sexta-feira, junho 04, 2010

O Som do Coração - Trailer Legendado

Mongolian Man Fotografia por Charles Meacham

Um homem na Mongólia ocidental usa um chapéu de pele-aparado como proteção contra o frio do inverno. Alastrado através das montanhas e planaltos, a Mongólia tem uma altitude média de 5.180 pés (1.580 metros).

Imagens da NASA mostram vazamento no Golfo do México

Múltiplas câmeras no instrumento JPL MISR na nave espacial da NASA Terra foram usados para criar dois pontos de vista exclusivo do petróleo que se deslocam para as zonas húmidas costeiras de Louisiana. 
Crédito da imagem: NASA / GSFC / LaRC / JPL, MISR Team

Obama voltou?

Obama voltou?
Kennedy Alencar – Folha - 04/06/2010-00h03
Deu no "New York Times": "É necessária uma nova abordagem israelense para Gaza", dizem autoridades americanas.
A reportagem se refere ao ataque de Israel à flotilha que levava ajuda humanitária para Gaza. É um bom sinal o governo Obama falar em nova abordagem. Aliás, a nova abordagem deveria valer para toda a política externa americana, hoje conduzida pela secretária de Estado, Hillary Clinton.
Quando se elegeu, Obama fez acenos para o mundo islâmico e prometeu uma outra visão sobre o conflito entre israelenses e palestinos. Mas Hillary vem aplicando a mesma velha política. Uma política que não tem apresentado resultado.
Nesse contexto, foi positivo o acordo que Brasil e Turquia fizeram com o Irã. Pode não ser uma maravilha, mas é um avanço. O presidente Lula está certo ao insistir na ampliação de canais de diálogo com forças autoritárias e fundamentalistas. Obviamente, é preciso que haja um limite e que ocorram pressões para abertura política e menor radicalização. A partir de determinado ponto, se não houver concessões, existe sempre a opção de aplicar a política do porrete.
Lula deve pressionar Mahmoud Ahmadinejad a libertar presos políticos e a acabar com a repressão a opositores no Irã. O Brasil deve insistir no fim de atos terroristas palestinos. Mas deve, sim, dialogar com essas forças. A tática de emparedamento só resultará em maior radicalização. Israel e os EUA também devem ser cobrados a dar as suas contrapartidas.
Barack Obama ganhou um prêmio Nobel da paz porque se dispôs a comprar brigas com seus radicais. Depois, foi migrando para uma posição mais conservadora. Pode ser uma tática para obter a reeleição em 2012 e voltar a ser Barack Obama.
Por ora, Hugo Chávez tem razão: há dois Obamas.
Tomara que prevaleça o Obama disposto a abandonar a estratégia de guerra ao terror, entre outras políticas que têm dado resultado zero. Seria uma ótima notícia para o mundo o retorno daquele candidato democrata que defendia novas abordagens para velhos problemas.
Registro histórico
Um alto integrante da campanha de Serra diz que ele nunca cogitou convidar a senadora Kátia Abreu (DEM-TO) para companheira de chapa. Tampouco foi séria a possibilidade de José Roberto Arruda, quando governador do Distrito Federal e membro de cúpula do DEM, virar vice do tucano.
Kennedy Alencar, 42, colunista da Folha.com e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve na Folha.com às sextas. É comentarista do telejornal noturno RedeTVNews. E apresenta o programa de entrevistas "É Notícia", às 0h15 na noite de domingo para segunda.

Johnny Mathis - One Day In Your Life

Pátria dividida

Pátria dividida
Luiz Garcia - O Globo - 04/06/2010

Brasileiros e israelenses têm razões de sobra para serem bons amigos. Não apenas porque o antissemitismo tem, entre nós, escassas e geralmente detestadas manifestações: a sociedade brasileira tem no seu perfil — graças a Deus, Alá e Jeová — um traço histórico de boa convivência com diferentes etnias e religiões. Por isso mesmo, vemos com mais tristeza do que indignação o comportamento das autoridades israelenses no caso da flotilha de ajuda humanitária atacada por Israel quando se aproximava da Faixa de Gaza. O pretexto para o ataque foi o argumento de que haveria terroristas ligados ao Hamas a bordo da flotilha. E o Hamas é uma organização palestina historicamente associada a atos de terrorismo contra Israel.
Terroristas a bordo não foram encontrados.
De qualquer forma, a ação de Israel foi obviamente excessiva — paranoica, diriam, caso existissem, psicanalistas especializados em governos e regimes políticos.
Nos primeiros momentos depois do ataque à flotilha, as autoridades israelenses agiram com mão pesada. Prenderam todos os 682 passageiros e tripulantes dos seis navios, acusando-os de reagir com violência à abordagem. Mas não conseguiram mostrar sinais claros dessa violência, principalmente porque só os soldados israelenses tinham armas de fogo.
A bordo dos navios não havia terroristas, e sim dez mil toneladas de mantimentos, remédios e material de construção.
Não era, obviamente, uma operação militar.
Tratava-se, sem dúvida, de uma operação política, destinada tanto a levar ajuda aos palestinos como a chamar a atenção da opinião pública mundial para os sofrimentos deles.
E a reação de Israel, no fim das contas, só serviu para ajudar que o segundo objetivo fosse atingido plenamente. Como também outra meta do comboio foi alcançada: despertar a irritação ou pelo menos o desalento da opinião pública mundial ante a falta de tato — se assim se pode dizer — com que Israel administra o problema histórico da convivência com as comunidades palestinas em seu território.
Todos os passageiros e tripulantes da flotilha humanitária acabaram sendo libertados sem que autoridades israelenses conseguissem provar ligações de qualquer um deles com organizações terroristas.
Israel ganhou apenas uma queda de braço na ONU: a organização aprovou um pedido de investigação imparcial do episódio. Críticos de Israel pediam uma apuração independente. Como ficou, a imparcialidade vai estar por conta de Tel Aviv. No que interessa, nenhum passo foi dado no sentido de amenizar o problema histórico da convivência de árabes e judeus na terra que, historicamente, é a pátria de todos eles.

Paixão, em Gazeta do Povo


O silêncio de Hillary Clinton

O silêncio de Hillary Clinton
Gilson Caroni Filho - Jornal do Brasil - 04/06/2010

 No artigo Sionismo: armadilhas de origem, escrito em parceria com o economista Carlos Eduardo Martins para o site Carta maior, afirmamos que, por sua própria ideologia fundadora, Israel jamais se submeteu ou se submeterá a leis internacionais ou preceitos humanitários, assim como jamais se sentiu ou se sentirá obrigado a respeitar quaisquer acordos ou tratados que firme. Desde sua fundação, e em toda sua história, Israel definiu a si mesmo como um Estado fora da lei, uma força expansionista em permanente confronto com os terroristas de territórios ocupados.
O ataque em águas internacionais a uma missão que levava alimentos, materiais de construção e medicamentos para a população da Faixa de Gaza, brutalmente devastada pela operação Chumbo Derretido, realizada no início de 2009, é apenas mais uma ação que confirma a cristalina certeza israelense: o que conta é o apoio dos aliados estadunidenses, que procuram assegurar a hegemonia política na região. A comunidade internacional não deve ser levada a sério.
Uma acintosa exibição dessa má ou falsa consciência pode ser encontrada nas palavras de Giora Becher, embaixador israelense no Brasil:
Os organizadores estavam cientes de que suas ações eram ilegais. Sob o direito internacional, quando um bloqueio marítimo está em vigor, nenhuma embarcação pode ingressar na área bloqueada. Em conformidade com as obrigações do Estado de de Israel sob esta lei, os navios foram avisados várias vezes sobre o bloqueio marítimo ao longo da costa de Gaza.
Em uma eficiente inversão ideológica, Becher tenta ocultar a estratégia da barbárie. Israel decreta um bloqueio e busca a chancela de um sistema normativo que o condena. É assim que deve ser compreendida a brutalidade da ocidental e democrática sociedade israelense: como mera afronta à lógica formal que objetiva legitimar os ditames de uma extrema-direita fundamentalista e religiosa.
Convém recordar alguns fatos. Recente resolução do Conselho de Segurança da ONU recomendou a Israel, em termos extremamente brandos, que subscrevesse o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP). Dupla perda de tempo. Primeiro, porque será ignorada, como foram todas as resoluções anteriores instando o Estado judeu a cessar suas ações imperialistas e de massacre contra os palestinos. Segundo, porque, mesmo que uma liderança eventual acedesse em subscrever o TNP, o povo eleito o ignoraria solenemente. Ou alguém supõe que Tel Aviv permitiria inspeções de Agência Internacional de Energia Atômica a seus arsenais nucleares?
Não esperem da secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, propostas de fortes sanções comerciais e financeiras contra Israel, muito menos ameaças nada veladas de intervenção militar. Essas, ela reserva para o Irã, país signatário do TNP e sem histórico de agressões a vizinhos e atos de pirataria de Estado. Ou mesmo palavras duras de condenação e advertência, quando não de clara intimidação, como as dirigidas ao Brasil. Sobre Netanyahu e seus soldados, de Hillary só se pode esperar o silêncio cúmplice dos assassínios.
Israel, fiel aliado de Washington durante a Guerra Fria, é encarado como uma ilha de civilização ocidental no Oriente Médio. Merece todo apoio e consideração contra os bárbaros islâmicos .
A docilidade do texto do Conselho de Segurança não poderia ser mais elucidativa. Não há condenações, não se fala em ataques, mas em ações Os nove ativistas mortos não imaginavam que a arrogância, o terror e o sadismo com que o Exército israelense trata as populações palestinas fossem extensivos aos que se empenham em ações humanitárias. O ataque à flotilha é uma lição da velha ordem internacional. Nela, procura-se mostrar a inutilidade do humanismo como um referente ético sem valor de uso nem de troca.

Quando a cabeça não pensa...


A América que não interessa aos EUA

A América que não interessa aos EUA

Cineasta diz que seu objetivo em Ao Sul da Fronteira é mostrar aos norte-americanos quem são os seus vizinhos

O Estado de São Paulo - 04 de junho de 2010 | 0h 00
Humanista. Consciência como instrumento de mudança
Uma sucessão de equívocos, verdadeira comédia de erros - atraso no voo, falta de visto para entrar no Brasil -, impediu que o cineasta Oliver Stone cumprisse sua agenda na segunda-feira, em São Paulo. Ele deixou o público esperando na Faap. Chegou no fim da sessão de Ao Sul da Fronteira para convidados, conversou rapidamente, jantou e se recolheu ao hotel, para prosseguir com a agenda do dia seguinte, quando se encontraria com Dilma Rousseff em Brasília. Achou-a centrada, séria, mas descartou um documentário sobre a candidata do Partido dos Trabalhadores. "Mal a conheci", explicou. Na quarta, conversando pelo telefone - de Buenos Aires -, Stone se desculpou. A agenda continuava apertada. Na véspera, ele participou da pré-estreia de Ao Sul da Fronteira em Cochabamba, na Bolívia. Na quarta, seria a vez da capital argentina. Oliver Stone tem feito o tour da América do Sul a bordo de um jato privado para promover seu documentário. Quem paga a conta? Ele diz que não há nada de comprometedor nas suas andanças. Não tem o rabo preso com ninguém. Seu filme é pró-Hugo Chávez? "Ridículo", diz Mr. Stone.
Então seu filme não é pró-Chávez?
Isso é tão absurdo quanto dizer que sou de esquerda. Não sou de esquerda nem de direita. Sou um humanista, um observador independente e essa é a pior posição, porque você une todo mundo contra. O filme também não é pró-Chávez. O presidente da Venezuela ocupa metade de Ao Sul da Fronteira porque é o caso emblemático daquilo que estou falando. É um documentário. Foi feito para preencher uma lacuna. O público norte-americano ignora tudo que não seja ele próprio. É um defeito nosso. A história do mundo é a história dos EUA, vista do nosso ponto de vista. Comecei esse documentário porque queria mostrar aos norte-americanos uma vizinhança que lhes era desconhecida. Já tinha a experiência anterior de Salvador. É um de meus filmes de que mais gosto, mas é dos menos conhecidos porque se passa na América Central e isso não interessa ao público americano.
Mas Chávez ocupa a maior parte de seu filme. Lula, por exemplo, é mero coadjuvante. Por quê?
Porque Chávez é o caso exemplar daquilo que quero dizer. O público dos EUA não sabe nada de política externa. Ignora até a interna. As informações chegam principalmente via TV e são distorcidas. Abro Ao Sul da Fronteira com reações de apresentadores de TV dos EUA a Chávez. Eles o ridicularizam. É uma imprensa comprometida, que não cumpre sua função. Desde que mostrei o filme no festival de Veneza do ano passado, e Chávez foi comigo, as críticas a Ao Sul da Fronteira têm sido principalmente ideológicas. A melhor crítica que recebi até agora foi de Roger Ebert, um crítico norte-americano. É a melhor por analisar o filme como cinema, não fica só na discussão política, como as demais abordagens. Em geral, quem critica o filme não o faz na perspectiva de um entendimento da América Latina e do Sul, mas parece alinhado com interesses americanos. Não é o que me interessa. Faço filmes integrados ao sistema de Hollywood, tento fazê-los divertidos, interessantes, mas o que me move não é, nunca foi, o dinheiro. É minha consciência.
Muita gente diz que você é ingênuo, e se presta à manipulação de Chávez. O que pensa disso?

Digam o que disserem, Chávez é um personagem extraordinário. George W. Bush também é. E, embora seja peça central do meu filme, ele não está ali para se promover. Há uma mudança em curso na América Latina. Os presidentes bolivarianos da Venezuela, da Bolívia, da Argentina, do Paraguai, do Brasil, estão se unindo em defesa de seus povos, enfrentando as oligarquias a serviço de interesses internacionais. A imprensa demoniza Chávez, mas, apesar da oposição, ele é amado por seu povo.Você chega à Venezuela e as críticas a Chávez são intensas. Como dizer que é um ditador? A imprensa é que é parcial.
Muito interessante o que você diz sobre Bush. Ajuda a explicar por que você é tão controverso. Pelo menos no exterior, todos esperavam que fosse mais crítico com George W. Bush. Por que não foi?
Porque queria humanizá-lo, exatamente como Chávez no documentário. A demonização leva à parcialidade e não dá nunca a medida de uma pessoa. Mas eu entendo seu ponto de vista. Quando fiz As Duas Torres, atraído pela história daqueles bombeiros e de sua luta pela sobrevivência, fui chamado na Europa de "patriótico". Em W. não fui crítico do jeito que as pessoas queriam. Mas não posso fazer filmes pensando nas reações dos outros.
Mas você usa o ator que fazia Bush, Josh Brolin, para criar o personagem mais corrupto de Wall Street 2. É uma forma de explicitar uma crítica que não tenha ficado clara no filme anterior?
Nãããoooo. Uso Josh porque acho que é um dos grandes atores norte-americanos, e ainda é pouco valorizado. Wall Street tem atores e personagens emblemáticos de duas gerações, o veterano Michael Douglas e o jovem Shia Labeouf. Queria construir um personagem intermediário, para um ator de uma geração intermediária. Josh é excepcional.
Por que fez Wall Street 2? Por que demorou tanto?
Porque o filme não nasceu como uma "sequência". Se tivessem me pedido para fazer uma sequência há 20 anos, eu teria dito não. Mas o mundo mudou e, após a crise de 2008, fazia sentido voltar àquele universo. A cultura da ambição e da cobiça parecia ter chegado ao limite em 1987, mas em 2008 descobrimos que o mundo estava pior. Mesmo assim, não é um filme sobre o sistema financeiro, mas sobre personagens, como Ao Sul da Fronteira não é sobre Chávez e sim, sobre o movimento e a imprensa.
Você não acha que essa militância pode prejudicar seu cinema?
Já disse que não faço filmes para ganhar dinheiro. Quero entender o mundo e me entender. Acompanhando o processo de educação de meus filhos, dei-me conta de que o sistema educacional nos EUA não ensina nossas crianças. Estou empenhado num documentário de dez horas, que espero concluir no ano que vem. É uma visão mais abrangente da história norte-americana. Faço esse filme pensando em meus filhos, no crescimento deles.
Como você se posiciona perante Barack Obama?
Ele tem sido tímido nas mudanças, mas é um bom homem, honesto. O problema é que não bastam boas intenções. O sistema é muito poderoso. O último presidente norte-americano que realmente teve um projeto e queria mudar as coisas foi Kennedy, em 1963. Lá era possível acreditar, sonhar. Mas não perco a esperança. Meu cinema se baseia na consciência como instrumento de mudança.

Nossa esquerda direitista

Nossa esquerda direitista
Nelson Motta - O Globo - 04/06/2010

Ainda estou chocado com a pesquisa do Datafolha sobre a ideologia dos brasileiros: 35% dos entrevistados que se disseram petistas, por livre vontade e protegidos pelo anonimato, se declararam de direita. Como? Vamos tentar investigar esta peculiaridade política brasileira. Sim, as pessoas sabiam o que estavam falando, tanto que 25% responderam que não sabiam ou não queriam responder. As demais estavam seguras de suas opções e se dividiram entre esquerda, direita e centro, inclusive os petistas.
O lulismo não foi oferecido como opção, mas certamente teria muitos eleitores de todos os partidos, e nós, um peronismo tropical. Zé Dirceu, que diz que tudo que não é de esquerda, de direita é, tem um dilema: como culpar a direita por tudo sem ofender tantos companheiros? Com alguma fantasia e ironia, é possível imaginar que os entrevistados petistas fossem tão politizados que tenham se posicionado ideologicamente — mas em relação às correntes do partido, umas mais à esquerda e, por consequência, outras mais à direita, como a de Zé Dirceu.

Ou seria uma parte autoritária e impetuosa do PT, que se identifica com os métodos do stalinismo e do fascismo? Se acham de esquerda, mas adotam o comportamento totalitário que atribuem à direita. São aloprados ideológicos.
Outra interpretação, tola, seria que os entrevistados se disseram de direita porque confundiram com direito, como oposto de errado. Ou a teoria de Tim Maia, politizando a clássica frase “No Brasil, prostituta goza, traficante cheira, cafetão tem ciúmes … e pobre é de direita.” Como dizia Zé Dirceu nos anos 60, “é preciso conscientizar as massas”. Deve ser devastador aceitar que 2/3 dos brasileiros não querem saber da esquerda, por mais nobres e generosas que sejam as suas intenções. O pior é que alguns ainda vivem na ilusão de que todo mundo que se opunha à ditadura era de esquerda. Mas talvez Leonel Brizola possa explicar. Na campanha presidencial de 1994, num comício no Paraná, com 4% das intenções de voto e a três dias da eleição, bradou do palanque: “Não acreditem nas pesquisas. O povo está só despistando...”

PESQUISA MOSTRA DANOS DAS COTAS RACIAIS

PESQUISA MOSTRA DANOS DAS COTAS RACIAIS

EDITORIAL - O GLOBO - 3/6/2010

Quanto mais se usam dados objetivos e referências históricas em debates contaminados por emoção, partidarismo, política e ideologia, menor o risco de se cometer graves equívocos na hora de tomar decisões. No caso da proposta de instituição de cotas raciais visando à criação de uma reserva de vagas para negros no ensino superior, este cuidado é imprescindível, pois estão em jogo questões chave: da qualificação de profissionais, imprescindível para o país poder competir no mundo globalizado, à preservação de características saudáveis na formação de uma sociedade miscigenada, como a brasileira, sem as tensões raciais verificadas, por exemplo, nos Estados Unidos.
Esta proposta, importada ainda na Era FH dentro das chamadas ações afirmativas, ganhou mais força na gestão Lula, porque, nela, a militância racialista aumentou a presença no Executivo em Brasília. Com articulações no Congresso, o lobby conseguiu fazer tramitar entre deputados e senadores uma lei específica de criação dessas cotas e um projeto de estatuto, o qual estende a reserva de mercado em função da cor da pele à publicidade, à concessão de emprego no setor público, entre outras aberrações.
Na discussão que se trava de maneira mais acesa desde o início do atual governo, já existe um rico acervo de argumentos fundamentados contra as cotas raciais, mecanismo, inclusive, já revisto pela Justiça dos Estados Unidos, onde elas surgiram e se firmaram.
Pesquisa feita pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), primeiro estabelecimento de ensino superior do país a aderir ao sistema de cotas raciais, contribui para este acervo. Realizado a partir dos dados do vestibular feito pela universidade em 2009, o levantamento comprova uma das mais cortantes críticas às cotas: criadas para supostamente corrigir injustiças, as cotas impedem a entrada no ensino superior de pessoas mais bem preparadas. É a confirmação do perigoso abandono do princípio do mérito.
Das 2.396 vagas abertas naquele vestibular para cotistas, apenas 1.384 foram preenchidas, pois os candidatos não conseguiram obter a nota mínima: 2.
Mesmo que a relação entre candidatos cotistas e vagas fosse quase um para um, enquanto entre os não cotistas 11 disputaram cada vaga. Entenda-se: se não são exigidas maiores qualificações aos cotistas, muitos merecedores de entrar na universidade ficaram de fora. Ainda com base na mesma pesquisa, a Uerj tenta justificar as cotas afirmando que o índice de reprovação é maior entre os não cotistas. A constatação, no entanto, tem importância relativa, pois o dano maior, o de impedir o desenvolvimento de talentos apenas porque eles não são negros, já foi causado no vestibular.
Também não surpreende que, em várias disciplinas, cotistas tenham notas inferiores às dos demais estudantes. Até o reitor da Uerj, Ricardo Vieiralves de Castro, em entrevista ao “Jornal Nacional”, admitiu que ficam de fora estudantes mais bem preparados. Mas ele continua a defender as cotas, mesmo que haja tantas evidências de que, ao reduzir a importância do princípio do mérito em nome da “raça”, o Brasil não terá profissionais qualificados como a realidade requer e, como inadmissível subproduto, já começa a inocular o racismo no convívio cotidiano da juventude.
Que esta pesquisa ajude o Congresso e o STF, onde o tema tramita, a refletir. Pesquisa da Uerj comprova a diminuição de importância do mérito escolar

Toni Morrison volta a abordar a condição dos negros nos EUA em romance


Lúcia Bettencourt*, Jornal do Brasil
 RIO - Negra e ganhadora do Prêmio Nobel de 1993, de uma Jefferson Lecture bem como de um Pulitzer, Toni Morrison – que já foi professora em Princeton e em Yale e se destacou como editora em Nova York – continua a se aventurar nos domínios da literatura, e a explorar a temática da escravidão e da condição dos negros nos Estados Unidos.
Escrevendo Compaixão no ano em que Barack Obama ganhou as eleições, um ano que anunciou uma revisão da condição dos negros no mundo, Morrison recua até 1690 para examinar a época em que a escravidão não se vinculava apenas à cor da pele, mas significava um tipo de mão de obra sobre a qual o desenvolvimento do novo mundo se amparou.
Para ilustrar sua tese, a servidão está presente, de alguma maneira, em todos os personagens de Compaixão. Mesmo Jacob Vaark, o órfão que acaba proprietário de terras, exemplifica um tipo de sujeição: a que submete o homem aos artifícios da ambição. É ele quem relativiza a escravidão que começa a se estabelecer nas colônias: explorar diretamente o comércio de carne humana é coisa que o repugna, mas ele não vê nada errado em investir no rum produzido em Barbados, por trabalhadores escravos, já que não estaria brandindo o chicote nem teria que enfrentar a presença silenciosa e ameaçadora dos escravos, que lhe faziam lembrar “uma avalanche vista a grande distância”.
Sua decisão de investir em rum é emblemática da hipocrisia americana, que não se envergonha de enriquecer “democraticamente” enquanto explora a mão de obra escrava em países distantes.
Morrison também desvincula a escravidão da cor da pele, ou melhor, revela algo que a sociedade americana parece ignorar: grande parte da sua população é descendente de “escravos” brancos, que eram vendidos e trocados, explorados legal e ilegalmente. Scully e Willard são representantes desses trabalhadores, ignorantes, mas que possuem, graças à cor da pele, a possibilidade de fugir do seu jugo.
Sorrow, cujo nome significa tristeza, é a órfã cuja servidão é a própria loucura de sua condição. Nascida e criada num barco, sua história é truncada, estranha, envolta em imprecisões. Quando seu lar/barco naufraga, ela é empurrada para a praia por “sereias, quer dizer, baleias”. Como as vítimas de trauma, ela possui uma amiga imaginária, Twin (gêmea), que a consola e aconselha, até que sua presença se torna desnecessária com o nascimento da filha, que a faz mudar de nome para Completa.
Lina, a mulher nativa – que antes da chegada de Rebekka, esposa comprada por Vaark, era a única companheira do fazendeiro – viu sua aldeia ser dizimada por algum tipo de peste e, depois de capturada e vendida como escrava, depois de ter aprendido os costumes da religião protestante, é exemplo da servidão que nos submete aos nossos próprios medos e superstições.
Verdades hediondas
No romance de Toni Morrison, a jovem Rebekka, trazida da Inglaterra num infecto porão de navio junto a prostitutas e ladras, parece a mais afortunada de todas as personagens femininas. No entanto, reconhece que, para ela, só existiam três alternativas: ser prostituta, criada ou esposa.
Tendo sido vendida pelos pais, tem a sorte de agradar ao marido, Vaark, porém sua incapacidade de gerar filhos homens que sobrevivam solapa sua autoconfiança. A morte de sua única filha, Patrician, vítima de um coice de animal, deixa-a desorientada.
Toda sua energia se concentra na relação que tem com o marido, e, com a morte deste e sua própria doença, aceita um novo tipo de jugo: o religioso., até que, eventualmente, venha a conseguir um novo casamento, única possibilidade de sobrevivência naquele Éden contaminado.
Com apenas 156 páginas, Compaixão consegue criar uma narrativa épica, que lança mão de um grande número de personagens. O português Ortega, sua mulher faladeira e seus dois filhos, calados como pedras, despertam a inveja de Vaark. Servos fujões escondem-se de fanáticos religiosos que começam a se empenhar em caçar bruxas.
“A minha mãe” e “seu filhinho”, alvo do ciúme de Florens, cujo nome evoca florins, ou seja, um tipo de moeda em uso na Holanda nos idos do século 17 (é bom lembrar que Nova York foi comprada por 60 florins, uma bagatela equivalente a 24 dólares). Com oito anos, ela se vê forçada a deixar sua mãe, sem compreender o gesto de compaixão de que é alvo.
Para essa menina, uma das narradoras do livro, a vida se resume no presente traumático da separação e na fome insaciável da paixão. É dando voz a esses personagens que a história, surgindo como uma espécie de mistério a ser desvendado, vai se revelando em toda a sua complexidade. Não podemos esquecer, porém, que o próprio cenário onde os personagens se debatem é carregado de sentido poético.
Tantos são os aspectos levantados pelos nomes e pelo estilo de Morrison que o livro se torna quase que uma parábola, onde cada palavra deve ser analisada e interpretada. Na história aparentemente simples de uma criança negra, usando sapatos grandes demais, que atrai a compaixão de alguém, inscreve-se todo o drama épico da construção de uma nação onde detalhes se transformam em fatos de importância capital para seu futuro e onde a hipocrisia mascara as verdades hediondas da servidão humana.
* Escritora, autora de Linha de sombra e A secretária de Borges, ambos editados pela Record
13:21 - 11/09/2009

Entre amigas

Basta CLICAR NA IMAGEM e ela se amplia em outra guia ou janela, no tamanho ideal.

Revendo minhas leituras arquivadas, encontrei este artigo de MARCIA PELTIER, de 20/12/2003. Parece muito tempo, mas as reflexões sobre o que está escrito estão bem atuais!

Uma mais ou menos longa cerimônia de adeus

J.P CUENCA – Jornal do Brasil 

Um homem entra por acaso num café de livraria e pede uma água com gás. Uma mulher percorre lombadas de uma prateleira com os dedos. O homem olha com atenção aquela mulher maravilhosamente desconhecida. Estamos no momento em que faltam poucos segundos para que ele se levante e vá falar com ela. 
Ou ainda: um homem lê o jornal na praia. Uma mulher, três barracas depois, precisa do caderno de classificados. Esse homem maravilhosamente desconhecido lhe atrai. Estamos no momento em que faltam poucos segundos para que ela se levante e vá falar com ele. 
Esse momento se repete milhões de vezes, todos os dias, a qualquer hora, em qualquer parte do mundo. Normalmente é fruto do acaso (“uma teia de coincidências”), mas pode também fazer parte de uma orquestração que envolva terceiros. As variações sobre ele são infinitas. Pode acontecer na saída de um teatro, numa madrugada de aeroporto, num velório, num bloco de carnaval, pela internet etc. 
Pouco importa o que está no fundo da cena. Importante é o que há em comum entre todos esses encontros. Dizer olá ao desconhecido sempre será começar a despedir-se do futuro conhecido. A história que unirá os que tiverem sorte é uma cerimônia de adeus. Uma mais ou menos longa cerimônia de adeus.
***
Peço licença e me aproprio de algumas 
rolandbarthianas questões – inúteis, logo veremos. Serei capaz de olhar o rosto de quantas mulheres ao longo da vida? Centenas de milhares? Milhões? Entre as donas desses rostos, desejarei algumas centenas. Mas estarei sempre amando só uma. E por que não outra? O que me fará escolher exatamente essa e não aquela? O que me fará ter medo de perdê-la?
Formulação melhor para essa pergunta: o que me fará querer despedir-me dessa e não daquela? 
A mecha de cabelo que cai sobre a testa, a cintura fina, o formato das panturrilhas, o jeito que ri? O seu suor? Ou uma palavra? Um gosto em comum? A timidez do ridículo? O livro que escolhe para ler? O senso de humor? O toque dos dedos? O tom da voz? Jamais saberemos. Novamente, pouco importa o que está no fundo da cena. 
Depois de eleito o objeto de desejo, alguém lúcido diria que o amor se construirá sobre camadas de engano e falsas ofertas. Até que cumpra sua vocação irresistível (a despedida) e ressurja num novo encontro entre dois novos anônimos, depois daquele instante vertical que existe entre olhar, levantar-se e dizer “olá”.
O risco de saber disso tudo é, num ato falho, saudar alguém na praia ou na livraria dizendo “adeus”.

Laços (Ties) - Project: Direct

Robert Browning



Deus é o perfeito poeta, 


que atua nas suas próprias criações.

Robert Browning

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