terça-feira, outubro 05, 2010

Comprar ou brincar

Comprar ou brincar
ROSELY SAYÃO
A aquisição exagerada de brinquedos colaborou para que a brincadeira ficasse em segundo plano
"NÃO BASTA ser criança para ter infância". Essa frase, pronunciada no documentário "A Invenção da Infância" (disponível na internet em www.portacurtas.com.br), não me deixa em paz.
Todo dia minha memória a torna atual: quando pais falam comigo a respeito de seus filhos, quando professores contam como organizam os trabalhos na educação infantil com seus alunos, quando vejo crianças em situações nada infantis. Com a aproximação do chamado Dia da Criança, creio que vale a pena dialogar com a frase. Desde que o conceito de infância foi inventado, nós temos uma ideia social do que é ser criança e essa ideia foi utilizada principalmente para fazer distinções entre adultos e crianças.
Pois a infância, caro leitor, vem sofrendo tantas transformações no mundo contemporâneo que, hoje, já não temos mais consenso social a respeito do que é infância e, portanto, do que é ser criança.
Por isso, fica extremamente difícil traçar alguma linha divisória entre o universo infantil e o mundo adulto.
Esse fato torna a vida de todos -crianças ou não- muito mais complexa porque, na ausência de um conceito compartilhado pela sociedade, cada um cria seu próprio conceito a respeito.
Já no início dos anos 80, um professor universitário estadunidense chamado Neil Postman publicou um livro chamado "O Desaparecimento da Infância", em que alertava a sociedade para o fato de que as crianças estavam se transformando precocemente em adultos.
Na época, a tese do autor parece não ter feito muito sentido porque o livro foi republicado apenas em 1994. O mesmo ocorreu no Brasil: a primeira edição aqui saiu em 1999, e a reedição veio apenas seis anos depois.
Isso pode significar que a sociedade está, atualmente, com o seu olhar mais voltado para a infância, quiçá com anseios de salvá-la. Vamos então fazer um breve levantamento sobre como temos feito as crianças se transformarem em adultos antes do tempo.
Comecemos, à luz da comemoração do Dia da Criança, sobre como elas têm sido sugadas pelo consumo. Nem é preciso falar muito a esse respeito, porque já sabemos que, antes mesmo de a criança saber o que é ser cidadão, ela já ocupa ativamente o papel de consumidor. Alguém tem dúvidas de que esse dia será celebrado pela sociedade, de modo geral, por meio do consumo?
A aquisição desenfreada de brinquedos colaborou muito para que o ato de brincar ficasse em segundo plano. Resultado: as crianças, na atualidade, quando querem brincar não podem e, quando podem, não querem e/ou nem sabem.
Num outro documentário chamado "Criança, a alma do negócio" (disponível em www.alana.org.br), existe uma cena chocante. Um adulto pergunta a um grupo de crianças se elas preferiam brincar ou comprar. Comprar foi a resposta quase unânime.
E o que dizer, então, do tempo da criança? Em casa ou na escola, ela quase não tem tempo para brincar já que, quando ela brinca, queremos que aprenda algo. Brincar deixou de ser uma finalidade em si para se transformar em meio para atingir alguma meta ou objetivo. Pode? Ora, desse jeito, o brincar deixa de ser lúdico para se tornar um método pedagógico!
Se quisermos verdadeiramente melhorar o futuro para os mais novos, nós precisamos deixar a criança ser criança enquanto ela está na fase da infância. Isso significa que os adultos precisam renunciar a serem, eles mesmos, tão infantilizados.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)

Ornella Vanoni, Toquinho e Vinícius de Moraes - Un Altro Addio (Mais Um Adeus)

Aprendendo a dirigir

Aprendendo a dirigir
SUZANA HERCULANO-HOUZEL
Se já não penso para trocar de marcha, por que não posso falar ao celular enquanto dirijo?
SE VOCÊ já dirige há anos, nem pensa mais a respeito. Mas se ainda está aprendendo, como meus alunos na faixa dos 18, 19 anos, tem a clara noção de como é difícil executar uma sequência complexa de movimentos, selecionando a ação certa na hora certa -e sem perder a noção do conjunto, enquanto o carro se move pela rua.
Para quem está começando, é preciso muita supervisão atenta do seu córtex cerebral para lembrar de, primeiro, tirar o pé direito do acelerador; depois, colocar o pé esquerdo na embreagem; tirar a mão direita do volante e estendê-la em direção ao câmbio; lembrar da posição em que a alavanca estava e fazer o movimento adequado para levá-la à marcha desejada; e voltar a mão para o volante, enquanto se tira devagar -devagar!- o pé esquerdo da embreagem e o pé direito volta a acelerar na medida certa.
Ficou angustiado só de ler? Compreensível, enquanto seu cérebro não dispuser de um programa motor unificado que dê conta de selecionar as ações certas na hora e na ordem certas sem que você precise prestar atenção no que está fazendo.
O alívio vem com a prática, conforme os núcleos da base, no centro do cérebro, vão aprendendo, com as tentativas e acertos, a encaixar as ações umas nas outras.
Graças à plasticidade sináptica, o próprio uso modifica aquelas ações que ativam os neurônios que representam cada ação, e as que dão certo em conjunto -tirar um pé do acelerador e pousar o outro na embreagem ao mesmo tempo, por exemplo- vão sendo reforçadas.
Com treino suficiente, esses neurônios têm oportunidade de se organizar em redes que precisam apenas ser acionadas pelo córtex cerebral para levar à execução de um programa motor completo, como passar a marcha, escrever seu nome ou tocar uma sonata de Beethoven inteira.
O único porém é que, quando os núcleos da base assumem a troca de marchas e o córtex fica dispensado para prestar atenção em outra coisa, vem a tentação de abusar. Pergunta perfeitamente procedente de um aluno, então: se eu não preciso mais prestar atenção para trocar de marcha, por que é que eu não posso falar ao celular enquanto dirijo?
Porque você ainda precisa voltar sua atenção, que é uma só, à rua, aos pedestres e aonde você leva o carro, e o celular rouba para si toda essa atenção. Falando ao celular, você não dirige o carro; apenas é levado por ele...
SUZANA HERCULANO-HOUZEL, neurocientista, é professora da UFRJ e autora de "Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor" (ed. Sextante) e do blog www.suzanaherculanohouzel.com suzanahh@gmail.com

SPONHOLZ


Enchendo linguiça: a arte do mal falar

Enchendo linguiça: a arte do mal falar
ANNA VERONICA MAUTNER – Folha de São Paulo
Usadas como enfeites, para dar status, as 'forças de expressão' que enfraquecem o discurso estão na moda
DE TÃO USADOS, cacoetes de linguagem bem que poderiam estar desgastados. Não estão. Para mim, psicanalista, não há expressões destituídas de significados. Todas remetem a sensações, sentimentos, memórias. Permito-me brincar um pouco e buscar nelas algum sentido.
Ah/Veja bem /Não, é que/ Sabe o que acontece?/ Acontece que/Na verdade/De fato/Enfim/Resumindo/Como ser humano/No sentido de/A nível de/Diga/Em relação/ Quer dizer/Bom/De certa forma/Etc. etc./Tal e tal...
Trata-se aqui de "força de expressão" que enfraquece o enunciado. É comum ouvirmos pedaços de conversas assim: "Então o que acontece... Acontece que...Na verdade, etc. etc.". Ninguém estranha esse palavreado, quando falado. Escrito é que fica esquisito. A oralidade, tenho impressão, está em crise. Todos fazem de conta que têm o que dizer. O valor das pessoas associa-se mais ao quanto têm a dizer do que ao que têm a dizer. Algumas expressões falam de classe ou melhor, da posição da pessoa no mundo. Outras são só enfeite. Quem se sente por baixo e teme ser corrigido defende-se de eventual crítica já começando a frase com um "não, é que...". Aí confessa seu sentimento de insegurança diante do interlocutor.
O "sabe o que acontece?" parece tentativa de apresentar-se como o mais bem informado. Já o "na verdade" indica esforço de valorizar o que se diz. "Resumindo" significa que quero repetir o que já foi dito, para que fique "bem" claro. Muitas expressões são só vento para encher linguiça.
"Enfim", "então", "vamos lá", "quem sabe", "sendo assim" atendem à necessidade de ter a palavra por mais tempo e expressar ideias ainda não muito definidas na cabeça de quem fala.
Dizer apenas "eu gostei" pode ser pouco para expressar o que se achou de um filme. Fica mais elegante dizer "enfim, na verdade, etc. etc.".
"Tal e tal" e "Etc. etc." são esforços para sugerir que se sabe mais do que se diz. É preciso muita autoestima para abdicar de tempo de falar.
Dizem que vivemos na época da imagem. Discordo. A imagem declina e a oralidade vai ocupando seu espaço. Hoje não basta ser visto: é preciso ser ouvido.
É antiga a expressão "encher linguiça" para a prova ou o trabalho de escola. Contudo, quando se escreve, os termos usados são menos gerais. A palavra falada suporta tudo, muito mais recheio do que o texto escrito.
Não estou criticando esse vendaval de palavras desnecessárias que aparecem no nosso cotidiano. Só quero chamar atenção para esse fenômeno. Para quê? À toa. Não creio que vá desaparecer facilmente. É o mais recente símbolo de status.
ANNA VERONICA MAUTNER, psicanalista da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, é autora de "Cotidiano nas Entrelinhas" (ed. Ágora) amautner@uol.com.br

No berço político do PT, Dilma não atingiu 50% dos votos

No berço político do PT, Dilma não atingiu 50% dos votos
Elizabeth Lopes - O ESTADO DE S. PAULO
Petista teve 46% em São Bernardo do Campo, para 32% do tucano José Serra e 19% de Marina Silva (PV)
Apesar de terminar a corrida eleitoral deste domingo em primeiro lugar na cidade de São Bernardo do Campo - berço do PT e onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou a carreira política, como sindicalista -, a candidata petista, Dilma Rousseff, não alcançou 50% dos votos válidos. Na contagem geral dos votos em São Bernardo, a petista teve 46%, para 32% do tucano José Serra e 19% de Marina Silva (PV), coincidentemente, o mesmo porcentual de votos que os três presidenciáveis tiveram em todo o País.
"Mesmo na cidade do seu padrinho político e líder em popularidade, Dilma não ganharia no primeiro turno", afirma o especialista Sidney Kuntz, comparando a votação registrada em São Bernardo do Campo com o restante do País. Segundo ele, a votação da petista no reduto político de Lula, que ficou abaixo do esperado, acendeu a luz amarela entre os correligionários da legenda. Reuniões emergenciais já estão sendo organizadas para discutir as eventuais falhas ocorridas na reta final do primeiro turno e definir os rumos desta nova fase da campanha.
Ao falar do reduto político do presidente da República, Kuntz lembra que Frank Aguiar, vice-prefeito de Luiz Marinho (PT) em São Bernardo do Campo, não conseguiu se eleger deputado federal. Kuntz avalia que, apesar do empenho e popularidade de Lula, o PSDB tem muita força em todo o Estado de São Paulo, tanto que o candidato do PSDB ao governo paulista, Geraldo Alckmin, foi eleito no primeiro turno, apesar da margem apertada, e o tucano Aloysio Nunes Ferreira obteve uma das duas vagas ao Senado Federal, deixando de fora Netinho de Paula (PC do B), da coligação petista, que era apontado pelas pesquisas como um dos favoritos da corrida.
Na análise da apuração dos votos nas cidades do ABC paulista, Dilma só registrou mais de 50% em Diadema, município administrado pelo PT. Ali, teve 56% dos votos válidos, Serra, 23% e Marina, 19%. Em Mauá, também administrada pelo PT, Dilma também não chegou a 50% dos votos válidos, ficando com 47%, para 30% de Serra e 20% de Marina. Em Santo André, administrada pelo PTB, aliado dos tucanos, Dilma obteve 39%, Serra, 36% e Marina, 22%. Em São Caetano do Sul, administrada também pelo PTB, Serra liderou com 52%, seguido de Dilma, com 23%, e Marina, com 21%.

A Torres para o Diário do Pará


A fada Marina salva a medíocre campanha

A fada Marina salva a medíocre campanha
Villas-Bôas Corrêa *, Jornal do Brasil
A onda verde da candidata Marina Silva desmontou o esquema do presidente Lula, patrono da candidata favorita da véspera, a ex-ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Por sua vez, a responsável pela lealdade e competência da sua sucessora, a famosa Erenice, salvou a pior campanha da história deste país de uma mediocridade avassaladora, sem um debate com o mínimo interesse entre os candidatos, que fugiam das propostas e programas para as amenidades das tolices.
A incompetência dos candidatos Dilma Rousseff e José Serra foi a marca dos falsos debates de cartas marcadas, promovidos por várias emissoras de televisão, com temas escolhidos pelos animadores e sorteados como nos bingos. Os candidatos favoritos, Dilma e José Serra à distância nas pesquisas, adoraram o faz de conta que os liberaram de apresentar propostas ou questionar as dos adversários.
 O candidato da oposição pairou pela campanha cantarolando o samba de uma nota só da sua eleição, ao arrepio de todas as pesquisas, da sua certeza da eleição no segundo turno, depois da mágica da classificação.
 E ninguém prestou atenção na onda verde que o PV da modesta candidata Marina Silva, que começava a inflar nas pesquisas até o estouro nas urnas, quando acabou com a festa e levou a decisão para o segundo turno, em 31 de outubro.
 Daqui até lá teremos que acompanhar a convalescença da dupla de finalistas. E quem tiver juízo fechará o bico para não engolir insetos. Ninguém ganha na véspera, como aprenderam o presidente Lula e a sua candidata Dilma.
 Lula não é mais o grande eleitor. E na sofreguidão de virar o jogo, já mandou recados à candidata Marina Silva, a grande surpresa da campanha, que perdeu ganhando, para uma conversa.
 O segundo turno não promete muitas novidades. A menos que os dois finalistas, Dilma e Serra, tenham aprendido a lição que não se ganha eleição enganando o eleitor. O papo furado sobre a rotina burocrática do Bolsa Família e dos milhões de residência do Minha Casa Meu Voto, jogou  para escanteio o escândalo ético do pior Congresso de todos os tempos, páreo duro para o próximo dos tiriricas e outros patuscos.
 Um desafio que ainda atravessará outros governos, se a casa não desabar. Brasília não é apenas a mina sem fundo da bolsa da Viúva, que transformou o mandato parlamentar na gazua das vantagens e propinas, como as passagens aéreas para o fim de semana nos currais eleitorais e os privilégios de marajás, com gabinete individual, a penca de assessores que são cabos eleitorais e as mutretas que pipocam quando o Congresso decide trabalhar, com duas ou três sessões por semana.
 O inchaço de Brasília é um desafio que o Congresso não tem vontade política de enfrentar. E nesta batida um dia a casa cai.
* repórter político do JB

O gosto amargo da derrota

O gosto amargo da derrota
Eleitor fluminense muda de opção e deixa nomes influentes da política sem mandato
Ana Paula Siqueira – JORNAL DO BRASIL
Este ano, o eleitor fluminense deixou de eleger velhos caciques políticos, como o ex-prefeito Cesar Maia (DEM), que se candidatou ao Senado, e o deputado federal Marcelo Itagiba (PSDB), que disputava à reeleição. Cesar, por exemplo, liderava pesquisas de intenção de voto no início da campanha. Após a derrota, celulares desligados e dificuldade para falar com muitos postulantes. Para analistas, cada caso deve ser analisado individualmente. Os problemas para se manter no poder vão desde falta de comunicação com os eleitores até a ofensiva do presidente Lula contra a oposição.
Ex-prefeito do Rio, Cesar Maia estava bem antes do início oficial da campanha. Ao que tudo indica, no entanto, foi atingido pela ofensiva governista que pretendia e conseguiu levar para o Senado o maior número possível de aliados. Assim como o deputado Fernando Gabeira (PV), que viu seu sonho de governar o Rio ir por água abaixo.
O objetivo é garantir governabilidade para a candidata do PT, Dilma Rousseff, com boas chances de vencer a disputa no segundo turno. Maia concorda que o fator Lula foi crucial para sua derrota nas urnas.
Venceram os favoritos e com apoios substanciais de Lula/Dilma e Cabral. Estranho teria sido um resultado diferente, avalia, por e-mail, o ex-prefeito, em referência também ao poder do governador reeleito do Rio, Sérgio Cabral. Sobre o futuro, ele fala apenas que o foco agora é o segundo turno de José Serra, candidato do PSDB à Presidência. Sem confirmar ou negar intenção de disputar as eleições municipais, daqui a dois anos, ele afirma que em 2011 trataremos de 2012.
Opções políticas
Outro político carioca que prepara sua despedida de Brasília é Edmilson Valentim (PCdoB). Deputado federal por dois mandatos, um deles durante a Constituinte, ele não conseguiu se reeleger para voltar à Câmara, e fica no cargo até o fim do ano. Mas, afirma que vai cair de cabeça na campanha de Dilma. Se fará parte do governo do estado do Rio? Cabral decidirá.
No entanto, ele atribui sua derrota à opção do PCdoB de lançar chapa própria para os cargos proporcionais. Mesmo sem conseguir se eleger, ele avalia que o desempenho do partido foi bom, com quase 300 mil votos. E afirma não se incomodar com o fato de candidatos que tiveram desempenho bem abaixo terem sido eleitos com base no coeficiente partidário, como Jean Willys (PSOL), eleito com pouco mais de 13 mil votos.
Sou a favor do voto em lista fechada. Acho que o debate em torno da reforma política tem que ser retomado porque vai fortalecer a democracia. Assim como o financiamento público de campanha defende o parlamentar. Não posso passar metade do meu tempo de mandato procurando quem me ajude na campanha. Isso é um absurdo.
Marcelo Itagiba foi procurado, mas não houve retorno das ligações até o fechamento desta edição.

Bello, hoje na Tribuna de Minas


Especialistas criticam pesquisas

Especialistas criticam pesquisas
Gilberto Scofield Jr. - O GLOBO
Os erros dos institutos de pesquisa trouxeram à tona debate sobre a capacidade que a divulgação de dados de intenção de voto tem de alterar a decisão do eleitor. Institutos e especialistas falam nas causas para os erros: entre elas, os altos índices de abstenção, não contabilizados nos levantamentos.
Institutos superestimaram votação de Dilma e subestimaram, por exemplo, a subida de Marina Silva
SÃO PAULO. Os erros cometidos nas pesquisas eleitorais deste ano voltaram a acender o debate, entre cientistas políticos e especialistas em opinião pública, sobre a real utilidade da divulgação maciça de sondagens de intenção de voto e de sua capacidade de alterar os resultados finais nas urnas, quando não captam com precisão a vontade do eleitor.
No caso das pesquisas para a Presidência, eles apontam erros acima dos dois pontos, para cima ou para baixo nas margens de erro, que superestimaram a performance da candidata Dilma Rousseff (PT) e subestimaram especialmente a candidata Marina Silva (PV).
Pesquisas podem influenciar resultados Deslizes, como os números que indicavam Geraldo Alckmin (PSDB) em posição de vitória folgada para o governo de São Paulo quando o senador Aloizio Mercadante (PT) teve muito mais votos nas urnas do que o previsto, e o primeiro turno acabou numa disputa acirrada ou as previsões que tiravam Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) da disputa por uma vaga de senador por São Paulo (conquistada com folga pelo candidato) somaram-se a inúmeros resultados finais que terminaram fora das margens de erro. Isso incluiu a disputa pela Presidência.
É preciso discutir a oportunidade de divulgação de pesquisas com erros graves de metodologia, porque as campanhas, os eleitores e a própria mídia se pautam por elas, o que pode influenciar artificialmente o voto afirma o historiador Marco Antonio Villa, professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos. Houve problemas de metodologia, com os institutos Datafolha e Ibope errando bem menos.
Ainda assim, essas pesquisas podem influenciar o resultado, especialmente em disputas mais apertadas.
Os analistas e os próprios institutos apontam vários motivos para os erros das pesquisas.
Fala-se das taxas de abstenção nunca contabilizadas nos levantamentos, dos erros na hora de votar, de eleitores que se envergonham de dizer seus votos, de ondas de opinião que são captadas aquém do que mostram as urnas e, principalmente, metodologias de pesquisa que, por serem restritas ou focarem em grupos e regiões específicas, não captam com exatidão o amplo leque de preferências eleitorais do país.
Os institutos não estão identificando com clareza determinadas tendências e a vitória de Marina Silva no Distrito Federal mostra isso diz professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB).
Todos os institutos erraram o resultado final. Erraram no que eles consideram como erro máximo das pesquisas (margem de erro). O Ibope errou mesmo a pesquisa de boca de urna, que entrevista os eleitores no dia das eleições. A pesquisa ouviu 4.300 eleitores (a margem de erro anunciada é de no máximo de dois pontos percentuais); todos os candidatos chegaram fora dos limites definidos. Os resultados que circularam das pesquisas presidenciais nos estados mostram resultados muito mais discrepantes ainda. Este erro coletivo dos resultados foi o maior já cometido pelos institutos no Brasil diz Jairo Nicolau, cientista político e professor visitante do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP), da Uerj, em seu blog Eleições em Dados.
Anteontem, Ricardo Caldas, professor de ciência política e diretor do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares da UnB, afirmou em entrevista ao portal Terra, ainda quando a apuração oficial estava pela metade, que o instituto Datafolha foi o que errou menos mas, ainda assim, a maioria dos institutos falhou.
É preciso que os institutos revejam suas metodologias de pesquisa e a forma de abordar o eleitor afirmou.
Ibope diz que acertou mais do que errou Márcia Cavallari, diretora executiva de Inteligência do Ibope, disse achar que o instituto acertou mais do que errou, e observou que o Ibope não cometeu erros de tendência (que captam a subida ou a perda de votos de um candidato), mas imprecisões nos índices, alguns pontos acima ou abaixo dos resultados finais.
Pesquisa de opinião pública é complicada e as pessoas mudam de ideia de um dia para o outro, o que significa que os institutos podem errar. Houve erro no caso das eleições no Paraná, mas é bom observar que captamos a subida de Beto Richa na pesquisa de boca de urna.
Em Santa Catarina percebemos o mesmo com Raimundo Colombo, ainda que o índice final tenha sido maior do que o verificado nas pesquisas. No geral, acertamos muito mais do que erramos diz Cavallari.
Quando o governador eleito do Paraná, Beto Richa (PSDB), decidiu recorrer à Justiça Eleitoral para suspender as pesquisas que indicavam a realização de um segundo turno no estado, na reta final da disputa, muita gente o acusou de recorrer à censura para evitar revelar sua suposta fraqueza eleitoral. Mas o resultado final de Richa nas urnas, com uma vitória de 52,4%, observa Marco Antonio Villa, faz pensar até que ponto pesquisas erradas podem mudar uma disputa apertada.
Cheguei a ler entrevistas do candidato a senador por São Paulo, Netinho de Paula, falando de planos para disputar a Presidência. Fala-se na liberdade de escolha do eleitor, mas o fato é que as pesquisas influenciam diz Villa.

Governo do Equador transfere a guarda da Assembleia Nacional de policiais a militares

Governo do Equador transfere a guarda da Assembleia Nacional de policiais a militares
Uol Notícias
O Equador substitui nesta terça-feira os policiais que fazem a guarda da Assembleia Nacional por militares, depois que grupos da Polícia Nacional e ao menos uma facção das Forças Armadas promoveram um motim contra o presidente Rafael Correa na semana passada.
Durante os protestos, a sede do Congresso equatoriano chegou a ser tomada por policiais revoltados com a ratificação de uma lei que altera o regime de promoções e bonificações.
"Devido aos lamentáveis eventos de 30 de setembro, pedimos que a segurança do legislativo seja transferida aos militares", diz carta do Congresso ao Ministério da Defesa.
As Forças Armadas deverão resguardar a Assembleia Nacional pelo menos até a meia-noite de hoje, quando expira o estado de exceção imposto pelo governo.
Em concessão à polícia, o governo Correa aprovou ontem aumento de salários a quatro escalões da polícia e das Forças Armadas. Além disso, prometeu reavaliar a lei que motivou os protestos.
Na última quinta-feira (30), o presidente ficou isolado em um hospital por quase 12 horas e só foi liberado no início da madrugada de sexta.
Para levá-lo de volta ao palácio presidencial, o Exército do Equador e policiais rebelados entraram em confronto e houve troca de tiros.
Em discurso após ser resgatado, Correa afirmou que fará uma "limpeza profunda na Polícia Nacional"e que "não haverá perdão, nem esquecimentos".
EUA
O chanceler equatoriano, Ricardo Patiño, disse acreditar "firmemente" que os EUA não estiveram por trás dos protestos, como chegaram a afirmar os governos de Venezuela e Bolívia, mas que não estranharia se "grupos de poder" locais estiverem.
16° Esquadrão de Cavalaria Mecanizado em coluna de marcha no retorno do exercício de preparação da tropa que participará da Operação Guarani.

Criciúma - Santa Catarina


Eleitores ocultos da jihad brasileira

Eleitores ocultos da jihad brasileira
José de Souza Martins* - O ESTADO DE S. PAULO / ALIÁS - 03/10/2010
Um pastor manda de Nova Iorque aos crentes de sua numerosa e obediente igreja evangélica recomendação para que votem na candidata oficial. Um bispo católico publica declaração recomendando aos fiéis que não votem nela. Um pastor de importante igreja protestante lança apelo para que os adeptos de sua igreja votem na candidata não-oficial. Um frade católico há muito declara que espera que a candidata oficial ganhe a eleição e que a oposição nunca mais retorne ao poder. Se é para a oposição nunca mais voltar ao poder, não se trata de eleição e sim de nomeação. Estamos em face do eleitor oculto, o das religiões, que vota corporativamente e sem liberdade, por motivos religiosos e não por motivos políticos.
A questão política como questão religiosa, no Brasil, se propõe desde a Proclamação da República e da separação entre o Estado e a Igreja. Bispos e padres deixaram de ter status similar ao de funcionário público e a Igreja deixou de ter privilégios de repartição pública. O caráter missionário da atuação católica foi largamente beneficiado pela cessação da tutela, dando-lhe a oportunidade de, pela primeira vez em nosso país, fazê-la Igreja livre e profética.
A Igreja Católica, porém, aproveitou mal a possibilidade involuntariamente aberta pela República do ideário positivista dos militares que a proclamaram. Do mesmo modo, a democracia da pluralidade religiosa não consolidou essa premissa básica do Estado moderno entre nós, como se esperava e era necessário. Os protestantes e as outras denominações religiosas foram tímidos na consolidação da democracia nascente e na defesa do Estado não-confessional.
Politicamente marginalizada durante toda a República Velha, que era de inspiração positivista e anticlerical, preparou-se a Igreja nesse período para a Restauração Católica, fundada num ideário de direita e em valores da tradição conservadora. Significativamente, e por isso mesmo, lograria o status de “religião da maioria do povo brasileiro” no governo Vargas. Um intercâmbio claramente informado pelo populismo que nascia. O protestantismo se difundiu devagar, à margem da política e do poder, pesando sobre ele o informal veto católico. Poucos notaram, até, que um presbiteriano, Café Filho, sendo vice de Getúlio Vargas, assumira a Presidência da República com o suicídio do presidente em 1954. Era a via silenciosa da ascensão política dos protestantes.
O golpe militar de 1964 teve a decisiva participação católica com as Marchas da Família com Deus pela Liberdade. No entanto, um fato insólito se passou, revelador das grandes mudanças sociais que haviam ocorrido no País: diversos protestantes, especialmente presbiterianos, ascenderam em diferentes momentos do regime aos governos dos Estados, no Rio de Janeiro, em Pernambuco, no Pará, na Guanabara e mesmo em São Paulo, indiretamente, quando Laudo Natel, ligado ao Bradesco, de Amador Aguiar, presbiteriano, assumiu o governo com a cassação de Adhemar de Barros e nomeou um secretariado com notória presença protestante. A escolha do luterano Ernesto Geisel para a Presidência da República confirmou essa tendência do regime militar. A mudança de orientação da Igreja Católica em relação à ditadura, cuja instauração apoiara, e a hostilidade entre o Estado e a Igreja, nesse período, ganham clareza nesse cenário de fundo religioso.
É nesse quadro adverso e na consequente repressão que alcançou setores engajados da Igreja, até mesmo bispos, que sua atuação política evoluiu na direção do estímulo aos movimentos populares, a ação política orientada contra as incongruências do Estado, sobretudo o descompasso entre o legalmente possível e o politicamente realizado. Nesse legalismo antagônico ao Estado autoritário, os setores mais ativos da Igreja não tiveram outra alternativa para afirmação dos seus valores conservadores, dado que o espaço político de direita, de sua atuação mais coerente, fora bloqueado pela tendência anticlerical dos militares e capturado pelos evangélicos. Sobrou-lhes constituírem sua militância no espaço residual de oposição à ditadura. O rapto ideológico do vocabulário de esquerda deu um revestimento moderno ao programa conservador e nem por isso menos transformador de que a Igreja no Brasil se tornou protagonista.
Nem os católicos nem os evangélicos conseguiram formular uma concepção democrática de política, no sentido de resguardar as respectivas religiões contra o monolitismo ideológico a que tende a política partidária. Não conseguiram propor suas religiões, na política, como religiões universais e pluralistas, irredutíveis ao partidário. O que possa lhes parecer um êxito político-partidário, nestas eleições e em outras precedentes, é na verdade um fracasso religioso, sobretudo no fato de que tendo se proposto como instrumentos do aparelhamento religioso-ideológico do Estado, tornam-se inversamente aparelhos da política e do próprio Estado. No altar das ambições de poder de sua guerra santa, sacrificam a missão profética das igrejas e minimizam a grande função histórica e libertadora que poderiam e deveriam ter na miséria moral e política da sociedade contemporânea.
* Professor Emérito da Universidade de São Paulo. Dentre outros livros, autor de O Poder do Atraso, Hucitec, São Paulo, 1999; e A Sociedade Vista do Abismo, Vozes, Petrópolis, 2010.

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