segunda-feira, setembro 06, 2010

A banda podre

A banda podre

Mary Zaydan – Blog do Noblat

Quando um presidente da República trata a quebra de sigilo fiscal do adversário como “futrica”, e sua candidata, líder absoluta nas pesquisas eleitorais, define esse crime como um simples “malfeito”, algo vai mal, muitíssimo mal. Mas sempre foi assim: quanto maior é o escândalo, mais o maestro e seu coro vigoroso tentam esconder os podres da banda. E como ela há anos reina sem concorrência, continua a agradar a maior parte dos convivas.
Ensaiados às pressas para uma contenda que não se imaginava vir à tona agora, os tocadores de bumbo, surdo e prato atravessaram brabo na melodia. O presidente da Receita, Otacílio Cartaxo, um dia disse uma coisa – “não há indícios de motivação política na quebra de sigilo” - , noutro fez outra, sempre sendo desmentido pelos fatos poucas horas depois.
A Receita desentoou de novo e quase implodiu a fanfarra quando garantiu provas de que fora Verônica Serra, filha do candidato do PSDB José Serra, quem pedira seus dados fiscais em uma agência de Santo André. Algo que um maestro experimentado como Lula sempre soube que não cabia nem em cantiga de ninar.
Para fugir da conotação eleitoral do enredo de horror instalado na Receita, o ministro da Fazenda Guido Mantega chegou a admitir que a então respeitada instituição pela qual deveria zelar é uma espécie de casa de mãe Joana, onde o número de quebras de sigilo é muito maior do que o dos políticos tucanos arrombados. Em qualquer país sério isso seria motivo de sobra para entupir a tuba.
Mas os ensurdecedores acordes desconexos não foram suficientes para inibir os animadores da banda. Ocupando todos os espaços possíveis, não faltaram trompas petistas para reverberar a falseta de que o próprio Serra teria armado o golpe contra a sua filha para obter ganhos eleitorais. Algo que só quem está acostumado com os labirintos dos esgotos poderia elucubrar.
Do outro lado, a trupe de José Serra continua sem achar o tom. Ora bate, ora assopra. Chega a produzir letra e música para o adversário, fornecendo-lhe todas as armas, como o fez ao entrar na Justiça Eleitoral para impugnar a candidatura de Dilma.
Hora e lugar errados.
Nada como uma sentença do TSE para embasar o discurso de que as vítimas são os algozes e que o PSDB queria era ganhar no tapetão. Melhor teria sido recorrer a outras esferas da Justiça, buscando não os trunfos eleitorais de que tanto precisa, mas o Estado de Direito. Cedo ou tarde o país aplaudiria.
Mas se Serra peca, o pecado capital vem do presidente Lula, que sempre se supera. Entoa a cantiga que quer. E nem se importa se desafina. Como general-mor da banda, faz o que o seu tino de poder manda. A seu bel prazer dispõe os melofones, fliscornes e pistões. E eles fazem tanto barulho que parecem ter êxito em esconder a desfaçatez de Lula ao admitir que soubera no início do ano - e dito pelo então governador de São Paulo - da hipótese de violação dos dados fiscais de Verônica. Nada fez, e ainda joga a culpa em Serra. “Ele não me alertou, ele se queixou”. E sua candidata Dilma Rousseff, é claro, segue a mesma partitura.
Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa

Tiago Recchia, para Gazeta do Povo

Matemático brasileiro ganha prêmio científico na Itália

Matemático brasileiro ganha prêmio científico na Itália

Os Prêmios Balzan têm o objetivo de reconhecer e estimular áreas emergentes da pesquisa
06 de setembro de 2010 | 13h 20 – Estadão - Associated Press - AP

Um matemático brasileiro e um biólogo japonês são os agraciados com os Prêmios Balzan para ciências exatas, anunciados na Itália nesta segunda-feira, 6. O brasileiro Jacob Palis, do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa) receberá um prêmio de 750.000 francos suíços, ou cerca de R$ 1,3 milhão, por seu trabalho na teoria dos sistemas dinâmicos. Palis é professor do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), Rio de Janeiro, e foi agraciado com 750 mil francos suíços, ou cerca de R$ 1,3 milhão, por sua contribuição à teoria de sistemas dinâmicos.
O japonês  Shinya Yamanaka está sendo reconhecido por seu trabalho para dotar células adultas de algumas das características das células-tronco embrionárias.
Os Prêmios Balzan têm o objetivo de reconhecer e estimular áreas emergentes da pesquisa científica.
Além dos dois prêmios de ciências exatas, também são concedidos duas premiações para as humanidades. Neste ano, os agraciados são o historiador italiano Carlo Ginzburg, pai da "micro-história", o estudo do passado com foco nas pessoas comuns e no cotidiano, e ao alemão Manfred Bauneck, por sua história do teatro na Europa.
Os Prêmios Balzan serão entregues numa cerimônia realizada em Roma, no dia 19 de novembro. A Fundação Balzan, que concede as honrarias, é baseada em Milão e Zurique. Foi criada pela família do jornalista italiano Eugenio Balzan, que fugiu da Itália para Suíça na década de 30 para escapar do cerco fascista à mídia.
A cada ano, o prêmio é concedido a diferentes áreas. Os do próximo ano terão como tema história antiga, estudos do Iluminismo, biologia teórica e os primórdios do Universo.

Que social-democracia é esta?

Que social-democracia é esta?
Luiz Werneck Vianna - VALOR ECONÔMICO
A campanha corre o risco de acabar sem que se discuta que social-democracia é esta em que só há lugar para a ação paternal do Estado
Não é preciso recuar muito no tempo, pois são de ontem os debates, na França e nos Estados Unidos, que confrontaram os candidatos à presidência Nicolas Sarkozy e Ségolène Royal, no primeiro caso, e Barack Obama e John McCain, no segundo, quando, com audiência mundial, cada um dos oponentes apresentou seus diagnósticos sobre o estado de coisas reinante em seus países e os programas de ação em que iram se empenhar, caso vitoriosos. Evidente e natural que os temas selecionados e o tipo de desempenho adotado por eles estavam largamente informados por pesquisas de opinião e por especialistas em marketing eleitoral, mas também ficou evidente, nas intervenções espontâneas, no calor das controvérsias, a marca personalíssima de cada candidato nas questões mais sentidas de suas sociedades, como a emigração, a guerra, os rumos da economia e da administração da questão social. Sequer faltaram as que tinham por objeto a própria interpretação de suas histórias nacionais, como nas famosas interpelações de Barack Obama ao inventário das tradições americanas.
Ora, direis, ouvir estrelas... Não haveria termo de comparação entre essas duas sociedades, vanguardas do Ocidente desenvolvido, com a brasileira, e, assim, não se deveria esperar que a campanha presidencial em curso reeditasse o seu padrão de debates. Na velha pauta do nosso pensamento conservador, deveríamos admitir a natureza refratária da massa dos indivíduos subalternos aos temas abstratos e complexos, apenas capazes de dar ouvidos a quem deles se aproximar com um dom materialmente tangível. Seria deles, afinal, a responsabilidade pela pobreza dos debates, e, assim, mais uma vez, explica-se a falta de imaginação e o caráter personalista da nossa política como resposta funcional à rusticidade da nossa sociologia.
Dessa forma, a campanha presidencial quando se destina às massas deserdadas do Nordeste se torna refém das políticas de programas assistencialistas, a serem expandidos e aperfeiçoados na linguagem comum dos candidatos. Se o estado de emergência em que vivem justifica esse tipo de intervenção, não há razão alguma para que não se introduzam nos debates sucessórios a questão crucial da transposição do rio São Francisco, com os temas a ela correlatos, para a qual a população sertaneja, caso exposta às controvérsias nela presentes, saberia manifestar as suas preferências. Sobretudo no que dissesse respeito às novas oportunidades que se poderiam abrir para que, ela própria, viesse a reunir condições para reinventar a sua forma de inscrição no seu mundo. O mesmo em relação às populações a serem afetadas pelas intervenções nas bacias hidrográficas já em andamento ou em fase de planejamento no Norte do país.
Contudo, o modelo da social-democracia neocorporativa à brasileira, admitindo-se como adequada essa conceituação em voga sobre o que seria, de FHC a Lula, a caracterização do sistema de governo atual, demonstra confiar muito pouco na sociedade civil. Seu atraso constitutivo e sua tradicional fragmentação não favoreceriam a que a livre explicitação dos interesses conduzisse às soluções mais justas e racionais, que dependeriam - em um diagnóstico que nos devolve à demofobia de um Oliveira Vianna dos anos 1920/30 -, mais do que a arbitragem do Estado diante de interesses divergentes, da sua intervenção direta na qualidade de intérprete mais qualificado do interesse geral. Com essa prática, que tem prevalecido nestes anos do segundo mandato de Lula, felizmente ainda sem teoria que a escore, o melhor lugar para os movimentos sociais ou estaria nas adjacências do Estado ou no seu próprio interior.
Um exemplo significativo desse estado de coisas se encontra na vida sindical. A opção por um modelo de sistema de sindicalismo negociado, em oposição ao legislado, consistiu em uma das marcas de origem da formação do PT, presente desde os tempos em que Lula era um sindicalista metalúrgico do ABC. Ainda fiel a essa inspiração, o então ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, destacado sindicalista e prócer do PT, interpretando deliberações do Forum Nacional do Trabalho, convocado pelo próprio governo, encaminhou a PEC 369/05, dizendo, em sua declaração de motivos, reconhecer a necessidade de uma reforma que torne "a organização sindical livre e autônoma em relação ao Estado", vindo a fomentar "a negociação coletiva como instrumento fundamental para a solução de conflitos".
Nessa exposição de motivos, o ministro Berzoini identifica a existência de "obstáculos institucionais à modernização das relações sindicais", que estariam a impedir a ação de uma representação autêntica da vida associativa dos trabalhadores, e, entre outras medidas relevantes, propõe a desconstitucionalização do princípio da unicidade sindical, clara opção em favor da pluralidade sindical e da extinção da contribuição sindical. Como amplamente sabido, o governo recuou dessa proposta, mudando sua agenda sindical no sentido de destinar às centrais sindicais reconhecidas pela legislação um porcentual do arrecadado com a contribuição compulsória, com o que veio a propiciar o retorno a práticas do corporativismo de Estado, que sempre combateu.
A cara nova da social-democracia à brasileira, se o conceito se aplica, data daí, de 2005, quando se disparou o comando de meia-volta, volver, e, em marcha batida, redescobrimos o Estado dos anos 1950/60. De lá para cá, já se passou uma campanha presidencial e estamos quase ao término de outra, sem que se discuta que social-democracia é esta, em que só cabe lugar para o Estado e sua ação paternal sobre a sociedade.
Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador do Iesp-Uerj. Ex-presidente da Anpocs, integra seu comitê institucional. Escreve às segundas-feiras

Preciso me encontrar Marisa Monte

Por mais impostos

Por mais impostos
A tributação brasileira não é a mais alta do mundo; se ela merece algum prêmio, é o de carga mais injusta
VLADIMIR SAFATLE – Folha de São Paulo
 TODAS AS VEZES que uma campanha eleitoral se inicia, a sociedade brasileira é invadida pelo eterno mantra a respeito da reforma tributária. Como todo mantra, ele gira em torno de uma nota só: a carga tributária brasileira é inaceitável, é a "maior do mundo", o cidadão brasileiro é obrigado a subsidiar um Estado gastador e corrupto, e por aí vai. No entanto, qualquer pessoa que realmente leve a sério problemas tributários sabe que tais afirmações são simplesmente falsas.
Primeiro, a carga tributária brasileira não é a mais alta do mundo.
Uma comparação honesta com países como França e Alemanha serve para desmistificar o mantra. Se há algum prêmio que a tributação brasileira merece é, na verdade, o de carga mais injusta. Como a base da arrecadação está vinculada a tributos sobre consumo e produção, são as pessoas de menor renda que acabam sentindo mais o peso dos impostos. Enquanto isto, um banqueiro paga a mesma porcentagem de Imposto de Renda que um miserável professor, ou seja, 27,5%.
Neste sentido, qualquer discussão séria a respeito da reforma tributária deveria começar por propostas que visassem, paulatinamente, substituir as tributações sobre consumo e produção por tributações progressivas sobre renda.
Este seria um capítulo fundamental para a implementação de políticas concretas de combate à desigualdade social.
Tal substituição passa, entre outras coisas, pelo aumento de impostos para os 2% mais ricos da população, assim como criação de mecanismos como impostos sobre grandes fortunas, impostos sobre herança e impostos sobre consumo de luxo. Ela passa, também, pela retomada de impostos como a CPMF: talvez o imposto mais justo criado no Brasil, já que tributa mais aqueles que têm grandes operações financeiras e visa subvencionar programas sociais. Neste sentido, talvez seja o caso de dizer: no Brasil, precisamos de mais impostos para os ricos e mais benefícios sociais para os pobres.
É claro que haverá aqueles que se indignarão afirmando que o Estado é mau gerente, que comparar os impostos no Brasil e em países europeus é desonesto, já que tais países oferecem serviços sociais de qualidade a seus cidadãos.
Bem, sobre o segundo ponto, valeria a pena simplesmente lembrar que eles podem fornecer tais serviços exatamente porque os impostos são altos. Além do que, em um país continental como o Brasil, onde, por exemplo, criar um sistema público de saúde significa desenvolver uma estrutura logístico-gerencial para um território com a extensão de toda a Europa (à exceção da Rússia), não haverá melhoria dos serviços públicos sem grandes investimentos estatais.
Por outro lado, a criação de um corpo gerencial estatal de alto nível e estável deve ser visto como um dos grandes desafios da política de nosso tempo. Mas não é pregando o desmonte do Estado que faremos isto. Até porque o mundo seria muito mais simples se problemas gerenciais fossem apanágio apenas do Estado. Pelo que se sabe, Lehman Brothers, Citibank, AIG, General Motors não são nem eram exatamente empresas estatais.

Rastro petista

Rastro petista
Acesso a dados fiscais do tucano Eduardo Jorge em Minas foi feito por mais um filiado ao PT
Vivian Oswald, Evandro Éboli e  Gerson Camarotti  - O Globo

 Mais um filiado ao PT foi identificado por envolvimento no vazamento de dados de tucanos. O analista tributário da Receita Federal Gilberto Souza Amarante — de cujo terminal de computador foram realizadas dez consultas ao CPF do vicepresidente do PSDB, Eduardo Jorge, na cidade de Formiga, em Minas Gerais — se filiou ao partido em Arcos, município vizinho, no dia 30 de agosto de 2001. Os dados estão registrados no cadastro de eleitores do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O servidor, que passou a integrar o quadro de funcionários da Receita em dia 31 de dezembro de 1992, é coordenador do curso de Direito Tributário da PUC-MG e mestre em Direito Empresarial.
Todos os acessos ao CPF de Eduardo Jorge ocorreram no mesmo dia: 3 de abril de 2009, durante 41 segundos entre a primeira e a última entrada, seis meses antes de servidores da Receita em Mauá (SP) devassarem as declarações de Renda de Eduardo Jorge e de outros tucanos.
Integrantes da Receita afirmam que os dez registros podem significar uma única consulta. Os sistemas do Fisco registram como novo acesso cada uma das vezes que o servidor muda a tela em um mesmo acesso.
De todo modo, a Receita não acredita que a consulta que partiu da senha do analista fiscal em Formiga tenha sido motivada. A explicação estaria no fato de terem ocorrido fora da região fiscal onde reside o tucano. Para comprovar se o acesso foi imotivado é preciso verificar ainda se a pesquisa teve ou não autorização ou seguiu algum pedido judicial.
De acordo com essas fontes no Fisco, a consulta não teria permitido o acesso aos dados fiscais do contribuinte.
Esse tipo de registro pode significar que o servidor tentou verificar dados pessoais de Eduardo Jorge.
Dutra confirma filiação de analista
A nova denúncia deve ser analisada pela Corregedoria da Receita em Belo Horizonte, responsável pela jurisdição de Minas Gerais. A comissão de inquérito deve requerer ao chefe do escritório de São Paulo, que analisa o caso, que prossiga com uma investigação disciplinar. Esse é o caminho de praxe para apurar indícios de irregularidades.
Eduardo Jorge diz que não tem negócios ou imóveis na cidade mineira de Formiga e estranhou o fato.
— Isso é a confirmação do que nós já suspeitávamos: é uma operação ampla para favorecer o PT e tentar intimidar a oposição. Além disso, a Receita Federal, mais uma vez, atuou de forma conivente com a campanha de Dilma. Essa eleição está seriamente afetada por essa questão de quebras sucessivas de sigilo — disse o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).
O presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, afirmou ontem que, se ficar comprovada a participação de Amarante no caso, o petista pode até vir a ser expulso do partido. Dutra optou pela prudência, mas confirmou que o analista de Formiga é filiado à legenda. Ele conversou com o presidente do PT de Minas, o deputado federal Reginaldo Lopes, e afirmou que não havia localizado o analista até o início da noite de ontem. Segundo Lopes, nem mesmo os dirigentes do PT de Arcos (MG) o conhecem.
— Realmente ele é filiado ao PT, mas não é um militante do partido. É preciso saber se ele teve acesso indevido aos dados da Receita. O PT tem uma postura ética que não concorda com essa prática. Se ficar confirmado qualquer ilegalidade, ele será excluído do PT — disse Dutra.
Dutra se antecipou a dizer que não há, de todo modo, qualquer vínculo do ato de Amarante com a campanha de Dilma Rousseff e lembrou que o fato ocorreu em abril do ano passado.
Ele acrescentou que o servidor da Receita não teria participado do último Processo de Eleição Direta (PED), as eleições internas, do PT. Mesmo assim, Dutra reconheceu que o episódio traz um incômodo para o PT.
— Claro que causa um constrangimento ao PT.
O relatório que detectou as consultas ao CPF do tucano foi produzido pelo Serpro, serviço de processamento de dados do governo, no dia 27 de julho. Foram encontrados ainda consultas ao CPF de Eduardo Jorge feitos por terminais da Polícia Federal, Banco Central e Ministério Público.

Xalberto, para a Charge Online

Educação de qualidade

Educação de qualidade
RICARDO YOUNG – Folha de São Paulo
 A sociedade e também as empresas, no Brasil e lá fora, estão buscando líderes socialmente responsáveis, que se preocupem tanto com os aspectos econômicos quanto com a maneira pela qual obterão esses bons resultados. Como deve ser este líder?
Numa palestra aqui no Brasil, no ano passado, John Wells, ex-professor de Harvard e presidente da IMD, prestigiosa escola de negócios na Suíça, arriscou uma definição ousada: o "líder 21" será alguém mais parecido com Che Guevara do que com Jack Welch. "Duro", "agressivo", "de longo prazo", mas sem perder a ternura jamais.
Para Wells, líder responsável é resultado de um binômio que mistura vivência e educação de qualidade para todos.
Porque será da quantidade que surgirão os executivos e políticos da transformação pela qual a sociedade precisa passar para construir uma nova civilização.
No Brasil, temos vivência, mas não temos educação de qualidade para todos, em que pesem os avanços recentes e alguns centros de excelência, como a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), o CTA (Centro Técnico Aeroespacial) e o Inpe (Instituto de Pesquisas Espaciais).
A verdade é que o país nunca tratou a educação com o devido respeito. Por isso, não se preparou para enfrentar o ciclo de mudanças que se avizinha, nem o atual momento de crescimento econômico.
O resultado? O "apagão" de mão de obra qualificada que vai além da falta de profissionais. Faltam, mesmo, competências técnicas e comportamentais. Mesmo os universitários não conseguem atender o perfil ético e responsável exigido aos gestores de hoje.
Pesquisa da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) mostra que, na relação com o PIB, somos um dos três países que menos investe em educação, dos 34 pesquisados. E, no âmbito empresarial, a ABTD (Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento) verificou que os treinamentos ministrados não igualam o nível dos profissionais brasileiros ao de seus colegas estrangeiros na mesma função.
O cenário parece sem saída, mas não é. Algumas das mais importantes entidades de educação do país, lançaram, com a Unesco, uma carta-compromisso aos candidatos deste ano, com propostas para execução até 2013, que incluem valorização do profissional da educação, padrões de qualidade para todas as escolas brasileiras e mais vagas na escola profissionalizante. Precisamos exigir dos eleitos total prioridade a estes objetivos. A educação tem de sair do atalho e pegar a estrada principal. O preço de mais um descaso será a perda da janela que a história nos escancarou para que, finalmente, possamos atingir a prosperidade e a justiça social que sonhamos.

Pelicano para o Bom Dia, SP

Fortaleza é uma das que mais aprova no ITA

Fortaleza é uma das que mais aprova no ITA
MOZARLY ALMEIDA - REPÓRTER
Os concorrentes dominam Matemática e Física e se dedicam a uma rotina de estudo exaustiva

O segundo semestre do ano letivo avança e, com a chegada do fim do ano, intensifica-se a rotina de estudos para as seletas turmas de colégios que, em Fortaleza, fazem a preparação para o vestibular de escolas militares. Mergulhados na aprendizagem de disciplinas consideradas áridas, como Matemática e Física, muitos desses pequenos "gênios" enfrentam uma maratona que, mais uma vez, poderá colocar a Cidade entre as capitais de maiores índices de aprovação nesses concursos, tidos como os mais difíceis do País.
Alunos das "Turmas ITA", como ficarão conhecidas, costumeiramente começam a estudar no início da manhã e vão até 22h ou 23h diariamente, com paradas apenas para as refeições ou urgências do dia a dia. Nos fins de semana, também, não abandonam os livros. O certo é que a competição entre os colégios e a dedicação extrema dos estudantes vêm surtindo efeito. Dentre os 120 calouros deste ano no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), 30 são de Fortaleza, dos quais 27 homens e três mulheres.
Para se ter uma ideia do desempenho dos estudantes cearenses no último vestibular do ITA - realizado em dezembro de 2009 para o corrente ano letivo -, São Paulo aprovou apenas 12 alunos e igual número registrou-se na cidade do Rio de Janeiro. O nível de aprovação de Fortaleza perdeu somente para São José dos Campos (SP), onde está sediado o ITA, a escola militar mais concorrida do País. Em seu último vestibular, por exemplo, foram 54,2 candidatos concorrendo a uma vaga.
O ITA é uma instituição de ensino superior ligada ao Comando da Aeronáutica. Está localizado no Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA) e possui cursos de graduação e pós-graduação em áreas de Engenharia, principalmente no setor Aeroespacial, sendo considerado um centro de referência no ensino da área. Também em Fortaleza é grande a procura por uma vaga no Instituto Militar de Engenharia (IME), localizado no Rio de Janeiro e que oferece dez cursos, dentre eles, Engenharia da Fortificação e Engenharia de Comunicações.
A unidade de preparação para o Exército é a Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), que tem sua origem em 1792, com a criação da Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, a primeira escola militar das Américas. Porém, como para ingressar na instituição, o aluno precisa ter feito o 3º ano do Ensino Médio na Escola Preparatória de Cadetes do Exército (Especex), a Aman fica fora da concorrência entre alunos de escolas da rede privada.
"A disputa é mesmo acirrada", admite um dos criadores no Ceará desses cursos, o professor Francisco Nazareno de Oliveira. Em 1989, quando o Ceará aprovava um ou dois alunos no ITA, ele visitou as escolas Impacto e Anglo, no Rio de Janeiro, e Objetivo, em São Paulo. Na ocasião, ele observou os pontos positivos e negativos do ensino naquelas cidades e aprimorou a ideia. "Criamos, aqui, nossa estrutura", completa Nazareno Oliveira, que, na época, ensinava no Colégio Geo Estúdio, unidade que formou a primeira turma de jovens para disputar uma vaga nas escolas militares, com um total de 30 alunos.
"No ano seguinte, tivemos três aprovados", diz. A partir dali, a Cidade começou a se destacar nesses vestibulares. Em 1990, foram nove aprovados e, em 1991, 16. "Nesse ano, o Ceará despontou no cenário nacional com o maior índice de selecionados e foi até tema de matérias publicadas em revistas nacionais", lembra.
O fato é que, atualmente, seis escolas formam as chamadas Turmas ITA: Colégio Farias Brito, Ari de Sá, 7 de Setembro, Christus, Master e Antares. Nelas, alunos começam a se preparar quando ingressam no primeiro ano do Ensino Médio.
Centros de excelência
Para Nazareno de Oliveira, hoje diretor geral do Master, o Ceará "não tem uma universidade de ponta como ITA, IME, USP ou Unicamp. Por isso, muitos buscam centros de excelência fora do nosso Estado".
Já o professor do Farias Brito Jorge Cruz observa que, normalmente, ao terminar o curso superior oferecido pelas escolas militares, o aluno conta com emprego garantido, pois os formandos são visados por empresas de grande porte no Brasil e em outros países do mundo. "Os selecionados nesses processos são de altíssimo nível".
CIÊNCIAS EXATAS
Aluna destaca gosto pela Matemática
 "O domingo, geralmente, tiro para descanso e lazer porque, só estudar, a gente não aguenta", dispara Isabela Maria Novais de Magalhães, 17 anos. Além das atividades em sala de aula, ela costuma estudar, a mais, de seis a oito horas diariamente. Isabela é uma das três mulheres da Turma ITA do Colégio 7 de Setembro - localizado no Centro de Fortaleza - e que é composta por mais 40 rapazes.
O sonho da estudante é passar para o curso de Engenharia Eletrônica no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). "Gosto de Matemática e Física", diz, ressaltando seu fascínio pelo universo das novas tecnologias.
Esses são alguns dos motivos que a levaram a enfrentar a maratona de estudos que inclui, ainda, aulas extras aos sábados; vestibulares simulados, geralmente, semanais; e uma rotina que a faz, muitas vezes, abrir mão do lazer, comum para uma garota da sua idade. "Então, domingo não dá para estudar, nem que eu quisesse".
Como muitos de seus colegas de turma, Isabela não demonstra fascínio por disciplinas relacionadas às Ciências Humanas, como História, Literatura ou leituras gerais. Nas raríssimas horas vagas de que dispõe, costuma ler publicações sobre novas tecnologias e informática.
A presença da mulher entre os candidatos para essas escolas vem aumentando. Ainda assim, no último vestibular para o ITA, dos inscritos, apenas 21,3% eram mulheres. É o mito da rigidez militar um dos fatores para a minoria feminina entre seus alunos. Localizado em São José dos Campos, a 900 quilômetros de São Paulo, o ITA promove a ciência aeroespacial.
EMPREGO E SALÁRIO
"Foi uma escolha minha"
Em dezembro, Marcos Henrique Diógenes de Oliveira, 19 anos, aluno do Colégio Ari de Sá da Aldeota desde a alfabetização, tentará ingressar no ITA pela terceira vez. "Enfrento uma carga de estudo pesada e, às vezes, tenho a sensação de que estou me sacrificando muito. Então, paro e penso: foi uma escolha minha".
"Minha vocação é para as ciências exatas", afirma ele, justificando a determinação em não abrir mão do sonho. Outro motivo da persistência é a promessa de emprego certo, bons salários e o reconhecimento profissional que, em geral, conquistam os profissionais formados nessas instituições militares.
Para Marcos Henrique, que também está inscrito no vestibular do IME, as possibilidades que se apresentam aos concludentes compensa uma rotina diária voltada quase inteiramente para os estudos e que pode incluir até o fim de semana.
Também admite que, na primeira tentativa, ainda com 17 anos incompletos, julgou estar preparado para a disputa. "Eu me enganei. Era preciso mais esforço", frisa. No ITA, ele irá concorrer a uma vaga para Engenharia Mecânica e, no IME, para Engenharia da Computação. "Será uma alegria muito grande se eu passar", diz, com os olhos já brilhando de emoção. O aluno lembra que o colégio oferece todas as condições necessárias para quem quer se preparar diante da concorrência, inclusive com assistência psicológica. "Desta vez, estou mais tranquilo", comenta, adiantando, contudo, que em caso de insucesso, não teria mais coragem de insistir no projeto.
SUPORTE
Escolas também entram na disputa
 Qual é o perfil do aluno que disputa uma vaga nas escolas militares? Dez entre dez professores dos cursos preparatórios respondem: são extremamente estudiosos e determinados, gostam de desafios e têm sólida base no processo de aprendizagem. "Eles apresentam muita facilidade com a Matemática, com os cálculos", completa Estênio Sabóia, um dos coordenadores do Colégio Ari de Sá.
Segundo ele, o vestibular do ITA é o de maior concorrência do País, ainda assim, é o mais procurado pelos alunos do Ari. "Dos estudantes que desejam uma escola militar, pelo menos 90% querem ingressar no ITA", explica, adiantando que a tradição e o reconhecimento do instituto são determinantes.
"Quem conclui uma escola dessa tem emprego garantido", diz, enfatizando, ainda, as chances de estágios oferecidas por multinacionais antes mesmo de o aluno terminar o curso. "Eles vão para França ou Alemanha. Terminam o curso quando retornam", afirma, ressaltando que o mercado financeiro "fica de olho neles, pois possuem raciocínio lógico muito apurado".
O fato é que os atrativos das escolas militares fazem muitos jovens passar o dia no colégio. Num turno, eles assistem às aulas; no outro, estudam com os colegas. "A gente se ajuda ou recorre aos professores", diz Renan Pablo Rodrigues, do 7 de Setembro. Rotina pesada enfrenta também João Vitor Sousa, do Ari de Sá. "Fico no Ari até as 21 horas", confessa. A meta dos dois: ingressar no ITA.
Os alunos desses cursinhos passam a maior parte do tempo na escola, onde dispõem de biblioteca específica para eles, laboratórios de redação e salas de estudo. Além do suporte oferecido pelos professores, participam dos vestibulares simulados, acrescenta o professor Jorge Cruz, do Farias Brito.

Negócios inacabados no Oriente Médio

Negócios inacabados no Oriente Médio

LONDRES – Folha de São Paulo

 Este é um daqueles momentos no Oriente Médio em que muitas peças estão mudando de lugar e esperanças improváveis estão voltando à tona, mas a história sugere que o resultado final será o que já é conhecido: rancores indomados, diferenças não resolvidas e conflito interminável.
As tropas de combate dos EUA se retiraram do Iraque, após uma ocupação de sete anos que começou com um triunfo de curta duração, descreveu um mergulho para o caos, passando pela incompetência criminosa, deixou mais de 100 mil civis mortos e se encerrou na incerteza fluida da violência esporádica e do impasse democrático.
Não está claro ainda qual será o veredito final sobre tudo isso. O Iraque é um Estado em transição, ao mesmo tempo frágil e mais dinâmico que em qualquer momento de sua história recente. Equilibrar interesses xiitas, sunitas e curdos, juntamente com seus defensores regionais, vai exigir um grau de sofisticação e flexibilidade política pelos quais o Oriente Médio vem demonstrando apetite quase zero.
Outra espiral descendente é possível.
O que se pode dizer com razoável certeza: que a guerra do Iraque não levou os ventos da liberdade a soprar no Oriente Médio, não justificou o imenso investimento dos EUA em uma guerra travada por opção e infligiu sofrimento imenso que um planejamento americano melhor poderia ter evitado. Ela nunca será inscrita nos anais das guerras americanas vitoriosas e poderá ser vista -ao lado do Afeganistão- como o momento que marcou a virada no exercício global do poderio americano.
Mesmo assim, Saddam Hussein se foi, e o Iraque, por mais desajeitadamente o esteja fazendo, está engajado no trabalho de troca política que é o único capaz de solucionar diferenças sem o recurso à violência. A indefinição democrática é o preço que se paga para acabar com uma ditadura sanguinária.
Será que essa troca de ideias vai atingir a região inteira? Duvido. As mentes do Oriente Médio estão mais abertas do que estiveram há gerações, graças à tecnologia e às novas redes de TV, mas o aparato da repressão política é resiliente. Os palestinos têm no premiê Salam Fayad seu líder mais aberto e progressista desde que sua luta nacional começou. Por essa própria razão, a influência política dele é limitada.
No momento em que os EUA deixam o Iraque, israelenses e palestinos, com a solenidade proporcionada pelo local dos encontros -a Casa Branca-, estão iniciando sua primeira rodada de conversações diretas em muito tempo.
Muita energia diplomática dos EUA foi investida na organização do encontro. Gostaria de poder dizer que enxergo sinais de avanço real.
Em vez disso, minha impressão é que os dois lados jogam um jogo tático, cada um deles esperando pela oportunidade de culpar o outro pelo fracasso, enquanto atores importantes no Oriente Médio, incluindo o Hamas, que controla a faixa de Gaza, ficam à margem das negociações.
Os palestinos estão focados sobre a decisão que o premiê Binyamin Netanyahu terá que tomar no final de setembro sobre prorrogar ou não o congelamento das construções nos assentamentos. Se não houver prorrogação, poderemos esquecer as conversações de paz.
A questão é explosiva entre os partidos mais radicais da coalizão de Netanyahu, e a esperança secreta de muitos palestinos é que ela provoque divisões suficientes para rachar a aliança que governa Israel.
Quanto a Netanyahu, ele gosta da aura de pacificador e sente a atração de ficar para a história, mas sua aceitação da ideia de dois Estados é relutante. Seu próprio prisma tático nunca exclui o Irã. Tentar negociar diretamente com o líder palestino Mahmoud Abbas talvez seja apenas o preço que ele achou que precisa pagar para manter Obama satisfeito e continuar a ter alavancagem junto a ele com relação ao Irã.
Um problema fundamental permanece. A mentalidade ocidental, incentivada por Israel, continua a ser a de tentar separar os "moderados" muçulmanos dos "extremistas". Hamas, o Hezbollah e, é claro, o Irã, continuam excluídos dos diálogos.
Obama abandonou o epíteto "terrorista" usado por Bush, mas o pensamento e a diplomacia criativos quanto a como convencer "a frente da resistência" a sair de seu isolamento têm sido limitados.
A paz terá que ser baseada em realidades políticas e equilíbrio de forças. O governo Obama e o Ocidente ainda não encontraram uma maneira de lidar com os fatos concretos em campo.
Apenas quando o fizerem é que as movimentações diplomáticas terão consistência.

Skoob

BBC Brasil Atualidades

Visitantes

free counters