domingo, junho 06, 2010

Alejandro Sanz - Corazon Partio

AROEIRA


O discurso e o método

O discurso e o método

DORA KRAMER - O ESTADO DE SÃO PAULO - 06/06/10

Tem alguma coisa fora do lugar nessa história de dossiês e espionagens envolvendo as candidaturas presidenciais do governo e da oposição. O que se diz hoje não bate com o que se falou ontem, os atos não correspondem aos discursos e o caso virou um emaranhado de insinuações e acréscimos de versões desordenadas.Começou, no relato da revista Veja na semana passada, como a reação de um grupo do comando da campanha de Dilma Rousseff à descoberta de um esquema paralelo de produção de dossiês contra adversários (internos e externos).
Foi afastado o profissional (Luiz Lanzetta) apontado como executor das contratações dos serviços e providenciou-se uma reorganização de comando interno em conformidade com o que tinha a aparência de uma nova - e saudável - filosofia vigente.
O assunto parecia encerrado. A oposição, porém, não entendeu assim. Considerou que a existência do grupo e o fato de circularem entre integrantes da campanha papéis com informações financeiras sobre antigos colaboradores e da filha do candidato do PSDB, José Serra, já caracterizavam má-fé.
Além disso, havia o histórico: a tentativa de compra de um dossiê contra ele mesmo na campanha ao governo de São Paulo, em 2006, por um grupo de petistas flagrados pela Polícia Federal com o dinheiro da transação em um hotel perto do Aeroporto de Congonhas, foi um caso. 
O outro, o dossiê sobre os gastos da Presidência da República à época do governo Fernando Henrique, preparado na Casa Civil para ser usado como arma de intimidação aos oposicionistas na CPI dos Cartões Corporativos. Depois de muitas negativas, um subordinado a Erenice Guerra, braço direito de Dilma na Casa Civil, assumiu a autoria e foi afastado.
Com base nesse conjunto, José Serra responsabilizou Dilma Rousseff pela circulação de dossiês no comitê de campanha
Isso na terça-feira. Na quarta, Dilma cancelou entrevista coletiva numa visita a Goiânia para não precisar falar no assunto, José Dirceu foi chamado a Brasília para administrar a "crise" no partido.
No fim daquele mesmo dia Dilma falou com a imprensa para dizer que a acusação de Serra é uma "falsidade" e, no dia seguinte, o presidente do PT anuncia a decisão de interpelar o tucano na Justiça para que ele prove "quem fez, como fez o dossiê, com qual objetivo e dinheiro".
Pois, se a história do dossiê é uma "falsidade", o PT age como se fosse de enorme gravidade. Afastou um contratado, mandou que se suspendesse um tipo de atividade, convocou um antigo presidente para administrar crise interna, sentiu necessidade de preservar a candidata durante um dia inteiro para que não abordasse o tema e anunciou ação na Justiça sabendo de sua inutilidade.
Evidente, pois se o terreno do dossiê é o da clandestinidade ninguém consegue provar nada. A Polícia Federal até hoje não mostrou de onde veio o dinheiro dos aloprados. Isso a despeito de ter posto as mãos nas notas e nos personagens.
Essa ação na Justiça é um gesto vazio e não ajuda a esclarecer coisa alguma. 
Tampouco as insinuações sobre "a verdadeira origem do dossiê". Qual? Ninguém assume. No máximo há uma pista em frase do presidente do PT, José Eduardo Dutra, apontando "disputas internas da oposição" ao reclamar que atribuam ao partido dele a confecção de dossiês.
Antes de se perder o fio da meada, foi o PT que havia descoberto um esquema clandestino na própria campanha, mandado suspender os trabalhos, afastado o contratado para executar o serviço e administrado uma crise interna de poder.
De uma hora para outra o caso derivou para as "disputas internas da oposição" sem que se diga exatamente do que se trata, embora a insinuação aponte obviamente na direção de Minas e São Paulo. 
Se o PT tem informação relevante de interesse público a respeito, diga do que se trata. Se não tem, faz feio entregando-se à perfídia.
O dossiê é um dos mais velhos e também dos mais repulsivos personagens da política. Contra ele a luta é sempre desigual, porque vive no subterrâneo, se alimenta de lama e só briga no escuro.
Se forem em frente nesse campo, PT e PSDB têm tudo a perder.
Dora Kramer é colunista política diária dos jornais O Estado de S. Paulo e O Dia do Rio de Janeiro e das rádios Band News FM e JB FM. Também é escritora, tendo publicado o livro "O Resumo da História".  Ela escreve na Folha de Pernambuco de terça-feira a domingo.

Newton Silva, para O Jangadeiro Online


Ex-guerrilheiro confirma ligação das Farc com traficantes brasileiros

Ex-guerrilheiro confirma ligação das Farc com traficantes brasileiros
Em entrevista ao ""Estado"", ex-comandante da guerrilha, que trabalhou 15 anos em território brasileiro, diz que País é melhor mercado para a cocaína na região e afirma que, em troca da droga, grupos insurgentes colombianos recebem armas e insumos
Ruth Costas - O Estado de S. Paulo

A base das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) desarticulada em Manaus no mês passado é apenas uma pequena ponta da extensa rede que a guerrilha tem mantido no Brasil para vender drogas e abastecer-se de todo o tipo de insumos e produtos - incluindo armamentos, trocados por cocaína com traficantes de São Paulo e Rio.
Poucos meses depois de deixar a guerrilha, um ex-comandante falou ao Estado em condição de anonimato e confirmou que as Farc atuam no Brasil desde os anos 90. Na última década, a guerrilha tem expandido suas operações no País. As informações foram confirmadas por fontes da inteligência    colombiana.
"Carlos" - o nome é fictício - passou mais de 15 anos trabalhando para as Farc em território brasileiro ou na região de fronteira, onde era um dos responsáveis pela venda de cocaína e troca do produto por armas. Tinha dezenas de subordinados e diz já ter participado de negociações que envolviam mais de R$ 5 milhões.
Ele chegou a viver alguns anos em Manaus a serviço da guerrilha e conheceu o traficante brasileiro Fernandinho Beira-Mar. Há menos de seis meses, desertou para "viver uma vida normal e rever a família", sendo incluído no programa para desmobilizados ligado ao Ministério de Defesa colombiano.
Hoje, vive sob proteção das forças oficiais. Recebe alojamento, comida e assistência médica do governo enquanto espera os certificados de que não cometeu crime de lesa-humanidade - sequestro e homicídio agravado - e, portanto, pode ser indultado.
Em dois encontros de cerca de quatro horas em Bogotá, ele relatou, em português, que as Farc mantiveram e financiaram, nos últimos anos, algumas dezenas de guerrilheiros infiltrados em cidades do norte do país para fazer a ponte com os compradores e estudar.
Ele mesmo teria conhecido alguns desses "bolsistas" das Farc. "O objetivo é que eles aprendam português e saibam mais sobre o Estado e a sociedade brasileira", disse. "Além disso, apresentar-se como estudante é um bom disfarce." Agentes da inteligência colombiana dizem que a prática é comum em vários países.
De acordo com Carlos, além desses guerrilheiros infiltrados, que recebem do grupo cerca de R$ 20 mil a cada três meses, também há pelo menos outras duas bases das Farc em Manaus, como a que foi descoberta pela Polícia Federal. "Duas que eu tenha conhecimento, com cerca de cinco pessoas operando em cada. Mas podem ser mais", afirmou.
Segundo Carlos, as redes estariam se expandindo no Brasil por uma questão de mercado. "Pelo quilo da cocaína pura, conseguimos R$ 50 mil no Brasil. Na Colômbia, obtemos R$ 15 mil. Na Venezuela, não mais do que R$ 25 mil. Pela pasta de coca, nos pagam R$ 20 mil no Brasil. Na Colômbia, R$ 3 mil. Na Venezuela, R$ 12 mil."
Também há outras duas razões para a expansão. Primeiro, a política de segurança do governo Álvaro Uribe empurrou a guerrilha para locais isolados, como a fronteira. Com isso, os países vizinhos se tornaram importantes fontes de abastecimento de armas e insumos. O segundo fator é que o mercado europeu está conquistando cada vez mais peso, enquanto o dos EUA está saturado. E o Brasil está na rota para a Europa.

PARA LEMBRAR
'"Estado"" mostrou base em Manaus
No dia 16, o Estado teve acesso a um relatório sigiloso produzido pela inteligência da Polícia Federal (PF), afirmando que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) violam a fronteira Colômbia-Brasil e usam o território brasileiro para seus negócios. José Samuel Sanchez, o "Tatareto", apontado como integrante da comissão de logística e finanças da Frente 1 das Farc, foi preso sob a acusação de operar uma base de rádio e de controlar rotas do tráfico de drogas e suprimentos da guerrilha no Brasil. O governo da Colômbia já pediu a extradição do narcotraficante.

FOTO: Sítio na cidade de Manaus usado como base das Farc

Extreme - More Than Words

Pequena história de bolso vazio

Pequena história de bolso vazio
Coisas da Política - Wilson Figueiredo – Jornal do Brasil
Enquanto a ociosidade for respeitada por ser a mãe de todos os vícios, as Vice-Presidências politicamente qualificadas continuarão a ser a fonte em que seus ocupantes se banharão em segundas intenções. É questão de oportunidade, que cedo ou tarde se apresenta. A segunda intenção pela qual os vices podem ser identificados tende a prevalecer sobre a primeira, que se reserva para inglês ver e fazer de conta que não percebe. Desde Roma (a incubadeira histórica de vícios públicos e privados), a traição tem papel garantido, tanto nos bastidores quanto nos palcos da política. Ainda hoje a opinião pública aceita a traição e abomina o traidor.
No Brasil, a crise da qual derivaram as demais, fora do controle da oposição e do governo, ocorreu com a primeira deposição de Getulio Vargas em 1945 e, dali para a frente, teve a participação, direta ou indireta, de vice-presidentes com votação própria, mas sem causar problemas até a segunda deposição. O ditador Vargas havia sido deposto em 1945, com base na suspeita de montar pretextos para adiar a eleição que não tinha condições de evitar. Vargas voltou, cinco anos depois, sem que a oposição conseguisse decifrar o mistério das duas derrotas seguidas. Mas a crise não demorou e, como era farto o material de fácil combustão, Vargas fez a opção pela morte, e seu vice Café Filho assumiu o poder sob a maldição, segundo a qual a traição é perdoável, mas o traidor não.
No último episódio daquela série, um ano e pouco depois, Café Filho acabou sem a Presidência e sem a Vice. A questão se repetiria, com mais clareza e maior peso, na eleição de João Goulart como vice de Jânio Quadros em 1960. Nada os unia, e tudo os separava. A segunda intenção, no entanto, não era do vice, mas do próprio presidente que o convidou para ir, em seu nome, ao outro lado do mundo. E, quando Jango estava na China, JQ lançou por aqui a renúncia, que foi aceita no ato. A bomba estourou no próprio governo, mas o problema deixou de ser Jânio e passou a ser Jango, cuja posse foi vetada a três vozes pelos ministros militares. Parecia o começo do fim mas não passou do fim de uma sequência cujo sentido se perdeu nas consequências.
Golpe de Estado para garantir a posse do eleito era fato novo em 1955. Mas ainda não era a última palavra em matéria de crise política. O 11 de Novembro se encaixou na categoria de contragolpe legítimo, por ter feito prevalecer a vontade das urnas naquela sucessão presidencial da qual saiu JK, que deixou um saldo histórico que não foi suficiente para evitar outras confusões. Na sequência, foi a vez de Jânio Quadros e, mais uma vez, seu vice João Goulart pagou a conta. A solução militar em 1964 não se limitou a ser apenas a deposição de um presidente. Desencadeou energias republicanas acumuladas. A arte política de envolver as Forças Armadas para desatar nós (com a espada retórica dos políticos) parecia superada desde o 11 de Novembro. O método já havia falhado na renúncia de Jânio Quadros, quando civis e militares foram apanhados de surpresa e a cúpula das Forças Armadas precisou negociar um parlamentarismo de contrabando para se esquivar da exigência de impedir a posse do vice-presidente João Goulart.
Em cada crise havia um vice em questão. A de 64 tornou inviável a ideia de refazer logo a ponte de acordo com a evolução democrática natural, filtrada pelas urnas e decantada pela opinião pública. Os vices foram usados com ressalva de intenção pelos governos militares: sobrevivem graças a um ritual pré-histórico enxertado na democracia. Os generais presidentes passaram a cultivar preferência por vice-presidentes civis, quando a imagem do Brasil era arranhada no noticiário da imprensa internacional e vetado entre nós. Como a eleição dos presidentes militares se fazia pelo voto indireto, os vices não representavam perigo. Quanto à preferência por vices de procedência mineira, nunca foi bem explicada, mas ficou implícito o reconhecimento e a admiração castrense de que em Minas a política é uma arte que merece que se lhe tire o chapéu (no caso, o quepe).

Newton Silva, para O Jangadeiro Online


Faixa de Gaza: um povo sufocado pelo bloqueio

Faixa de Gaza: um povo sufocado pelo bloqueio
Joana Duarte, Jornal do Brasil - 16:43 - 05/06/2010
RIO DE JANEIRO - A morte de nove civis que integravam a frota de ajuda humanitária a Gaza, atacada pela Marinha israelense na segunda-feira, voltou a centralizar as atenções do mundo sobre o cerco à Faixa palestina, iniciado depois que o movimento islâmico Hamas tomou o controle da região em 2007. Desde então, Israel considera a Faixa uma “entidade hostil”, e alega que o bloqueio à região é necessário para evitar ataques com foguetes contra cidades israelenses, enfraquecer o Hamas, bem como pressionar os palestinos a libertarem o soldado Gilad Shalit, capturado pelo movimento islâmico em 2006. Analistas afirmam, entretanto, que o ataque de segunda-feira serviu para mostrar a ineficiência do cerco, que serve apenas como uma resposta parcial ao contrabando de armas na região, mas que não resolve as outras ameaças.
“Os interesses de Israel seriam mais bem servidos se o bloqueio a Gaza fosse levantado, mas com garantias de que as importações de armas sejam controladas”, escreveu o israelense Ehud Eiran, cientista político de Harvard, em recente artigo para o New York Times. “Gaza é controlada por uma organização que prometeu destruir Israel, no entanto, nunca conseguirá fazê-lo, pois somos muito mais fortes. Se a finalidade do cerco era derrubar o Hamas, falhou terrivelmente. O bloqueio tornou-se apenas uma desculpa usada pelo Hamas para justificar sua ineficiência governamental”. Para Eiran, Israel pode aliviar o sofrimento em Gaza e também criar estratégias eficazes,tecnologias e novas alianças, sobretudo com o Egito, para manter em níveis insignificantes a entrada de armas na região.
Escassez
Devido ao bloqueio, cerca de 80% da população de Gaza depende da ajuda internacional para sobreviver. Segundo dados oficiais, mais da metade dos habitantes vive abaixo da linha de pobreza e pelo menos 40% estão desempregados. Desprovidos de recursos naturais, os palestinos em Gaza sofrem uma escassez crônica de água e quase não tem indústria. De acordo com dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), 61% deles vivem em situação de insegurança alimentar.
Agências humanitárias e altos funcionários da ONU reconhecem que o auxílio prestado à região não é suficiente para suprir as necessidades da população do território, nem para a reconstrução da região devastada por uma operação militar israelense em 2008. Nos últimos dois anos de bloqueio, a quantidade de ajuda que chegou a Gaza raramente atingiu os 20% do total de bens que Israel permite chegar ao território, denuncia a advogada americana Allegra Pacheco, que trabalha para o Programa de Desenvolvimento da ONU (Pnud).
“Recentemente, o Pnud publicou um relatório afirmando que a comunidade internacional não tem sido eficaz em atender as necessidades básicas da população de Gaza, seja por omissão ou intenção”, pontuou Allegra.
Israel ainda mantém uma lista de itens proibidos de entrarem em Gaza que, de acordo com as autoridades de segurança do país, poderiam ser usados para fabricar armas, como canos de metal e fertilizantes. Mas segundo a ONG israelense Gisha, que monitora a passagem de bens para Gaza, muitos outros produtos – que vão de carros e frigideiras a lâmpadas, chocolate, café, papel e computadores – quase sempre têm sua entrada recusada por serem considerados artigos de luxo. “A tentativa de controlar Gaza a partir de Israel, através da alimentação de seus moradores e listas especificas de importações permitidas, mancha a reputação moral do país e aumenta seu isolamento internacional”, argumentou Aluf Benn, colunista do Haaretz. “Todos os israelenses deveriam se envergonhar da lista de bens elaborada pelo Ministério da Defesa, que permite a entrada de canela e baldes de plástico em Gaza, mas não autoriza plantas e coentro. É hora de acharmos tarefas mais importantes para nossos burocratas fazerem além da atualização de listas arbitrarias”.
Apesar de inúmeras solicitações feitas por agências humanitárias ao tribunal distrital de Israel, autoridades se recusam a revelar os critérios que os orientam na determinação de que mercadorias são permitidas ou proibidas na Faixa de Gaza.
“Se qualquer produto pode entrar em Gaza exceto aqueles que poderiam ser usados para a fabricação de armas, então os militares que operam nas passagens de fronteira desconhecem essa política, pois não estão agindo de acordo com ela”, conclui o diretor do Departamento Jurídico da Gisha, Feldman Tamar.

Lhasa - Video (Rising Oficial)

Entrevista: Itamar Franco e o poder da simplicidade

Entrevista: Itamar Franco e o poder da simplicidade

Mauro Santayana, Jornal do Brasil - 21:41 - 05/06/2010
BRASÍLIA - Quando assumiu a Presidência da República, durante o afastamento compulsório do titular, Fernando Collor – que seria definitivo meses depois, com o impeachment – Itamar Franco surpreendeu as elites, representadas pelos principais veículos de comunicação do país. Seu ministério foi tachado de “governo de compadres”, e “República do Pão de Queijo”. A resposta de Itamar foi uma pergunta, quase inocente: “As pessoas simples não podem governar?”.
Meses depois, o senador Antonio Carlos Magalhães pediu-lhe uma audiência. Queria fazer “graves revelações” contra Jutahy Magalhães Júnior, seu ex-aliado e então desafeto na Bahia, que ocupava o cargo de ministro de Bem-estar Social. Ao ser introduzido no gabinete, na hora marcada, Antonio Carlos encontrou todos os jornalistas credenciados no Planalto, com seus fotógrafos e as câmeras de televisão. Diante do espanto e constrangimento do Senador, Itamar explicou:
– Como o senhor me disse que faria uma denúncia, achei conveniente que a fizesse à nação inteira. O senhor pode apresentá-la diretamente aos jornalistas.
Modéstia
Antonio Carlos engoliu em seco. Seu “dossiê” era constituído de recortes de jornais, que nada provavam contra Jutahy. Ao minimizar a importância do episódio, que alguns atribuíram à sua astúcia de mineiro, Itamar confessou, modesto:
– Eu, astuto? Eu sou até meio bobo.
A República do Pão de Queijo pode ter sido, para o desdém de seus críticos, a república do pão, pão; queijo, queijo; orientada pelo pensamento óbvio, pelo senso comum. Mas é provável que Itamar tenha sido realmente ingênuo, ao deslumbrar-se pela retórica professoral do sociólogo Fernando Henrique Cardoso e fazer dele seu sucessor. Itamar relembra o episódio:
– O nome de Fernando Henrique surgiu por exclusão. Diante da pressão dos fatos, que me levaram a aceitar a demissão do ministro Eliseu Resende, desloquei Fernando Henrique do ministério de Relações Exteriores e o nomeei para a Fazenda. A partir de então, seu protagonismo foi natural. Mas, naquele momento, eu pensava, e pensava firmemente, em dar a José Aparecido de Oliveira visibilidade que o credenciasse à sucessão. Aparecido – tal como hoje ocorre ao presidente Lula – se revelara excepcional diplomata, à frente de nossa embaixada em Lisboa. Coube-lhe articular, com grande sacrifício pessoal, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Teve que vencer a resistência de certos setores lusitanos, que não queriam dividir, com o Brasil, a influência sobre as suas antigas colônias. Com o apoio de Mário Soares, Aparecido partiu para a segunda etapa: a de convencer os novos países que podiam confiar na CPLP, porque a presença brasileira neutralizava a suspeita, natural, de que a instituição viesse a ser instrumento de novo colonialismo. Foi assim que, sem linhas aéreas regulares, que lhe possibilitassem as viagens sucessivas e rápidas pelo continente africano, Aparecido teve que se deslocar de um país para outro em aviões monomotores. O Brasil deve também ao Aparecido a oportunidade de hoje estar presente na Ásia: ele nos revelou a existência de Timor-Leste e incluiu essa realidade em nossa política externa. Eu não tive dúvida em convidá-lo para ocupar aSecretaria de Estado. Os elitistas do Itamaraty se levantaram contra a indicação, mas eu não recuaria. Quem recuou foi o próprio Aparecido, e com razões ponderáveis: estava enfermo, sujeito a uma cirurgia arriscada e, com sua sensibilidade, entendeu que não teria condições para ocupar o cargo. Foi então que – e mais uma vez eu lhe louvo a perspicácia diplomática – ele me sugeriu o nome do embaixador Celso Amorim. Acatei, com prazer, a sugestão. Em primeiro lugar porque, não podendo contar com Aparecido, era mais razoável que me valesse de um quadro do Itamaraty, para servir-me no curto mandato que me restava. Além da recomendação de Aparecido, tive outras referências que confortaram a minha escolha. Quanto à sucessão, o nome de Aparecido se tornou inviável pela enfermidade. Optei então pelo jornalista Antonio Brito, que se destacara como ministro da Previdência e estava à frente das pesquisas. Brito declinou: era muito jovem, e preferia governar o Rio Grande do Sul. Fernando Henrique era a terceira opção.
Elogios a Amorim e à política externa
Já que falamos em diplomacia – e Itamar foi embaixador em Portugal, na OEA e na Itália – conversamos algum tempo sobre a política externa de Lula. Itamar sorri: ele se sente parceiro de seus êxitos, uma vez que lhe coube levar Amorim para a chancelaria.
– Senti-me homenageado quando, na presença do embaixador Amorim, em uma recepção na Embaixada do Brasil no Vaticano, o presidente Lula me disse que o havia convocado para a chefia do Itamaraty por ele ter sido meu chanceler. É claro que Lula me fazia um afago político, e que a razão da escolha não fora só a nomeação de Amorim pelo meu governo, mas, de qualquer forma, eu dera ao diplomata de Santos a chance de revelar-se como um dos mais importantes negociadores internacionais de nosso tempo. Só tenho a lamentar que Amorim tenha ido a Juiz de Fora participar de um comício em favor da candidatura de Nilmário Miranda, do PT, com Lula, e ao lado de Newton Cardoso, contra a reeleição de Aécio. Um ministro de Relações Exteriores não deveria intervir em disputa regional, e muito menos na cidade natal de quem nele confiara a execução da política externa brasileira. Magalhães Pinto, que era político, nunca fez isso. Esse episódio, que me entristeceu profundamente, não diminui a admiração pelo grande diplomata que ele é.
Comento com Itamar curiosa circunstância histórica. Celso Amorim é de Santos, e em Santos nasceram dois dos mais importantes diplomatas brasileiros, decisivos em momentos cruciais da nacionalidade. O primeiro foi Alexandre de Gusmão, que deu ao Brasil os seus limites continentais, com o Tratado de Madri, de 1750, em que se reconheceu o princípio do utis possidetis que legitima a posse de fato. O segundo foi José Bonifácio de Andrada, o primeiro-ministro de Relações Exteriores do Brasil.
Continuando na política externa, Itamar faz pequeno reparo a Celso Amorim:
– O ministro disse que, para não ter direito a um voto independente, é melhor não fazer parte do Conselho de Segurança da ONU. No meu entendimento, trata-se de falsa questão. A nação que faz parte do Conselho tem a liberdade de votar como quiser, de acordo com seus princípios e interesses e em favor da paz mundial. O que deve ser contestado é o ainda poder de veto exclusivo aos cinco países que são membros permanentes do órgão. O Brasil sempre teve direito, pelas suas dimensões geográficas e pela sua formação histórica, a participar do Conselho de Segurança. Em 1926, com forte presença na Liga das Nações, teve a sua candidatura, como membro efetivo do Conselho das Nações, preterida em favor da Alemanha – da mesma Alemanha que fora derrotada em 1918. Como era nosso presidente o grande estadista mineiro Artur Bernardes, e seu representante na Liga outro invulgar homem de Estado, também mineiro, o embaixador Afrânio de Mello Franco, o Brasil preferiu a honra e abandonou a Liga, que se revelara instrumento dócil do eurocentrismo. Um país que defendera, com Rui, em Haia, a plena igualdade entre as nações, não poderia compactuar com a ditadura dos grandes.

Lettuce Coral, Phoenix Islands, Pacífico Sul - Photograph by Paul Nicklen - Fotos subaquáticas


Tabagismo é devastador à saúde feminina

Tabagismo é devastador à saúde feminina
O Estado do Paraná - 04/06/2010

Irinéia Gadonski, auxiliar de higiene, fumou por 11 anos e largou o vício há cinco meses. Segundo ela, as reuniões do grupo de humanização do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba, fizeram com que arrumasse forças para parar de fumar. Outra influência veio da unidade de quimioterapia local em que trabalha e convive com a dura realidade e sofrimento dos pacientes. Em menos de dois anos 800 fumantes foram abordados para trocaram o tabaco pela saúde. "Apenas o fato de fumantes terem a iniciativa de participar do grupo já é uma conquista", comenta coordenadora Ana Luísa Coelho.
Assim como a auxiliar, muitas outras mulheres frequentam os encontros, reforçando os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) que confirmam que apontam a preocupação com o fumo entre as mulheres. Esse índice já chega a 20% dos fumantes no mundo, mas o número cresce em alguns países. A OMS pretende conscientizar a sociedade de que além de problemas cardíacos, enfisema e câncer de pulmão, o uso do cigarro pelas mulheres pode acarretar outras questões, como maiores taxas de infertilidade, problemas no parto, nos ossos e menopausa precoce.

Fumantes passivos Não é para menos que o tabagismo é considerado como a principal causa de morte evitável no mundo. Por ano, são cerca de 4,9 milhões de óbitos em função do consumo de tabaco. A OMS mantém esforços para reduzir o número de fumantes com iniciativas como o incentivo à adesão de países aos ambientes livres de tabaco e conscientização da importância do tratamento dessa epidemia, que mata, conforme a organização, uma pessoa a cada 6 segundos. Atualmente o tabagismo é associado a 90% dos casos de câncer de pulmão, neoplasia de letalidade altíssima.
Outro aspecto de extrema importância é que o cigarro prejudica, e muito, a quem não fuma. Os fumantes passivos também estão propícios a sofrerem câncer de pulmão.
Os dados mostram que 25% a 46% das mulheres e de 13% a 37% dos homens que morrem de câncer de pulmão não fumam, mas adquiriram a doença com a convivência com fumantes. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), mais de 300 pessoas morrem por dia no Brasil em consequência do hábito de fumar.

Dia Mundial Sem Tabaco teve blitzes educativas
Durante o consumo do cigarro, a pessoa introduz no organismo mais de 4.700 substâncias tóxicas, incluindo nicotina (responsável pela dependência química), monóxido de carbono (o mesmo gás venenoso que sai do escapamento de automóveis) e alcatrão, que é constituído por aproximadamente 48 substâncias pré-cancerígenas, como agrotóxicos e substâncias radioativas (que causam câncer). De acordo com o oncologista Alexandre Chiari, além do câncer de pulmão, outras doenças são causadas pelo cigarro, como os cânceres de colo uterino, de laringe, de boca, de pâncreas, bexiga, esôfago, estômago e rim.

Ajuda especializada
"O tabaco também pode ser associado ao infarto e às doenças vasculares, como o derrame cerebral", ressalta o especialista. As pesquisas demonstram também que o fumo é a causa principal de bronquites crônicas e enfisemas pulmonares. "O cigarro aumenta em seis vezes o risco de infarto em mulheres jovens e também a probabilidade de aborto, parto prematuro e nascimento de criança com baixo peso", afirma a cardiologista Jaqueline Scholz Issa, diretora do Programa de Tratamento do Tabagismo do Incor de São Paulo e autora do livro Deixar de fumar ficou mais fácil (MG Editores). Na obra, ela explica o mecanismo de dependência da nicotina e ensina como se livrar dele. A cardiologista lembra que a cobrança exagerada e "dedo em riste" só atrapalham aqueles que querem deixar de fumar. Ela aconselha os fumantes a não se deixar pressionar com argumentos convencionais, que os fazem se sentir culpados e anti-sociais, lembrando, também, que não é necessário sofrer sozinho. "Existe ajuda especializada e o dependente deve procurá-la", enfatiza.
Gustavo Gusso, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC) alerta, no entanto, que 80% dos que pararam, acabam retornando ao hábito de fumar. Para ele, durante o tratamento, é fundamental o tabagista ter apoio para conseguir vencer o vício, pois a nicotina age muito rápido no cérebro e causa maior dependência, superior ao álcool, por exemplo. "Basta um mês de uso contínuo de cigarros para acionar o gatilho da dependência", adverte.

Combinação perigosa
O cigarro é um grande vilão para a saúde da mulher. Tanto é verdade que neste ano, o tema da campanha da OMS para o Dia Mundial sem Tabaco, foi "Os sexos e o tabagismo: a promoção do cigarro destinada às mulheres". Nas mulheres, além dos distúrbios já relatados, o vício do fumo se complica quando entra em cena o anticoncepcional, pois quando esses dois elementos se juntam, os efeitos se potencializam enormemente. De acordo com Denise Franco, mestre em endocrinologia, o anticoncepcional, quando associado ao tabagismo, aumenta em dez vezes o risco de trombose, em 39 vezes o de doenças cardiovasculares, como infarto agudo do miocárdio, e em 22 vezes o de acidente vascular cerebral (AVC) quando comparado a mulheres não fumantes.
"mulheres que fumam estão mais sujeitas a iniciar a menopausa antes dos 45 anos de idade, o que pode aumentar o risco de osteoporose e doenças cardíacas", alerta.
Normalmente, a mulher torna-se fumante na adolescência, ao mesmo tempo em que inicia sua vida sexual. Essa perigosa combinação faz parte da gênese e progressão de várias doenças que podem comprometer o aparelho reprodutor feminino como as vulvovaginites e o câncer de colo uterino - que é de duas a sete vezes mais prevalente entre as fumantes.
Além disso, o cigarro pode acelerar o envelhecimento da pele e reduzir a expectativa de vida da mulher. "Para retomar uma vida mais saudável é necessário parar de fumar e praticar exercícios físicos de forma rotineira, além de manter uma dieta equilibrada com frutas e verduras para enriquecer o cardápio", recomenda Denise Franco.

Efeito instantâneo
A fumaça do tabaco, durante a tragada, é inalada para os pulmões, distribuindo-se para o sistema circulatório e chega rapidamente ao cérebro, entre sete e nove segundos. Além disso, o fluxo sanguíneo capilar pulmonar é rápido e todo o volume de sangue do corpo percorre os pulmões em um minuto. Dessa forma, as substâncias inaladas pelos pulmões espalham-se pelo organismo com uma velocidade quase igual a de substâncias introduzidas por uma injeção intravenosa.

Skoob

BBC Brasil Atualidades

Visitantes

free counters