segunda-feira, junho 14, 2010

Mariano, especial para A Charge Online


Verdades e mentiras

Verdades e mentiras

Moacyr Góes

Jornal O DIA (RJ) – 13/06/2010
Rio - “A mentira faz amigos e a verdade faz adversários”. Essa frase, atribuída ao dramaturgo romano Terêncio, que viveu antes de Cristo, produz um desconforto grande por conta de sua permanência. A frase me veio à cabeça por conta de dois fatos importantes na corrida eleitoral que podem nortear para o bom lado o debate e as referências sobre os discursos dos candidatos. Vivemos momento de meias verdades convenientes, falsificação da realidade por meio de propaganda desmedida e biografias ficcionais. Pouco importa ater-se à verdade, se amigos e votos podem ser conquistados a despeito dela.
Um dos fatos foi a fala de José Serra sobre a cumplicidade do governo da Bolívia com o tráfico de drogas. Poucas vezes ouvimos alguém botar o dedo nessa ferida sem meias palavras e sem receio de dar nomes aos bois. Muita gente achou-a desmedida e pouco diplomática, mas é difícil refutar essa verdade. E é importante enfrentá-la, pois dela depende a vida de muitos que estão sendo destruídos pelas drogas.
Outro fato marcante foi Marina Silva dizer claramente que não abrirá mão de suas convicções apenas para ganhar votos. Ela declarou-se contra o aborto, a descriminação das drogas e o uso da palavra casamento para a união civil de gays. Podemos discordar dela, mas sua coragem de proferir o que pensa é reconfortante e qualificador do debate. Muitos tentam desqualificá-la rotulado-a de atrasada e adjetivando o fato de ser evangélica. É o método de aniquilar o outro, ao invés do confronto de argumentos.
Pode-se perder uma eleição, mas não a vergonha. Contra dossiês, panfletos apócrifos (como os utilizados contra Fernando Gabeira na eleição municipal) e poder das máquinas só a lei, a verdade e a retidão. E fé na crença de que a maioria acredita nesses valores.
Diretor de teatro e cineasta

O efeito Marina

O efeito Marina

Luiz Werneck Vianna – Valor Econômico


Na sucessão presidencial que se avizinha temos conhecido apenas dois tempos: o do passado e o do presente, pois o do futuro, a valer a retórica dominante, que não parece temer a ira dos deuses, deve ser contínuo a este que temos aí, sujeito, é claro, a aperfeiçoamentos. No presente já se poderia contar com a solução feliz de impasses históricos que antes dramatizavam a política brasileira: o mundo agrário, um velho celeiro de conflitos, estaria domesticado pela emergência do agronegócio e da difusão das relações capitalistas no campo; e, por toda parte, a lógica dos conflitos se confinaria ao terreno da simples disputa por interesses. Dessa forma, combater as desigualdades sociais não mais importaria em trazer à cena o tema da exploração, ressalvadas as questões-limite como a do trabalho escravo. No mais, essa seria uma questão a ser remetida para o terreno das políticas públicas.
A própria história, herança maldita com que deveríamos romper, passa a ser reinterpretada sob outros filtros, concedendo-se vida nova a instituições e valores comprometidos com fins e práticas autoritárias, e assim apronta-se mais uma floração para o sindicalismo corporativo, que, ao longo das nossas décadas de modernização autoritária, tutelou a vida associativa dos trabalhadores. A questão nacional, que mobilizou a sociedade nos anos 1950/60, perde capacidade de universalização, apropriada como está pelo Estado e pela fração do empresariado a ele vinculado. Nessa versão, tanto o Estado Novo de 1937 como o regime militar de 1964-1985 passam a ser percebidos acriticamente, pelo tipo de reflexão panglossiana que ora nos conduz, como momentos necessários para a realização apoteótica dos fins de grandeza a que o país estaria, desde sempre, predestinado.

Com esses tempos empatados - o de um presente que não quer ir além de uma reiteração em roupa nova do passado -, o tempo do futuro, afinal, fez sua aparição nessa sucessão presidencial, embora ainda de modo tímido e reverencial com o discurso dominante, por meio da fala com que a senadora Marina Silva lançou-se como candidata pelo PV. Com palavras que introduziram um alento de ar fresco nesse início de campanha, foi ao cerne do problema atual da democracia brasileira, sob risco iminente de converter a cidadania dos seus seres subalternos em uma vasta clientela: "Saímos da cesta básica, fomos para um bom programa de transferência de renda. Agora vamos para um bom programa, que mobilize a sociedade brasileira. Junto com essa política terá que vir também um novo tipo de Estado. Sair da ideia de um Estado provedor, que faz as coisas para as pessoas, para um Estado mobilizador, que faz as coisas com as pessoas. Não é fazer para os pobres, mas com os pobres."
Tal novo tipo de Estado deve resultar da sua ampliação para admitir ao estatuto da plena cidadania - direitos civis, políticos e sociais - àqueles até então destituídos dela, em um movimento de baixo para cima, a partir da auto-organização da vida social, e não do modo assimétrico como vem ocorrendo. Para esse fim, ele deve se revestir de um papel pedagógico que tenha como norte estimular a emergência de lideranças extraídas da vida popular sem estarem sujeitas aos mecanismos da clientela e da cooptação. Assumir a mobilização como missão, na forma, aliás, do que tentou o segundo Vargas dos anos 1950-54, quando em nome de suas lutas em favor da questão nacional, abdicou das formas repressivas de controle sobre as associações dos trabalhadores, por ele mesmo impostas à época do Estado Novo, a fim de encontrar nelas sustentação política.
Essa lúcida intervenção da candidata Marina não merece ser vista meramente da perspectiva do cálculo eleitoral, mas do seu valor intrínseco. Marina, com seus escassos recursos de campanha e exíguo tempo de televisão no horário gratuito da campanha eleitoral, não parece, fora mudanças de todo imprevistas, se constituir em uma candidata competitiva. Importa muito, no caso, fazer do seu diagnóstico e da política que dele decorre um ponto de relevo estratégico na agenda dos debates presidenciais, instalando a política no centro da matéria da sucessão, deixando para trás as obscuras e bizantinas discussões de como se deve operar, segundo o cânon da tecnocracia, a macroeconomia brasileira, inclusive porque nem o mais experimentado navegador domina por antecipação qual o regime dos ventos de amanhã de manhã.
Outra importante contribuição importante da candidatura Marina para a campanha eleitoral reside no seu viés internacionalista, implicitamente contido em suas posições em defesa do meio ambiente, bem público de todos os homens. Pois, nessa hora de pensar o futuro do país, já não é sem tempo por sob a luz da crítica algumas tendências em curso que o concebem em chave grão-burguesa, fechado em sua lógica interna e animado por uma ideologia de grandeza nacional.
Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador do Iuperj e ex-presidente da Anpocs

Portões do Kremlin, Moscou, Rússia - Fotografia por Zvonkov Georgy em fevereiro de 2010


Duke


Rio de Janeiro é a cidade mais cara das Américas

Rio de Janeiro é a cidade mais cara das Américas

Agência AFP
DA REDAÇÃO - Tóquio é a cidade mais cara do mundo para os estrangeiros que vivem lá, e o Rio de Janeiro, a mais cara do continente americano, enquanto Londres deixou de figurar entre as primeiras 50, segundo um estudo divulgado segunda-feira em Paris pela consultoria britânica ECA.
O estudo, feito antes da queda do euro, mede os preços de bens de consumo e serviços (moradia, alimentação, transporte, vestimenta, lazer etc.) de 400 cidades do mundo.
Depois de Tóquio, o segundo lugar é ocupado por Oslo (Noruega) e o terceiro por Luanda. No continente americano, Rio de Janeiro aparece em primeira posição. “Contrastando com o ano anterior, o aumento da demanda por matérias-primas reforçou o valor do real e permitiu às cidades brasileiras subir na classificação”, afirma o relatório. Madri e Barcelona estão, respectivamente, na 34ª e 35ª colocação entre as cidades europeias, e em 68º e 71º lugares no ranking mundial. Uma surpresa do estudo foi Londres, que ficou em 78º lugar e não faz parte das primeiras 50 cidades. Durante muito tempo, Londres ficou entre as capitais com custo de vida mais elevado. Luanda, antigo líder da classificação, caiu ao terceiro lugar, e Paris, ao 16º. Nenhuma cidade americana está entre as 25 primeiras cidades. Nova York ficou no 48º lugar. “A queda do dólar acarretou uma leve alta do custo de vida na maioria das cidades da América do Norte”, explica a ECA.
“A fragilidade da libra esterlina (...) provocou uma diminuição dos preços para aqueles que visitam o Reino Unido”, afirma o relatório. Como consequência, “Londres está mais barata que outras cidades europeias como Munique, Amsterdã ou Bruxelas”, diz. Cinco cidades africanas estão entre as 25 primeiras: além de Luanda, Libreville está no 13º posto, Abidjan no 17º, Abuja no 18º e Kinshasa em 23º. Com a exceção de Abidjan, as outras quatro cidades estão em regiões produtoras e exportadoras de petróleo. “A flutuação das moedas continua sendo o fato mais influente na evolução do custo de vida”, conclui a pesquisa feita entre março de 2009 e março de 2010.
>> Cidades mais caras do mundo
1) Tóquio   2) Oslo   3) Luanda   4) Nagóia   5) Yokohama   6) Stavanger   7) Kobe   8) Copenhague   9) Genebra
10) Zurique   11) Berna   12) Basiléia   13) Libreville   14) Helsinki   15) Moscou   16) Paris   17) Abidjan
18) Abuja   19) Tel Aviv   20) Seul

Obama impõe linha dura contra vazamentos à mídia

Obama impõe linha dura contra vazamentos à mídia
Democratas e republicanos são favoráveis a medidas, afirma especialista
Em 17 meses, democrata iniciou mais processos e investigações contra jornalistas do que seus predecessores
DO NEW YORK TIMES, EM WASHINGTON – Folha de São Paulo

Em 17 meses na Casa Branca, Barack Obama, o presidente dos Estados Unidos, já fez mais que qualquer antecessor para processar os responsáveis por vazamentos de informações não autorizadas para a imprensa.
Sua gestão vem tomando medidas que teriam suscitado críticas políticas agudas a seu predecessor, George W. Bush, frequentemente envolvido em disputas públicas com a imprensa.
Quando os programas secretos proliferaram, após os ataques terroristas de 2001, funcionários do governo Bush criticaram fortemente revelações feitas à imprensa.
Na época, foram noticiadas prisões secretas, técnicas brutais de interrogatório da CIA e espionagem eletrônica feita por autoridades dentro do território dos EUA sem prévia autorização judicial.
O indiciamento de Thomas Drake, um oficial da Inteligência que vazou informações com a suposta intenção de economizar gastos, é a prova mais recente de que Obama está se mostrando mais agressivo do que Bush na tentativa de punir vazamentos não autorizados.
Na verdade, Drake chamou a atenção dos investigadores inicialmente porque o governo pensou que ele pudesse ter sido a fonte de um artigo publicado pelo "New York Times" em dezembro de 2005, revelando o programa de espionagem eletrônica.
Descrevendo pela primeira vez a escala da caçada lançada pelo governo Bush para identificar as fontes do texto do "New York Times", ex-funcionários governamentais dizem que cinco promotores e 25 agentes do FBI participaram do caso.
As investigações começaram no governo Bush, mas coube a Obama e a seu secretário de Justiça, Eric Holder, a decisão de processá-lo. Eles o fizeram apesar de Drake não ser acusado de revelar o programa mais contestado da Agência de Segurança Nacional (NSA) -o da espionagem sem mandados judiciais.
As ações judiciais como as contra Drake, contra o tradutor do FBI Shamai Leibowitz e, possivelmente, contra o analista de inteligência do exército Bradley Manning, que ainda não foi indiciado, têm raros precedentes na história dos EUA.
Entre eles estão os casos de Daniel Ellsberg, consultor do Departamento de Defesa que entregou os Documentos do Pentágono ao "New York Times" em 1971, e Samuel L. Morison, analista da Marinha que, em 1984, repassou fotos feitas por satélite à revista "Jane's Defense Weekly".
O caso Drake é paradigmático da discussão politicamente carregada sobre sigilo e democracia em uma capital onde a imprensa vigilante é uma instituição ainda mais antiga que a burocracia da espionagem e onde cada Casa Branca faz suas próprias revelações calculadas de informações sigilosas.

ARQUIVADAS
Steven Aftergood, diretor do projeto de sigilo governamental na Federação dos Cientistas Americanos, disse que Drake pode ter desrespeitado um consenso que surgiu nos últimos anos entre democratas e republicanos de que os vazamentos saíram de controle e precisam ser limitados.
"E o Congresso também quer castigar os responsáveis. Os parlamentares de ambos os partidos querem que essas ações na Justiça sigam adiante."
Embora tenha sido acusado sob a Lei da Espionagem, Drake parece ser um caso clássico de alguém que vazou informações por motivos nobres e cujo objetivo era reforçar, e não solapar, a capacidade da NSA de capturar terroristas.
Sob o presidente Bush filho, ninguém foi condenado por revelar segredos diretamente à imprensa.
Nos últimos anos, segundo prestação de contas feita ao Congresso em 2007, o FBI abriu cerca de uma dúzia de investigações sobre revelações não autorizadas de informações classificadas.
A maioria foi arquivada porque centenas de funcionários tinham acesso às informações vazadas e porque o processo judicial colocaria outras mais em risco.
Tradução de CLARA ALLAIN

Voto compromete aspiração do Brasil de ter papel maior no CS

Voto compromete aspiração do Brasil de ter papel maior no CS
Posição brasileira contrária a interesses dos EUA e seus aliados deve tornar inviável assento permanente no Conselho
Gustavo Chacra - CORRESPONDENTE / NOVA YORK- Estadão

A atuação do Brasil na votação da ONU que aprovou novas sanções para o Irã deteriorou a imagem do País no Conselho de Segurança e tornou praticamente inviável o sonho de conseguir uma vaga permanente no órgão decisório. Segundo o Estado apurou com diplomatas do conselho, os mexicanos se beneficiaram da posição brasileira contrária aos interesses dos EUA e seus aliados.
A Rússia é um dos países mais irritados com os brasileiros. Os russos estão incomodados com a pretensão brasileira e turca de se envolverem em questões internacionais. Sem o peso econômico da era soviética, os russos não querem mais rivais geopolíticos, além dos EUA, China e União Europeia.
"O Oriente Médio não tem a ver com o Brasil. Eles não conhecem bem o tema e entraram nesta discussão agora, enquanto França, Inglaterra e Alemanha há anos tentam negociar com os iranianos", disse um diplomata francês. Eles entendem a posição adotada pela Turquia, vizinha e com boas relações comerciais com o Irã, mas não a do Brasil.
Segundo um diplomata do alto escalão dos EUA na ONU, que pediu para não ser identificado, "um país (o Brasil) que aspira ter um papel de liderança global deveria defender o sistema internacional e suas regras, não quem as viola". O porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, também lamentou a posição de brasileiros e turcos. "Eu acho que os votos de Brasil e Turquia decepcionaram. Nós obviamente temos uma diferença de opinião", afirmou. O secretário da Defesa, Robert Gates, também se disse decepcionado com os turcos, apesar de não citar o Brasil.

Bofetada na lei e no Judiciário

Bofetada na lei e no Judiciário
Carlos Alberto Di Franco

Cinco centrais sindicais - CUT, Força Sindical, CGTB, CTB e Nova Central - defenderam recentemente, na assembleia da Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat), em São Paulo, a continuidade do governo Lula e alertaram para um "retrocesso", em clara referência ao pré-candidato tucano José Serra. O evento, pago pelo imposto sindical, que desconta um dia de salário ao ano de todos os trabalhadores com carteira assinada, custou pelo menos R$ 800 mil, segundo o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força.
Como lembrou recente editorial do jornal O Estado de S. Paulo, ao se porem a serviço direto, sem disfarces, da candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República, a infração menos grave que as centrais sindicais cometeram foi a "antecipação" da campanha presidencial - até porque nem a Força Sindical nem a CUT foram as primeiras a fazê-lo. Mais grave foi a debochada afronta que o deputado Paulo Pereira da Silva lançou à Justiça Eleitoral, ao declarar que de nada adiantaria ser processado de novo - já teve quatro processos e duas condenações -, pois "continuaria a falar". E falou, tanto para dizer que não se pode deixar "esse sujeito" - referindo-se ao candidato José Serra - tornar-se presidente da República, porque ele "vai tirar os direitos do trabalhador", "vai mexer no Fundo de Garantia, nas férias, na licença-maternidade", como para defender a continuidade do governo Lula, com a eleição de Dilma.
Independentemente da falta de compostura e da demagogia explícita do deputado-sindicalista, o que preocupa, e muito, é a tranquilidade demonstrada por Paulinho ao esbofetear a lei e ao esnobar o Judiciário. A legislação proíbe, expressamente, a participação de sindicatos em campanhas eleitorais. A participação aberta de entidades sindicais na campanha eleitoral é apenas consequência do total atrelamento do sindicalismo ao Estado, do desrespeito sistemático às leis e do reiterado deboche aos valores éticos da sociedade democrática.
A estratégia dos sindicatos representa uma triste emulação do comportamento do presidente da República. Lula, de fato, tem dado um contínuo show de antecipação da campanha. As frequentes viagens e inaugurações presidenciais, pagas com dinheiro público e com a Dilma a tiracolo, estão registradas nas páginas dos jornais. Quando multado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Lula faz graça e vai em frente.
O projeto de poder de Lula, o presidente mais popular de nossa História, não admite barreiras éticas ou limites legais. Em nome da governabilidade e da perpetuação no poder, Lula aliou-se ao que de pior existe na vida pública brasileira. A relativização dos valores e a condescendência com os companheiros e aliados envolvidos em graves irregularidades virou rotina na fala presidencial.
"Errar é humano", disse Lula, referindo-se aos casos mais emblemáticos de corrupção. O presidente da República, subestimando a gravidade do mensalão, acariciou a cabeça de petistas pilhados em situações, no mínimo, constrangedoras.
Os pequenos erros mencionados por Lula derrubaram, em 2006, o então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, destituíram dezenas de diretores de estatais e mandaram para o espaço a cúpula do partido do presidente da República. De lá para cá, outros escândalos se multiplicaram como cogumelos. O governo Lula, seguindo os cânones da práxis (a manipulação da verdade justifica-se na luta pelo poder), instaurou a cultura do cinismo na vida pública deste país. A simples leitura da imprensa oferece um quadro assustador da estratégia. Esbofeteiam-se a lei e a ética numa escala sem precedentes. As responsabilidades submergem num caldo pastoso e amorfo. Assiste-se ao lusco-fusco da cidadania. E tudo isso sob o manto protetor de uma popularidade sem precedentes. Os acertos de Lula, que reconheço e louvo (os investimentos sociais e a manutenção dos fundamentos da economia), não me impedem de vislumbrar as sombras projetadas por seus defeitos: um pragmatismo aético e uma hegemonia que conspira contra a saúde democrática.
O excesso de poder investido num projeto ideológico de poder não é bom para a cidadania. A dinheirama dos fundos de pensão e, agora, o controle dos sindicatos não combinam com uma sociedade aberta e plural. "A intensa e ampla cooptação de chefias e entidades sindicais por parte do governo não é uma novidade na história política do nosso e de outros países. Faz parte dos esquemas populistas. Basta lembrar Getúlio e Perón", observa o cientista político Leôncio Martins Rodrigues, professor titular aposentado da USP e da Unicamp, estudioso do sindicalismo. A ideia da recriação da Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat) faz pensar "num amplo movimento, que poderia ir mais além da "simples" eleição da Dilma e que terminaria na formação de uma só entidade sindical gigante. Lula, já fora da Presidência da República, seria o grande chefe, mais poderoso do que nunca, capaz de cortar qualquer pretensão de independência que sua candidata possa imaginar que teria, caso seja eleita".
A Argentina, um país rico e com fabulosas possibilidades, foi, há décadas, sequestrada pelo peronismo. Seria trágico que o Brasil, um país que soube fazer de um metalúrgico um presidente bem-sucedido, fique refém do lulismo. Ninguém é insubstituível. A alternância está no DNA da democracia. Lula tem méritos? Inúmeros. Mas sua maior grandeza, seu genuíno serviço ao Brasil, seria a renúncia ao projeto pessoal de perpetuação no poder. Saber sair da Presidência para entrar na História.
DOUTOR EM COMUNICAÇÃO É PROFESSOR DE ÉTICA E DIRETOR DO MASTER EM JORNALISMO

Haiti: aqui se torce pelo Brasil

Haiti: aqui se torce pelo Brasil
População, que tenta se recuperar do desastre do início do ano, mobiliza-se para assistir aos jogos da seleção. Um telão, instalado no centro da capital, promete juntar multidão
Chico de Gois – O Globo

No país do improviso, não poderia ser diferente a maneira como os haitianos pretendem assistir à estreia da seleção brasileira na Copa do Mundo, amanhã, contra a Coreia do Norte. Na praça ao lado do Museu do Panteão Nacional Haitiano, próximo ao que antes era o Palácio Presidencial, o governo montou um telão, com patrocínio de uma empresa de telefonia celular, para a população. Ontem, no entanto, durante o jogo Gana x Sérvia, o telão, no meio da rua, ficou vazio. Os (poucos) que se interessaram pela partida preferiram ver a partida numa televisão menor, onde havia sombra - o calor estava na casa dos 30 graus, sob o sol do Caribe.
Amanhã, porém, a expectativa é outra. Haitianos prometem lotar a rua em frente ao telão e também se aglomerar diante das poucas casas onde ainda há luz elétrica, para torcer por nossa seleção. Telemaque Jean Enold, de 22 anos, funcionário do Ministério da Juventude, de onde partiu a iniciativa do telão, cuida do bom funcionamento do equipamento. O aparelho, diz ele, foi instalado na sexta-feira e permanece ligado mesmo quando não há jogos da Copa. Depois da competição, porém, será retirado.
- No dia do jogo do Brasil, isso aqui vai ficar cheio de fanáticos - acredita Telemaque, que diz gostar do esporte, mas não ser torcedor roxo de paixão pela seleção.

Vaquinha para ver TV
Nas ruas, é comum ver nos carros bandeirinhas brasileiras, além de vários moradores com camisetas do Brasil. Numa tradicional feirinha em frente ao Batalhão Brasileiro, no último sábado a camisa da seleção custava US$7. Sem dinheiro, a população prefere o genérico do genérico, enquanto os soldados brasileiros adquirem o produto à farta.
Mas nem todos têm possibilidade de ir ao centro acompanhar pelo telão. Nos locais onde não existe energia - aliás, a maioria -, há quem faça vaquinha a fim de comprar diesel e abastecer o gerador para poder ver os jogos. É o caso do bairro Carrefour - dizer que é um dos mais pobres de Porto Príncipe é redundância -, onde 187 famílias colaboraram com 10 gourdes - cerca de R$0,50 cada - para comprar o combustível e poder torcer pelo Brasil pela televisão de alguém. Em Citè Soleil, a maior favela da capital, os moradores também vão se valer dos vizinhos para assistir à partida.
Agnant David, de 17 anos, com uma camisa "genérico do genérico" da seleção, é um dos torcedores apaixonados pelo futebol brasileiro. Ele tem confiança de que o país será hexa:
- Nós, haitianos, adoramos a seleção brasileira e vamos parar tudo para ver o jogo.

Argentina também é paixão
Quando a seleção brasileira esteve no Haiti, em agosto de 2004, Agnant foi um dos que se amontoaram pelas ruas para saudar os jogadores. Ainda pequeno, não conseguiu entrar no estádio, nem falar com os jogadores, como era seu sonho. Desde então, é um dos fanáticos pela nossa equipe.
No período da Copa, quem não tem emprego - a maioria da população -, mas possui uns trocados, tenta faturar alguma coisa vendendo produtos relacionados ao tema. Morando numa barraca improvisada em frente ao Palácio Presidencial desde o terremoto de 12 de janeiro, quando perdeu um de seus quatro filhos, Leontus Yocelyn, de 42 anos, vende camisetas e bandeirinhas do Brasil e da Argentina - infelizmente, a nossa principal rival divide a paixão dos haitianos pelo futebol. Ele, que torce pelo Brasil, disse que vende mais objetos relacionados à nossa seleção. Mas o faturamento é pouco. Uma bandeirinha brasileira custa US$3, e a camiseta, "genérico do genérico", US$5.
Leontus não tem televisão e afirmou que vai utilizar um rádio para acompanhar a partida. Otimista ao extremo, ele faz um prognóstico: Brasil 5 x 0 Coreia do Norte:
- Serão três gols de Kaká e dois de Robinho.
A disputa pelo coração dos haitianos envolvendo as seleções do Brasil e da Argentina é tanta que, na noite de sábado, um programa de televisão ao vivo, transmitido das imediações do Palácio Presidencial, tinha como mote a disputa entre mulheres, vestidas com as camisetas das duas equipes, para saber quem dançava melhor. Além disso, homens, ora com camiseta brasileira, ora com a da argentina, tentavam conquistar as moças da equipe rival. Num país onde não há muitos motivos para sorrir, o programa trouxe alegria por alguns minutos.

Novo radar é um alento à cidade

Novo radar é um alento à cidade
Editorial, Jornal do Brasil - 13/06/2010
RIO - É costume entre políticos atribuir à natureza a responsabilidade por problemas que a mão humana ou criou, ou acelerou, ou não impediu que vicejassem. Às vezes a justificativa é indevida, mas há casos em que, realmente, a fúria dos elementos surpreende até o mais precavido dos homens públicos. Pelo volume de água que o Rio recebeu no histórico temporal de abril, pouco poderia ser feito. Essa pequena fresta, no entanto, tem relação com a capacidade do município de estudar os sinais atmosféricos a tempo não só de alertar os esquema de segurança e proteção como também de avisar aos moradores que não se exponham a riscos desnecessários. Enxurradas são um dado histórico no Rio há décadas, e o carioca sempre soube conviver com os seus reflexos: a questão é que, em abril, várias circunstâncias se uniram para superar toda e qualquer previsão. A notícia de que a prefeitura vai investir R$ 2,2 milhões na instalação de um novo radar atmosférico no Sumaré, adiantada pelo JB na edição de ontem, é uma resposta adequada e no único nível capaz de confrontar a tormenta, que é a tecnologia.
O sistema Alerta Rio é uma conquista e um exemplo de que iniciativas dessa natureza podem progredir independentemente do matiz político daqueles que regem os destinos da municipalidade. A rede de informação, capaz de avisar com uma hora de antecedência da formação de nuvens com potencial para gerar chuvas acima do normal, foi criada em 1996. Em abril falhou porque a principal instalação, que é o radar do Pico do Couto, na serra de Petrópolis, não detectou a formação das nuvens abaixo dos 1.800 metros. Isso ocorre porque o equipamento é utilizado para orientar o tráfego aéreo na região do Rio. Agora, o controle se dará em um nível de até 700 metros de altitude.
A importância do novo radar é clara quando se observa um dado novo nas chuvas de abril. Elas expuseram um aspecto geológico da cidade que independe de questões de ocupação urbana inadequada nas encostas. Várias áreas que registraram deslizamentos eram cobertas com vegetação nativa e só solaparam porque a geologia de toda a região da cidade é muito vulnerável ao encharcamento quando a quantidade de água é brutal. E foi exatamente isso que ocorreu em abril. Agora, com o novo radar no Sumaré, mais as 32 estações de observação, a previsão poderá ser antecipada. Além da tranquilidade para a população, o sistema corre integrado às outras operações necessárias, como a polícia, defesa civil e a coordenação de trânsito. Com a antecipação dos alertas, por exemplo, equipes podem posicionar-se em pontos críticos ou agir rapidamente no sentido de desobstruir pontos de possíveis alagamentos, entre outras ações. Chover na Olimpíada e na Copa é uma possibilidade. Com o novo esquema, a cidade estará pronta.

Mural transforma a British Petrolium em morte na Lousiania. "Vocês mataram o Golfo, mataram nosso meio de vida"


Duke, hoje no Super Notícia (MG)


A ética e as "esquerdas"

A ética e as "esquerdas"
Paulo Guedes

A quase completa "esquerdização" da elite intelectual brasileira foi uma importante consequência das duas décadas de autoritarismo do regime instalado pela intervenção militar em 1964. A insensibilidade social do capitalismo de Estado esculpido no regime militar incendiou os corações da resistência democrática. E, se a ditadura era de "direita", o natural desdobramento foi uma vitória digna de Gramsci na dimensão política: a ocupação de todo o espectro partidário relevante após a redemocratização. A hegemonia e ubiquidade da "esquerda" entre políticos e religiosos, jornalistas e líderes sindicais, professores e estudantes.
Intelectualmente alinhados, mas em feroz batalha pelo poder político, tucanos e petistas disputam, sob acusações de assistencialismo, a preferência popular, cooptando políticos conservadores e empresários oportunistas com o pretexto da governabilidade. Não sou eu quem o diz, isso é o que dizem uns dos outros. "Ao ser oficializado ontem candidato à Presidência, o tucano José Serra atacou o aparelhamento do governo Lula e disse que não tem esquadrões de militantes pagos com o dinheiro público. Também criticou quem justifica deslizes morais dizendo fazer o mesmo que outros fizeram, chamando-os de neocorruptos e citando o mensalão", estampou a primeira página do GLOBO de ontem.
Os petistas, por sua vez, denunciaram os tucanos nos episódios da reeleição de FHC e das privatizações, acusando-os ainda de criarem o mensalão no governo de Minas Gerais. Quando muita gente que sempre se considerou do mais alto calibre moral fica sob suspeita, há algo de profundamente errado com nossos costumes políticos. Será portanto incontornável nesta eleição presidencial o debate sobre a ética em nossas práticas políticas.
"As virtudes intelectuais e morais exigem instrução, bons hábitos, tempo e seu exercício repetido para serem finalmente adquiridas. Tornamo-nos educados pela aprendizagem contínua, justos pela prática da justiça, prudentes pelo exercício da prudência, heroicos pelas atitudes de coragem. As leis, portanto, formam bons cidadãos pela força do hábito. Essa deveria ser a intenção de todos os legisladores. Faz toda a diferença que hábitos são estimulados pelas leis. Tudo o que temos de aprender devemos desde cedo aprender praticando", advoga Aristóteles, em seu clássico tratado "Ética a Nicômaco".

Mesquita Istiqlal, Indonésia - Fotografia por Hartawan Tony

Istiqlal, mesquita de Jacarta, uma das maiores do mundo, pode receber mais de 70 mil fiéis em um momento. Comerciantes árabes trouxeram o Islã para a região há milhares de anos. Hoje, a Indonésia é no mundo o mais populoso país muçulmano.

Humor dos Ateus


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