segunda-feira, setembro 13, 2010

Bennet, na Gazeta do Povo

Le Monde pública edição especial de sua revista sobre o Brasil

Le Monde pública edição especial de sua revista sobre o Brasil
(AFP) – Há 11 horas
PARIS — O jornal francês Le Monde publica nesta semana um número extra de sua revista com o título "Brasil, um gigante que se impõe", com uma capa com as cores da bandeira, verde, amarelo, azul e branco.
A apenas três semanas da eleição presidencial que marcará o fim de dois mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva, o Le Monde lança a publicação extraordinária de 100 páginas na qual analisa a evolução do Brasil em vários aspectos.
Da diplomacia até a política, passando pela economia, sociedade e meio ambiente, a publicação faz o balanço de 25 anos de democracia.
"Serei o último presidente de um Brasil subdesenvolvido", são as primeiras palavras do editorial, que cita a frase do ex-presidente José Sarney, que em 1985 herdou uma dívida colossal da ditadura.
"Um quarto de século mais tarde, o 'colosso impávido' se tornou, ao lado de China e Índia, uma nação emergente que reclama participar nas grandes decisões planetárias", afirma, antes de completar que o balanço "é amplamente positivo e o de Lula em particular".
"Que outro dirigente do mundo pode vangloriar-se de deixar o poder com uma taxa de aprovação de 80%?", pergunta a revista, em referência ao presidente Lula, que assumiu o poder em 1º de janeiro de 2003 e deixará o posto em janeiro de 2011, dando lugar ao candidato eleito na votação de 3 de outubro.
Antes de entrar nas questões mais profundas, a revista repassa os quase oito anos de mandato de Lula, primeiro presidente de esquerda do Brasil.
O Brasil, defensor das economias emergentes, membro do G20 e líder econômico na América Latina, é um ator "inevitável" da economia mundial, destaca a publicação.
"Mas ainda busca seu lugar no cenário diplomático, comprometido por suas amizades perigosa, como a do presidente venezuelano Hugo Chávez, os irmãos Castro ou o ditador iraniano Mahmud Ahmadinejad", completa.
A unidade regional, a luta contra a corrupção, os crimes da ditadura (1964-85), assim como o clientelismo político, a violência endêmica e o desmatamento são objetos de artigos, sem esquecer as telenovelas, o auge dos grupos evangélicos e o sempre lembrado futebol.
Outros artigos também abordam a origem africana do Brasil, com o historiador Luiz Felipe de Alencastro, e as impressões do falecido filósofo francês Claude Levi Strauss ao chegar ao país, em 1935.
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Distribuição de renda, pobreza, indigência e...Gini

Distribuição de renda, pobreza, indigência e...Gini
Marco Antonio Rocha O ESTADO DE S. PAULO
E Gini, por onde anda? Ninguém fala dele? Por quê?
Houve época em que o sobrenome de Corrado Gini (estatístico italiano) era quase obrigatório nas páginas de Economia. Na semana passada, saiu a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2009, do IBGE, mas pouco se falou de Gini, apesar da boa e educativa relação Pnad/Gini. A Pnad é feita todos os anos, menos nos anos em que há Censo Demográfico. A próxima será em 2011.
Quanto a Gini, é o seguinte: em 1912, o professor Corrado criou um coeficiente que levou o seu sobrenome. Serve para medir a igualdade ou desigualdade da distribuição de qualquer coisa, inclusive da renda de um país - e varia de 0 a 1. Assim, se o coeficiente de Gini é 0,00, significa que a distribuição da coisa estudada é absolutamente perfeita, a mesma para todos os que a recebem. Se é igual a 1,00, a distribuição é absolutamente imperfeita.
Se todos os cidadãos brasileiros, de qualquer idade e sexo, ganharem uma bola de futebol cada um, o coeficiente de Gini da distribuição das bolas de futebol brasileiras será 0,00 - perfeita. Mas, se todas as bolas de futebol do Brasil ficarem nas mãos do João Havelange, ou do Ricardo Teixeira, ou do presidente Lula (que tanto gosta delas), o coeficiente de Gini da distribuição de bolas de futebol será igual a 1,00: uma distribuição absolutamente imperfeita.
O importante, aqui, é que neste período eleitoral, quando tanto se propala a melhoria de vida do povo brasileiro e de quanto os nossos candidatos a governantes pretendem melhorá-la para o futuro, o coeficiente de Gini deveria estar no centro dos discursos. Talvez não esteja porque não é muito fácil de explicar, e mais difícil ainda de entender. Para facilitar o entendimento, alguns economistas transformam o coeficiente em porcentagem: multiplicam simplesmente o coeficiente por 100, de modo que um coeficiente de Gini 0,50 se transforma num Índice de Gini de 50%.
Bem, mas, afinal, o que nos diz esse importante indicador no Brasil?
Em primeiro lugar, que é verdade que está havendo uma melhor distribuição de renda e que a renda nacional está se tornando menos concentrada. Mas é preciso evitar uma grande confusão: distribuição perfeita da renda não significa que não haja pobreza, ou que haja menos carências, ou que a mobilidade social esteja aumentando. Isso tudo tem de ser medido por outros indicadores, pois a simples medida da distribuição da renda não nos dá essas respostas. Basta lembrar que, se cada brasileiro ganhar R$ 10 por ano, e todos só ganharem isso, a distribuição da renda será perfeita, Gini estará em 0,00 ou próximo disso e, no entanto, todos nós seremos extremamente pobres. Mas a Pnad nos diz que o rendimento real médio mensal de trabalho das pessoas ocupadas era (na semana da pesquisa, em 2009) de R$ 1.111. Então, se toda a população brasileira tivesse essa mesma renda mensal, a distribuição de renda seria perfeita (Gini = 0,00). Mas não o é. A mesma pesquisa determinou um coeficiente de Gini, para essas pessoas, no mesmo período, de 0,518 (índice de 51,8%) - distribuição imperfeita, pois a maior parte dessa riqueza (o total da renda mensal das pessoas ocupadas) estava concentrada em menos da metade do universo das pessoas ocupadas.
Tomando por base o histórico da Pnad, vê-se que a distribuição da renda vem melhorando, sim. O pior ano, da série iniciada em 1981, foi o de 1989 (Gini = 0,630), quando o rendimento médio mensal então apurado era também de R$ 1.111. É que havia muito menos pessoas ocupadas ganhando isso.
A medição bolada pelo professor Corrado iniciou um mergulho com o Plano Real em 1994 (0,585), que chegaria a 0,563 em 2002. O período Lula começou com 0,554 e, no ano passado, bateu em 0,518 - descenso mais rápido porque Lula anabolizou programas de transferência de renda (Bolsa-Família), além de aumentar o salário mínimo e a assistência social via Benefício de Prestação Continuada (BPC).
Duas outras coisas melhoram no Brasil há mais de 16 anos: a linha da pobreza e a linha da indigência. O Índice de Gini não as mede, mas a Pnad mede. De 1976 a 1985/86, durante 11 anos, 40% da população tinha renda familiar per capita igual ou abaixo da linha da pobreza; e 20%, igual ou abaixo da linha da indigência. Em 1986 houve episódica melhoria (Plano Cruzado, congelamento de preços), que durou um ano. As duas linhas retornaram ao nível "normal" em 1987, onde permaneceram até 1994 (Plano Real). Daí, até 2002, redução de quase 10 pontos de porcentagem (p.p.) nas duas linhas. E de 2003 até 2007, mais 10 p.p. de queda.
O que é que se conclui?
Melhoria na distribuição de renda e diminuição da pobreza e da indigência são políticas consistentes que vêm de longe, e só puderam se manter e progredir porque a inflação foi dominada. Não saíram da cartola do mágico Lula nem da varinha de condão da fada-madrinha. Nos governos que precederam FHC e Lula, pobreza e indigência foram inextirpáveis - como são as saúvas e os demagogos - porque a inflação as realimentava.
Jornalista

Frank, hoje na Notícia (SC)

A SEXTA CAMPANHA DE LULA

A SEXTA CAMPANHA DE LULA
PEDRO S. MALAN - O ESTADO DE SÃO PAULO - 12/09/10
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disputou cinco eleições presidenciais. Na primeira (1989), disputou palmo a palmo com Leonel Brizola o direito de ir para o segundo turno com Fernando Collor. Cerca de uma década e meia depois, já presidente, Lula agradeceu publicamente a Deus por não ter ganho aquela eleição. Porque, reconheceu, não estava preparado para isso.
Na segunda e na terceira tentativas (1994 e 1998), Lula perdeu no primeiro turno para Fernando Henrique Cardoso. Quem sabe um dia, talvez, Lula reconheça que, em ambas as ocasiões, também não estava preparado para governar o País - nem seu partido tinha quadros para tal. Afinal, em 1994 os principais economistas de seu partido lhe asseguraram que o Plano Real era apenas uma tentativa de estelionato eleitoral, que não duraria mais que alguns meses. Em 1998, Lula e o PT não conseguiram convencer o eleitorado de que tinham alguma ideia coerente sobre o que fazer para enfrentar a crise internacional de 1997-1998 e seus efeitos sobre o País.
Na quarta disputa (2002), Lula apareceu totalmente repaginado por uma competente marquetagem política: o irritado líder sindical foi substituído por um novo personagem, com visual, gestos e postura mais tranquilizadores para a classe média e um discurso na linha do "paz e amor". Mas a herança que o PT havia construído para si mesmo na área econômica - a oposição ao Real, ao Proer, à Lei de Responsabilidade Fiscal, bem como seu irresponsável empenho pelo plebiscito (de 2000!) propondo a suspensão dos pagamentos das dívidas externa e interna - levou à necessidade de uma gradual desconstrução dessa herança, iniciada ainda em 2002. Mas houve segundo turno.
A quinta disputa, em 2006, já se deu num contexto internacional e doméstico que, do ponto de vista econômico e social, favorecia enormemente o governo, apesar dos escândalos políticos que marcaram o período e que contribuíram para que Lula, que esperava ganhar no primeiro turno, tivesse, outra vez, de disputar um segundo turno.
O ano de 2010 representa, em mais de um sentido, e na visão de legiões de eleitores, uma espécie de sexta campanha presidencial com Lula na disputa, ainda que agora por meio de interposta pessoa. Foi exclusivamente de Lula a escolha da candidatura oficial. Foi de Lula a decisão de transformar esta eleição num tipo de plebiscito a favor ou contra o seu nome. É de Lula a clara definição da estratégia geral de seu governo, expressa na litania oficial sobre as heranças malditas pré-2003 e no "nunca antes jamais" pós-2003 - que viraram parte do nosso folclore político.
Não adianta vozes sensatas do PT escreverem que "os ganhos obtidos pelo Brasil a partir de 2003 se assentaram sobre avanços e resultados realizados em governos anteriores (...). Fazer tabula rasa destas contribuições seria atentar contra a própria história do País" (Antônio Palocci). Ou: "Não tenho dúvidas de que o Brasil evoluiu positivamente ao longo dos últimos 15 anos" (Paulo Bernardo).
O fato é que essa não é a visão do presidente Lula. Tampouco a de sua candidata, que em entrevista recente nas páginas amarelas da revista Veja respondeu com um categórico "discordo" a uma pergunta exatamente sobre esse tema. E vai em frente, com a ladainha da "herança maldita" e do "nunca antes" - de 2003, este suposto marco zero de uma idealizada nova era.
É forçoso reconhecer que essa esperteza retórica (para a qual faltou oposição política à altura), a persistência de Lula (em média, um discurso por dia útil) e, particularmente, seu gradual aprendizado no governo - e seus recursos - lhe renderam muitos frutos e elevada popularidade. Mas o "imbatível carisma", o "inigualável tirocínio" e a "genialidade política sem par", aos quais legiões hoje tecem loas, não permitiram a Lula ganhar as eleições de 1989, 1994 e 1998 e evitar um segundo turno em 2002 e 2006. O que mudou mais: o homem ou as circunstâncias? A resposta é: ambos.
É claro que as circunstâncias mudaram: além de uma herança não maldita e de uma política macroeconômica não petista (até 2006), nunca será demais repetir - já que este governo decidiu simplesmente ignorar fatos que não lhe convêm (e se apropriar indevidamente de outros quando lhe convêm) - que a economia internacional teve desempenho excepcional no quinquênio 2003-2007. O que contribuiu para a crise que se lhe seguiu, e para a qual estávamos mais bem preparados, porque nos beneficiamos das realizações até ali alcançadas, inclusive por este governo.
É claro que Lula mudou, e está mudando de novo nesta reta final da campanha, que vê como tão sua quanto de sua candidata, não hesitando em assumir agressivamente a linha de frente da campanha, como no recente "pronunciamento à Nação", em meio a um programa no horário eleitoral de seu partido.
O grave não é apenas o achincalhe à Justiça Eleitoral, a perda do "senso de medida" e a noção de que a popularidade lhe permite dizer qualquer barbaridade, como, por exemplo, "a elite brasileira não sabia o que era capitalismo: foi necessário um metalúrgico entrar na Presidência para ensinar como se faz capitalismo" ou "a elite tenta dar golpe a cada 24 horas neste país", referindo-se aos grandes jornais de circulação diária.
Tão grave quanto é o fato de que a crise internacional de 2007-2009, e a necessária resposta dos governos dos países desenvolvidos, foi vista entre nós como configurando não algo temporário e "contracíclico", mas como uma permanente mudança de paradigma, no sentido de demonstrar a necessidade de um papel de muito maior liderança do governo - e de suas empresas, financeiras e não financeiras (existentes e por criar), no processo de desenvolvimento econômico do País. Ainda é forte entre nós a ideia de que dois mais dois podem ser cinco - desde que haja vontade política.
ECONOMISTA, FOI MINISTRO DA FAZENDA NO GOVERNO FHC

Para onde estamos indo?

Para onde estamos indo?
Luiz Werneck Vianna - VALOR ECONÔMICO
O argumento desta coluna de hoje não vai obedecer a uma linha reta, mas é fato fora de qualquer contestação que a estabilidade das instituições da democracia representativa ao longo dessas últimas três décadas tem repercutido positivamente no sentido de favorecer políticas públicas destinadas a minorar o grau de exclusão dos setores subalternos da nossa sociedade. Pesquisas recentes têm até demonstrado um crescimento significativo de um mercado consumidor com padrões típicos das classes médias, resultado da elevação das rendas de parcelas da população situadas desde sempre na base da pirâmide social.
Para tanto, têm contribuído o poderoso legado da Carta de 1988 em matéria de regulação da questão social brasileira, o atual bom desempenho da economia, assim como as políticas orientadas para o aumento do salário mínimo e os programas de cunho assistencialista com foco nos setores socialmente mais vulneráveis.
À primeira vista, confirma-se, portanto, uma das melhores expectativas da agenda de lutas da resistência democrática contra o regime autoritário dos anos 1964/85, que vinculava as exigências de democratização social ao avanço continuado da democracia política. Com efeito, sob um regime democrático, em um mercado político de massas, pelo voto, as grandes maiorias vêm encontrando os meios, principalmente nos momentos eleitorais, para que algumas de suas demandas mais sentidas sejam incorporadas pelos que buscam a sua representação.
Contudo, outra forte expectativa daquela agenda era a de que, com a afirmação de um regime de liberdades civis e públicas, a cidadania reuniria, afinal, condições para adensar a sociedade civil, alargando a esfera pública com a participação de organizações sociais autônomas do Estado - a própria Carta de 1988 declarou que, além de representativa, a democracia brasileira seria participativa, atribuindo ao cidadão um papel ativo na condução do seu destino. Não é difícil admitir, diante do atual estado de coisas, que tal expectativa tem sido frustrada.
Decididamente, esteve muito longe das cogitações dos fundadores da moderna república democrática brasileira apartar a sociedade civil do seu Estado, e, menos ainda, conferir primazia a este nas suas relações com ela, na forma que se vem impondo nos últimos anos, inclusive por meio de nexos corporativos que instalam no seu interior movimentos sociais organizados, como o sindicalismo. Tal forma não obedece a qualquer desenho institucional legitimado pelo legislador, resultante, em boa parte e na melhor das hipóteses, das contingências da política e das reações dos atores no sentido de buscar soluções para elas.
Alguns momentos ilustram esse processo: a fixação, a todos os títulos justificável, no governo Itamar Franco, da luta contra a inflação como objetivo primordial da ação do Estado; e, no governo Lula, a adoção de uma agenda de intervenção na questão social como política de Estado - para esse fim, criou-se o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza -, e de uma estratégia de modernização conduzida pela ação estatal. Em políticas dessa natureza, o decisivo depende de intervenções sistêmicas com origem nos centros de poder, que, para melhor perseguirem seus fins, se insulam da sociedade, partícipe passivo desses processos.
O sucesso do Plano Real, notoriamente, não se limitou a sanear e a racionalizar a economia, repercutindo fortemente na melhoria das condições de vida dos setores subalternos, que, por duas vezes, forneceram um expressivo contingente de votos para que FHC, um dos responsáveis por ele, fosse conduzido à Presidência no primeiro turno das eleições. Estabeleceu-se aí um encontro feliz, com uma mínima intermediação da política, entre a alta tecnocracia estatal e o homem comum. Igualmente com mínima intermediação da política, por meio de intervenções tecnocráticas, Lula, ao massificar políticas de assistência social, antes de âmbito reduzido, propiciou outro encontro feliz do governo com as massas desvalidas da população. Em estilo semelhante, a partir do seu segundo mandato, adotou um modelo de modernização típico de processos capitalistas politicamente orientados, mas, aí, já para a felicidade das grandes empreiteiras e de outros setores do grande capital.
São, portanto, quatro mandatos de governos do PSDB e do PT, em que alguns dos seus principais êxitos sociais e econômicos tiveram a característica comum - mais uma convergência entre eles - de serem resultados, diante de uma sociedade imobilizada politicamente, de intervenções do Estado e de suas agências especializadas na regulação da economia e na do social. Nada de surpreendente, então, que a política esteja em baixa, a ponto do nosso principal partido de massas, o PT, ter sido ultrapassado pelo lulismo, uma representação nua do social que apenas tolera a política como um mal necessário. No caso, vale comparar com o que sucede com as reformas sociais empreendidas pelo governo Barack Obama, especialmente a da política de saúde, que têm implicado, no seu encaminhamento, uma máxima intermediação da política na sociedade americana.
Nessa sucessão, que transcorre em meio a uma melancólica apresentação de dados sobre indicadores sociais, a política é a grande ausente, em que os principais candidatos sequer revelam seus programas de governo e passam ao largo, em uma sociedade com suas tradições fincadas no autoritarismo político, das discussões sobre como aperfeiçoar a democracia entre nós. A política, em registro minimalista, resta submersa no social - a questão agrária, é claro, fora, porque ela politiza tudo -, como uma pedra no caminho. Ela é o caminho, e não há bons pretextos para ignorá-la, nem para que se procurem atalhos fora dela em nome de presumidas razões de justiça e de imperativos de grandeza nacional. A propósito, para onde mesmo estamos indo?
Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador do Iesp-Uerj. Ex-presidente da Anpocs, integra seu comitê institucional. Escreve às segundas-feiras

SPONHOLZ

Dilma, o cofre e as urnas

Dilma, o cofre e as urnas
Ruy Fabiano- Blog do Noblat - 11/09/2010
 A decisão do presidente do Superior Tribunal Militar, ministro Carlos Alberto Marques Soares, de colocar em um cofre inacessível o processo que levou Dilma Rousseff à cadeia ao tempo do regime militar, além de inconstitucional –, pois é documento público, não submetido a sigilo – encerra uma série de contradições. Dilma, antes de mais nada, diz ter "orgulho" de seu passado de combatente do regime. Diz que não tem nada a esconder. Por que não toma, então, ela própria, a iniciativa de abri-lo ao público? No Programa Nacional de Direitos Humanos 3, elaborado na Casa Civil da Presidência da República ao tempo em que era ministra-chefe – e depois incorporada ao primeiro programa de governo que registrou (e rubricou) ao TSE -, consta a determinação de abrir os arquivos da ditadura militar. Nada deve ficar oculto, é o que se diz. De fato. Essa abertura já era antiga aspiração do PT – e do país -, independentemente de revisão da Lei da Anistia. É preciso conhecer os chamados porões da ditadura, todos concordam. Num deles, esteve Dilma Vana Roussef, testemunha privilegiada dos acontecimentos. Sua história, portanto, é parte indissociável da que ela, como signatária do PNDH 3, considera fundamental revelar. Por que então concordar em que seu processo, que conta essa passagem heroica de sua biografia (de que ela diz se orgulhar) esteja sob sigilo (ilegal) num cofre de um tribunal militar, justo no momento em que o país, que pode elegê-la presidente da República, precisa (e tem o direito de) melhor conhecê-la? O PT, e Dilma em particular, insiste reiteradamente em que é preciso revolver o passado. A pretexto disso, nos escassos debates e sabatinas de que participou – e nos comícios de que participa com Lula -, insiste em focar o governo FHC, para atribuir-lhe todas as mazelas do presente, omitindo, claro, os efeitos das benesses, decorrentes do Plano Real, Lei de Estabilidade Fiscal, Proer (o plano de estabilização dos bancos). Sem elas, não haveria os índices favoráveis do presente, inclusive na telefonia privatizada e na resistência à crise internacional, de que se jacta o governo Lula. No debate da TV Bandeirantes, quando José Serra acusou-a de ter "um espelho retrovisor maior que o para-brisas", insistiu em que é fundamental olhar para o passado. É verdade. E parte do seu – e parte fundamental, pois diz respeito à sua iniciação na vida pública – está oculta num cofre do STM, sem qualquer amparo legal. O processo que a condenou correu sem sigilo de justiça e hoje é parte (até aqui sonegada) da história do país, já que a personagem em pauta é ninguém menos que uma candidata a presidente da República. Não se concebe que alguém que pretende governar o país tenha parte de sua biografia pública oculta. Os movimentos de combate ao regime militar – armados ou não – integram a história contemporânea do Brasil e são fundamentais para melhor compreendê-la. Saber o que fez (e o que não fez) quem se apresenta para o maior cargo da República é vital. Não se trata de julgá-la novamente, mas de conhecer sua trajetória, até para melhor avaliar as mudanças que nela se operaram. A Presidência é o coroamento de uma carreira, que tem início, meio e, no caso de ser eleita, apogeu. Forma um todo que não pode ser fragmentado, sob pena de surpresas que podem ter efeitos trágicos no futuro. O passado é importante, sim, como Dilma não se cansa de proclamar. Mas não apenas o dos adversários. Deles – José Serra, Marina Silva e Plínio de Arruda Sampaio -, a propósito, sabe-se tudo, e o PT, com a quebra dos sigilos fiscais dos tucanos (e até da filha de Serra) – pretendeu saber até o que não estava legalmente disponível. E aí há outra contradição: violou o sigilo do que não devia (os dados fiscais dos adversários) e mantém sob sigilo o que não deve, o passado público de sua candidata. O efeito inevitável é o de acirrar as piores suspeitas e dar curso às piores lendas que cercam sua militância em grupos armados –VAR-Palmares e Colina -, aos quais se atribuem crimes comuns e violentos.
Ruy Fabiano é jornalista

Dúvidas de Fidel quanto ao comunismo cubano e o antissemitismo iraniano

Dúvidas de Fidel quanto ao comunismo cubano e o antissemitismo iraniano
13/09/2010 - Robert Mackey
O episódio pareceu ser um caso de quando a vida imita “Os Simpsons”. Fidel Castro disse durante uma entrevista recente para Jeffrey Goldberg da “The Atlantic” que o modelo econômico comunista se mostrou um fracasso.
Num texto de blog sobre a entrevista, Goldberg escreveu:
Perguntei se ele achava que o modelo econômico cubano ainda era algo que merecia ser exportado. “O modelo econômico cubano não funciona mais nem para nós”, disse ele.
Alguns leitores podem ouvir um eco de um episódio dos “Simpsons” de 1998, no qual uma versão de Fidel em desenho animado dizia a colegas desapontados: “Camaradas, nosso país está completamente falido. Não temos escolha a não ser abandonar o comunismo... Eu sei, eu sei, eu sei – mas todos nós sabíamos desde o começo que esse jumbo não voaria.”
Goldberg relata que sua primeira reação foi pensar em outra série de comédia norte-americana:
Isso me pareceu um momento típico do seriado Emily Litella. Será que o líder da Revolução disse simplesmente que, no fundo, “tanto faz”?
Piadas à parte, Goldberg também percebeu que Julia Sweig, especialista em Cuba que estava com ele na sala, interpretou a observação do homem que liderou a revolução comunista de Cuba desta forma:
Ele não estava rejeitando as ideias da revolução. Eu interpretei como um reconhecimento de que, sob “o modelo cubano”, o estado tem um papel grande demais na vida econômica do país.
Num discurso na sexta-feira, entretanto, Castro disse que seus comentários sobre a economia de Cuba haviam sido mal compreendidos por Goldberg e Sewig, informou a CNN. Em comentários feitos na Universidade de Havana e transmitidos pela televisão cubana, Castro disse que foi citado corretamente, mas que, “na verdade, minha resposta significava exatamente o contrário do que ambos os jornalistas norte-americanos interpretaram em relação ao modelo cubano... Minha ideia, como todos sabem, é que o sistema capitalista não funciona mais para os Estados Unidos nem para o mundo”, disse ele. “Como pode um sistema assim funcionar para um país socialista como Cuba?”
Num texto anterior sobre sua visita a Havana no blog, Goldberg escreveu que Castro, “o avô do anti-americanismo global”, estava preocupado com as tensões no Oriente Médio:
Sua mensagem para o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, disse ele, era simples: Israel só terá segurança se abrir mão de seu arsenal nuclear, e o resto das potências nucleares do mundo só terão segurança se, também, abrirem mão de suas armas...
A mensagem de Castro para Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã, não era tão abstrata, entretanto. Ao longo desta primeira conversa de cinco horas, Castro retornou repentinamente à censura ao antissemitismo. Ele criticou Ahmadinejad por negar o Holocausto e explicou porque o governo iraniano serviria melhor à causa da paz se reconhecesse a história “única” do antissemitismo e tentasse entender porque os israelenses temem por sua existência.
Castro também disse que a tradição cristão de culpar os judeus pela morte de Jesus está na raiz de séculos de antissemitismo. Goldberg relatou que o ex-líder cubano disse que queria passar algumas ideias para o presidente iraniano: ele disse que o governo iraniano deveria entender as consequências do antissemitismo teológico.
“Isso se estendeu por talvez 2 mil anos”, disse ele. “Não acho que ninguém foi mais difamado do que os judeus. Eu diria que muito mais do que os muçulmanos. Eles foram mais caluniados do que os muçulmanos porque foram culpados e caluniados por tudo. Ninguém culpa os muçulmanos por nada.”
O governo iraniano deveria entender que os judeus “foram expulsos de sua terra, perseguidos e maltratados em todo o mundo, como aqueles que mataram Deus. No meu julgamento, eis o que aconteceu com eles: seleção reversa. O que é seleção reversa? Por mais de 2 mil anos eles foram submetidos à uma perseguição terrível e depois aos massacres. Era de se pensar que eles desapareceriam. Acho que sua cultura e religião os mantiveram juntos como uma nação.”
Ele continuou: “Os judeus tiveram uma existência que é bem mais difícil que a nossa. Não há nada que se compare ao Holocausto.” Perguntei se ele diria a Ahmadinejad o que estava me dizendo. “Estou dizendo isso para que você possa comunicar”, ele respondeu.
Goldberg também relatou que Castro, que parece estar tentando encontrar um novo papel para si mesmo como um ativista antinuclear, expressou até mesmo arrependimento por seu comportamento durante a crise dos mísseis de Cuba:
Perguntei a ele: “Em determinado momento, pareceu lógico para você recomendar que os soviéticos bombardeassem os EUA. O que você recomendou ainda parece lógico agora?”

Ele respondeu: “Depois que eu vi o que vi, e sabendo o que sei agora, não era para tanto".
Tradução: Eloise De Vylder

Final Feliz ~Jorge Vercilo & Djavan

Na margem do rio, eu caminhei... #fotografia #fotojornalismo #photography #photog além #botequimtuitajoaquim by Johnguardacosta

Paixão, em Gazeta do Povo

Miro feriu a censura, falta sepultá-la

Miro feriu a censura, falta sepultá-la
ELIO GASPARI – O Globo
A mordaça do Judiciário inibiu a campanha, falta o Supremo limpar a legislação
GRAÇAS AO DEPUTADO Miro Teixeira, o debate em torno da liberdade de expressão mudou de patamar em abril passado, quando ele detonou a Lei de Imprensa no Supremo Tribunal Federal. Era um entulho da ditadura e foi mandada ao lixo, acompanhando um voto do relator do processo, ministro Carlos Ayres Britto.
Infelizmente, a censura esgueirou-se pelos cantos das leis e dos tribunais, edificando um absurdo, segundo o qual a expressão dos brasileiros é livre em todas as ocasiões, salvo durante as campanhas eleitorais, como se essa não fosse a ocasião em que ela é mais necessária.
Miro Teixeira levou ao Supremo a seguinte formulação: todo cidadão ou empresa é responsável pelo que escreve ou publica, nas formas da lei, depois (repetindo, depois) da propagação da notícia, ou da opinião. Isso pode custar dinheiro ou até mesmo a liberdade ao infrator. O contrário é a censura, proibida pela Constituição.
Em menos de dois meses o Judiciário foi acionado tanto pelo PT como pelo PSDB. Um não queria que o outro usasse a imagem de Lula. O outro constrangeu o governo, levando-o a suspender o programa radiofônico do presidente da República. Um jornal mineiro foi multado por ter feito "propaganda eleitoral antecipada" de José Serra. Uma das provas disso estava numa fotografia com faixas do candidato.
A excentricidade chegou ao picadeiro quando o TSE, com base numa lei caduca, pretendeu proibir piadas que "degradem ou ridicularizem" candidatos. Era o conflito com os humoristas. Quando alguém se mete em briga com palhaço, pode estar certo: o profissional é o saltimbanco; o palhaço, quem sabe?
Felizmente, num julgamento do Supremo que levou novamente Miro Teixeira à tribuna e o ministro Ayres Britto a uma nova reflexão em torno da liberdade de expressão, a norma foi mandada ao arquivo.
A campanha eleitoral está nos seus últimos dias e o estrago que a censura podia ter feito já se consumou. Nos próximos meses o debate poderá ser retomado. Se a Constituição diz que não há censura e se o Supremo já decidiu que é assim, falta terminar a faxina. Todo mundo defende a liberdade de expressão, salvo quando ela se torna incômoda, ou mesmo abusiva, criminosa. O remédio para as malfeitorias não está na tesoura, mas nas leis que protegem os cidadãos e penalizam aqueles que as violam. A ideia segundo a qual "algo deve ser feito" embute um drible na Constituição. O que deve ser feito está há tempo nas leis, basta aplicá-las.
Durante dez anos, de 1968 a 1978, a imprensa brasileira foi submetida a formas variáveis e seletivas de censura. O principal responsável pelo fim da censura foi um general que, sinceramente, condenava o voto direto para a escolha de governantes, a interferência do Congresso em matéria orçamentária e a liberdade de imprensa. Chamava-se Ernesto Geisel. Tendo governado o país de 1974 a 1979, aprendeu que ela não funcionava, contaminando o governo ao encobrir corruptos.
CAMPO MINADO
Numa das camadas geológicas das anomalias que desembocam na fabricação de dossiês está a relação incestuosa de órgão públicos com empresas de assessoria de comunicação.
Em geral, ministérios e empresas estatais dispõem de serviços funcionais próprios (mal pagos), mas sempre há poderosos brilhantes, capazes de casar contratos de publicidade com serviços (caríssimos) de assessoria personalizados. Essas terceirizações atendem preferencialmente aos interesses políticos e pessoais dos ministros ou maganos do que a políticas públicas de que eles devem cuidar.
Disso resulta que às vezes um cidadão assessora um magano na segunda-feira e um empresário com interesses na área do doutor na terça. Mais tarde, abre sua própria empresa e vai montar dossiês.
RIO, 2 X SP, 1
Durante anos o governo do Rio carregou nas costas a má fama de não adotar uma tarifa semelhante à do Bilhete Único de São Paulo. Em novembro entra em vigor a tarifa do Rio, ultrapassando o alcance da paulistana, pois estará integrada a rede intermunicipal do Estado, onde o BU vigora há meses.
KNOW HOW
Para a história da deposição de Fernando Collor: em 1992, durante os trabalhos da CPI que investigava a quadrilha de Paulo Cesar Farias, os deputados trabalharam todo o tempo com uma declaração de bens do tesoureiro do presidente surrupiada por petistas, que a extraíram do banco de dados da Receita Federal.
Ao apagar das luzes da CPI os doutores perceberam que trabalharam em cima de um ilícito. Só então um parlamentar foi ao Ministério da Fazenda com um ofício capaz de disfarçar a malfeitoria, obtendo um documento legítimo.
CELULARES, PRIVADAS E "UNIVERSOS PARALELOS"
Em abril passado os mastigadores de números da ONU surpreenderam o mundo ao mostrar que na Índia (1,1 bilhão de habitantes) só 31% da população tinha acesso ao saneamento básico, enquanto 45% dos indianos tinham celulares. Privada x celular seria um indicador daquilo que o colunista americano Roger Cohen chamou de "universos paralelos".
A Pnad de 2009 mostrou uma situação parecida em Pindorama. Dos 190 milhões de brasileiros, 78 milhões não têm acesso ao saneamento, enquanto há no país 162 milhões de celulares. (Como há pessoas que têm mais de um aparelho, esse número não pode ser diretamente associado à população.)
É possível que essa comparação seja um fútil exercício estatístico, mas a ideia dos "universos paralelos" é estimulante. O cidadão mora em Itaboraí (RJ), não tem latrina, mas fala com a avó em Tauá, no interior cearense. Os serviços de comunicações, privatizados, expandem-se com mais vigor, e muito maior rentabilidade, que o saneamento estatal. Ademais, não se conhece caso de pessoa que tenha trocado saneamento por celular.
O cidadão com celular entra num universo onde pode se informar e reivindicar melhores serviços públicos. (Mesmo sabendo-se que 82% dos celulares brasileiros são pré-pagos.)
O mundo de "universos paralelos", com mais celulares do que privadas, torna-se chocante quando se vê a expansão mundial do mercado de água engarrafada. No próximo ano ele valerá US$ 86 bilhões, 51% acima da cifra de 2006.
A degradação (ou o medo) da qualidade da água da torneira criou um hábito regressivo. No século 19 o andar de cima de Londres consumia água encanada. Quem a comprava a granel era a patuleia, pois as fontes públicas espalhavam cólera.
O Brasil é o quarto mercado consumidor de água engarrafada, depois dos EUA, México e China. Como a própria associação das empresas do setor reconhece, há marcas de "mineralizadas" que são apenas água da torneira (tratada com dinheiro da Viúva) enfeitada com alguns sais.

Rever sistema de meta

Rever sistema de meta
Celso Ming O Estado de S Paulo 11 de setembro de 2010
A última ata do Copom reconheceu que a política monetária ganhou eficiência. Não precisa mais de doses maciças de juros para obter o efeito desejado; pode trabalhar com mais sutileza.
Em dez anos de funcionamento, o sistema de metas é sucesso. Nos últimos cinco anos, por exemplo, a inflação ficou dentro da meta e isso diz muita coisa. O Banco Central está conseguindo ancorar as expectativas dos “fazedores dos preços”, o que sugere que o sistema está aí para ficar. Mas precisa de ajustes. Uma coisa era o contra-ataque à inflação de 9% há dez anos; e outra, quando a inflação está abaixo da metade disso. Há problemas a corrigir.
O primeiro deles é o de que trabalha com metas altas demais. Poucos países do mundo admitem uma inflação de até 6,5% ao ano (4,5% de centro de meta mais 2 pontos de estouro). Os bancos centrais dos países avançados calibram sua política para uma inflação de 2%.
No Brasil, a meta está submetida à camisa de força do ano-calendário, período em que podem concentrar-se turbulências. É por isso, também, que admite a zona de escape de dois pontos porcentuais ao ano, tanto para cima como para baixo. No entanto, se o período em que a meta a ser atingida fosse mais esticado, os formadores de preços e agentes de mercado poderiam trabalhar mais a longo prazo, o que aumentaria a previsibilidade do sistema. Dá para imaginar, por exemplo, os bons efeitos que produziria a decisão de que o Banco Central terá quatro anos para ajustar a política monetária de modo a atingir a meta de inflação de 3% em 12 meses.
Outra mudança a introduzir é a própria medida de inflação. O conceito flat de custo de vida já não serve para definir o nível adequado dos juros num regime que começa a pedir pente-fino. No início deste ano, por exemplo, o Banco Central aumentou os juros em consequência da disparada da inflação, que foi produzida por um choque de oferta de alimentos provocado por excesso de chuvas. Não faz sentido aumentar os juros para combater uma alta de preços que nada tem a ver com o volume de dinheiro na economia. Isso significa que o Banco Central deveria trabalhar mais com o conceito de núcleo de inflação (core inflation), medição que ainda precisa melhorar no Brasil.
A terceira alteração tem características de reforma e já tem sido comentada. Por isso, basta mencioná-la. Trata-se da necessidade de rever a remuneração da caderneta de poupança, da Letra Financeira do Tesouro (LFT) e a atuação do BNDES, que tiram força da política monetária e são barreiras à queda dos juros no Brasil.
É preciso rever a composição do Copom. Hoje, com igualdade de votos, dele fazem parte todos os diretores do Banco Central, inclusive os de Administração e de Liquidações, cujas especialidades são o gerenciamento da máquina ou de massas falidas e não a definição do nível adequado de moeda da economia.
Quinto ponto: é necessário melhorar a comunicação. Nessa faixa, o Banco Central opera em três níveis. O primeiro são os canais institucionais: o relatório trimestral de inflação, os comunicados emitidos após a reunião do Copom e as atas do encontro; o segundo nível são entrevistas e reuniões informais; e o terceiro, entrevistas do presidente do Banco Central à imprensa.
Este não parece um mix apropriado, seja porque pode se tornar obsoleto (caso dos relatórios de inflação e das atas), seja porque cria ruídos como os provocados pelas reuniões com o chamado Grupo de Fátima. Em julho, por exemplo, o Copom teve de reduzir a dose dos juros, na contramão do que indicavam os textos oficiais. O presidente do Banco Central argumentou depois que, em entrevistas na TV, havia sinalizado a mudança. Ora, entrevistas na TV não podem ter o peso de um comunicado formal. A ideia aqui é de que todos os membros do Copom manifestem o que pensam, ainda que divirjam da maioria, que essas posições sejam registradas no site do Banco Central e seus votos sejam abertos.
Mas é preciso pontuar: nenhum aperfeiçoamento do sistema de metas funcionará se não forem preservadas a autoridade, a autonomia e a confiança na direção do Banco Central.

Skoob

BBC Brasil Atualidades

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