domingo, junho 27, 2010

CHICK COREA - HERBIE HANCOCK - J. MC LAUGHLIN - C. SANTANA

Fé e política

Fé e política
Míriam Leitão – O Globo
Na entrevista que fiz esta semana com Marina Silva não perguntei de religião. Foi proposital. Ao me preparar para a entrevista, me dei conta de que já entrevistei muitos candidatos à Presidência, nas últimas cinco eleições, e nunca perguntei a qualquer dos candidatos se, de alguma forma, suas convicções religiosas seriam parte do programa de governo. E eles tinham religião.
As perguntas sobre a religião evangélica de Marina Silva aparecem de várias formas, são recorrentes, todas revelam o mesmo temor: o de que ela imponha ao país, caso eleita, suas crenças religiosas através do currículo escolar ou padrões de comportamento. Um temor que mais parece preconceito. Primeiro, ela não tem esse perfil autoritário, aliás é uma pessoa pública que marcou sua vida pelo diálogo. Segundo, e mais importante, nós temos uma democracia forte, vibrante, capaz de reagir a quaisquer tentativas de cerceamento da liberdade individual. Veja-se a tentativa do governo Lula de impor o controle da imprensa, em 2003, através de uma agência de audiovisual e de um conselho de jornalistas. Não deu certo. Em outros países latino-americanos, os governantes foram bem mais sucedidos.
Ninguém pergunta a um candidato católico se ele vai proibir a pílula, exigir que os brasileiros não usem métodos contraceptivos, apesar de isso ser uma orientação do Vaticano para as famílias. Não teria cabimento essa pergunta, porque é claro que o candidato, se eleito, nem tentaria uma barbaridade dessas, e se tentasse, as famílias ignorariam. Mas à Marina a pergunta se ela implantaria políticas públicas baseadas na visão da igreja que frequenta aparece insistentemente.
O Brasil é um país laico e assim continuará. Marina está sendo vítima de erros de alguns políticos evangélicos que têm tentado transformar púlpito em palanque, o que é detestável da perspectiva religiosa e uma ameaça à qualidade da democracia. Fé e política são questões que devem estar separadas. Apesar disso, os candidatos em campanha sempre vão a eventos religiosos, de diversas confissões, num chamado indireto aos fiéis. Se visitar diversos cultos for uma demonstração de tolerância religiosa, é excelente; se for uma tentativa de manipular a escolha do eleitor religioso, é um retrocesso.
A grande questão é: por que Marina é crivada de perguntas sobre sua fé e não há a mesma ilação sobre o risco de transposição das doutrinas religiosas para as políticas públicas quando o candidato é da religião dominante no país? Aos outros, basta responder afirmativamente à pergunta clássica se acredita em Deus. E nisso aí, há uma hipocrisia: só se aceita como boa a resposta positiva, como se o Brasil não pudesse ser governado por um agnóstico.
A imprensa brasileira lida de forma mais civilizada com questões da vida pessoal do que a imprensa de outros países. Há na americana uma obsessão puritana por saber quem tem ou teve amante; quem traiu ou não o cônjuge. Isso é tão definitivo que uma infidelidade conjugal pode acabar com a candidatura.
A imprensa brasileira só dá atenção a casos pessoais quando eles envolvem questões públicas. Um exemplo, o caso do senador Renan Calheiros. A pauta não era se o então presidente do Senado tinha uma filha fora do casamento, mas o fato de que as contas da mãe da filha eram pagas no escritório de uma empreiteira.
Temos sabido distinguir entre fatos da vida pessoal que pertencem à privacidade do candidato, daqueles fatos que se transformam em questões públicas. Já a imprensa americana tem compulsão por investigar a vida dos candidatos atrás de amantes pretéritas e presentes. Mas não temos passado bem no teste da escolha religiosa, se ela for qualquer uma que não a católica. O que é preciso, de novo, é fazer a distinção entre o que é assunto público do que pertence especificamente à pessoa do candidato.
A questão do ensino do criacionismo apareceu como um assunto público. A “Veja” perguntou a ela, em setembro do ano passado, se o criacionismo deveria ser ensinado nas escolas. Ela garantiu que jamais defendeu a ideia de criacionismo como matéria obrigatória. Explicou que a confusão surgiu porque, numa palestra num colégio adventista, diante de uma pergunta se o criacionismo poderia ser ensinado na escola, ela respondeu “desde que ensinem também o evolucionismo.”
A pergunta continuou sendo feita em cada entrevista. Eu particularmente acho que as religiões têm o direito de ensinar, em seus recintos, as suas crenças sobre a origem da vida e do aparecimento do ser humano no Planeta. Mas isso deve ficar restrito ao ambiente religioso. Nas escolas, o que se ensina é ciência. As bíblias católica e protestante, a Torá, o Corão, e outros textos religiosos têm a mesma explicação de um força superior criadora da vida. Se é assim geral, por que só à Marina essa pergunta é feita?
Me perguntei tudo isso ao me preparar para entrevistar Marina Silva e decidi que esse tema não estaria entre os que abordaria. Senti que só poderia fazer para ela perguntas sobre o risco de políticas públicas inspiradas em sua fé se tivesse feito as mesmas perguntas aos outros candidatos, de outras denominações religiosas, que tenho entrevistado em todas as eleições. Não tendo feito a eles, não fiz a ela.

Procurador quer que Comissão de Anistia corte valor de indenizações

Procurador quer que Comissão de Anistia corte valor de indenizações
Revisão. Por achar que houve exagero na concessão dos benefícios às vítimas da ditadura militar, Marinus Marsico pede revisão de mais de 9.300 processos, que já custaram ao governo, segundo o TCU, cerca de R$ 4 bilhões
Marta Salomon, BRASÍLIA - Estadão

Pelo menos R$ 4 bilhões de indenizações a perseguidos políticos já pagas ou aprovadas pela Comissão da Anistia poderão ter os valores revistos pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Proposta em análise no tribunal prevê a possibilidade de reduzir os benefícios concedidos aos anistiados.
"A revisão poderá gerar uma economia de milhões de reais aos cofres públicos", defende Marinus Marsico, procurador do Ministério Público junto ao TCU, autor da representação que está para ser votada.
"Não contesto a condição de anistiado político, mas os valores das indenizações concedidas a título de reparação econômica", disse o procurador ao Estado.
São alvo da representação, por ora, 9.371 benefícios já concedidos com base em uma lei de 2002. Ela estabeleceu o pagamento de indenização do Estado a vítimas de perseguição política até 1988, ano em que a Constituição foi aprovada.
A reparação econômica é maior quando a perseguição tiver causado perda do emprego, prevê a lei. Nesse caso, além do pagamento de um valor mensal  cuja média atual é de aproximadamente R$ 3.000 , o anistiado tem direito ainda ao pagamento de valores retroativos a 1988.
A regra rendeu indenizações milionárias e pagamentos mensais próximos do teto salarial do funcionalismo público, atualmente em R$ 26,7 mil, o limite para o benefício.
Aposentadoria. A proposta do TCU só deixa de lado as indenizações pagas em parcela única, de R$ 100 mil, no máximo. Elas representam menos de 5% do total de benefícios de prestação mensal já pagos e dos pagamentos retroativos já aprovados. As demais  pouco mais de 95% do valor total aprovado  deveriam ser tratadas como aposentadoria ou pensão e, como tal, ser submetidas à análise do tribunal, argumenta Marinus Marsico. Ele quer que a revisão comece pelos benefícios de valores mais altos.
O texto da representação do procurador do Tribunal de Contas da União cita três casos de indenizações que deveriam ser reduzidas. O primeiro deles é o benefício pago a Maria Pavan Lamarca, viúva de Carlos Lamarca, que desertou do Exército, virou guerrilheiro e foi morto em 1971.
General. Lamarca foi promovido a coronel, quando a promoção correta seria a capitão, argumenta a representação. Os valores pagos à viúva equivalem ao vencimento de general, completa o texto. "A remuneração mensal de R$ 11.444, bem como o pagamento retroativo de R$ 902 ,7 mil deveriam ser reduzidos", diz.
O documento também menciona os casos dos jornalistas Ziraldo Alves Pinto e Sérgio Jaguaribe, o Jaguar, fundadores do jornal Pasquim. Em 2008, ambos tiveram aprovado o pagamento retroativo de pouco mais de R$ 1 milhão cada um, além de indenização mensal de R$ 4.375.
"Está devidamente comprovada a perseguição política por eles sofrida, mas não há elementos suficientes que indiquem estar correta a indenização", argumenta o procurador. O pagamento de indenizações a anistiados políticos é tema de investigação no TCU desde 2006.
Revisão. A auditoria apontou ainda erros no cálculos de alguns benefícios, como o da ex-ativista Maria Augusta Carneiro Ribeiro. Os valores do pagamento retroativo de R$ 1,5 milhão e de mais R$ 8.200 mensais autorizado pela Comissão da Anistia foram revistos depois disso. É um dos poucos casos de revisão.
O tribunal chegou a suspender, por meio de cautelar, parte dos pagamentos retroativos concedidos, mas uma nova votação liberou os benefícios em dezembro de 2008.
A mudança foi conduzida pelo ministro Benjamin Zymler, o mesmo que pediu vista e conseguiu adiar mais uma vez a decisão do TCU sobre a revisão dos benefícios, no ano passado. Procurado pelo Estado, ele informou, por meio da assessoria, que a proposta será levada a votação nos próximos dias.
  
Preso na ditadura, Lula recebe R$ 4,2 mil mensais
Marta Salomon

Afastado da presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo em 1979, quando liderou a mais importante greve contra o regime militar, no ABC paulista, o hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou preso por 31 dias. Enquadrado na Lei de Segurança Nacional, foi levado a julgamento e condenado em 1981 e absolvido pouco mais de um ano depois. Em 1985, obteve do Ministério do Trabalho uma aposentadoria especial, que em 1996 foi convertida em indenização pela Comissão de Anistia. O benefício rende hoje ao presidente R$ 4,2 mil por mês.

Paixão, hoje na Gazeta do Povo (PR)


O ACENDEDOR DE LAMPIÕES

O ACENDEDOR DE LAMPIÕES

Lá vem o acendedor de lampiões da rua!
Este mesmo que vem infatigavelmente,
Parodiar o sol e associar-se à lua
Quando a sombra da noite enegrece o poente!

Um, dois, três lampiões, acende e continua
Outros mais a acender imperturbavelmente,
A medida que a noite aos poucos se acentua
E a palidez da lua apenas se pressente.

Triste ironia atroz que o senso humano irrita: -
Ele que doira a noite e ilumina a cidade,
Talvez não tenha luz na choupana em que habita,

Tanta gente também nos outros insinua
Crenças, religiões, amor, felicidade,
Como este acendedor de lampiões da rua!

Jorge de Lima

Jorge Mateus de Lima nasceu em União dos Palmares (AL), em 1895. Fez estudos secundários e iniciou o curso de Medicina em Salvador, concluindo-o no Rio de Janeiro. Retornando ao estado natal, fez carreira na medicina e na política. Volta ao Rio em caráter definitivo na década de 30. Além de poeta - atividade que projetou seu nome - foi pintor, fotógrafo e ensaísta. Morreu no Rio de Janeiro, em 1953. A obra de Jorge de Lima apresenta múltiplas facetas. A temática de suas principais obras poéticas pode ser assim resumida:
1) XIV alexandrinos apresenta versos ainda ligados ao Parnasianismo. Nesse livro aparece o poema "O acendedor de Lampiões", de grande aceitação popular.
2) O mundo do menino impossível e Poemas registram recordações da infância ao lado de poemas de cunho regionalista.
3) Novos poemas tem o negro e o folclore como assuntos principais
4) Tempo e eternidade, obra em que Jorge de Lima contribuiu com 45 poemas, aponta na religião a solução para uma realidade injusta, conturbada e excessivamente materialista.
5) Poemas negros, de 1947, reúne dezesseis poemas já editados em livros anteriores e 23 novos poemas, estes apresentando, através de deuses africanos, uma espécie de história do negro no Brasil.
6) Invenção de Orfeu é um longo poema que procura interpretar simbolicamente a ligação entre o homem e o universo. Nessa obra o poeta utiliza fragmentos de epopéias clássicas, como a Divina comédia, a Eneida e Os Lusíadas, ou ainda O paraíso perdido e a própria Bíblia. Ligando trechos dessas obras através do processo da colagem, Jorge de Lima produziu um poema de linguagem extremamente complexa, de compreensão difícil para quem não conhece as obras de onde foram extraídos os fragmentos que compõem o poema. 
Obra Poesia: XIV alexandrinos (1914); O mundo do menino impossível (1925); Poemas (1927); Novos poemas (1929); Tempo e eternidade (1935) - obra escrita em colaboração com Murilo Mendes; A túnica inconsútil (1938); Poemas negros (1947); Livro de sonetos (1949); Invenção de Orfeu (1952). Prosa: O anjo (novela, de 1934); Salomão e as mulheres (1927), Calunga (1935), A mulher obscura (1939) - romances

Incômodos para quem?

Incômodos para quem?
Presidenciáveis fecham acordos com candidatos polêmicos para garantir tempo de TV e votos
Chico de Gois e Luiza Damé - BRASÍLIA

De olho no legado de votos e do precioso tempo dos partidos na propaganda eleitoral gratuita na TV, os candidatos à Presidência Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) se aliam a conhecidos expoentes da cena política brasileira cujo histórico é de escândalos, mas que têm um eleitorado cativo. Marina Silva (PV), cujo partido não conseguiu se unir a outros até o momento, tem menos indesejáveis em sua tribuna. Militantes e simpatizantes do PT e do PSDB não escondem a insatisfação, mas a maioria prefere ver nas parcerias polêmicas, e até indesejáveis, algo natural na política. Afinal, quanto mais aliados e mais tempo na TV, maiores as chances de conquistar uma fatia maior do eleitorado.
Esse pragmatismo é que define as parcerias que levarão Dilma e Serra a dividir palanques país afora com apoiadores que se destacaram nos últimos anos por desvios de todo tipo.
Políticos que poderiam ser alvos de uma ampla e irrestrita Lei da Ficha Limpa, em fase embrionária este ano.
Maior aliado de Dilma, inclusive com a vaga de vice em sua chapa, o PMDB também é um dos que mais lhe apresentam encrencas. Entre os políticos com uma ficha corrida de problemas ao lado da petista estão nomes como o deputado federal Jader Barbalho (PMDB-PA), candidato ao Senado. Ele teve de renunciar ao mandato de senador por causa de denúncias de desvios de verbas da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), entre outras irregularidades que envolveram até seus familiares.
Outro nome de histórico com problemas no palanque petista é o do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). No ano passado, ficou meses sob suspeição, depois que a imprensa revelou que sua fundação no Maranhão — que leva seu nome — recebeu patrocínios da Petrobras para projetos culturais, mas o dinheiro foi parar nas contas de empresas fantasmas ou da própria família.
Ao lado de Dilma estará também a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB).

Collor vai apoiar Dilma em Alagoas
Outro peemedebista com muitos votos, mas com uma trajetória de ações pouco ortodoxas, é o senador Renan Calheiros (AL), candidato à reeleição. A revelação de que uma empreiteira pagaria suas despesas pessoais o obrigou a renunciar à presidência do Senado, em dezembro de 2007. Junta-se à lista de peemedebistas o governador cassado de Tocantins Marcelo Miranda, candidato ao Senado. Miranda foi cassado, ano passado, por abuso de poder político e pode se tornar inelegível com a Lei da Ficha Limpa.
Fora do PMDB, outra presença polêmica no palanque de Dilma é a do senador e ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB), candidato ao governo de Alagoas. Embora o PTB esteja coligado com Serra, Collor vai apoiar Dilma, com o aval de Lula, que já o recebeu mais de uma vez no Planalto.

Wolfgang Amadeus Mozart - Piano Concerto No. 21 - Andante

O cientista que crê em Deus

O cientista que crê em Deus
Francis Collins, o homem mais poderoso da ciência norte-americana faz questão de professar publicamente a fé cristã
Leoleli Camargo, iG São Paulo
Quando foi convocado para substituir o biólogo James Watson – um dos descobridores da estrutura de dupla hélice do DNA – na liderança do recém criado Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano, em 1993, o geneticista Francis Collins já era um pesquisador conhecido e já havia descoberto a localização de genes responsáveis por três doenças importantes: fibrose cística, distrofia muscular de Duchenne e doença de Huntington.
Dono de um currículo impecável dentro do mundo científico e de um entusiasmo contagiante em relação a tudo o que se refere à genética, Collins foi encarregado de encabeçar um consórcio público integrado por centros de pesquisa norte-americanos, britânicos, franceses, alemães e japoneses – o chineses vieram mais tarde – com a tarefa hercúlea de seqüenciar todos os três bilhões de pares de bases que constituem o DNA humano.

Entre 1995 e 1999, Collins e sua equipe protagonizaram, com a Celera Genomics, do cientista Craig Venter, uma competição acirrada pela primazia no anúncio do seqüenciamento completo do “mapa da vida”. A corrida entre os consórcios público e privado culminou com um anúncio em conjunto, na Casa Branca, de que o Genoma Humano estava finalmente completo e pertencia, a partir dali, a toda a humanidade.

A data histórica ainda não havia completado seu sexto aniversário quando, em 2006, Collins lançou, nos Estados Unidos, o livro A Linguagem de Deus (Ed. Gente), no qual discorria sobre como havia resolvido dentro de si o dilema entre fé e ciência. Em 300 páginas escritas com elegância e sinceridade, um dos mais notórios homens da ciência admitiu ao mundo que acreditava piamente em Deus. A obra reacendeu o velho debate entre crentes e ateus, movimentou evolucionistas e criacionistas e suscitou embates históricos – o mais famoso deles deu-se entre Collins e o zoólogo e evolucionista britânico Richard Dawkins.
A polêmica, no entanto, não foi suficiente para abalar o prestígio de Collins na comunidade científica ou afastá-lo das salas de aula e dos centros de pesquisa. Pelo contrário. No ano passado, ele foi nomeado por Barack Obama para dirigir os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, aos quais está diretamente ligado o Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano, que ele liderou ente 1993 e 2008.
Como o prestígio do cargo no âmbito da ciência o coloca mais ou menos na mesma posição ocupada por Obama entre os chefes de estado do planeta, há quem diga que a crença religiosa do cientista o coloca em uma situação delicada, levando-se em conta que Collins tem sob sua responsabilidade controlar um orçamento de mais de 30 bilhões de dólares destinados exclusivamente a pesquisas biomédicas e de saúde.
“Será que devemos confiar o futuro da pesquisa biomédica nos Estados Unidos ao homem que sinceramente acredita que a compreensão científica da natureza humana é algo impossível?” chegou a questionar o neurocientista e escritor Sam Harris em um editorial publicado no jornal The New York Times, logo após a nomeação de Collins.
Alheio à polêmica gerada em torno de suas crenças, o cientista cristão segue firme no cargo e acaba de lançar mais um livro. Entitulada A Linguagem da Vida (Ed. Gente), a obra é um apanhado sobe as mais recentes descobertas pós-genoma. Nela, Collins conta – entre outras coisas – os bastidores do Projeto Genoma sob sua ótica e mostra ao leitor como genética está conduzindo a medicina para um caminho de total transformação. Um caminho onde, segundo ele, a personalização dos tratamentos já é uma realidade e a prevenção e a detecção precoce de doenças serão uma ciência cada dia menos imprecisa.
                                                                                                   Foto: Divulgação
O médico Francis Collins em seu laboratório de pesquisas: reconciliação com Deus

G 20 - pProtestos explodem em Toronto, Canadá.


Carro da polícia é queimado após anti-G20 manifestantes se reuniram nas ruas de Toronto. A polícia foi confrontada e fachadas de lojas esmagadas. Fotografia: Simon Hayter / Getty Images

Corrupção no front

Corrupção no front
ANTONIO CAÑO

Como se a polêmica desatada pelo general Stanley McChrystal, ex-comandante dos EUA no Afeganistão, não fosse suficiente, um relatório apresentado na última terça-feira pelo Congresso americano complica ainda mais o debate sobre a presença militar do país no Afeganistão, ao denunciar que milhões de dólares do Pentágono acabam caindo nas mãos dos caciques locais, como pagamento de chantagens, ou inclusive de extremistas insurgentes.
A corrupção, uma epidemia denunciada pelo governo americano e que o presidente afegão, Hamid Karzai, tem se mostrado incapaz de extirpar, se estende agora à atividade das Forças Armadas com risco de deslegitimar ou fazer mais impopular sua atuação.
O informe do Congresso assegura que uma fração dos US$ 2,1 bilhões que se destinam ao transporte de material militar no Afeganistão se dedica a pagar aos senhores da guerra, para que protejam os comboios com seus exércitos privados ou, simplesmente, para que não os ataquem. Em algumas ocasiões, o dinheiro tem servido também para compensar a indulgência dos talibãs com a passagem de caminhões pelo território sob seu controle.
O dinheiro não era entregue a seus destinatários pelos próprios militares, mas por empreiteiros privados, encarregados de proteger o transporte. Assim, se violava tanto o código de conduta do Departamento de Defesa como a legislação recente, produzida na esteira dos abusos cometidos no Iraque.
O transporte é uma das atividades que mais tempo ocupa uma força que teve que deslocar 30.000 novos soldados para a zona de combate com suas correspondentes necessidades logísticas.
Cerca de 70% desse transporte se realizam por terra, o que exige medidas de segurança que o Exército se vê incapaz de cumprir por si só, sem abandonar suas obrigações de combate.
Esse problema logístico tem provocado um outro muito mais profundo, de caráter político. Ao pagar os talibãs, os EUA estão facilitando seu fortalecimento e reconhecendo sua autoridade no âmbito local. Ao pagar-lhes com recursos do contribuinte americano, fica minada a justificativa moral da guerra e seu apoio entre os americanos.
“As descobertas deste informe são tristes e impactantes”, disse o representante democrata John Tierney, que preside o comitê da Câmara dos deputados responsável por este trabalho.
Há pouco, a secretária de Estado, Hillary Clinton, citou a injeção de dinheiro estrangeiro como uma das principais causas da corrupção no Afeganistão. O próprio Obama recriminou Karzai em Cabul pela falta de energia para combater esse mal.
Agora, quando se descobre que militares americanos favorecem essa rede de extorsão, tanto Obama como Clinton veem reduzida sua autoridade para exigir-lhes o que eles mesmos não podem controlar.

Skoob

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