sexta-feira, agosto 06, 2010

Operação Pipa será suspensa neste sábado no Ceará

Operação Pipa será suspensa neste sábado no Ceará
A paralisação é em decorrência do atraso do repasse de verba do Ministério da Integração Nacional

Iguatu. A partir de amanhã a Operação Pipa será novamente suspensa no Ceará. Essa é a terceira paralisação verificada neste ano. Ontem, em algumas localidades a distribuição de água já foi suspensa. Nesta etapa, são 78 municípios cadastrados no programa. A suspensão temporária é em decorrência do atraso do repasse de verba destinada ao pagamento dos carros-pipas, pelo Ministério da Integração Nacional para o Exército.
"Até ontem, não tínhamos informações de liberação de recursos, mas temos a esperança de que essa decisão ocorra na próxima semana", disse o coronel Luiz José Silveira Benício, chefe do escritório da 10ª Região Militar, que coordena o programa. Nas localidades assistidas pelo programa a água armazenada nas cisternas deverá ser suficiente para atender a demanda por mais quatro ou cinco dias.
No Ceará, a Operação Pipa atende a 78 municípios com 496 caminhões contratados pelo Exército. São mais de 7500 pontos de entrega de água. Algumas rotas de distribuição de água foram suspensas nos últimos dois dias. Ontem, pela manhã, a coordenação do programa não tinha o levantamento completo dessas localidades. A suspensão, mesmo temporária, trouxe preocupação para as coordenadorias municipais de Defesa Civil e Prefeituras.
O coronel Benício disse que, a partir de amanhã, um maior número de carros-pipas vai suspender a distribuição de água. "Infelizmente, essa é a realidade atual, mas acreditamos que, na próxima semana, os recursos referentes aos meses de agosto e setembro já solicitados serão liberados. Houve entraves burocráticos e o atraso na liberação da verba prejudica a população que necessita de água".
Na avaliação do militar, a demanda de recursos para atendimento às vítimas das cheias verificadas em Alagoas e Pernambuco, nos meses de junho e julho passados, contribuiu para o atraso da verba destinada à Operação Pipa.
Diariamente, a coordenação regional do programa permanece em contato com o Comando Militar do Nordeste em Recife e com o Comando de Operações Terrestres em Brasília com o objetivo de obter informações sobre a liberação dos recursos. "O nosso esforço é para que o programa não sofra interrupção", disse o coronel Benício. "A nossa esperança é que os recursos sejam liberados na próxima semana", diz novamente.
Nos últimos três dias, o comando da Operação Pipa deu prioridade para o abastecimento das comunidades rurais que estavam com as cisternas vazias, alterando a rota anteriormente planejada. A ideia era deixar água para os próximos três ou quatro dias. "Quem enfrenta a necessidade de água não entende o porquê do atraso provocado pelos entraves burocráticos ou por outras necessidades urgentes com as enchentes de Alagoas e Pernambuco", disse o coronel Benício. "Trabalhamos constantemente sobre pressão e somos cobrados por Prefeituras e pelas famílias que carecem de água".
A verba a ser liberada pelo Ministério da Integração Nacional para a 10ª Região Militar vai manter a Operação no Ceará, Piauí e Tocantins. Para os meses de agosto e setembro foram solicitados R$ 16,5 milhões. O programa necessita por mês de cerca de R$ 20 milhões, mas a demanda por carros-pipas a partir de agosto será crescente.

Fique por dentro
Abastecimento

A operação Pipa é um programa, operacionalizado pelo Exército, de distribuição de água para comunidades rurais localizadas no semiárido nordestino que enfrentam desabastecimento por causa da seca. Essa água deve ser usada apenas para consumo humano. A distribuição é feita por caminhões pipa contratados pelo Exército. A área de abrangência da Operação Pipa da 10ª Região Militar estende-se aos Estados do Ceará, Piauí e Tocantins. O atraso no repasse de verba por parte do Ministério da Integração Nacional ocorre com frequência e, por isso, o programa sofre descontinuidade. Neste ano, a Operação Pipa foi desativada em março e em junho e agora em agosto sofreu nova descontinuidade. A definição dos locais a serem atendidos pela operação é feita pela Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec), em parceria com a Defesa Civil dos municípios, depois de solicitação das prefeituras. As informações são repassadas ao Ministério da Integração Nacional, que repassa os recursos.

MAIS INFORMAÇÕES
Coordenadoria Estadual de Defesa Civil do Ceará
(85) 3101.4571
10ª Região Militar: (85) 3255. 1702

Antônio Vicelmo
Repórter

Sérgio Paulo, para o Jornal Monte Roraima

Unesco lança a campanha "Um Livro Para Uma Criança no Haiti"

Unesco lança a campanha "Um Livro Para Uma Criança no Haiti"

A Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) lançou uma campanha de arrecadação de livros para as crianças haitianas. Por meio do projeto "Um Livro para Uma Criança no Haiti", doações são enviadas para os campos de deslocados internos da ilha caribenha.
A proposta da agência da ONU é um esforço de recomeçar o processo de aprendizado dos jovens do país, uma vez que escolas e bibliotecas foram destruídas pelo terromoto de janeiro.

Doações
A Unesco está coletando livros em francês (idioma oficial do Haiti) entre os funcionários, amigos e editores. No começo deste mês, um carregamento com 800 publicações foi enviado para a capital haitiana, Porto Princípe.
Os romances, contos e histórias em quadrinhos são oferecidos para crianças entre três e 17 anos de idade, como uma distração para amenizar a dura realidade enfrentada por eles e como uma oportunidade para a leitura.
Paris A agência também sugere aos pais e comunidades do Haiti a encorajar as crianças ao hábito da leitura e da escrita, para que eles não percam o que já haviam aprendido antes do terremoto.
A Unesco irá pedir ainda a estudantes de Paris, onde fica a sede da organização, para doarem livros no início do ano letivo, em setembro. Os jovens franceses poderão escrever mensagens de solidariedade nos livros doados.

Nepotismo versus súmula

TENDÊNCIAS/DEBATES

Nepotismo versus súmula
ANDRÉ RAMOS TAVARES – Folha de São Paulo
A fragilidade ou debilidade prática de algumas súmulas indica que só deveriam surgir em entendimentos realmente consolidados do Supremo
Após editar a súmula vinculante (SV) nº 13, amplamente aplaudida pela sociedade, vedando a prática do nepotismo, o Supremo Tribunal Federal (STF) assiste à retomada do tema. No novo cenário, permanece a corte como protagonista principal, embora desta feita na posição paradoxal de detratora da súmula.
Em interpretação possível, porém gramaticalmente superficial, a SV 13 estaria a proibir toda e qualquer contratação de parentes até o terceiro grau para cargos em comissão ou de confiança, o que teria sido desprezado pela contratação de casal para cargos de confiança na presidência do STF.
O que o caso exibe ao público é, em realidade, a persistência do período de experimentação e ajustamento que um novo e tão diferenciado instituto vivencia. Não há culpados a serem apontados nem violação a ser alardeada.
A súmula vinculante resulta de construção brasileira (2004), inovadora, que permite ao STF editar enunciados com o objetivo de padronizar (vincular) as decisões, judiciais e administrativas, posteriores sobre o tema, em todo o país e para todos os cidadãos. É um imponente instrumento contra a fragmentação do direito.
Seria ingenuidade acreditar que um instituto desse calibre, inusitado na história brasileira, pudesse ser realizado integralmente sem percalços ou necessidade posterior de reestruturação.
O problema, agora, não está apenas no significado do nepotismo, mas, sobretudo, na consolidação do instituto da súmula vinculante; mazelas práticas da formatação atual foram reveladas e não sendo, como efetivamente não é, o caso de eliminação do instituto, um aprimoramento se impõe.
A fraqueza ou debilidade prática de algumas súmulas (poderíamos citar também o caso da súmula do uso das algemas) indica que só deveriam surgir nos entendimentos amplamente amadurecidos e realmente consolidados do STF.
Seria justo aguardar deste, doravante, que assumisse o caminho da edição de súmula em termos muito precisos e específicos, com referência a hipóteses mais nítidas e ampla fundamentação, diferenciando-a de normas extremamente abstratas, como são as leis.
Não se deve pensar na súmula como "carte blanche" para o STF expedir normas, nem deve o tribunal prestar-se ao papel de legislador, com todas as dificuldades que essa tormentosa atividade envolve. Uma proposta viável é que seja usada mais intensamente para a defesa dos direitos humanos, cumprindo papel pedagógico na construção de rotinas e práticas administrativas sensíveis à cidadania.
Esta é, porém, opção política do STF. Portanto, a súmula a ser editada não pode ser ponto de partida de uma longa cadeia de discussões.
Isso vai de encontro à Constituição, deturpando o mecanismo. A súmula há de ser ponto de chegada, de uma longa jornada pelo aperfeiçoamento e unidade do direito, quando questões já amplamente debatidas e discutidas no seio do Judiciário encontram na súmula seu repositório natural.
Desde que determinada súmula seja o ponto inicial de sérias divergências, estará comprovada a precariedade de sua edição.
ANDRÉ RAMOS TAVARES, livre-docente em direito constitucional pela USP, é professor de direito constitucional da PUC-SP, diretor do Instituto Brasileiro de Estudos Constitucionais e autor da "Nova Lei da Súmula Vinculante" (3ª ed., GEN Editora).

Só tinha de ser com você - Elis Regina

Aniversário de bomba em Hiroshima tem pela 1ª vez representante dos EUA

Aniversário de bomba em Hiroshima tem pela 1ª vez representante dos EUA

Líderes mundiais pedem não-proliferação das armas nucleares durante evento no Japão para lembrar 65 anos da primeira bomba atômica.
Os esforços para o fim da proliferação das armas nucleares pôde ser visto nesta sexta-feira, em Hiroshima, no Japão, durante a cerimônia que lembrou os 65 anos do primeiro ataque à bomba atômica contra um país.
Um recorde de representantes, vindos de 74 países, acompanhou a cerimônia no Parque Memorial da Paz, o que simbolizou, segundo a mídia japonesa, um interesse internacional por um mundo sem armas nucleares.
O ato contou também com as presenças inéditas de uma autoridade norte-americana, o embaixador dos Estados Unidos no Japão, John Ross, e de um chefe das Nações Unidas, o secretário-geral Ban Ki-moon.
No seu "discurso pela paz", o prefeito local, Tadatoshi Akiba, pediu o fim das armas nucleares e sugeriu ao governo japonês que lidere essa luta.
O primeiro-ministro Naoto Kan engrossou o coro e disse que espera que o desejo dos japoneses de nunca mais ver as dores causadas pelas armas nucleares "alcance o coração das pessoas de todo o mundo". "As armas nucleares não devem causar sofrimento nunca mais."
O secretário-geral da ONU seguiu a mesma linha e admitiu que o "único caminho sensato para um mundo mais seguro" é o fim das armas de destruição em massa. "Enquanto existirem armas atômicas, viveremos sob uma sombra nuclear", enfatizou.
Ban disse ainda que espera que sua presença na cerimônia sirva de mensagem "animadora" para o mundo.
Ataque nuclear
Exatamente às 8h15 (na hora local), milhares de pessoas que acompanharam a cerimônia fizeram um minuto de silêncio em memória às vítimas da bomba.

O horário foi o momento exato em que a primeira bomba atômica, lançada em 1945 pelo avião norte-americano Enola Gay, atingiu a cidade de Hiroshima.
O ataque matou cerca de 140 mil pessoas. Três dias depois, os Estados Unidos voltaram a lançar uma bomba, desta vez sobre Nagasaki, matando perto de 74 mil japoneses.
Os bombardeios levaram o Japão à rendição em 14 de agosto de 1945 e puseram fim à Segunda Guerra Mundial.
Os brasileiros que vivem no Japão também participaram dos eventos realizados por todo o país em memória das vítimas da guerra. Numa escola brasileira de Ota, província de Gunma, estudantes ouviram o relato de um ex-combatente, Kiyoharu Shimizu, de 82 anos.
Ele, que na época tinha 16 anos, contou aos alunos brasileiros como conseguiu sobreviver em meio a vários bombardeios e à intensa fome. "Muitos alunos choraram durante o depoimento", contou a diretora da escola Joana Faustino Ishii.

100 candidaturas devem ser barradas pela Ficha Limpa

Regra eleitoral
100 candidaturas devem ser barradas pela Ficha Limpa
Em todo o país, pelo menos 100 pessoas deverão ter a candidatura barrada pela Lei da Ficha Limpa. A previsão é do Tribunal Superior Eleitoral. Até o momento, das 1.030 candidaturas indeferidas, pouco mais de 70 referem-se à nova lei. “É um número esperado por todos nós. A lei vai promover o saneamento nas candidaturas. Mas, estamos tratando de um universo pequeno de candidatos”, disse o presidente do TSE, Ricardo Lewandowski, em entrevista à Agência Brasil e à TV Brasil.
Segundo o ministro, com a entrada em vigor da lei, os próprios partidos se tornaram um filtro dos candidatos condenados por órgãos colegiados e que, portanto, tornaram-se inelegíveis pela regra da Ficha Limpa. Os indeferimentos das candidaturas nos Tribunais Regionais Eleitorais podem ser questionados no TSE e, em último caso, no Supremo Tribunal Federal.
A lei também impede a candidatura de políticos que renunciaram a mandatos para fugir de processos de cassação, como o ex-senador Joaquim Roriz (PSC-DF). Ele teve a candidatura a governador negada pela Justiça Eleitoral.
Nesses casos, o ministro Lewandowski é prudente ao fazer uma avaliação. Segundo ele, é necessário analisar caso a caso o motivo da renúncia. “É preciso verificar se a renúncia se deu por motivos legítimos ou para escapar de punição”, disse. No TSE, os recursos sobre indeferimento de candidaturas deverão ser julgados até o dia 19 deste mês.
Quanto aos questionamentos sobre a constitucionalidade da Ficha Limpa, especialmente em relação à sua retroatividade e entrada em vigor, Lewandowski se apressou em dizer que a lei obedece aos princípios constitucionais. Na definição da data de validade da nova regra, os ministros do TSE se basearam em jurisprudência do STF sobre a Lei de Inelegibilidade.
Os ministros usaram o mesmo entendimento da época, o de que não seria preciso adotar o critério de anualidade, que estabelece que leis eleitorais só podem entrar em vigor um ano após a sua aprovação. Eles também determinaram que políticos que ainda estão respondendo a processo sejam barrados pela lei.
Lewandowski explicou que a Ficha Limpa não impõe uma sanção ao candidato, apenas cria um requisito: não ter sido condenado por órgão colegiado. Por isso, os princípios da anualidade e da não retroatividade são desnecessários nesse caso.

Tiago Recchia, para Gazeta do Povo

Isolamento traz riscos a plantas remanescentes da Mata Atlântica

06/08/2010 14h07 

Isolamento traz riscos a plantas remanescentes da Mata Atlântica

Trabalho na região de Ilha Solteira busca evitar empobrecimento genético.
Se respeitado, Código Florestal de 1965 garantiria ligação entre florestas.

Igor Zolnerkevic Da ‘Unesp Ciência’
G1 publica abaixo, com exclusividade, reportagem da 11ª edição da revista “Unesp Ciência”.Clique aqui para ter acesso ao conteúdo completo da edição.
A árvore ao lado, um capitão-do-campo, é uma sobrevivente. Uma das poucas que restaram de uma mata que cobria toda a região às margens da Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira, no Rio Paraná. Rica em biodiversidade, a área é o ponto de encontro entre dois grandes biomas brasileiros. No lado sul-mato-grossense do rio começa o Cerrado; na margem paulista, termina a Mata Atlântica. Mas com o avanço da agricultura e da pecuária, além da própria construção da usina na década de 1960, restaram poucos exemplares para comprovar essa exuberância.
A história seria essa, não fosse o trabalho de pesquisadores como Mário Luiz Teixeira de Moraes, engenheiro agrônomo da Unesp de Ilha Solteira. Completamente isolado, esse capitão-do-campo (Terminalia argentea) não teria como deixar descendentes, e seu patrimônio genético estaria condenado. Mas Moraes e colegas têm coletado sementes de árvores solitárias como esta à beira de rodovias, de cursos d’água e em pastagens, e também de espécimes localizados em fragmentos florestais da região, para plantá-las e cultivá-las na Fazenda de Ensino, Pesquisa e Extensão (Fepe) da Unesp, em Selvíria (MS).
Ao impedir que as espécies desapareçam de vez, os bosques plantados funcionam como uma espécie de arquivo vivo que preserva a diversidade genética de populações cuja maioria está ameaçada ou nem sequer existe mais. “Quero ter a base genética das espécies nativas”, diz Moraes, que brinca comparando seu trabalho ao de um marciano que capturasse pessoas em Ilha Solteira para ter uma amostra significativa da variação genética dos seres humanos que vivem na cidade.
Outro objetivo do projeto é avaliar o impacto da fragmentação das florestas na diversidade dos remanescentes. As análises até o momento confirmam as piores previsões das teorias de genética de populações: o isolamento aumenta os cruzamentos entre árvores com parentesco próximo, e as novas gerações são mais pobres geneticamente, e, portanto, mais vulneráveis à extinção.
Flor de caliandra com cores atraentes para agentes polinizadores. (Foto: Guilherme Gomes / Unesp Ciência)
Moraes faz as coletas desde 1980 em uma área num raio de 400 km ao redor da fazenda. Ele nunca pega sementes do chão, só direto das árvores-mãe. Assim, sabe quais são aparentadas e pode estudar a influência da genética e do ambiente nas características das árvores durante seu desenvolvimento. Ao longo do tempo ele acompanha dados como altura, diâmetro e volume do tronco, a arquitetura dos galhos, o tamanho das folhas, a taxa de sobrevivência etc.
Esse trabalho de coleta específica e cultivo de sementes de árvores é conhecido como “teste de progênies”. A técnica, que foi desenvolvida para conservar e avaliar o “pedigree” de espécies cultivadas pela indústria, como pinheiros e eucaliptos, começou a ser aplicada a árvores nativas do Brasil apenas nos anos 1970.
Moraes vem sofisticando seus testes com a ajuda de dois jovens pesquisadores do Instituto Florestal, os engenheiros florestais Miguel Luiz Menezes Freitas e Alexandre Magno Sebbenn, que analisam a genética dos bosques plantados e das populações naturais de onde as árvores vieram.
Árvores das araras
Na Fepe, há mais de 180 bosques para testes de espécies ameaçadas e de interesse comercial, como paineiras, perobas, ipês, barus, canafístulas, capitães-do-campo, jacarandás-caroba, canudos-de-pito, louro-pardos, gonçalo-alves e copaíbas.
A árvore mais cultivada, porém, é a quase extinta aroeira preta (Myracrodruon urundeuva). Ela é interessante para pesquisa porque faz parte do seleto grupo de espécies de árvores tropicais que têm sexos separados (20% do total). Isso ajuda a avaliar com mais precisão como é feita a dispersão de pólen e sementes.
Agrônomo Mário Moraes, preservador de aroeiras
no País. (Foto: Guilherme Gomes / Unesp Ciência)

As aroeiras masculinas têm flores com estames, de onde sai o pólen que pega carona nas abelhas para fecundar as flores das aroeiras femininas. Na estação seca, quando as folhas caem, as flores viram sementes com asas, que são dispersas pelo vento e às vezes por aves (a palavra “aroeira” significa “árvore da arara”). A árvore foi sistematicamente derrubada ao longo dos anos por sua madeira de excelente qualidade – sua resistência, quando adulta, é quase três vezes maior que a do concreto. Mas para o tronco atingir esse estágio são necessários mais de 200 anos.
Para descobrir o impacto dessa exploração nos remanescentes da árvore no Estado de São Paulo, os pesquisadores tiveram de olhar para longe. Parte das aroeiras plantadas na Fepe veio de sementes coletadas a mais de 200 km dali, na Estação Ecológica de Paulo de Faria, em Paulo de Faria (SP). O local tem a maior floresta do noroeste paulista, mas a equipe percebeu que lá as árvores estão perigosamente isoladas.

"Como temos as coordenadas de todas as árvores, no momento em que descobrimos quem é a mãe de um juvenil, sabemos a distância que a semente percorreu até se estabelecer. E quando também encontramos quem é o pai, a distância entre ele e a mãe nos diz quanto o pólen percorreu."
Alexandre Magno Sebbenn, engenheiro do Instituto Florestal
A pesquisa foi feita no doutorado da agrônoma Ana Paula Gaino, sob orientação de Sebbenn, e teve os resultados publicados em fevereiro na revista Conservation Genetics. A dupla, juntamente com Moraes, Freitas e outros colegas, vasculhou os 435 hectares da estação. “Para o experimento funcionar, tem de mapear tudo, sem deixar escapar nenhum indivíduo fértil da espécie”, explica Sebbenn.
O grupo encontrou 467 espécimes, a maioria concentrada em uma área de 142 hectares. Eles registraram a posição e coletaram o material genético nas folhas das árvores adultas, que nasceram muito antes da fragmentação, e nas folhas dos 149 “filhotes” de árvores, ou juvenis, que nasceram após a fragmentação da floresta.
Também coletaram 514 sementes de 30 árvores adultas e as plantaram na Fepe, no esquema de teste de progênies, para depois extrair material genético das folhas das mudas. Extrair DNA das sementes é difícil, entre outros motivos porque é complicado separar tecido do embrião do tecido da mãe. De volta ao laboratório, eles fizeram a comparação de cinco regiões do DNA dos adultos, juvenis e progênies, em um trabalho que custou R$ 100 mil, financiados por Fapesp e CNPq.
Teste de paternidade
A análise do DNA funciona como teste de paternidade e maternidade para os juvenis e como teste de paternidade para as progênies (as mães delas são obviamente conhecidas – as árvores de onde foram coletadas as sementes). São as “árvores genealógicas” resultantes desses testes de parentesco que permitem aos pesquisadores descobrirem como anda a dispersão de pólen e sementes na floresta.
Antes da análise genética, os pesquisadores dependiam de modelos aproximados para estimar essa dispersão. “Agora vamos lá e medimos diretamente”, diz Sebbenn. “Como temos as coordenadas de todas as árvores, no momento em que descobrimos quem é a mãe de um juvenil, sabemos a distância que a semente percorreu até se estabelecer. E quando também encontramos quem é o pai, a distância entre ele e a mãe nos diz quanto o pólen percorreu.”
Pimenta-do-macaco, com fruto espalhado por animais. (Foto: Guilherme Gomes / Unesp Ciência)
Os pesquisadores descobriram que mais da metade das sementes de aroeira se estabeleceu a menos de cem metros da árvore-mãe, apesar de algumas terem viajado até 739 metros. O pólen que originou os juvenis alcançou distâncias entre 3 e 903 metros, e o que originou as progênies entre 3 e 890 metros, sendo que mais da metade do pólen nos dois casos não viajou mais que duzentos metros. Sebbenn acredita que esses números devem variar muito de ano para ano. “No próximo ano pode haver mais ou menos chuva, vento e abelhas, e o resultado será diferente”, diz. “Essa é a principal deficiência da pesquisa: ela devia ser repetida por alguns anos.”
As mães de todos os juvenis foram encontradas, o que significa que nenhuma semente que deu origem a eles veio de fora da estação ecológica. Já em relação aos pais, eles não foram identificados em apenas 3% dos juvenis e em 2% das progênies, o que levou os pesquisadores a concluírem que se há pólen vindo de outros fragmentos de floresta para a estação, é em quantidade muito baixa. O ideal seria em torno de 10%. De acordo com Sebbenn, esse isolamento não é saudável.

"Em florestas contínuas, as populações mesmo afastadas vão crescendo e trocando genes entre elas. Mas se não aparece de vez em quando uma semente de fora ou se vem pouco pólen vindo de uma população vizinha, o parentesco dentro da população cresce muito rápido."
Alexandre Magno Sebbenn, engenheiro do Instituto Florestal
Quando a floresta era contínua, sempre havia boas chances de uma abelha acabar voando mais longe que de costume, trazendo consigo pólen de outras populações, ou de um pássaro ou mamífero depositar sementes de outras bandas. A fragmentação interrompeu esse processo. “Em florestas contínuas, as populações mesmo afastadas vão crescendo e trocando genes entre elas”, explica Sebbenn. “Mas se não aparece de vez em quando uma semente de fora ou se vem pouco pólen vindo de uma população vizinha, o parentesco dentro da população cresce muito rápido.”
Essa perda de diversidade genética também foi observada pelos pesquisadores em uma população de outra espécie de árvore ameaçada, a copaíba (Copaifera langsdorffii), fonte do óleo largamente usado nas indústrias cosmética e farmacêutica. Assim como a aroeira, a copaíba é polinizada por abelhas, tem vida longa – de até 400 anos –, e uma madeira bastante desejada. A diferença é que a espécie, assim como ocorre com a maior parte das árvores tropicais, é hermafrodita e tem as sementes dispersas por animais.
Os pesquisadores, colaborando com o mestrado de Ana Cristina Carvalho, analisaram a diversidade genética das 112 copaíbas adultas e dos 128 juvenis do Bosque Municipal de São José do Rio Preto, um fragmento florestal de apenas 4,8 hectares dentro da cidade. O trabalho, publicado na revistaHeridity em fevereiro, em co-autoria com Céline Jolivet, do Instituto de Genética de Florestas, em Grosshansdorf, Alemanha, revelou que quase metade das variedades de DNA observadas eram exclusivas dos adultos. “A nova geração já não representa toda a diversidade genética de seus pais”, diz Sebbenn, que orientou o trabalho. “Perdemos variedades que a evolução levou milhares de anos para selecionar.” Essa 'erosão' genética faz com que a espécie perca a flexibilidade para lidar com as mudanças na paisagem e no clima atuais, condenando-a à extinção.
Para piorar a situação, os pesquisadores observaram tanto nas aroeiras quanto nas copaíbas que os juvenis vizinhos são praticamente todos irmãos ou meio-irmãos. É natural que parentes cresçam próximos, uma vez que a tendência é que a maioria das sementes de uma árvore caia no chão e se estabeleça por ali mesmo. Mas esse quadro, em condições ideais, costuma ser contrabalançado pelo ocasional estabelecimento de uma semente “estrangeira”. O isolamento dos fragmentos, porém, diminuiu drasticamente essa possibilidade. “Os adultos já tinham alto parentesco, só que o parentesco entre os descendentes deles é muito maior”, diz Sebbenn.
Essa vizinhança excessivamente familiar aumenta em muito as chances do cruzamento entre parentes próximos, a chamada endogamia. “Os descendentes em geral não são viáveis. Nascem com anomalias como o albinismo, são mais suscetíveis a doenças e acabam morrendo logo. Mesmo quando chegam a se estabelecer, não são férteis”, explica Sebbenn. Logo, a tendência da população é diminuir até desaparecer.

Corredores e trampolins
Esses resultados, juntamente com os de outros estudos recentes de pesquisadores no Brasil e no exterior com as mais diferentes espécies de árvores, reforçam a urgência de se quebrar o isolamento reprodutivo dos fragmentos florestais.
“A tecnologia para instalar os corredores existe, falta apenas vontade política"
Mário Luiz Teixeira de Moraes, engenheiro agrônomo da Unesp de Ilha Solteira

A solução mais sugerida, e que já vem sendo adotada em outros trechos de Mata Atlântica no Brasil, é a criação dos “corredores ecológicos” – faixas de florestas replantadas conectando dois ou mais fragmentos, geralmente na margem de cursos d’água. Além de protegerem contra o assoreamento dos rios, as matas ciliares com a largura adequada são usadas por animais das florestas, muitos deles dispersores de sementes, como caminho para transitarem entre os fragmentos. “O corredor também mantém os insetos, pássaros e morcegos, que fazem a polinização”, explica Moraes.
O isolamento também pode ser quebrado por pequenos bosques entre os fragmentos, como Sebbenn sugeriu após estudar fragmentos nativos de araucárias no Paraná. “Naquele caso, dois trechos separados por dez quilômetros de distância poderiam ser interligados com fragmentos de 2 hectares a cada 2 quilômetros entre eles”, explica. “Tem gente que pensa que fragmentos pequenos de cinco ou dez hectares não fazem falta, mas não é assim; eles podem servir como trampolins.”
Fruto de capitão-do-campo, com forma ideal para ação do vento. (Foto: Guilherme Gomes / Unesp Ciência)
Tanto corredores quanto trampolins estão previstos por lei desde 1965. “Se o Código Florestal [que está sendo revisado no Congresso] tivesse sido respeitado, você não estaria fazendo essa reportagem”, diz. “As florestas estariam interligadas, teríamos um monte de animais ainda [realizando a dispersão de pólen e sementes] e as árvores crescendo fortes e saudáveis”, lamenta o pesquisador.
Os estudos de variedade genética de Moraes e Sebbenn servem de alerta para a plantação de novos corredores e trampolins. “Não adianta coletar milhares de sementes em uma árvore na estrada, fazer mudas e plantar em uma área”, lembra Moraes. Isso faria com que todo o novo bosque fosse composto de irmãos e meio-irmãos, podendo muito rapidamente sucumbir. “Para fundar uma população de árvores viáveis para o futuro é preciso coletar sementes com o menor grau de parentesco possível”, recomenda Sebbenn.
Pedro Brancalion, engenheiro agrônomo da UFSCar, especialista em ecologia de restauração, defende que os estudos também podem ajudar no “enriquecimento genético”. Ele propõe que sejam plantadas mudas em um fragmento vindas de sementes de outros, simulando o que acontecia quando a mata era contínua, dando assim um novo “fôlego genético” às populações
Mata ciliar plantada pelo agrônomo Mário Moraes em 1986, na Fazenda de Ensino, Pesquisa e Extensão (Fepe). O local era um arrozal abandonado em Ilha Solteira. (Foto: Guilherme Gomes / Unesp Ciência)
Se a primeira coisa que Moraes fez questão de mostrar à reportagem foi o solitário capitão-do-campo na porteira da Fepe, a última é um de seus orgulhos, a mata ciliar da fazenda à margem da represa da usina. Onde havia um arrozal abandonado em 1986, hoje fica uma floresta que até parece nativa. Segundo o agrônomo, essa mata ciliar e seus testes de progênies estão funcionando como corredores entre fragmentos originais da região. “A tecnologia para instalar os corredores existe, falta apenas vontade política.”
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“Unesp Ciência” é uma publicação da Universidade Estadual Paulista que traz reportagens sobre os grandes temas da ciência mundial e nacional e sobre as pesquisas mais relevantes que estão sendo realizadas na instituição, em todas as áreas do conhecimento. 

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