sábado, julho 31, 2010

Renoir - La-Lecture


Elas vivem mais e pior

Elas vivem mais e pior
Gazeta do Povo – PR - 29/07/2010
Jornada dupla feminina é uma das possíveis causas apontadas por estudo espanhol sobre a saúde frágil das mulheres mais velhas
Circea D’Alva Perroud, de 70 anos, é quase um compêndio médico, livro que reúne os descritivos das doenças e é uma espécie de bíblia dos profissionais de saúde. Sofre de dores no corpo e tem limitações em algumas atividades cotidianas, como caminhar e varrer a casa, por causa de uma lista de doenças. Ao mesmo tempo, o marido, de 78 anos, se recupera de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), sofrido em uma manhã há pouco mais de um mês, por conta da teimosia em não controlar a pressão alta com medicamentos. Na tarde do mesmo dia, ele foi andar de bicicleta pelo bairro. “Ele também operou da próstata, mas o tumor era benigno e nunca mais teve nada”, conta ela. 
O casal brasileiro, morador de Curitiba, traduz o perfil de um estudo espanhol, divulgado na última edição do Journal of Women Health: mulheres vivem mais, porém com pior qualidade de vida. Entre os 4.244 idosos avaliados em 1992, 2000 e 2006, 53% das mulheres com mais de 64 anos e 30% dos homens da mesma idade demonstraram alguma incapacidade nas atividades cotidianas e, por isso, menor qualidade de vida. 
O médico geriatra Fernando Bignardi, coordenador do Centro de Estudos do En velhe cimento da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), recorre a um conceito sociológico para analisar a vulnerabilidade da saúde feminina. “A mulher trai a sua natureza da parceria, do acordo, para entrar na competitividade do mundo masculino.
Dificuldades em vestir-se, despir-se, alimentar-se, caminhar, cuidar do próprio dinheiro, levantar-se ou deitar-se foram as ações mensuradas pelo estudo. Os problemas na rotina e na autonomia, em geral, surgiram por causa de doenças degenerativas e depressivas, cuja incidência tem sido maior na população feminina. A condição socioeconômica dos pesquisados também mostrou diferenças entre as incompetências adquiridas por causa da fragilidade na saúde. Os mais afetados são os que tiveram menos acesso ao sistema médico público.
De acordo com o principal responsável pelo estudo, Albert Espelt, pesquisador da Agência de Pública de Saúde de Barcelona, a dupla jornada das mulheres ao longo da vida – no ambiente doméstico e no mercado de trabalho – ajuda a explicar a sua pior condição de saúde na maturidade. “O trabalho em casa é menos gratificante que a carreira profissional e esse desequilíbrio pode levar a distúrbios psicológicos, como a depressão, ou ainda a problemas ósseos e musculares”, observa. 
Circea convive com a osteoporose, diagnosticada há mais de dez anos, que provocou problemas nas costas e articulações: tem artrose e cinco hérnias de disco espalhadas ao longo da coluna vertebral. Também sofre de desgaste ósseo na bacia. A fragilidade dos ossos – herança genética da família, segundo ela mesma – rende fraturas constantes. A última foi uma queda que lhe custou o joelho quebrado, há pouco mais de dois meses. O braço esquerdo foi operado seis vezes. As dez doses diárias de remédios ajudam a controlar os incômodos da fribromialgia, pressão alta, labirintite, rinite, cistite, gastrite e refluxo. Uma catarata também interfere na qualidade de vida da professora aposentada, que briga com a balança por causa do excesso de peso. 
Enquanto Circea lida com médicos de todas as especialidades e é uma usuária frequente e crítica do Sistema de Atenção aos Servidores (SAS), o marido só precisou enfrentar um tratamento médico mais demorado depois do AVC. Aos poucos, recupera os movimentos do lado direito. E está assustado com a sua condição de debilitação depois de tantos anos de trabalho minucioso como ótico e ourives.
O casal sempre manteve hábitos saudáveis, com alimentação equilibrada e livre do sal, que parece ter adiado o AVC dele, mas não foi capaz de evitar os problemas de saúde dela. A “miss expressinho”, como era conhecida nos corredores das escolas onde lecionou em 32 anos de carreira no magistério, precisou aprender a reduzir o ritmo das atividades rotineiras. 
Apesar das limitações físicas, não há doença que tire de Circea a vontade de ficar boa. A religiosidade, fortalecida na terceira idade, a ajuda a enfrentar as dificuldades. E, apesar da diferença entre a saúde dela e do marido, acredita que a mulher seja mais resistente às adversidades. “Tenho esperança de melhorar de saúde. Quero me cuidar para não terminar a vida com sofrimento. Sou uma sobrevivente”, diz.

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Capacitação para quem atende mulheres vítimas de violência


Capacitação para quem atende mulheres vítimas de violência

O Estado do Paraná - 29/07/2010
Capacitar pessoas que trabalham diretamente no atendimento às mulheres vítimas de violência. Este é o objetivo do projeto mulher de Direito, do Instituto de Defesa dos direitos humanos (Iddeha). O projeto capacitou e informou gestores de cinco municípios que estão entre os mais violentos do Estado: Almirante Tamandaré, Colombo, Piraquara, Pinhais e Fazenda Rio Grande. Os gestores dos municípios se reuniram ontem, em Curitiba. Para o presidente do Iddeha, Paulo Pedron, o Estado não garante políticas públicas para as mulheres vítimas de violência. Desta forma, é necessário buscar alternativas. Segundo ele, um dos principais problemas é a falta de preparo (e até de conhecimento) das pessoas que lidam com o fato. “As pessoas ainda não se deram conta de que a violência contra a mulher é um problema social, e que ainda existe muito machismo. Isso se estende às áreas de saúde, polícia, etc.”, comenta. Com a Lei Maria da Penha (que visa combater este crime), houve avanços. Mas ainda há muito o que melhorar. “Com a lei, policiais começaram a ser capacitados”, observou.

Não jogue seu voto no lixo!

Sem comentários, a foto diz tudo.


O futuro do PT

O futuro do PT
Lucia Hippolito

O PT nasceu de cesariana, há 29 anos. O pai foi o movimento sindical, e a mãe, a Igreja Católica, através das Comunidades Eclesiais de Base.
Os orgulhosos padrinhos foram, primeiro, o general Golbery do Couto e Silva, que viu dar certo seu projeto de dividir a oposição brasileira.  
Da árvore frondosa do MDB nasceram o PMDB, o PDT, o PTB e o PT... Foi um dos únicos projetos bem-sucedidos do desastrado estrategista que foi o general Golbery.
Outros orgulhosos padrinhos foram os intelectuais, basicamente paulistas e cariocas, felizes de poder participar do crescimento e um partido puro, nascido na mais nobre das classes sociais, segundo eles: o proletariado.
O PT cresceu como criança mimada, manhosa, voluntariosa e birrenta. Não gostava do capitalismo, preferia o socialismo. Era revolucionário. Dizia que não queria chegar ao poder, mas denunciar os erros das elites brasileiras.  
O PT lançava e elegia candidatos, mas não "dançava conforme a música". Não fazia acordos, não participava de coalizões, não gostava de alianças. Era uma gente pura, ética, que não se misturava com picaretas.
O PT entrou na juventude como muitos outros jovens: mimado, chato e brigando com o mundo adulto.
Mas nos estados, o partido começava a ganhar prefeituras e governos, fruto de alianças, conversas e conchavos. E assim os petistas passaram a se relacionar com empresários, empreiteiros, banqueiros.
Tudo muito chique, conforme o figurino.
E em 2002 o PT ingressou finalmente na maioridade. Ganhou a presidência da República. Para isso, teve que se livrar de antigos companheiros, amizades problemáticas. Teve que abrir mão de convicções, amigos de fé, irmãos camaradas.
A primeira desilusão se deu entre intelectuais. Gente da mais alta estirpe, como Francisco de Oliveira, Leandro Konder e Carlos Nelson Coutinho se afastou do partido, seguida de um grupo liderado por Plinio de Arruda Sampaio Junior.
Em seguida, foi a vez da esquerda. A expulsão de Heloisa Helena em 2004 levou junto Luciana Genro e Chico Alencar, entre outros, que fundaram o PSOL.
Os militantes ligados a Igreja Católica também começaram a se afastar, primeiro aqueles ligados ao deputado Chico Alencar, em seguida Frei Betto.
E agora, bem mais recentemente, o senador Flavio Arns, de fortíssimas ligações familiares com a Igreja Católica.
Os ambientalistas, por sua vez, começam a se retirar a partir do desligamento da senadora Marina Silva do partido.
Afinal, quem do grupo fundador ficará no PT? Os sindicalistas.
Por isso é que se diz que o PT está cada vez mais parecido com o velho PTB de antes de 64.
Controlado pelos pelegos, todos aboletados nos ministérios, nas diretorias e nos conselhos das estatais, sempre nas proximidades do presidente da República.
Recebendo polpudos salários, mantendo relações delicadas com o empresariado. Cavando benefícios para os seus.
Aliando-se ao coronelismo mais arcaico, o novo PT não vai desaparecer, porque está fortemente enraizado na administração pública dos estados e municípios. Alem do governo federal, naturalmente.
É o triunfo da pelegada.

David Bowie - Life on Mars (Live- HQ vid & Excel sound)

Senado oficializa seus vícios secretos

Senado oficializa seus vícios secretos
Um ano após a pior crise de sua história, Casa legaliza permanência de empresas sob suspeita, ignora as promessas de enxugar pessoal e ainda amplia gastos em R$ 464 milhões com plano de carreira para servidores
Leandro Colon / BRASÍLIA

Em ato corriqueiro, o Senado publicou na quinta-feira um contrato de R$ 18 milhões para a empresa Servegel Ltda. fornecer ao serviço administrativo, por um ano, 512 funcionários terceirizados. Serão "auxiliares" e "assistentes" de execução. É a mesma empresa que se envolveu em 2009 em um escândalo de nepotismo cruzado, ao empregar parentes de servidores efetivos do Senado em um outro contrato, de R$ 437 mil, para o setor de arquivo.
Esse contrato que empregou ilegalmente parentes expira em outubro, depois de ter sido prorrogado sem licitação. O serviço chegou a ser contestado por uma auditoria interna, que considerou irregular a contratação de terceirizados para o setor de arquivo. O que aconteceu? Nada.
A direção do Senado, porém, foi além e montou um troca-troca de contratos e empresas. A mesma Servegel, do contrato do nepotismo, venceu licitação para a outra área da Casa, a administrativa, e quem assumiu seu lugar no arquivo, por R$ 430 mil mensais, foi a Plansul Consultoria, uma velha conhecida dos senadores. Hoje a empresa já tem três contratos, de R$ 23 milhões, R$ 7 milhões e R$ 3 milhões.
A Plansul faz de tudo na Casa e fornece mais de 700 funcionários ao setor de comunicação social, informática e obras, entre eles 17 marceneiros.
 O cenário envolvendo essas duas empresas é só um exemplo provando que, um ano depois do maior escândalo de sua história, o Senado não mudou nada e apenas oficializou os vícios secretos.
Agaciel candidato. A Casa legalizou a permanência de empresas sob suspeita, não demitiu ninguém - a folha de pagamento de R$ 2,1 bilhões continua intacta -, emperrou a reforma administrativa cobrada externamente, liberou por ofícios os servidores do registro de frequência, aprovou no plenário um plano de salário recheado de benefícios e deu aval para os senadores transformarem os assessores dos gabinetes em cabos eleitorais nos Estados.
As transferências e nomeações pouco transparentes continuam nos gabinetes. Em 9 de julho, por exemplo, o Senado publicou que o funcionário Antonio Lelian Inácio, assessor de Ideli Salvatti (PT-SC), assumiu o cargo de "motorista", com salário de R$ 1,2 mil. É a sua sétima movimentação no quadro do Senado. Em junho de 2009, ele chegou a ser nomeado "assessor técnico", cujo salário, R$ 9,9 mil, é 8 vezes maior do que o atual.
Apontado como mentor dos atos secretos, revelados pelo Estado no ano passado, o ex-diretor-geral Agaciel Maia filiou-se a um partido nanico, o PTC. Agora, ele cumpre os rituais eleitorais de praxe para entrar oficialmente na galeria dos políticos - embora já fosse chamado de "82.º senador".
Agaciel foi suspenso por apenas 90 dias por causa dos atos secretos e continua poderoso dentro da Casa. Ele tentará se eleger deputado distrital nas eleições de outubro.
Agaciel declarou à Justiça Eleitoral um patrimônio de R$ 3,8 milhões, sendo R$ 2,6 milhões em conta corrente. Registrou que gastou R$ 647 mil só com a reforma de banheiros de sua mansão no Lago Sul. Ele espera, principalmente, o voto da maioria dos 3 mil funcionários terceirizados.
A partir de segunda-feira, seu ex-chefe de gabinete Celso Menezes, também envolvido no escândalo dos atos secretos, vai tirar uma licença para concluir o seu curso de direito.
Aspirante a modelo, a estudante Nathalie Rondeau, nomeada por ato secreto, continua recebendo salários do Conselho Editorial do Senado. Ela é filha do ex-ministro Silas Rondeau, aliado do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP).
No mesmo órgão, criado e comandado por Sarney, ainda está lotada a jovem Gabriela Aragão, filha do ex-agente federal Aluísio Guimarães Mendes Filho, que trabalha para a família Sarney.
No ano passado, o Estado revelou que Gabriela era funcionária fantasma do Senado. Não perdeu o emprego.
Plano dos servidores. O dinheiro do Senado continua sendo tratado como verba privada. Cada senador recebeu de presente até 2011, por exemplo, a assinatura anual de uma revista da Paraíba, A Semana. Não houve licitação. O Senado pagou R$ 22 mil pela publicação.
Outro exemplo de como funciona a relação dos senadores com os servidores: coube aos funcionários a tarefa de elaborar um plano de carreira para eles mesmos.
A proposta, com impacto de R$ 464 milhões na folha de pagamento, prevê criação de novas gratificações, privilégios e salários que beiram os R$ 26 mil. Foi aprovada pelos senadores e deputados.
Procuradas ontem, as empresas Servegel e Plansul não atenderam à reportagem.


Política e imprensa

Política e imprensa
Isabel Lustosa - Estadão
Talvez esteja na hora de se promover uma campanha pela moralização dos tribunais em todas as suas instâncias

Dom Pedro I adorava escrever para os jornais. Originais de alguns de seus artigos, muito rabiscados, mas escritos com boa letra (bem melhor do que a do pai), estão guardados no Museu Imperial de Petrópolis. Não está lá, no entanto, o mais célebre, publicado em janeiro de 1823 em O Espelho, cujo sugestivo título: Calmante do Malagueta ou p... que o pariu a ele, antecipava o conteúdo. Como não existe o original, ficou sempre a dúvida sobre a autoria, mas, como o estilo faz o homem e aquele artigo chulo tinha bem o estilo do nosso irrequieto imperador, tudo leva a crer que foi ele mesmo quem o escreveu.
Se não hesitava em ofender, d. Pedro, no entanto, era muito pouco tolerante com qualquer crítica impressa. De forma que quando José Augusto May, o Malagueta, publicou em junho daquele ano artigo em que atacava principalmente a José Bonifácio, mas fazia também críticas veladas ao imperador, foi surpreendido por visita noturna de um bando de embuçados em sua casa no bairro de São Cristóvão. Apanhou muito o Malagueta, herdando dessa surra defeito permanente em uma das mãos.
D. Pedro II, ao contrário do pai, foi totalmente tolerante com o que se publicava sobre ele nos jornais. Talvez não seja exagero dizer que foi durante o Segundo Reinado que a imprensa gozou de maior liberdade no Brasil, daí que existam tantas caricaturas suas. Mesmo quando as críticas foram mais contundentes, até mesmo ofensivas como as que publicava Apulco de Castro no seu O Corsário, o imperador nada fez contra o jornalista. Quem deu cabo de Apulco de Castro foram os militares que, sentindo-se ofendidos por alguns de seus artigos, o tocaiaram e lincharam numa esquina da hoje boêmia Rua do Lavradio.
Foi, de fato, sob o governo dos dois presidentes militares que a imprensa começou a sentir saudades do tempo do velho imperador. Se o Marechal Deodoro não tomou medidas legais contra o jornal monarquista, a Tribuna, seus sobrinhos, todos militares, empastelaram o jornal, causando a morte do tipógrafo. O sucessor, Marechal Floriano, prendeu e mandou para longe do Rio de Janeiro os jornalistas mais ousados como José do Patrocínio e Olavo Bilac. Durante a República Velha, oposição mesmo quem fazia era Edmundo Bittencourt, do Correio da Manhã. Chegou a bater-se em duelo contra seu conterrâneo, o também gaúcho Pinheiro Machado, presidente do Senado e eminência parda da política brasileira nos primeiros anos do século 20. Tão forte era a influência do jornal de Bittencourt que ele esteve por trás de duas agitações importantes no período: insuflando as massas contra o governo na Revolta da Vacina, em 1904, e tentando sabotar a eleição de Artur Bernardes, em 1922, com as famosas "cartas falsas".
A Revolução de 1930 marca um processo de ascendente controle da imprensa. Fatos como a Revolução Constitucionalista de 1932, em São Paulo, e a frustrada tentativa de golpe dos comunistas, em 1935, justificaram restrições que se tornariam ostensivas depois do golpe de 1937, quando a censura se torna política de governo. No entanto, reinou franca liberdade de imprensa durante o segundo governo Vargas. Foram os jornais de oposição que produziram a violenta campanha que resultou no desfecho trágico da madrugada de 24 de agosto de 1954. A censura mesmo só voltaria a predominar em 1964, a partir do golpe militar que levou o censor para dentro da redação.
Felizmente, hoje o Brasil vive período de franca liberdade de imprensa e as questões específicas são resolvidas nos tribunais. Há que se questionar, no entanto, a eventual parcialidade da Justiça. E, neste caso, talvez esteja na hora de se promover uma campanha pela moralização dos tribunais em todas as suas instâncias. Uma campanha contra as ligações antidemocráticas de compadrio entre juízes e políticos influentes, que se apresentam em todas as instâncias do Judiciário. São essas ligações perigosas que fazem com que leis bem-intencionadas como a da Ficha Limpa só atinjam - como é da lamentável tradição brasileira - os que não têm dinheiro para pagar os melhores advogados e, algumas vezes, podem até mesmo ser inocentes.
É PESQUISADORA DA FUNDAÇÃO CASA DE RUI BARBOSA

De qual elite Lula fala?

De qual elite Lula fala?
Após multas do TSE, presidente modera discursos em atos de governo e ataca duro nos palanques
Leila Suwwan - Enviada especial

PORTO ALEGRE. Após seis multas da Justiça eleitoral, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estreou uma modalidade de atuação eleitoral anteontem em Porto Alegre. De dia, em compromissos oficiais como presidente, conseguiu evitar citar o nome de sua candidata, Dilma Rousseff, e pregou até a “perspectiva histórica” para atenuar as usuais críticas aos antecessores, entre eles o tucano Fernando Henrique Cardoso — alvo preferido de petistas para atacar o candidato José Serra (PSDB). Mas, à noite, no palanque de Dilma, Lula assumiu um discurso político agressivo, com ataques às elites, à direita e à imprensa.
Lula, que é aliado e defensor do presidente do Senado, José Sarney, dos senadores Fernando Collor e Renan Calheiros, além do deputado Paulo Maluf, é só elogios a eles, mas atacou o que chamou de elite durante o comício: — A esquerda faz oposição. A direita tenta dar golpe a cada 24 horas para não permitir que as forças democráticas pudessem continuar neste país.
Foram oito anos de ataques, provocações e infâmias. Eu mandei dizer a essa elite: vocês mataram o Getulio (Vargas), obrigaram o (João) Goulart a renunciar e o Jânio Quadros durou seis meses. Se quiserem me enfrentar, não vou estar no meu gabinete lendo o jornal de vocês. Estarei nas ruas conversando com o povo brasileiro! — atacou ele, em discurso exaltado.
No mesmo dia, em ato do governo em Porto Alegre, Lula disse que “tem gente” que não quer que o presidente faça campanha. Já no comício, à noite, ao lado de Dilma, afirmou que fará campanha diariamente, inclusive com participação no programa eleitoral da petista.
— Os meus adversários estão fazendo tudo para impedir que eu apareça na televisão. Dizem que o Lula presidente tem que ser um magistrado.
Quando eles tentavam me derrubar, ninguém me achava um magistrado.
Agora, eu não sei se vou ajudar, mas eles vão ter que ver minha cara na televisão todo dia pedindo voto para Dilma! — disse Lula.
No comício para pedir votos para Dilma e Tarso Genro, Lula repetiu uma mesma frase usada de manhã, em evento presidencial: — Em oito anos, colocamos mais dinheiro neste estado, tanto de financiamento quanto de orçamento, do que todos estes governos em 25 anos.
De manhã, no entanto, havia feito uma ressalva: de que essa comparação não era crítica, apenas um resultado natural da conjuntura histórica.
Ele explicou que os governantes recentes do Brasil não tinham condições de investir por causa da dívida externa assumida por Ernesto Geisel e que se tornou impagável devido à escalada dos juros dos Estados Unidos, que passaram de 3% para 21%.
— Não falo isso criticando os outros governos ou criticando outros ministros.
É preciso ter noção da evolução histórica e que cada um de nós fez as coisas que tínhamos que fazer — amenizou o presidente naquela ocasião.
Lula deixou claro no comício que o PT mantém um projeto de poder no Executivo — e que a coalizão de partidos aliados serve para dar sustentação ao Executivo petista. Ele lembrou do escândalo do mensalão de 2005: — Diziam que o PT não iria ressurgir e jamais conseguiria eleger o presidente da República.

Por que fogem?

Por que fogem?
Miriam Leitão – O Globo

A democracia se encolhe quando em época de campanha os candidatos acham que têm mais a ganhar não falando. De que forma conhecê-los melhor senão através de debates, entrevistas? Dilma Rousseff tem usado a estratégia de fugir de qualquer ambiente que não controle, com pequenas experiências fora desse padrão. Agora, José Serra começou também a se negar a ir a debate. Que eleições teremos?
O debate na internet seria muito bom, se tivesse sido. Um deles, de alguns dos portais, estava marcado para a última segunda-feira e não aconteceu.
Novas mídias, formato a ser ainda experimentado pelos jornalistas com mais liberdade e interatividade.
Dilma fugiu. Serra fugiu em seguida alegando que Dilma fugiu. Erraram os dois. Antes, só Dilma estava dizendo não a tudo o que ela e sua assessoria entendiam que pudesse trazer algum risco.
É um espanto que quem pensa em governar o Brasil tenha medo de uma entrevista ou um debate.
Terão medo dos seus próprios pensamentos? De serem traídos por suas palavras? De revelarem o que realmente pensam e, assim, fugirem ao personagem inventado pelo marketing? A negativa é suspeita em si.
Quando um candidato está muito na frente, ele costuma evitar riscos. Mas no caso, os dois estão se alternando no primeiro lugar.
O jogo ainda está sendo jogado.
Serra estava indo a entrevistas e se expondo, mas no último debate decidiu errar junto com sua adversária. Toda entrevista é uma oportunidade de expor o pensamento. Isso só pode ajudar o eleitor e o próprio candidato. Todo debate é uma salutar forma de confrontar ideias e estilos.
Serra vinha criticando Dilma por fugir de entrevistas e debates, mas agora o que tem a dizer? Dilma revela com sua fuga que tem medo de sua falta de experiência em situações de stress normais em campanhas eleitorais.
 E Serra? Ele costuma dizer que já fez nove campanhas eleitorais.
Desde 1998 tenho entrevistado, na Globonews, os candidatos a presidente.
Em algumas dessas eleições houve até duas rodadas de entrevistas. Só uma vez, na primeira rodada de 2002, por volta de abril, ocorreu uma recusa: a de Anthony Garotinho.
Na segunda vez ele foi.
Todas as entrevistas, com todos os candidatos, foram esclarecedoras. Jornalista em época de eleição deve fazer perguntas sobre os pontos fracos, não esclarecidos, contradições dos candidatos.
Por que seria diferente? Para questões que levantem a bola existe o horário eleitoral. O contraponto são as entrevistas e debates.
Que credibilidade pode ter uma entrevista de Dilma Rousseff a uma TV do governo? Mas a essa, com tudo sob seu controle, a candidata compareceu.
Na campanha deste ano, a Globonews convidou os três candidatos mais competitivos para serem entrevistados por mim. Os representantes de Dilma Rousseff foram para as reuniões preparatórias, mas ela não quis comparecer. Marina Silva e José Serra deram respostas esclarecedoras sobre vários pontos que levantei.
Escrevi sobre as entrevistas nesse espaço de coluna. O trabalho ficou incompleto porque não pude perguntar nem escrever sobre o pensamento de Dilma Rousseff.
Fiquei com a sensação de que ela acha que tinha mais a ganhar não sendo entrevistada do que sendo.
O que é esquisito, para dizer o mínimo.
Se a recusa tivesse sido só para um programa poderia ter sido apenas uma escolha num conflito com outras atividades de campanha, ou outra qualquer questão subjetiva que se deve respeitar. Mas Dilma recusou também a ida à sabatina da “Folha de S.Paulo”.
Pior: tinha já previsto e marcado a ida, quando decidiu cancelar. Espantoso.
Aos jornalistas, cabe apenas fazer perguntas, por mais difíceis que sejam são apenas perguntas. O candidato tem todo o tempo, e a chance, das respostas. O que Dilma Rousseff revelou, fugindo da sabatina tradicional da “Folha”, sempre tão bem feita, tão esclarecedora, é que tem medo não das perguntas, mas de suas respostas.
Essas fugas iniciais não foram boas, mas ainda há vários outros eventos jornalísticos programados e sempre haverá tempo para o confronto das ideias, programas, projetos e estilos.
Tomara que novas fugas não aconteçam. Ainda há chance de corrigir esse perigoso desvio das eleições de 2010. No Rio, o candidato que está na liderança nas intenções de votos para o governo, o atual governador Sérgio Cabral disse que mudou de ideia e vai comparecer aos debates. Ótimo.
Os candidatos precisam falar e se expor aos diversos tipos de pressão, porque é assim a democracia.
Essa campanha já tem uma enorme distorção provocada pela presença abusiva do presidente da República, em campanha aberta, usando toda a força da máquina, todos os eventos de governo, alterando cronogramas de eventos até de estatais como a Petrobras só para construir vitrines para sua candidata.
Lula fala por ela. Isso desequilibra a disputa, não por ele ser algum superhomem, mas porque ele está no supercargo. Isso distorce o ritual da escolha que o eleitor precisa fazer serenamente e com o conhecimento sobre os candidatos em si.
Se a campanha for assim, com candidatos fugindo ao debate, a candidata governista tutelada pelo presidente da República, a máquina e os recursos públicos sendo usados de forma explícita, teremos um retrocesso político grave, seja qual for o resultado das eleições. Essas atitudes enfraquecem a busca de soluções, oportunidade aberta pelo processo eleitoral. No fim, encolhem a democracia.

Ingrid Bergman - Can't take my eyes off of you



Erasmo para o Jornal de Piracicaba


Veja vai ao TSE para impedir direito de resposta

CENAS DA POLÍTICA
Veja vai ao TSE para impedir direito de resposta
CESAR DE OLIVEIRA
A Editora Abril quer derrubar a decisão que obrigou a revista Veja a publicar um direito de resposta de Joaquim Roriz, candidato a governador do Distrito Federal, na edição que começa a ser distribuída neste sábado (31/7). Por isso, ajuizou Medida Cautelar, no Tribunal Superior Eleitoral, para pedir a suspensão da decisão do Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal.
No pedido feito pelo advogado Alexandre Fidalgo, do escritório Lourival J. Santos, o principal argumento é o de que casos desta natureza têm de ser julgados pela Justiça comum. A defesa diz que “o Tribunal Superior Eleitoral, reiteradas vezes, manifestou o entendimento de que a Lei 9.504/1997 (Código Eleitoral) não é aplicada às matérias jornalísticas, especialmente as que são publicadas nos veículos impressos, de modo que toda ação de pedido de resposta decorrente de matérias jornalísticas a competência será da Justiça comum”.
A defesa cita que há orientação jurisprudencial do TSE no sentido de que “a finalidade da Justiça especializada é a de garantir o equilíbrio entre os candidatos, partido e coligação, garantindo a todos os atores da cena política resposta às manifestações dos adversários políticos, o que não se estende às manifestações decorrentes de matérias jornalísticas”.
De acordo com a Medida Cautelar, não há dúvida de que a notícia publicada pela revista, na edição do último dia 7, tem caráter jornalístico, retratando os recentes acontecimentos públicos e políticos da capital federal, que resultaram na prisão do ex-governador José Roberto Arruda e as renúncias do então vice-governador, Paulo Octávio, e membros do Legislativo. Além disso, argumenta a defesa, há inegável interesse público no assunto envolvendo Roriz — “sabidamente envolvido em denúncias de toda a sorte” —, e não se configura como campanha eleitoral praticada por adversário do candidato com o objetivo de prejudicá-lo.
Além da competência, a Abril explica que o texto de direito de resposta enviado por Roriz “apresenta-se de forma irregular”, porque faz menção a terceiros, que, diante da publicação, poderiam ajuizar novas ações contra revista. Segundo a defesa, a jurisprudência entende esse fato como impedimento para a publicação. O trecho ao qual a defesa se refere é o seguinte: “Falou, sim, da expectativa de nomes que poderiam ser governadores em 2011. Falou, abertamente, de seu relacionamento com Joaquim Roriz, com Cristovam Buarque, com Agnelo Queiroz e com Geraldo Magela”.
Fonte: Consultor Jurídico e Arte sobre foto de José Cruz.

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