de consenso político para assumir, de maneira muito mais vigorosa, as responsabilidades globais. E não têm os meios para compelir os outros a seguir sua liderança.
Além disso, problemas contemporâneos - como impedir a propagação de materiais e armas de destruição em massa, manter uma economia mundial aberta, conseguir reduzir o problema das mudanças climáticas e combater o terrorismo - não podem ser administrados, muito menos solucionados, por um único país. Somente um esforço coletivo poderá fazer frente a desafios comuns a todos - quanto mais global a resposta, maior a probabilidade de sucesso.
Em resumo, os EUA necessitam de parceiros para que o século 21 se torne uma era em que a maioria das pessoas de todo o mundo desfrute de uma paz relativa e de padrões satisfatórios de vida. No entanto, as parcerias que prevaleceram durante a Guerra Fria - entre EUA, Europa Ocidental e diversos países asiáticos, incluindo Japão, Coreia do Sul e Austrália - já não são as adequadas. Esses países não possuem os recursos e, muitas vezes, a boa vontade para procurar resolver os problemas do mundo.
Assim, os velhos parceiros precisam de novos. E as potências emergentes têm potencial para atender a essa necessidade. A questão é o que China, Índia, Brasil e outros estão dispostos a fazer com a sua força crescente.
O que torna um país grande não é o tamanho de seu território, de sua população, de seu Exército ou de sua economia, mas a maneira como ele usa seu poder para moldar o mundo além de suas fronteiras. Países com grande vigor, mas que ainda estão se desenvolvendo, geralmente encaram a política externa quase como uma serviçal da política interna e um meio para conseguir acesso a mercados e recursos essenciais para um rápido desenvolvimento.
É uma visão do mundo compreensível, mas míope. As potências emergentes não podem se isolar do que ocorre além de suas fronteiras. Queiram ou não admitir, elas têm uma participação na ordem mundial.
Incentivo. A China, por exemplo, sob muitos aspectos, é o mais importante país emergente. E deseja manter o acesso preferencial aos recursos energéticos do Irã, mas se as aspirações nucleares de Teerã resultarem num conflito, os chineses pagarão muito mais por esses recursos.
A perspectiva de uma ameaça à estabilidade do Oriente Médio, em um contexto mais amplo, e para o fluxo de petróleo, deveria ser um incentivo para a China aprovar sanções mais rigorosas contra o Irã. No entanto, não se sabe ao certo se os líderes chineses reconhecerão o problema e agirão no próprio interesse de seu país no longo prazo.
Não se trata só da China. Questões similares aplicam-se à Índia e ao Brasil. E não são apenas os países emergentes e em desenvolvimento que precisam reavaliar seu enfoque do mundo. Os EUA também.
Embora muito seja dito e escrito sobre os apelos dos EUA para a China tornar-se uma participante global, Pequim simplesmente não assinará embaixo como suporte de um mundo definido pelos americanos. A China quer colaborar no estabelecimento das regras e na criação das instituições que aplicarão essas regras.
Cabe aos EUA trabalhar com a China e outros países para isso, o que exigirá uma aceitação das preferências dos outros e o seu desejo de assumir um papel maior. O poder concedido ao G-20 foi um passo na direção certa, mas muitas outras mudanças são necessárias, incluindo a reestruturação das Nações Unidas, do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, de modo que essas instituições também reflitam a nova distribuição de poder.
Temas. Em troca, novos acertos devem dar ensejo a uma contribuição maior da parte dos países emergentes no tocante a certas questões, como encontrar uma solução para o problema das mudanças climáticas, o custeio das forças de paz e a criação de Estados, a promoção do livre comércio e a condenação dos que apoiam o terror ou desenvolvem armas de destruição em massa.

Os Estados mais fortes desta era, desenvolvidos e emergentes, têm capacidade para chegar a um acordo sobre essas questões-chave do mundo de hoje. Sua disposição para isso determinará quando e como este período de transição global acabará e o que virá em seguida.

É EX-DIRETOR DE PLANEJAMENTO POLÍTICO DO DEPARTAMENTO DE ESTADO DOS EUA

Paixão, em Gazeta do Povo


Sindicato vira negócio lucrativo e País abre um por dia

Sindicato vira negócio lucrativo e País abre um por dia

Entidades de fachada atuam como empresas de terceirização de mão de obra

Lu Aiko Otta e Leandro Colon – O Estado de São Paulo

O imposto sindical, um bolo tributário de quase R$ 2 bilhões formado por um dia de trabalho por ano de toda pessoa que tem carteira assinada, alimenta um território sem lei. Os 9.046 sindicatos que dividem esse dinheiro não são fiscalizados.
Resultado: abrir uma entidade sindical transformou-se em negócio lucrativo no País. Levantamento feito pela reportagem do Estado identificou sindicatos de todos os tipos: de fachada, dissidentes por causa de rachas internos e entidades atuando como empresas de terceirização de mão de obra.
Os dirigentes das centrais admitem que o imposto está por trás da proliferação sindical, o que transforma alguns sindicatos em verdadeiros cartórios. A reportagem constatou ainda que, só neste ano, o Ministério do Trabalho registrou um novo sindicato a cada dia, 126 no total, o que revela uma indústria debaixo da chamada liberdade sindical garantida pela Constituição.
A proliferação acirrou-se a partir de 2008, quando o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu formalizar as centrais - a fatia do bolo que elas recebem é proporcional ao número de entidades filiadas. E tudo ficou mais fácil quando Lula decidiu que as centrais não precisam prestar contas do dinheiro que recebem.
"Parte dos sindicatos é constituída sem representatividade, só com o objetivo de arrecadar os recursos dos trabalhadores através das taxas existentes", admitiu o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique da Silva Santos. "Está havendo desmembramento de sindicatos, muitos deles artificiais e piratas", concorda Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT) e do Sindicato dos Comerciários de São Paulo. "É o banditismo sindical."
Meio de vida. Estima-se que metade dos sindicatos em operação no País tem como função apenas o recebimento de tributos. Dirigir uma entidade passou a ser meio de vida de algumas pessoas, como no caso de Djalma Domingos Santos.
Ele dirige um sindicato que faz intermediação de mão de obra para empresas do agronegócio. Os abusos são tão flagrantes que a entidade está sob investigação do Ministério Público do Trabalho. Santos também preside sindicatos de trabalhadores da movimentação de mercadorias em pelo menos cinco cidades.
"Não é impossível, mas é pouco provável", disse o secretário-adjunto de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho, André Luis Grandizoli, ao ser questionado sobre como uma pessoa pode presidir tantos sindicatos ao mesmo tempo - e todos devidamente registrados. "Não temos como avaliar."
Ainda segundo Grandizoli, o governo evita qualquer ação que possa parecer interferência na atividade sindical: "Temos de observar a Constituição, que garante a liberdade sindical."
Debaixo desse guarda-chuva constitucional, a criação de sindicatos galopa. O Ministério do Trabalho requer apenas "um mínimo de democracia" no processo de abertura, como disse Grandizoli. É preciso realizar uma assembleia, convocada em jornal de grande circulação e no Diário Oficial, para pedir a formalização. A candidatura da entidade a um registro formal, que lhe dará acesso ao imposto sindical, é submetida a uma audiência pública por 30 dias.
A checagem da documentação do futuro sindicato é apenas formal. Nenhum fiscal verifica, por exemplo, se o endereço informado existe. As investigações sobre irregularidades com o dinheiro do imposto sindical são feitas pelo Ministério Público e pela Polícia Federal, informou Luiz Antônio de Medeiros, ex-secretário de Relações do Trabalho.
Veto. A frouxidão com que os sindicatos são acompanhados pelo governo não é recente. O banco de dados do Ministério do Trabalho sobre entidades sindicais só foi criado em 2005. Segundo Grandizoli, houve um período, no final da década de 1990, em que os sindicatos nem eram registrados no ministério, pois a legislação é vaga a esse respeito.
A Constituição diz que "a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização sindical." Não está claro se o órgão competente para registro é o Ministério do Trabalho.
Essa mesma passagem da Constituição foi a base do veto que Lula impôs ao artigo 6º da Lei 11.648, que regulamentou as centrais sindicais. O texto previa a prestação de contas do dinheiro da contribuição sindical ao Tribunal de Contas da União (TCU). Mas o Planalto considerou o artigo inconstitucional, por representar uma interferência do Poder Público nas centrais. Posteriormente, o Congresso confirmou o veto.
Ao serem formalizadas, as centrais passaram a disputar uma fatia de até 10% da contribuição sindical. De acordo com dados do Ministério do Trabalho, no ano passado elas receberam R$ 81 milhões. A maior fatia, de R$ 26,8 milhões, foi para a CUT.
As centrais sindicais tiveram papel fundamental no apoio a Lula durante o escândalo do mensalão. Prometeram tomar as ruas caso prosperasse a ameaça de impeachment do presidente.

O impacto da biologia sintética

O impacto da biologia sintética
Divulgação do primeiro genoma criado em laboratório é alvo de debates entre cientistas
Edição Online - 21/05/2010 http://www.revistapesquisa.fapesp.br/

Uma verdadeira revolução científica ou grande feito tecnológico? Essa era a grande questão um dia após uma equipe do J. Craig Venter Institute, dos Estados Unidos, ter anunciado a criação do primeiro genoma totalmente sintético, composto de um milhão de unidades químicas (as bases A,T, C e G). Criado em laboratório a partir de uma sequência química fornecida por um computador, o genoma foi transferido para a célula de uma bactéria (Mycoplasma mycoides), onde assumiu o lugar do DNA original do micróbio e passou a controlar toda a produção de proteínas e o processo de replicação do microrganismo. O trabalho, que foi publicado online ontem no site da revista cientítica Science e obteve enorme repercussão nos meios de comunicação de todo o mundo, consumiu mais de uma década de pesquisa, recebeu investimentos da ordem de U$ 40 milhões e envolveu 20 cientistas.
Para o pai do genoma sintético, o ousado e polêmico cientista Craig Venter, o trabalho é um marco na biologia e vai abrir caminho para o desenho de micróbios úteis aos homem, capazes de, por exemplo, produzir vacinas e biocombustíveis. "Trata-se de um avanço tanto filosófico como técnico", disse Venter, que, anos atrás, já havia se tornado famoso ao liderar um projeto privado de sequenciamento do genoma humano. Na entrevista que deu para divulgar o trabalho, ele disse que a célula sintética da bactéria é "a primeira espécie que se autorreplica do planeta cujo pai é um computador". O genoma criado em laboratório é quase igual ao DNA original da própria bactéria: tem aproximadamente 400 genes, 100 a menos do que tem naturalmente a Mycoplasma mycoides. Genes que não eram considerados essenciais para o micróbio foram descartados pelos cientistas em seu trabalho de montar um genoma sintético.
Pesquisadores não ligados à pesquisa desenvolvida por Venter se dividiram em relação à importância do DNA sintético que comanda a vida de uma bactéria.  Alguns teceram loas ao feito. Outros tentaram relativizá-lo. Esse foi o caso do Prêmio Nobel de Medicina de 1975, o americano David Baltimore, do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech). "Para mim, Craig exagerou um pouco a importância do trabalho", dissa Baltimore ao jornal The New York Times. Ele acredita que a criação do genoma sintético foi mais "tour de force técnico", uma questão de escala, do que uma descoberta científica revolucionária. "Ele não criou vida, apenas a imitou". De qualquer forma, é inegável que o trabalho de Venter sinaliza um aumento da capacidade de o homem manipular o DNA de organismos. Por tratar de um tema polêmico, capaz de criar novos dilemas morais, o artigo científico de Venter na Science levou ontem mesmo o presidente norte-americano Barack Obama a encomendar um estudo à comissão de bioética da Casa Branca, que terá seis meses para produzir um relatório sobre as implicações éticas da biologia sintética.

Foto: Imagem de microscopia eletrônica que mostra a bactéria com genoma sintético se replicando.© M. ELLISMAN/NCMIR, UNIVERSITY OF CALIFORNIA, SAN DIEGO

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