quinta-feira, julho 15, 2010

Militares bajeenses vão para o Haiti

Militares bajeenses vão para o Haiti
Embora seja uma tarefa difícil e arriscada, o sonho de muitos militares brasileiros é integrar a bem-sucedida Missão de Paz no Haiti.

Depois do terremoto que devastou o país em janeiro deste ano, o espírito de solidariedade aumentou. Há aproximadamente um mês, o Exército Brasileiro, que comanda a Missão de Paz da Onu naquele país, solicitou o envio de militares das unidades bajeenses para o Haiti. Conforme informações do setor de relações públicas do Exército local, a 3ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, com sede em Bagé, juntamente com a 8ª Brigada de Infantaria Motorizada, de Pelotas, estão responsáveis pela formação do Brabat 2/14 (Brazil Battalion 2/14), que será o 2º Batalhão do 14º Contingente do Brasil a ser enviado para o país devastado.
Os 37 militares bajeenses chegarão ao Haiti em fevereiro de 2011, um ano e um mês depois de um terremoto que arrasou o país, inclusive a estrutura militar que havia sido montada. A finalidade é auxiliar na reconstrução do local. O efetivo a ser convocado em todo o Brasil é de 809 militares.
Os militares bajeenses voluntários já foram pré-selecionados nas suas unidades. Depois desta etapa, uma nova seleção ocorre, antes que os escolhidos passem por um período de seis meses de treinamento, previsto para os próximos meses. A Missão de Paz deve durar mais seis meses, com um trabalho árduo e em tempo integral.

Marco Jacobsen, hoje no Estado do Paraná


tanto mar, tanto mar...by Johnguardacosta

Quanto custa uma alma?

Lisa Hannigan - Sea Song

Presidente do TSE visita cidades atingidas pelas enchentes em Alagoas

Presidente do TSE visita cidades atingidas pelas enchentes em Alagoas
Objetivo da visita é conhecer a situação real dos municípios e verificar o que o TSE pode fazer


O ministro Ricardo Lewandowski, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é esperado nesta quinta-feira (15) em Alagoas para visitar alguns municípios mais afetados pelas enchentes que ocorreram nos últimos dias no estado. As cheias causaram estragos em casas, cartórios e diversos prédios públicos, principalmente escolas, que serviam como locais de votação.
O objetivo da visita é conhecer a situação real dos municípios e verificar o que o TSE poderá fazer para ajudar a população e possibilitar a realização das eleições de outubro próximo nessas localidades.
O presidente visitará primeiro a capital Maceió, com 521 mil eleitores e 2 mil pessoas atingidas pelas cheias. Depois passará por Rio Largo, a 28 km da capital, e o município de Murici, a 51 km de Maceió. Em Murici, município com pouco mais de 18 mil eleitores, 15 mil pessoas estão desabrigadas ou desalojadas. As chuvas em Rio Largo atingiram 6 mil pessoas.
Em sessão plenária da última semana no Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas, o presidente, desembargador Estácio Gama, anunciou que mais de mil estudantes universitários atuarão como mesários voluntários nas eleições de outubro.
Na semana passada, o ministro Lewandowski esteve em Pernambuco, estado que também foi castigado pelas chuvas. Na ocasião, afirmou que, se necessário, requisitará o apoio do Exército Brasileiro para montagem de barracas militares que servirão como locais de votação. O ministro também fez um apelo para que eleitores da região se voluntariem como mesários 

Existe uma cultura autoritária no governo

Existe uma cultura autoritária no governo

O Globo
Parece incoerência o país completar 25 anos ininterruptos na democracia, o mais longo ciclo sem curto-circuitos institucionais da história da nossa República, e alguns setores da sociedade enfrentarem problemas de restrição à liberdade de expressão. E surpreende que sejam dificuldades já inexistentes na fase final do regime militar, antes mesmo de 1985, quando se despediu do Planalto o último general, João Baptista Figueiredo.
A explicação está na chegada ao poder, com o governo Lula, de grupos de esquerda autoritária incansáveis na perseguição da ideia fixa de contrabandear para a legislação e políticas públicas instrumentos de controle social, de maneira dissimulada. Os propósitos costumam ser os melhores possíveis, a ideia por trás das medidas não deixa de ter alguma lógica. Porém, nestas ações, há sempre a presença de um elemento fundamental: a ingerência do Estado na vida privada, de pessoas e empresas, peça-chave na construção do aparato orwelliano do Grande Irmão. O lapidar e mais recente exemplo é o projeto de lei assinado pelo presidente Lula, em meio a fanfarras pela comemoração dos 20 anos do Estatuto do Menor (ECA), que visa a estatizar a relação entre pais/escolas e filhos. A lei — destinada a coibir palmadas e beliscões de pais em filhos, de professores em alunos, destilada na incansável Secretaria de Direitos Humanos — seria apenas ridícula não fosse fruto desta cultura autoritária, que parece avançar dentro do governo à medida que se aproximam as eleições. O governo defende o tragicômico projeto como se fosse impedir a repetição do caso Isabella Nardoni. Entendem os doutos de Brasília que beliscões e palmadas podem levar a crimes como este, em que pai e madrasta foram condenados por jogar de um prédio a filha e enteada. Ora, não se pode colocar no mesmo saco distúrbios graves de comportamento, aleijões de personalidade e cenas do cotidiano de famílias e escolas.
Mas os estatistas desejam intervir em tudo. No primeiro governo Lula, o Ministério da Cultura tentou controlar o conteúdo da produção audiovisual, por meio de uma agência (Ancinav). Na mesma época, o Palácio deu espaço para corporações sindicais ameaçarem montar um aparato de patrulha das redações das empresas de comunicação profissionais e independentes (Conselho Federal de Jornalismo). Deram em nada as investidas. Mas, por se tratar de uma cultura autoritária, com militantes em vários recantos do governo, surgem iniciativas intervencionistas em diversas áreas. Como na Anvisa, agência do Ministério da Saúde, a qual insiste em intervir, via resoluções, em propagandas de alimentos, só possível por meio de lei aprovada no Congresso. Ainda bem que existem pesos e contrapesos inerentes ao regime democrático, graças ao quarto de século de estabilidade política. Na terça, a Advocacia Geral da União instruiu a Anvisa a suspender as restrições, por ilegais. Com é da sua índole, a direção da Anvisa disse que não acatará.
Haverá, então, mais uma reclamação à Justiça sobre o cumprimento da Carta.
Há outras evidências de que existem anticorpos para repelir o autoritarismo. A atenção de todos, porém, deve ser a máxima possível.
A quebra criminosa do sigilo fiscal do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, na Receita Federal, alerta para a infiltração de militantes na máquina pública. Há, portanto, outras ameaças à democracia que não são percebidas a olho nu.

Prática antidemocrática

Prática antidemocrática
Merval Pereira

Há no Brasil de Lula uma predisposição para se aceitar quebra de normas legais como se fosse a coisa mais normal do mundo. A tradição de existirem leis “que pegam” e outras que nem tanto, que marca negativamente a nossa sociedade, passou a ser um parâmetro considerado válido para o comportamento, do cidadão comum ao presidente da República.
O cidadão que não respeita sinal ou usa a calçada para estacionar o carro se sente no direito de fazer isso, ou está contando com a impunidade. Ou ainda considera o custo-benefício da multa favorável.
O presidente da República que, como Lula, joga o peso do cargo para favorecer sua candidata se sente no direito de fazer isso, ou conta com a impunidade da legislação eleitoral.
O belo verso de Fernando Pessoa em “Mar português” (“Tudo vale a pena se a alma não é pequena”) já virou “Tudo vale a pena se a multa é pequena” na internet.
A quebra do sigilo da declaração de Imposto de Renda do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira, admitida pelo próprio secretário da Receita Federal em depoimento no Senado, não provoca nenhum estremecimento na máquina pública, que deveria existir para servir aos cidadãos, e não ao governo da ocasião.
Os dados de declarações de renda do dirigente oposicionista, que foi ministro do governo Fernando Henrique Cardoso, foram parar em um dossiê montado pelo comitê de campanha da candidata oficial Dilma Rousseff, o que foi denunciado pelo jornal “Folha de S. Paulo”.
Por outro lado, o fato inédito de o presidente da República ter sido multado seguidas vezes por transgredir a lei eleitoral passa a ser considerado normal, porque todos concordamos que a lei em vigor é fora da realidade e deveria ser alterada.
Ora, como diria o deputado federal José Genoino nos áureos tempos do mensalão, “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”.
O fato de uma lei eleitoral não resistir à realidade de uma campanha política não significa que ela deva ser simplesmente ignorada pelos competidores, ainda mais pelo presidente da República, que deveria dar o exemplo de respeito às leis do país.
Além da exemplaridade, a atuação do presidente da República em uma campanha eleitoral deve ser coberta de cuidados para que o peso do Estado não distorça a competição entre os candidatos.
A desfaçatez com que o presidente Lula tem se comportado nesta sua sucessão marcará a História republicana recente como uma época em que a esperteza tem mais aceitação do que o respeito às leis e à ética pública.
O episódio em que o presidente Lula finge pedir desculpas por ter citado a ex-ministra Dilma Rousseff como a grande mentora do projeto do trem-bala é o ápice de um processo de degradação moral da política, não apenas pelo cinismo do mea-culpa, mas porque estava presente à solenidade o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Ricardo Lewandowski.
O fingimento do presidente levou-o a desrespeitar a legislação eleitoral mais uma vez, e certamente a esperteza do chefe deve ter sido intimamente comemorada pelos áulicos presentes, muitos dos quais aplaudiram a primeira transgressão.
Há uma tendência a aceitar que o empenho pessoal do presidente Lula, com a força de sua popularidade, e o uso da máquina pública em favor da candidatura oficial de Dilma Rousseff a tornam a favorita das eleições de outubro.
E não se leva em conta que essa combinação de forças é ilegal.
Já o secretário da Receita Federal, Otacílio Cartaxo, admitiu ontem na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado que vários auditores da Receita acessaram dados fiscais do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas, no período de 2005 a 2009, e por isso estão sob investigação da Corregedoria Geral do órgão.
Mas se recusou a dar os nomes, pois essa é uma investigação sigilosa, como sigilosos deveriam ser os dados confiados à Receita Federal por um cidadão.
É até aceitável que não dê os nomes, para proteger os que eventualmente tenham tido algum motivo oficial para acessar os dados.
Parece óbvio, porém, que, se houvesse entre esses servidores da Receita algum que tivesse acessado os dados por uma razão funcional qualquer, o secretário Cartaxo teria o maior prazer em anunciar oficialmente isso na Comissão do Senado.
Poderia dizer: “O funcionário fulano de tal acessou os dados a pedido oficial desta ou daquela autoridade, que está investigando o senhor Eduardo Jorge por esse ou aquele crime”.
Como não pode dizer isso, diz que a questão ainda está sendo investigada. Não deve ser difícil saber quais as razões que levaram cinco ou seis funcionários da Receita, com crachá e permissão para acessar informações de contribuintes, a entrarem nessa determinada conta.
A quebra do sigilo do caseiro Francenildo Pereira por parte de pessoas do governo que queriam proteger o então ministro da Fazenda Antonio Palocci acabou condenando o então presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Matoso, além de ter provocado a queda do próprio ministro.
Estavam à procura da prova de que o caseiro havia recebido dinheiro para fazer as denúncias contra o ministro, mas o dinheiro que recebera em sua conta devia-se a uma questão familiar.
Também desta vez o dinheiro que Eduardo Jorge declarou tinha origem em uma herança familiar, e não em alguma falcatrua que o comitê de Dilma procurava.
Como não é a primeira vez que um órgão federal quebra o sigilo de um “adversário” do governo, é preciso que a cidadania se escandalize com essa prática antidemocrática, que fere os direitos individuais.

Ausência pode custar o cargo à juíza ‘fantasma’

Ausência pode custar o cargo à juíza ‘fantasma’

Ela marcava audiências no mesmo horário, em duas varas diferentes

POR ADRIANA CRUZ – Jornal O Dia

Rio - A Corregedoria-Geral da Justiça vai convocar a juíza Myriam Therezinha Simen Rangel Cury e as funcionárias do Tribunal de Justiça Andrea de Lima Guerra e Tarsilla Carla Calvo Chiti para prestar depoimento. Como O DIA  mostrou ontem com exclusividade, conhecidas como ‘secretárias’ da magistrada, elas faziam audiências no lugar da juíza. As três podem ser punidas com advertência e até perda do cargo. Em Guapimirim, Myriam chegava a marcar as audiências nos juizados Cível e Criminal nos mesmos dias e horários.

Em nenhuma delas, no entanto, Myriam estava lá: Andrea e Tarsilla conduziam as sessões, como O DIA  constatou em 16 de junho. As funcionárias a substituíam nas audiências de instrução e julgamento nos juizados especiais adjuntos Cível e Criminal de Guapimirim. Nessa etapa do processo, testemunhas podem ser ouvidas e até sentença ser proferida. Tarsilla fazia o mesmo no Juizado Especial Cível de Inhomirim, Magé. Com a queixa formal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), a investigação foi aberta.
COLETA DE PROVAS
Em Inhomirim, Myriam já foi substituída pela juíza Luciana Mocco. “Estamos na fase de coleta de provas. Assim que terminarmos, ouviremos a juíza e as funcionárias”, afirmou o corregedor-geral da Justiça, desembargador Antônio José Azevedo Pinto. Na representação à Corregedoria, a OAB-RJ pediu que cópia do documento fosse enviada ao Ministério Público (MP) para que Myriam seja investigada por falsidade ideológica e as funcionárias, por usurpação de função pública. O MP vai aguardar as investigações do Tribunal de Justiça.
“Já tivemos um resultado positivo, a juíza foi substituída em Inhomirim”, avaliou o presidente da OAB-RJ, Wadih Damous. O presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), Mozart Valadares Pires, criticou a atuação de Myriam: “Magistrado nenhum pode delegar suas funções a outro servidor. O juiz ao presidir a audiência é responsável até pela manutenção da ordem se houver incidente entre advogados. É lamentável”. 
Apontado como um dos melhores criminalistas do País, o advogado Luiz Flávio Gomes é taxativo: “As audiências de instrução e julgamento nos juizados especiais só podem ser feitas pelo juiz. No caso da juíza, pode ser caracterizado o crime de falsidade ideológica”. 
Por duas semanas de junho, O DIA acompanhou o trabalho das ‘secretárias’. Neste período, 52 audiências foram realizadas sem a juíza. Nas atas constavam, no entanto, que Myriam estava lá e que proferia as decisões. Mas O DIA filmou parte das audiências em 16 e 22 de junho, sempre com a cadeira da juíza vazia.


'A PRESENÇA DO JUIZ É FUNDAMENTAL'
ANTÔNIO JOSÉ AZEVEDO PINTO, DESEMBARGADOR
Eleito 3º vice-presidente, o desembargador Antônio José Azevedo Pinto assumiu a Corregedoria da Justiça em dezembro por 30 dias em função da licença do então corregedor Roberto Wider. Com o afastamento de Wider determinado pelo Conselho Nacional de Justiça, ele acumula as duas funções e é taxativo: o juiz é o servidor público. Não pode estar fora da lei. 
1. O fato de a juíza não estar presidindo as audiências e constar nas atas que ela está presente é crime?
O certo é que audiências e atos judiciais tenham a presença do juiz. É a lei. Agora, nós só podemos caracterizar irregularidade ou outra situação mais grave a partir dos fatos concretos. Tomamos conhecimento do vídeo feito pelo jornal. Providências foram tomadas. Nas investigações, a juíza vai continuar na vara única de Guapimirim.
2. Essa investigação demora quanto tempo?
Temos como princípio fazer a apuração com os envolvidos apresentando toda a defesa possível. Não há pré-julgamento. O relatório será enviado ao Órgão Especial do Tribunal de Justiça em 60 dias, acredito. Se as pessoas não denunciarem, não contarem o que está errado, ficamos na rotina de inspeção. Há ocasiões em que precisamos ser provocados para instauração de procedimento. 
3. É comum um juiz ser da vara única, ter um juizado especial em outra comarca e ser juiz eleitoral, como é o caso da doutora Myriam Therezinha? 
É comum e permitido por lei. A carência de juízes é muito grande no estado. Mas não pode ficar uma vara e comarca sem juiz.
4. No caso da juíza Myriam, as audiências de instrução e julgamento dos juizados especiais adjunto cível e criminal eram no mesmo horário. Como ela poderia estar em duas salas ao mesmo tempo?
Cabe ao juiz organizar a rotina. Ele prepara a pauta de audiência e deve fazer de modo que torne possível a conciliação. O juiz não pode estar em dois lugares ao mesmo tempo. Ele tem que estabelecer que dia tal estará em um lugar e dia tal em outro. Ou, no horário de tanto a tanto está em uma vara e, no outro horário, em outra. A presença do juiz é fundamental. 
5. Em audiências de instrução e julgamento mesmo sendo juizado especial, o juiz tem que estar? 
Especificamente, sim. Isso é fato e não há o que questionar.

Raposas, Connecticut


Fotografia por LeShane Kevin

Total eclipse of the earth

A  imagem mostra um eclipse solar visto do espaço, feita por cosmonautas da estação espacial Mir em 1999, pouco antes dela ser desativada. Na foto, a sombra da Lua é claramente visível sobre a Terra. Neste domingo a Ilha de Páscoa, no meio do Pacífico, vai ser o único lugar de terra firme onde será possível ver um eclipse total do Sol este ano. Os eclipses solares ocorrem quando a Lua cruza o céu em frente a nossa estrela, numa coincidência astronômica que faz os diâmetros aparentes dos dois astros serem quase os mesmos. 
Fonte: O Globo

Ressentimento e onipotência

Ressentimento e onipotência
José A. Guilhon Albuquerque
O ESTADO DE S. PAULO
Demétrio Magnoli publicou nesta página (8/7) uma receita ideal para José Serra perder as eleições e delas sair engrandecido aos olhos de um setor da elite. Mas, como disse o técnico da brava seleção espanhola, "una final no es para jugar, es para ganar".
O autor apresentou um diagnóstico impecável sobre o governo Lula e o "lulismo". Para eleger-se um estadista, entretanto, não se trata de diagnosticar os atores, mas sim o processo eleitoral, que não é um concurso de simpatia, erudição ou correção política aos olhos de jornalistas, intelectuais ou ativistas: o que estará em jogo em outubro é a confiança do eleitor para escolher quem é mais capaz de manter as conquistas que o povo valoriza e evitar as mudanças que o povo teme.
Se Lula tivesse apoiado uma candidatura claramente confiável aos olhos do eleitor comum, comprometida em mudar o que o povo espera, sem pôr em risco os avanços econômicos, políticos e sociais da reconquista da democracia e da estabilidade da economia, o lugar para uma candidatura alternativa não seria o de um estadista, mas o de um profeta que clama no deserto.
Movido pelo ressentimento de ter galgado os píncaros do poder e ter-se recoberto da glória dos palcos internacionais, sem nunca ter conseguido derrotar Fernando Henrique Cardoso, e ofuscado pela onipotência que lhe é atribuída pelos beneficiários das benesses e migalhas que distribui à esquerda e à direita - e com desenvoltura senhorial -, Lula optou pela escolha maniqueísta entre o bem e o mal, lá onde o povo espera um compromisso entre continuidade e mudança.
Um pressuposto comum às análises do atual processo sucessório é o de que, uma vez decidido por Lula, um plebiscito seria inescapável e, porque Lula é imbatível, a vitória de Dilma é inevitável, cabendo a Serra mimetizar o papel de estadista e "perder as eleições falando de política", como diz Magnoli. Inescapável é o fato de que Lula, não o tendo feito no momento oportuno, já não conseguirá derrotar Fernando Henrique nas urnas. Para realizar esse sonho, ainda que sob a forma de delírio, Lula precisaria criar uma Dilma Rousseff à sua imagem e semelhança e levar José Serra a se comportar como um fantoche de Fernando Henrique. Não conseguiu uma coisa nem outra.
Partindo do pressuposto da invencibilidade de Lula e de sua pretensão a cabo eleitoral imbatível, a maioria das análises se ocupou em comprovar - contra as evidências estatísticas disponíveis - como, ao fim e ao cabo, a inevitabilidade de Dilma prevaleceria. Assim, quando Lula, do alto de seus 80% de aprovação, dissesse as palavras mágicas - "meu nome é Dilma" -, os jogos estariam feitos. E ele disse, mas ela não teve os inimigos por escabelo de seus pés.
Alguns aspectos desprezados reiteradamente nas análises eleitorais explicam essa discrepância entre os anseios de Lula e a realidade política. É verdade que Lula foi surpreendentemente hábil em decretar quem iria suceder-lhe e quem ele iria derrotar, como já foi seguidamente comentado na imprensa. Mas, ao fazê-lo, esqueceu - se é que soube um dia - que a realidade política não é uma tabula rasa na qual ele imprime um diktat a seu bel-prazer.
Lula mostrou que não era imbatível quando resolveu antecipar a luta sucessória para as eleições municipais de 2008 e escolheu Serra para ser derrotado de uma vez por todas. Com isso mandaria uma mensagem à oposição, ao seu próprio partido, à elite política e, enfim, ao mundo inteiro. Contudo sofreu uma derrota pouco dignificante e, ademais, escolheu o adversário errado, pois praticamente oficializou o então governador paulista como sua real alternativa de poder.
Como se não bastasse escolher o adversário errado, no momento errado e em inferioridade de armas, não foi capaz de reconhecer a derrota nem de aprender com ela, e promoveu uma polarização que, longe de opor sua imensa popularidade à imaginária rejeição a Fernando Henrique, força a uma comparação que só convém a Serra. Imaginando que seu imenso sucesso tudo lhe permite, não foi capaz de ver - ou, se viu, não levou em conta - que uma maioria significativa dos que aprovam o seu governo também rejeita a corrupção, não aprova o seu apoio às elites oligárquicas, nem a sua amizade com ditadores sangrentos, nem a sua leniência para com movimentos radicais e violentos, nem os atentados à liberdade. E tampouco está satisfeita com a condução de algumas das políticas que mais a atinge em sua própria vida.
Levada para o centro do palco sem nenhum preparo, sua candidata nunca teve o cuidado de se distanciar da corrupção, das oligarquias carcomidas, dos atentados à liberdade, dos governos "amigos" que tratam como inimigos os nossos compatriotas que lá vivem e as nossas empresas que lá produzem. Mas, quod licet Iove non licet bove, ou seja, em latim boi pode rimar com Júpiter, mas em nenhuma língua tem iguais poderes. Os que apoiam Lula o fazem apesar de não aprovarem seus erros, e não por causa deles.
Confiança não se transfere e uma campanha maniqueísta, quando o eleitorado quer continuidade com mudança, não ajuda a vencer uma dúvida que as pesquisas mostram ser persistente: o quanto de Lula - e o quê - pode ter contagiado Dilma, e o quanto de Lula persistiria em Dilma caso eleita. Caso aderisse a um script incendiário anti-Lula, Serra iria realizar o sonho plebiscitário do presidente, dando novo fôlego a uma candidatura com escassa margem para progredir, além de se desqualificar como aquele capaz de estabelecer um equilíbrio produtivo entre a segurança da continuidade e o temor da mudança.
Professor titular de Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade de São Paulo

Obsessão pelo poder

Obsessão pelo poder
Marco Antonio Villa, O Globo, 13/07/10
Quem não se submeteu a Lula, aceitando papel subalterno, ficou sem espaço
Como é sabido, o Partido dos Trabalhadores nasceu em 1980. Contudo, muito antes da sua fundação, foi precedido de um amplo processo de crítica das diversas correntes de esquerda realizada na universidade e no calor dos debates políticos. A ação partidária, os sindicatos e as estratégias políticas adotadas durante o populismo (1945-1964) foram duramente atacados.
Sem que houvesse um contraponto eficaz, fez-se tábula rasa do passado. A história da esquerda brasileira estaria começando com a fundação do PT. O ocorrido antes de 1980 não teria passado de uma pré-história eivada de conciliações com a burguesia e marcada pelo descompromisso em relação ao destino histórico da classe trabalhadora.
O processo de desconstrução do passado permaneceu durante vinte anos, até o final do século XX.
As pesquisas universitárias continuaram dando o sustentáculo “científico” de que o PT era um marco na história política brasileira, o primeiro partido de trabalhadores. O estilo stalinista de fazer história se estendeu para o movimento operário. Tudo teria começado no ABC. Mas não só: a história do sindicalismo “independente” teve um momento de partida, a eleição de Luís Inácio Lula da Silva para a presidência do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo, em 1975 (na posse, estava presente o governador Paulo Egydio, fato único naquela época). Toda história anterior, desde os anarquistas, tinha sido somente uma preparação para o surgimento do maior líder operário da história do Brasil.
A repetição sistemática de que em São Bernardo foi gestada uma ruptura acabou ganhando foro de verdade científica, indiscutível. Lula tinha de negar e desqualificar a história para surgir como uma espécie de “esperado”, o “ungido”. Não podia por si só realizar esta tarefa. Para isso contou com o apoio entusiástico dos intelectuais, ironicamente, ele que sempre desdenhou do conhecimento, da leitura e da reflexão. E muitos desses intelectuais que construíram o mito acabaram rompendo com o PT depois de 2003, quando a criatura adquiriu vida própria e se revoltou contra os criadores.
Mas não bastou apagar o passado. Foi necessário eliminar as lideranças que surgiram, tanto no sindicato, como no PT. E Lula foi um mestre. Os que não se submeteram, aceitando um papel subalterno, acabaram não tendo mais espaço político. Este processo foi se desenvolvendo sem que os embates e as rupturas desgastassem a figura de líder inconteste do partido. Ao dissidente era reservado o opróbrio eterno.
A permanência na liderança, sem contestação, não se deu por um choque de ideias. Pelo contrário. Lula sempre desprezou o debate político.
Sabia que neste terreno seria derrotado.
Optou sempre pela despolitização.
Como nada tinha escrito, a divergência não podia percorrer o caminho tradicional da luta política, o enfrentamento de textos e ideias, seguindo a clássica tradição dos partidos de esquerda desde o final do século XIX. Desta forma, ele transformou a discordância em uma questão pessoal. E, como a sua figura era intocável, tudo acabava sem ter começado.
A vontade pessoal, fortalecida pelo culto da personalidade, fomentado desde os anos 70 pelos intelectuais, se transformou em obsessão. O processo se agravou ainda mais após a vitória de 2002. Afinal, não só o Brasil, mas o mundo se curvou frente ao presidente operário. Seus defeitos foram ainda mais transformados em qualidades. Qualquer crítica virou um crime de lesa-majestade. O desejo de eliminar as vozes discordantes acabou como política de Estado.
Quem não louvava o presidente era considerado um inimigo.
Os conservadores brasileiros — conservadores não no sentido político, mas como defensores da manutenção de privilégios antirrepublicanos — logo entenderam o funcionamento da personalidade do presidente.
Começaram a louvar suas realizações, suas palavras, seus mínimos gestos. Enfim, o que o presidente falava ou agia passou a ser considerado algo genial. Não é preciso dizer que Lula transformou os antigos “picaretas” em aliados incondicionais.
Afinal, eles reconheciam publicamente seus feitos, suas qualidades. E mereceram benesses como nunca tiveram em outros governos.
É só esta obsessão pelo poder e pelo mando sem qualquer questionamento que pode ser uma das chaves explicativas da escolha de Dilma Rousseff como sua candidata.
MARCO ANTONIO VILLA é historiador.

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